O
QUE O MORDOMO VIU?
RESPOSTA:
ACABOU
O PÓ!
(QUER
RIR MUITO? FAÇA A ESCOLHA; OU MELHOR,
ASSISTA ÀS DUAS.)
Uma pesquisa
sobre a função social do TEATRO
poderá levar a várias respostas, mas, em todas elas, uma palavra estará sempre presente:
“entretenimento”, vocábulo que, de
acordo com a Wikipédia, “é qualquer ação, evento ou
atividade com a finalidade de entreter e suscitar o interesse de uma audiência”.
Vemos, portanto, que ele
se presta a cumprir vários papéis e que o especatador seleciona o que deseja
ver, de acordo com seus interesses, que podem ser diversos, na dependência de
vários fatores.
Sabemos que o TEATRO sempre foi um caminho para fazer
denúncias, críticas, reivindicações, esclarecimentos; para fins didáticos ou, apenas,
para divertir.
Se o seu intento é dar
boas gargalhadas, sem se ater a problemas sociais, discussões profundas sobre
os mistérios da vida, o futuro da humanidade, dramas existencais e outros temas
que levam à reflexão; se o que deseja é apenas se divertir, escolha entre dois
espetáculos ora em cartaz no Rio de Janeiro; ou, melhor ainda, veja os dois: O QUE O MORDOMO VIU e ACABOU
O PÓ, duas comédias rasgadas: a primeira, um “vaudeville” para ninguém botar defeito; a segunda, um típico “besteirol”, cujo único compromisso é
com o humor pelo humor, se bem que, nas entrelinhas dos dois, possam ser
detectadas críticas de toda sorte.
Aliás, no fundo, no fundo, por excelência, todo humor é crítico.
O “vaudeville”
é um gênero teatral que se caracteriza por uma série de mal-entendidos, de
“coincidências”, que vão se desenvolvendo, uns deflagrados por outros, num
ritmo ligeiro, às vezes até frenético, com muita correria, gerando situações
que beiram o ridículo, envolvendo intrigas e uma sucessão de portas que se
abrem e fecham, permitindo inúmeras entradas e a circulação de atores em cena,
o que provoca situações engraçadíssimas, de trocas de roupas, de
enconde-esconde... O termo “vaudeville” é, possivelmente, uma
corruptela do francês "voix de
ville", designação de uma forma de canção cortesã parisiense, em moda
no século XVI.
Já o chamado “besteirol”,
surgido, no Brasil, nos anos 80, e tendo como grandes pilares, nomes com o
gabarito de Mauro Rasi, Vicente Pereira, Miguel Falabella, Pedro
Cardoso, Felipe Pinheiro e Guilherme Karan, dentre outros, “é uma
variedade de comédia ligeira, feita para um público urbano, recriando, ora com
mais, ora com menos eficácia inventiva, elementos antigos e mesmo arcaicos da
tradição cômica – estrutura geral de farsa, um pouco de grotesco caricatural,
outro tanto de ‘vaudeville’,
uma pitada de sátira e farto tempero de “gags”
(efeito cômico que, numa representação, resulta do que o ator faz ou
diz, jogando com o elemento surpresa, os conhecidos ‘cacos’ – que se
atualizam graças a referências jocosas à cultura de massa.”
Pode-se atingir o mesmo
objetivo, no caso, aqui, ir a um teatro, em busca de bom divertimento, apenas
isso, trilhando dois caminhos diferentes; aliás, completamente opostos, no que
se refere aos recursos utilizados, pelas produções em pauta, nas duas montagens
aqui comentadas.
Enquanto O QUE O MORDOMO VIU reúne nomes de
destaque do TEATRO e da TV, como MIGUEL FALABELLA e ARLETE SALES, além de mais quatro atores, ACABOU O PÓ junta, no palco, dois excelentes atores, desconhecidos
do grande público, porém pródigos em talento: ALEXANDRE LINO e LEO CAMPOS.
Um pouco de
O QUE O MORDOMO VIU:
O texto é uma farsa, do escritor inglês JOE ORTON.
