AMOR E ÓDIO EM SONATA
(UMA AULA DE DELICADEZA, DE
BOM GOSTO, DE COMPETÊNCIA E, SOBRETUDO, DE TEATRO.)
Amandha e Juliana Weinem.
Quem
me conhece sabe da minha preferência, na literatura, por biografias, o que pode
ser uma das explicações por que gosto tanto de peças biográficas.
E, quando esse
trabalho é feito com muito amor e competência; quando a vida do briografado
merece, mesmo, ser transformada numa peça de TEATRO; quando o texto é escrito com uma qualidade superlativa;
quando a direção é primorosa; quando os atores (no caso, duas excelentes atrizes)
honram a divina profissão; e quando todos os demais elementos indispensáveis a
uma boa montagem também respondem “Presente!”,
o resultado foi o que eu vi, na última 4ª feira, 15 de outubro, o que
considerei um presente, que dei a mim mesmo, por causa do Dia do Mestre.
AMOR E ÓDIO EM SONATA é o nome da peça
que mereceu o prólogo acima.
Tendo estreado
há mais de dois anos, 2012 (em maio, se não estou enganado), e cumprido algumas
temporadas, inclusive com apresentações no exterior, nunca consegui agendar uma
data para assistir a essa primorosa produção, o que parece inacreditável para
alguém que respira TEATRO e que vai
às casas de espetáculo, praticamente, de 2ª feira a domingo.
Finalmente,
pude conferir o que já havia ouvido das bocas de muita gente de profunda sensibilidade
e que gosta de TEATRO (“quase”, para
descontrair) tanto quanto eu, algumas dessas opiniões, hoje, já registradas no
corpo do belíssimo programa da peça.
Nomes como os de Fernanda
Montenegro, Macksen Luiz, Edwin Luisi, Clarice Niskier, Amir Haddad
(supervisor de direção da peça), Lionel
Fischer, Alexander Medvedovsky
(diretor do jornal Voz da Rússia) e Vladimir
Tolstói (trineto de Leon Tolstói e
assessor de cultura do Presidente da Rússia, Vladimir Putin). Esses são alguns dos nomes que constam no referido
programa, fora dezenas de amigos (atores, diretores, produtores, críticos), que
me perguntavam como eu não havia assistido, ainda, a tão linda
“obra-prima”.
Sim, AMOR E ÓDIO EM SONATA é uma OBRA-PRIMA.
SINOPSE:
O
texto, escrito e dirigido por LEONARDO TALARICO, que também é responsável pela concepção do projeto, é baseado numa
história real, qual seja a do grande escritor russo LEON TOLSTÓI (1828 / 1910) e a inspiração do texto partiu da obra “A Sonata a Kreutzer”, um curto romance
de TOLSTÓI.
O
autor da peça trata da conturbada vida social, política e conjugal do escritor
russo, através da rivalidade entre sua mulher, SÔNIA (AMANDHA), com quem viveu por 48 anos e
teve 13 filhos, e sua filha SASHA
(JULIANA WEINEM), eleita, entre os filhos, como a “voz autorizada” do
escritor, a quem, inclusive, ele fez substituir SÔNIA na função de sua secretária.
No palco, ambas vivem na mesma casa, “invisíveis”,
em dois ambientes, com monólogos, um diálogo e uma futura partida trágica. Até a morte de LEON, mãe e filha viveram como inimigas.
Por meio dos dramáticos e reais diários
pessoais, escritos ao longo dos anos, apresenta-se à plateia uma história
fascinante, arrebatadora e atemporal.
Como
viveu e sofreu um dos maiores escritores da literatura universal, opinião de
que compartilho, embora, na peça, ele seja apresentado como “o maior” da literatura russa, do que
discordo, uma vez que considero Fiódor Dostoievski ocupante do mesmo patamar de TOLSTÓI?
A quem amou e por que fugiu de casa, aos
82 anos, para morrer, num cômodo simples, na estação de trem de Astapovo?
O que representou, na vida de TOLSTÓI, o jovem Vladimir
Grigoryevich Chertkov, editor das obras do
mestre, um dos seus mais fiéis discípulos e amigo “íntimo” do escritor, a quem, em testamento, TOLSTÓI,
convencido pelo próprio rapaz, doou, em detrimento de sua
família, os direitos de toda sua obra literária ?
Trata-se do mais intenso drama do
consagrado escritor russo, aquele que TOLSTÓI
não logrou escrever: sua própria vida. Um
casamento longo; treze filhos, traição, inimizades; uma filosofia a mudar o
mundo.
