BEIJE
MINHA LÁPIDE
(WILDE?
BALA? NANINI!!!)
Todo
ano, no Dia de Finados, a mídia mostra, aqui, no Rio de Janeiro, e em outras
capitais brasileiras, uma grande quantidade de pessoas, fazendo peregrinações
aos túmulos de artistas e outras personalidades. Em algumas cidades de outros países, porém,
essa procura aos túmulos de gente famosa é uma atividade diária, e turística.
Ir a
Washington DC, por exemplo, e não visitar o Cemitério (militar) Nacional de Arlington é quase que como uma ida
a Roma, sem conhecer o Vaticano (não precisa ver o papa). Nele, os túmulos mais visitados são os de John Kennedy e de seu irmão, Bob.
Ainda nos
Estados Unidos, o Forest Lawn, uma
cadeia de cemitérios, que abrange nove parques mortuários, espalhados
pelo sul da Califórnia, serve de última morada para vips, como Michael Jackson, Walt Disney, Humphrey Bogart,
Nat King Cole, Sammy Davis Jr., Bette Davis...
Em Buenos
Aires, qualquer roteiro turístico inclui, pelo menos, uma passagem pela porta
do Cemitério da Recoleta, onde a
grande atração é o túmulo de Evita Perón.
Em Paris, esse
nicho do turismo é bem desenvolvido. O Père
Lachaise, um dos cemitérios
mais famosos do mundo, é um dos que mais atraem turistas, para visitar os
túmulos de celebridades ligadas ao mundo das artes. Estão sepultados ali, por exemplo, La Fontaine, Molière, Jim Morrison, Édith Piaf, Marcel Proust, Frédéric
Chopin, Sarah Bernhardt... e o
escritor irlandês Oscar Wilde (1854-1900),
cujo mausoléu é um dos mais visitados.
Um
fato comum, ainda que bastante inusitado, publicado na mídia, e uma mente
brilhante, como a do jovem e talentoso dramaturgo brasileiro JÔ BILAC, foram mais que suficientes
para o surgimento de uma grande história, de um grande texto teatral e, consequentemente,
de um grande espetáculo, que está ocupando o palco do Teatro do Centro Cultural Correios, no Rio de Janeiro. Chama-se BEIJE MINHA LÁPIDE, dirigido por BEL GARCIA e protagonizado por MARCO NANINI, tendo como coadjuvantes “de
luxo”, PAULO VERLINGS, CAROLINE PISMEL e JÚLIA MARINI.
O
texto, excelente, foi construído sobre um acontecimento real, que serviu de
base ou de pretexto para o desenvolvimento de uma história. O lado real da trama é o fato de os fãs de OSCAR WILDE, quase “devotos de um santo”,
terem desenvolvido o bizarro ritual de beijar o túmulo do escritor, utilizando
batom exageradamente vermelho, como marca dessa devoção, o que gerou, por conta
da acidez da saliva e dos elementos químicos que entram na composição do
cosmético, um processo químico de degradação da superfície em que as marcas eram
“indelevelmente” fixadas. Isso fez com
que a administração da necrópole, em 2011, tomasse a decisão de blindar o
túmulo, com uma redoma, um cubo, de vidro.
Aqui, põe-se
um ponto final na realidade e abrem-se as portas para a ficção. Por conta dessa “arbitrariedade”, desse “absurdo”,
do ponto de vista de BALA, um
arrebatado e fervoroso de WILDE, o
ardente fã, num gesto impetuoso e desprovido de qualquer mínimo sentido de bom
senso, em sinal de protesto, viola a proteção, uma bela metáfora para a
não-aceitação do autoritarismo, da imposição das regrais sociais, da
intolerância, quebrando a barreira de vidro que o separa de seu “deus”, atitude
que o leva à cadeia. BALA, em um acesso de
"loucura", reage contra um sistema opressor e aprisionador, ao mesmo
tempo, paradoxalmente, ameaçado pela fragilidade do “infrator”, do “transgressor”.
