domingo, 21 de setembro de 2014


DUAS VEZES UM QUARTO (2X1/4)
 
(DUAS EM UMA OU UMA EM DUAS?)
 
 
 


            São dois pequenos textos, de um mesmo autor; uma peça inédita, outra não.  Ambas começam num bar e são desenvolvidas num quarto.  Cada uma delas explora um relacionamento de casal.  Ambas tratam da mesma problemática.
            O diferencial da peça é o fato de as duas serem encenadas simultaneamente, no mesmo “palco”, dividido em dois cenários, intercalando-se os diálogos, o que representa um excelente exercício de atenção da plateia e concentração dos atores.  Muito interessante a proposta.
            O Teatro III do CENTRO CULTURAL BANCO DO BRASIL exibe, até o dia 19 de outubro, de 4ª feira a sábado, às 21h, e, aos domingos, às 20h, o espetáculo DUAS VEZES UM QUARTO (2X1/4), que reúne as peças A DAMA DA LAPA e DILÚVIO EM TEMPOS DE SECA, duas das primeiras escritas por MARCELO PEDREIRA, entre 2001 e 2003, ele que também dirige as duas encenações, cada uma delas interpretada por um casal diferente.
 
            A DAMA DA LAPA, com CARLA MARINS e JOSÉ KARINI, é inédita, no Brasil, pois já foi encenada em Lisboa, no ano passado, e adaptada para a telona (Incuráveis, com Dira Paes e Fernando Eiras).  Nesta peça, um homem e uma mulher se conhecem num bar e vão para o quarto dela.  Ele, um “candidato a suicida”, não muito convicto; ela, uma prostituta.  Diariamente, eles se encontram, como se aquela fosse a última noite de vida para ele.  Ele não tem a pretensão de pagar à mulher pelos préstimos sexuais, mas a remunera, e bem, para que ela lhe disponibilize seus ouvidos.  Sim, é isso mesmo: ele só deseja que ela o ouça.  E os dois passam a viver uma relação de cumplicidade total.
 
 
José Karini e Carla Marins.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
            Em DILÚVIO EM TEMPOS DE SECA, com LUCAS GOUVÊA e GUTA RUIZ, um escritor atormentado e à procura do texto perfeito, de uma inspiração para produzi-lo, e uma ex-modelo, muito extrovertida, simpática e divertida, o tipo que, nos dias de hoje, é chamado, popularmente, de “descolada”, também se cruzam, casualmente, num bar, e iniciam uma relação doentia no quarto/ateliê dele, aguardando passar o “dilúvio” que se abate sobre a cidade e se estende por alguns dias.
 
 
Lucas Gouvêa e Guta Ruiz.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
            Para pôr em prática o seu projeto, MARCELO PEDREIRA, conta com um bom elenco.  Imagino que, para um(a) ator/atriz, não seja tarefa muito simples e fácil parar de contracenar com seu(sua) parceiro(a), enquanto a ação passa para um espaço ao lado, sem perder a concentração.  São bons os trabalhos dos dois casais de atores.  LUCAS e KARINI, já os conheço de muitos outros trabalhos e, aqui, repetem o bom desempenho de sempre.  CARLA, muito mais presente em outras mídias, também se sai de maneira satisfatória, incorporando bem sua personagem.  Chamou-me a atenção o trabalho de GUTA, atriz paulista, que eu não conhecia.  Tem muita personalidade, trabalha muito bem a voz e tem forte presença em cena.  Os personagens são anônimos, creio que representando a possibilidade de cada um poder se enxergar na perspectiva de algum deles.  São apenas a “dama da Lapa”, o “suicida”, “o escritor” e a “mulher do dilúvio”.
 
              Gosto dos dois cenários, de PAULO DENIZOT, mas o da direita, espaço que pertence ao escritor, é bem mais criativo e detalhista do que o da esquerda, o do quarto da prostituta: o mesmo clichê de sempre, nos móveis e na decoração.  Talvez pudesse fugir ao tradicional.  Talvez?
 
            TICIANA PASSOS assina um figurino que atende às necessidades do texto.
     
            Quanto à iluminação, de PAULO DENIZOT, faço os mesmos comentários referentes à cenografia.  Luz predominantemente vermelha, para o quarto da prostituta, e branca para o outro.  Nada de novo, mas nada que seja tão “pecaminoso”.
 
Um destaque vai para a boa trilha sonora, de MARCELO PEDREIRA.  É interessante como essa prática, a de o próprio diretor assinar a trilha sonora, vem crescendo ultimamente.  Acho isso muito bom, porque ninguém melhor que o diretor, ou o próprio autor do texto, para saber que sons poderiam valorizar mais cada cena e ajudar a passar o que ele(s) deseja(m).
 
Penso que o espetáculo é uma boa, e barata, opção de lazer, apesar do desconforto do Teatro III do CCBB, por suas incômodas cadeiras e pela falta de ar-condicionado (no dia em que assisti à peça).  Poderá não acrescentar muito, mas, certamente, vai agradar e chamar a atenção do espectador para uma reflexão sobre os batidos, eternos e universais temas abordados na peça: a solidão, muitas vezes, buscada, ou fabricada, pelo próprio “solitário”, e a dificuldade e, até mesmo, incapacidade de comunicação, dos homens, apesar de coabitarem uma “aldeia global”.
 
 
Entre os poucos atributos do espetáculo, a trilha sonora se destaca
 (Dalton Valériuo/Divulgação)
Carla, Lucas, Guta e Karini.
 
 
                           
 
 
 
 
 
FICHA TÉCNICA:
 
Texto e direção: MARCELO PEDREIRA
Direção de Produção: MARCELO CHAFFIM
Elenco: CARLA MARINS, GUTA RUIZ, JOSÉ KARINI e LUCAS GOUVÊA
Assistência de Direção: GABRIEL SALABERT
Cenário: PAULO DENIZOT
Figurino: TICIANA PASSOS
Iluminação: PAULO DENIZOT
Programação Visual: LUCIANO CIAN
Fotografia: DALTON VALÉRIO
Trilha Sonora: MARCELO PEDREIRA
Visagismo: DIEGO NARDES
Produção Executiva: ALINE MOHAMAD
Realização: CRIATURAS CRIATIVAS
Assessoria de Imprensa: PASSARIM ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO & MARKETING
 
 
 
 
 
SERVIÇO:
Teatro III – CCBB – Rua Primeiro de Março, 66 – Centro
Até 19 de outubro de 2014
De 4ª feira a domingo, às 19h30min.
Valor do ingresso (inteira): R$ 10.00
Tempo de Duração: 75 minutos
Classificação: Não recomendado para menores de 16 anos
 
 

 
(FOTOS: DALTON VALÉRIO)
 
 
 
 
 

 
 

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