Forte
e determinada, SÔNIA lutou,
incansavelmente, para reaver, após alguns anos de batalha, os direitos sobre a
obra de marido, apelando para o governo russo, pois os considerava
legitimamente seus, depois de uma vida dedicada a ele a ao seu trabalho, e
também de seus oito filhos ainda vivos, a quem devia sustentar.
Desesperada
com o crescente domínio de Chertkov
sobre seu marido, proporcional à, cada vez maior, distância entre o casal, SÔNIA tenta se matar diversas vezes e
transforma sua vida conjugal num tormento, exasperando TOLSTÓI, que, aos 82 anos, foge de casa, abandonando a esposa. Mas, durante a viagem de trem, contrai
pneumonia e acaba morrendo num pequeno e modesto cômodo da estação de trem de Astapovo.
Quando
já está gravemente doente, SÔNIA
descobre seu paradeiro e aluga um trem para levá-la ao seu encontro, mas, ao
chegar, é impedida, por Chertkov e SASHA, de vê-lo em seus últimos minutos
de vida.
Após
a morte de LEON, mãe e filha, que
sempre viveram como inimigas, encontram-se, pela primeira vez, unidas pela dor
da perda.
TRAJETÓRIA DA PEÇA:
- Estreou, em 2012, no Teatro Solar de
Botafogo. A temporada foi um estrondoso sucesso, a
ponto de ser prorrogada.
- Em 2013, reestreou, a convite, para uma temporada no Teatro Fashion Mall, onde foi vista
pela ilustre dama do TEATRO, a
insuperável Fernanda Montenegro, que
teceu comentários maravilhosos sobre a obra e permaneceu, por duas horas, em
uma deliciosa conversa, enaltecendo tudo quanto apreciara em cena.
- No
mesmo ano, mais uma vez, a convite, o espetáculo transferiu-se, em uma nova
temporada, para o Centro Cultural
Justiça Federal. Nesse momento,
representantes do governo russo assistiram ao espetáculo e ficaram encantados,
não apenas pela história encenada, inédita no mundo, mas por entenderem a
direção da obra muito próxima do melhor fazer teatral russo.
Assim, após solicitarem o material da
peça, por escrito, o espetáculo foi convidado, de forma inédita, na história do
TEATRO BRASILEIRO, a ser apresentada
na Rússia, a convite oficial do
governo russo, da família TOLSTÓI e
da embaixada brasileira em Moscou.
Então, o espetáculo foi apresentado no
Teatro Meyerhold, em Moscou, em julho de 2014, e na própria casa do escritor
russo LEON TOLSTÓI, em Yasnaya Polyana, na abertura do
renomado V Festival Internacional Jardim
dos Gênios.
Todas as apresentações ficaram lotadas
e a peça foi, por duas vezes, aplaudida em cena aberta, com longos aplausos, ao
término das apresentações, gritos de “BRAVO!”,
inúmeras solicitações de fotos, autógrafos e entrevistas com as atrizes e o
diretor.
Num livro, que é colocado, à saída do espetáculo,
à disposição dos espectadores, para que registrem suas impressões sobre a peça,
o que continua acontecendo, na temporada atual, foram registradas inúmeras
manifestações de apreço.
Para o público russo, o que lhes fora,
realmente, mostrado é o que, para eles, representa o verdadeiro TEATRO.
A peça recebeu o reconhecimento
público da família TOLSTÓI e da Embaixada Brasileira em Moscou, que
considerou a temporada um marco para as artes cênicas no Brasil.
Todos
os adjetivos registrados no léxico português serão insuficientes para
qualificar este espetáculo.
Texto: Primoroso!
Direção: Irrepreensível! Atenta a filigranas, que supervalorizam a
encenação. LEONARDO TALARICO demonstrou não só um total conhecimento da
técnica de direção, como também associou a ela sua extrema sensibilidade e
delicadeza.
O diretor
Leonardo Talarico.
Elenco: ambas as atrizes despem-se,
totalmente, de suas personalidades e, ainda que o verbo não seja de agrado de
muitos atores, “incorporam”,
plenamente, as duas personagens, o que, de forma comovente, não permite que o
espectador pisque. Eu estava quase me
descolando da poltrona e me incorporando às cenas, boca seca, olhos fixos e
direcionados àquelas duas marcantes e belíssimas presenças no palco. Muitos aplausos para AMANDA e JULIANA.
Cenário e Figurino: Um dos maiores profissionais no ramo, recentemente,
também, arriscando-se na direção, o que fez com muito brilhantismo (Casa de Cômodos), MARCELO MARQUES esbanja talento neste espetáculo. Os dois figurinos,
especialmente o de SÔNIA, são de um
bom gosto e de uma beleza indescritíveis.