Numa
brilhante sacada da direção e da cenógrafa, DANIELA THOMAS, a cela em que o prisioneiro está confinado é um
gigantesco cubo de vidro, que o isola, totalmente, muito mais que grades, da
sociedade, com a qual ele não tem o menor direito de conviver (a proteção de
vidro é uma forma segura de isolar o bem do mal, o bom do mau), assim como ocorreu
a OSCAR WILDE, homossexual assumido,
que passou dois anos preso, no final de sua vida, por conta da acusação de
“cometer atos imorais com rapazes”, feita pelo Marquês de Queensberry, pai do Lorde
Alfred Douglas, apelidado de Bosie,
com quem o escritor teria se envolvido.
Mais
uma vez, a terrível e destruidora hipocrisia humana campeando: a relação
homossexual entre WILDE e Alfred era bilateral, mas a “culpa”,
certamente, era da outra parte, “não do meu filho”. Como nos dias de hoje: o filho do vizinho é
que é o veado, a bicha, o pervertido; o meu, quando muito, é “homossexual”; na
maioria das vezes, “gay”, termo com o qual a sociedade hétera menos implica. De preferência, o melhor é não enxergar nada de
“anormal” nele, a não ser um “excesso de sensibilidade”.
Durante o período em
que esteve preso, OSCAR WILDE, cuja
obra máxima é O Retrato de Dorian Gray,
uma autobiografia, para muitos, escreveu algumas outras obras, inclusive o
famoso texto De Profundis, em 1897,
em forma de uma longa carta, que teria sido endereçada ao seu amado Alfred Douglas, na qual, numa atitude
de amor e ódio, WILDE o acusava de
arruinar a sua vida, tendo sido o grande causador de seu sofrimento e da
destruição da sua condição humana e de escritor. Na cadeia, ele perdeu a saúde e a reputação. Quando saiu, viu-se obrigado a viver de
maneira humilde e morreu em 1900, de meningite, agravada pelo álcool e pela
sífilis, fase retratada na peça.
O conteúdo de De
Profundis, como já sugerido pelo título (Das Profundezas) encerra uma profunda autoanálise de consciência,
por meio da qual WILDE “tece
reflexões e observa, a distância, a sua própria tragédia. Ali, ele se vê fora de sua vida de luxo e
sucesso, que tinha, desde então, e mostra como a prisão redimensionou as suas
percepções sobre a vida e a morte”, como afirma JÔ BILAC. E eu completo:
sobre a vida, a morte e o amor.
Mas
não pensem que a proposta da peça é contar a vida de OSCAR WILDE, muito menos
que seja uma adaptação de De Profundis,
entretanto traz à tona, para reflexões, muito da posição do romancista, que
está presente em De Profundis, sobre
preconceitos e julgamentos. Segundo MARCO NANINI, “Bala, que também é escritor,
bissexual, e comunga com o pensamento de Oscar Wilde, questiona o absurdo do
julgamento do escritor, a maneira como ele foi tratado. De forma intencional, mas não panfletária, a
peça tem um discurso contra essa onda violenta de nossa sociedade, que se
manifesta não somente no preconceito sexual, mas também no racial”, o
que pode ser conferido por quem for assistir ao espetáculo, sobre o qual, se
pode dizer que é muito atual, no momento em que as pessoas sensatas, e que
merecem a classificação de “seres humanos”, estão clamando por um verdadeiro e
justo tratamento a todas as pessoas, independentemente de seus gostos, preferências
ou lá o que sejam, em relação à prática sexual, o que só diz respeito a cada um. Esta peça é mais um libelo contra a homofobia
e a intolerância, de modo lato e irrestrito.
Sobre
o texto, magnífico (não me canso de elogiá-lo), podemos dizer que ele apresenta
analogias com a vida e a obra de WILDE,
com algumas citações mais explícitas e outras que se percebem nas falas e nas
histórias das personagens.