Segundo o material de divulgação enviado pela
assessoria de imprensa do espetáculo, MIGUEL
FALABELLA e ARLETE SALES, pela
primeira vez dividindo um palco, interpretam um
casal que transita pelo universo farsesco do autor, que aborda temas como sexo,
poder, corrupção, mentiras e traições, com fartas doses de humor e ironia. A peça tem as principais características da
obra de ORTON: a sagacidade
subversiva, o humor negro, a capacidade de transformar situações trágicas em
uma grande comédia, além da crítica ácida a valores e comportamentos do homem
contemporâneo. Traz, ainda, todos os
ingredientes de uma farsa: personagens cheios de manias, enredos tortuosos,
confusão de identidades, portas batendo, roupas que desaparecem, dentre outras.
O elenco: Ubiray Paraná do Brasil, Arlete Sales, Marcelo Picchi, Miguel
Falabella, Alessandra Verney e Magno Bandarz.
O espetáculo
conta a história do psiquiatra ARNALDO (MIGUEL
FALABELLA), que é flagrado por sua esposa MIRTA (ARLETE SALLES), um casamento falido, em uma atitude suspeita
com a secretária DENISE BARCCA (ALESSANDRA VERNEY). Para não ser surpreendido em flagrante, ARNALDO forja uma situação e acaba
provocando uma série de equívocos. O
jogo dos erros aumenta, porque MIRTA
também tem algo a esconder: a promessa do cargo de secretário a NICO (MAGNO BANDARZ), por quem está sendo chantageada. Como se não bastasse a confusão instaurada, a
clínica passa por uma inspeção do governo, liderada por DR. RANÇO (MARCELLO PICCHI), atraindo, ainda, o detetive MATOS (UBIRACY PARANÁ DO BRASIL)
para uma investigação.
A
direção de FALABELLA segue, à risca, as imposições exigidas pelo gênero,
sendo, portanto, correta.
É bom o
trabalho dos atores, totalmente ajustados ao objetivo do espetáculo, com
destaque para a boa “química” que existe entre ARLETE e FALABELLA. Como é bom ver a disposição, o vigor, dessa boa
atriz, no palco, após a superação de problemas de saúde! Uma atriz que tem um jeito próprio de respirar
e de dar às falas da personagem as devidas entonações exigidas pela comédia, o
que, muitas vezes, independentemente da qualidade do texto, colabora para
provocar o riso na plateia.
Apesar de seu
brilho estrelar, FALABELLA se
comporta com bastante generosidade, ao contracenas com os colegas, e o trabalho
fica homogêneo, voltando-se o foco, ora para um, ora para outro, dando, a todos,
oportunidades para brilhos-solo.
Arlete Sales e Miguel
Falabella.
Ubiracy Paraná
do Brasil e Miguel Falabella.
Falabella,
Ubiracy, Arlete e Magno Bandarz.
Não posso
deixar de fazer um comentário especial quanto ao trabalho de ALESSANDRA VERNEY, na pele da aspirante
a uma vaga de secretária na clínica do DR.
ARNALDO. Digo isto, porque a atriz,
na verdade, uma grande “cantriz”, das melhores no mercado brasileiro, faz, pela
primeira vez, um espetáculo que não seja musical, gênero no qual ela é muito
respeitada e cortejada pelos diretores e produtores. Descobri-a em Império, a obra-prima de MIGUEL
FALABELLA e Josimar Carneiro, e,
a partir de então, tornei-me seu maior admirador e, com muita honra e alegria,
seu amigo. Para sua primeira experiência
fora dos musicais, VERNEY está ótima
em cena. Passou no teste, e com louvor.
Boa “química”
em cena.
Magno Bandarz e Miguel Falabella.
Contando
com uma produção de peso e do patrocínio de uma forte empresa do ramo dos
seguros, não faltou verba para a confecção de um bom cenário, do consagrado cenógrafo JOSÉ DIAS e de ótimos figurinos,
de SÔNIA SOARES. Bom trabalho também demonstra na iluminação, AURÉLIO DE SIMONI.