Este, uma verdadeira obra de arte, com detalhes em bordados e aplicações
(para um leigo, como eu) de fazer o queixo cair. Quanto ao cenário, poucas vezes vi um palco preenchido por tão poucos
elementos cênicos e de tão belo visual e praticidade para o espetáculo. Todas as paredes do palco são cercadas por
delicadas cortinas em discreto tom bege, o espaço dividido em dois ambientes: uma sala
da residência da família TOLSTÓI, em
Yasnaia Polyana, com uma poltrona e
uma pequena mesinha de serviço, além de um candelabro com uma grande vela; e o
escritório do escritor, apenas com uma escrivaninha, com papéis e livos nela
amontoados. As peças são bem antigas e
representam, corretamente, o estilo de época.
Atentem para os muitos detalhes de objetos de cena, verdadeiras obras de
arte.
Projeto de Iluminação: Um outro ponto
alto do espetáculo, a cargo de LEYSA
VIDAL. Pouca luz, formando muitas
sombras, cores neutras, utilização de velas, tudo para ajudar a criar o momento
e destacar as ações. Linda iluminação!
Trilha Sonora: Um verdadeiro achado,
assinada por LEONARDO TALARICO. Do início ao final da peça, todos os temas
musicais são de altíssimo bom gosto e sublinham, maravilhosamente, todas as
cenas.
Assessoria de Imprensa: Até nesse aspecto, a produção do espetáculo
acertou, por ter escolhido uma das empresas mais competentes no ramo: João Pontes e Stella Stephany (JSPontes).
Design Gráfico: RENATA CIOSSANI – é belíssimo e bem completo o programa da peça.
Produção: NOI TER CULTURAL. Muito
atenta.
Realização: OS INSUBMISSOS COMPANHIA CRÍTICA DE TEATRO: Parabéns! Que venham novas
realizações do nível desta!
AMOR E ÓDIO EM SONATA é um espetáculo
que se destaca não por apenas um ou dois elementos: tudo nele é grandioso. A
peça nos dá a impressão de que, a qualquer momento, o pomo da discórdia entre
mãe e filha também entrará em cena (Quem sabe?), para tomar algum partido na
contenda ou para se desculpar, com relação a alguém, para esclarecer dúvidas,
que se formam por conta de visões e leituras díspares da mesma realidade, por
parte das duas rivais.
Para
ilustrar, um pouco mais, esta resenha, vão aqui algumas frases de LEON TOLSTÓI, que se tornaram célebres:
- “A verdadeira felicidade está na própria casa, entre as alegrias da família.”
-
“Não é possível ser bom pela metade.”
-
“Aquele que conheceu apenas a sua mulher, e a amou, sabe mais de mulheres do
que aquele que conheceu mil.”
-
“As famílias felizes parecem-se todas; as famílias infelizes são infelizes cada
uma à sua maneira.”
-
“Os atos de uma pessoa tornam-se a sua vida, tornam-se o seu destino. Tal é a
lei da nossa vida.”
-
“Passei por muita coisa na vida e, agora, penso que encontrei o que é
necessário para a felicidade. Uma vida
tranquila e isolada no campo, com a possibilidade de ser útil à gente para quem
é fácil fazer o bem e que não está acostumada que o façam; depois, trabalhar em
algo que se espera ter alguma utilidade; depois, descanso, natureza, livros,
música, amor pelo próximo - essa é a minha ideia de felicidade. E, depois, no topo de tudo isso, você como
companheira, e filhos talvez - o que mais pode o coração de um homem
desejar?"
FICHA
TÉCNICA:
Concepção, Texto e Direção: LEONARDO TALARICO
Supervisão: AMIR HADDAD
Elenco: AMANDHA e JULIANA WEINEM
Participação Especial em “off”: LUÍS MELO
Cenografia e Figurino: MARCELO MARQUES
Projeto de Iluminação: LEYSA VIDAL
Trilha Sonora: LEONARDO TALARICOFotos: LEONARDO TALARICO
Produção: Três Ideias e Soluções Culturais
Assessoria de Imprensa: JOÃO PONTES e STELLA STEPHANYDesign Gráfico: TENATA CIOSSANI
Produção: NOI TRE CULTURAL
Realização: OS INSUBMISSOS COMPANHIA CRITICA DE TEATRO
SERVIÇO:
TEATRO DO LEBLON – Sala Marília Pêra – Rua Conde
Bernadote, 26 – Leblon (RJ)
Temporada: Até de 29 de outubro de 2014
Horário: 3ªs e 4ªs feiras, às 21h
Duração: 80 minutos
Classificação etária: 14 anos
(FOTOS: LEONARDO TALARICO)
Opa...ainda vai dar tempo de assistir!!!Fiquei encantada com sua resenha!
ResponderExcluir