O
roteiro foi feito em cima do livro, de Peter
Ackroyd, “The Last Testament of
Oscar Wilde”, um diário fictício sobre seus últimos dias.
É um texto
que, apesar de denso, pelo assunto de que trata, consegue fluir fácil e
delicadamente, atenuado pela presença de dosadas pitadas de um humor fino e, ao
mesmo tempo, contundente, na grande maioria das vezes, traduzido pela
irreverência do protagonista, o que faz com que o público fique atento e
interessado na peça, sem perceber que correm 80 minutos de ação.
Faz rir, mas
também toca fundo na alma do espectador.
Cada estocada do personagem BALA
fere e provoca, no sensível e atento público assistente, sentimentos diversos
de piedade, cumplicidade, vingança, revolta contra o “establishment”...
Mensagens
muito interessantes são citadas explicitamente ou captadas no subtexto, nas
entrelinhas. Não se deixe dispersar (será
difícil isso acontecer) e saboreie cada uma das frases ditas pelos atores. E preste bastante atenção a tudo, pois, como é
dito na peça, “O diabo mora nos
detalhes.”
Quanto
à direção, de BEL GARCIA, não posso dizer nada diferente de que ela foi muito
feliz em seu trabalho. Inicialmente, o
projeto, idealizado por NANINI e FELIPE HIRSCH, seria dirigido por
este. Os dois teriam a oportunidade de
repetir o sucesso alcançado por Pterodáctilos. Não podendo, porém, por conta de outros compromissos,
FELIPE assumir o comando do barco, a
dupla de idealizadores passou a função à atriz e diretora BEL GARCIA, que vem apresentando bons resultados em seus trabalhos
de direção, o mais recente dos quais se constituiu num dos maiores sucessos da
temporada 2013, ainda em cartaz, Conselho
de Classe, no qual a diretora dividiu o trabalho de direção com Susana Ribeiro.
BEL contou, na direção, com a colaboração do elenco e do próprio JÔ BILAC, conhecido por sempre estar
alterando o texto, durante a fase dos ensaios, o que é uma prática bastante
interessante, pois uma coisa é ter um texto escrito, fruto de uma ideia, e
outra é vê-lo sendo ensaiado, para ser representado. E, quando algo pode, e deve, ser alterado, para
ficar melhor, por não ter saído como fora idealizado pelo dramaturgo, nada mais
natural que experimentar outras possibilidades.
Assim ocorreu, por exemplo, com o, já citado, excelente Conselho de Classe. O mesmo se deu no espetáculo em tela.
Ao
elogiar o trabalho de BEL, chamo a
atenção para o fato de que, tendo em mãos um personagem tão forte, como BALA, interpretado por um dos maiores
atores brasileiros de todos os tempos, MARCO
NANINI, e uma história incrível, ela soube dimensionar a importância de
cada coadjuvante “de luxo” (insisto na adjetivação), pondo em evidência os
arquétipos contidos em cada um, alguns até extrapolando os tradicionais.
Acostumada
aos textos de JÔ BILAC, a diretora
parece conhecer bem cada uma das intenções do autor, canalizando-as para o
palco, dando liberdade aos atores e, ao mesmo tempo, orientando-os quanto às
características e reações que cada um deve demonstrar, a partir do texto e de
sua pessoal interpretação deste. Nesta
peça, a “coadjuvância” ganha relevo, nas mãos de BEL. Ela faz com que os três
personagens que giram em torno de BALA
sejam de grande importância no decorrer da trama.