A clínica do
Dr. Arnaldo.
Para
desopilar o fígado, um bom remédio.
FICHA
TÉCNICA:
Texto - Joe Orton
Versão Brasileira e Direção - Miguel Falabella
Codireção - Cininha de Paula
Elenco: Miguel Falabella (Dr. Arnaldo), Arlete Salles (Mirta), Marcelo
Picchi (Dr. Ranço), Alessandra Verney (Denise Barcca), Ubiracy Paraná Do Brasil
(Detetive Matos) e Magno Bandarz (Nico)
Cenário - José Dias
Figurino - Sônia Soares
Designer de Luz - Aurélio de Simoni
Trilha Sonora - Leandro Lapagesse
Fotos: Paula Kossatz
Produção Geral - Sandro Chaim
Assessoria
de Imprensa: Uns Comunicação -
Alan Diniz e Sidimir Sanches
Marcelo Picchi e Alessandra Verney.
Falabella e Verney.
SERVIÇO:
Teatro
Clara Nunes - Shopping da Gávea
(3º piso)
Telefone: (21) 4003-2330
Temporada:
Até 14 de fevereiro/2015
De
quinta-feira a sábado – às 21h30 / domingo
– às 20h
Preços:
quinta-feira - R$ 100,00; de sexta-feira a domingo - R$
120,00
Duração: 90 minutos
Classificação etária: 16 anos
Gênero: Comédia
Agora, sobre
ACABOU O PÓ:
Este
texto, o terceiro do jovem dramaturgo DANIEL
PORTO, de apenas 22 anos, fez grande sucesso, num Ciclo de Leituras Dramáticas, no SESC Casa da Gávea, em abril deste ano (2014), e ganhou vida, no
palco, com direção de VILMA MELO,
contando com a interpretação de ALEXANDRE
LINO (KELLY) e LEO CAMPOS (NENA),
primeiramente, no Teatro Miguel Falabella,
na zona norte da cidade (Cachambi,
dentro do Norte Shopping), e, agora, também chega à zona sul (Ipanema), no Teatro Candido Mendes, em temporadas simultâneas.
A peça se encaixa no humor besteirol e, de acordo com a
sinopse, enviada pela produção, dois homens interpretam duas mulheres
suburbanas, cariocas, que têm conflitos com marido, ex-marido e filhos. A comédia ACABOU O PÓ (é pó de café) é um espetáculo que parte de um único
princípio: a diversão.
Na coleta
de informações cotidianas, a peça faz a seleção de histórias do dia a dia de
duas mulheres simples e divertidas, “sem papas na língua”, que fazem do humor a
lente de aumento, para falar de suas vidas e (por que não?) das dos
outros. Aliás, é impossível não
reconhecer, nas duas personagens de ficção, atitudes familiares, de gente real,
de uma empregada, de uma amiga ou conhecida; enfim, de alguém que povoa o nosso
conhecido universo humano.
Ainda
segundo a sinopse, observar a vida como uma espécie de “voyeur” é, ainda hoje,
uma das manifestações mais comuns na humanidade, e as protagonistas desta peça,
donas de casa, não fogem à regra. NENA e KELLY são moradoras do subúrbio carioca e, entre os afazeres
domésticos, o trabalho e o cuidado com os filhos, reservam o seu próprio
tempinho, para se visitarem, tomar um café e colocar o papo em dia.
De acordo
com a diretora, VILMA MELO, “as
personagens são mulheres absolutamente normais e o texto, feito por dois homens,
acaba tendo uma ótica masculina. NENA e KELLY,
por mais problemas que tenham, partem do senso comum ao povo brasileiro, que
sabe rir até das próprias desgraças. E,
no riso, nos damos conta da nossa humanidade.”