A
mais generalizada análise do elenco
poderia ser traduzida num único adjetivo: irretocável. Fazem-se necessárias, porém, algumas palavras
sobre cada um elemento deste fantástico grupo:
PAULO VERLINGS (TOMMY) – É o
carcereiro, responsável por vigiar as atitudes de BALA e, de certa forma, dividir com este a solidão e o marasmo que
caracteriza suas vidas, pelo menos naquele momento, naquele lugar, naquela
situação. O personagem é ambíguo,
escorregadio, um candidato a escritor medíocre, e que revela sua real personalidade
ao final da história, quando, de forma surpreendente, passa por uma
transformação, chegando a trair a confiança do prisioneiro e a se apropriar do
que não lhe pertencia. Repetindo o que
fez em personagens anteriores, a ator, muito seguro e dedicado em seus
trabalhos, é uma bela presença em cena.
CAROLINA PISMEL (ROBERTA) - É uma
advogada, contratada pela filha de BALA,
INGRID, com a qual, no passado,
tivera um relacionamento homoafetivo, cujo rompimento não fora ainda digerido
por esta, para defender o pai e tentar livrá-lo das grades; ou melhor, da
redoma. A princípio, rejeitada
totalmente, de forma até quase humilhante, por BALA, por sua aparência frágil e de uma profissional insipiente e
incipiente, ROBERTA vai, aos poucos,
se deixando encantar pelo modo de ser de seu “cliente” e, gradativamente,
conquista sua simpatia e confiança. É
uma mulher de personalidade forte, por vezes mordaz, sarcástica, impertinente e
intempestiva, contrastando com momentos de uma fragilidade, da qual BALA se utiliza, para tentar
desqualificá-la e se livrar do incômodo de sua presença. É bastante interessante a trajetória do
relacionamento de ROBERTA e BALA no decorrer da história. CAROLINA
PISMEL é uma atriz que, apesar de muito jovem, já coleciona, em sua galeria
de personagens, trabalhos dignos de todo o respeito, dente os quais destaco o
da enfermeira, em CUCARACHA, outro
dos vários e excelentes textos de JÔ
BILAC.
JÚLIA MARINI (INGRID) – É filha de BALA e, por conta da genialidade de JÔ, “por acaso”, ganha a vida como guia
de turismo no cemitério em que o pai protagonizara a cena de vandalismo. Por causa do comportamento paterno, “politicamente
incorreto”, não mantém, com ele, uma relação normal e saudável de pai e filha,
no entanto, condoída do sofrimento de BALA,
na prisão, mesmo afastada, não mede esforços para livrá-lo daquele pesadelo, à
revelia deste. Por trabalhar junto com PAULO VERLINGS e CAROLINA PISMEL, há muito tempo, na Cia. Teatro Independente, JÚLIA
contracena com os dois com muita naturalidade e cumplicidade. Da mesma forma, comporta-se bem nas cenas em
que “conversa” com a plateia, como se esta representasse os turistas que a
acompanham nas visitas guiadas ao cemitério.
Um dos momentos mais tocantes do espetáculo é aquele em que, depois de
muita resistência de BALA, INGRID vai visitá-lo na cadeia. É muito comovente a cena, o diálogo entre os
dois. Naquele momento, deixei-me levar
mais pelo texto, pois não consegui enxergar muito bem as imagens no palco, já
que minha visão fora prejudicada por um “excesso de lubrificação nos olhos”.
Os
três “coadjuvantes” foram convidados pelo próprio NANINI, para o projeto, não por outro motivo que não seus talentos individuais
e seriedade profissional.
Para o final
da degustação, a tão aguardada cereja: MARCO
NANINI, indiscutivelmente, um dos maiores talentos dos palcos brasileiros
de todos os tempos. Apesar de, como o
bom vinho, se apresentar melhor, à medida que vai amadurecendo, NANINI, desde seus primeiros papéis, já
deixava bem claro a que veio. Nos moldes
de como se concebe um ator, nos dias de hoje, não podemos afirmar que se trata
de um profissional completo, uma vez que não domina a dança e o canto, ainda
que já tenha atuado em musicais, sem fazer feio, entretanto, na arte de
representar, encontra poucos iguais a ele, tanto no drama quanto na
comédia. Neste espetáculo, o ator
exercita muito bem essas duas facetas da arte de representar. Tudo o que se disser com relação a ele será
redundante e, acima de tudo, insuficiente.