Embora a
preocupação primeira do jovem e talentoso dramaturgo, DANIEL PORTO, nesta peça, seja fazer rir, divertir o público, o
texto permite que cada espectador também possa mergulhar, nem que seja superficialmente,
nas relações sociais do dia a dia, que vão desde os conflitos conjugais até as
ligadas a todas as pessoas que cercam as duas bizarras personagens, no
enfrentamento dos obstáculos impostos pela vida que encaramos, ao escolher
viver numa sociedade, injusta e cruel, egoísta e hipócrita, que acusa, cobra e
condena.
Com parcos
recursos financeiros para levantar esta produção, a equipe de criação, num
esforço hercúleo, consegue apresentar um trabalho muito honesto e simples, no
que se refere aos elementos cênicos, como cenários, figurinos e iluminação, por
exemplo; por outro lado, a competência dos profissionais envolvidos no projeto
e o seu comprometimento com o trabalho e o respeito ao público conseguem
apresentar um espetáculo de muito boa qualidade.
Merece
destaque a ideia de colocar dois homens, interpretando personagens femininos,
com vozes e trejeitos de mulheres, porém sem qualquer caracterização física que
as lembre. Rende muito bem, é muito bom,
o trabalho de ambos os atores, em níveis semelhantes de atuação.
Também
merece elogio o trabalho de direção,
porque, ainda que contasse com um bom texto, para o que ele se propõe, e uma
dupla de ótimos atores, VILMA MELO
teve de “tirar leite de pedra”, para, com tão pouco dinheiro, ter de encontrar
soluções criativas e interessantes na condução do seu bom trabalho, o que
atingiu satisfatoriamente.
Quem
assistiu ao magnífico espetáculo O
PASTOR, primeiro texto do neófito, mas já tão bem-sucedido, dramaturgo DANIEL PORTO, não vá assistir a ACABOU O PÓ com o mesmo olhar com que
viu o outro espetáculo, nem com a mesma expectativa, a não ser a de que vai
assistir a um espetáculo de qualidade, com piadas muito engraçadas e atuais,
durante a conversa das duas amigas e comadres, quando KELI se vale de NINA e
lhe faz uma visita, porque acabou o pó de café na casa daquela.
Daniel Porto, o autor.
Sem
nenhum demérito, já que optei por traçar um paralelo entre dois espetáculos com
a mesma proposta, fazer rir, divertir, ACABOU
O PÓ pode ser chamado de “o primo pobre” de O QUE O MORDOMO VIU. Mas a
riqueza, aqui, só se aplica ao plano material, porque, em suas propostas, são
dois espetáculos ricos.
Para desopilar o fígado, um outro bom
remédio.
FICHA TÉCNICA:
Texto: Daniel Porto
Direção: Vilma Melo
Elenco: Alexandre Lino (Kelly) e Leo Campos (Nina)
Cenário e Figurinos: Karlla de Luca
Iluminação: Binho Schaefer
Fotografia Artística: Janderson Pires
Ilustração: Ana Moura e
Guilherme Lopes Moura
Design Gráfico: Guilherme Lopes Moura
Webdesign: Mariana Martins
Assessoria de Imprensa: Gabriela Mota
Produção: Alexandre Lino, Daniel Porto, Leo Campos e Paulo Amaro
Realização: Cineteatro Produções
SERVIÇO:
TEATRO MIGUEL FALABELLA
Temporada até 25 de novembro - todas as terças-feiras, às 20h
Ingressos: R$ 40 (Inteira)
Local: Teatro Miguel Falabella – Rua Avenida
Dom Helder Câmara, 5332, Norte Shopping – 2º piso - Cachambi
Tel: (21) 2595-8245
Duração: 60 minutos
Classificação Etária: 12 anos
Vendas: www.ingresso.com.br
TEATRO CÂNDIDO MENDES
Temporada até 11 de dezembro - todas as quartas e quintas-feiras, às 21h
Local: Teatro Candido Mendes, Rua Joana
Angélica, 63 – Ipanema
Telefone: (21) 2523-3663
(FOTOS: PAULA KOSSATZ (O QUE O MORDOMO VIU)
e
JANDERSOM PIRES (ACABOU O PÓ).
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