Parece ter nascido no palco.
Domina o espaço cênico com a proficiência de um sábio e a sabedoria de
um mestre. Sabe dizer, sabe gesticular,
sabe “camaleonar” com uma gama enorme de máscaras faciais, sabe ocupar o
espaço, sabe qual é o seu espaço.
Assim como seu ídolo, BALA é brilhante, como pessoa, extremamente inteligente, sagaz,
oportunista, ferino, sarcástico, corajoso...
Perdida a reputação, perdido também todo o pudor de lançar ao vento, a que
ouvidos possa atingir, seu grito de revolta incontida, seu protesto contra a
hipocrisia de uma sociedade medíocre, inquisidora, cruel e injusta. Assim, o personagem pode ser identificado,
facilmente, como o alterego do próprio WILDE. Todas as minhas reverências a MARCO NANINI e seu incomensurável
talento.
DANIELA THOMAS assina a cenografia e a direção de arte. Deveria
haver mais adjetivos, no léxico português, além dos já tão gastos, para
qualificar a grandeza deste trabalho, infelizmente um pouco prejudicado (mas só
um pouquinho) pelas diminutas dimensões do palco do Teatro do Centro Cultural Correios.
No período de 11 a 26 de outubro, quando
a peça será transferida para o palco do Teatro
Dulcina, certamente, o cenário e a luz poderão ser mais bem apreciados pela
plateia, uma vez que terão uma maior oportunidade de evidência. Ele é grande e grandioso, para ser exibido
naquele acanhado espaço. Certamente, num
local maior, o público poderá admirar mais esse lindo cenário/instalação,
idealizado por DANIELA. Sem muitos detalhes, apenas um grande cubo de
vidro, a cela em que BALA está
confinado, e, do lado de fora, uma mesa, sobre a qual há um tabuleiro de
xadrez, do qual se servem BALA e TOMMY para passarem o tempo; obviamente,
as jogadas de BALA são orientadas
para que o carcereiro as execute, movimentando as peças. Ali, também, o talento do prisioneiro suplanta
a do guarda. Completa o cenário uma
cadeira.
Dois outros
ótimos elementos do espetáculo são a iluminação,
de BETO BRUEL, e o VIDEOGRAFISMO, de JÚLIO PARENTE. Aquela põe em
relevo as situações que desfilam em cena, criando belos efeitos de sustentação
dos conflitos. Este, muito utilizado nos
últimos tempos, em TEATRO, projeta,
na cena, no cubo, imagens virtuais, atingindo expressivos efeitos, até com
aparência de hologramas. Não dominando o
mundo tecnológico, não sei se incorro em erro, mas pareceu-me ver, projetados,
nas paredes de gigantesco cubo de vidro, efeitos holográficos de profunda
beleza e significação. Não há de demorar
muito e as instituições que promovem e patrocinam prêmios aos melhores do TEATRO deverão pensar em incluir a
categoria “videografismo”, para concorrer a premiação, como um elemento
independente de “cenografia”.
São bons os figurinos de ANTÔNIO GUEDES, amoldados aos personagens. Também merecem destaques a trilha sonora original, de RAFAEL ROCHA; o design gráfico, de FELIPE
BRAGA; a fotografia, de CABERÁ; a sonorização, de DB ÁUDIO,
o visagismo, de RICARDO MORENO (o de MARCO
NANINI está a cargo de GRAÇA TORRES
e ROBERTA MIRANDA); a assistência de direção, de RAQUEL ANDRÉ e a produção de FERNANDO LIBONATI. Assessoria
de imprensa: FACTORIA COMUNICAÇÃO.
Para
terminar a peça, JÔ BILAC optou por
uma bela homenagem ao talento de OSCAR WILDE
e faz com que BALA termine o
espetáculo com um texto do grande escritor, que, além de ser moderníssimo, até
porque é atemporal, traduz tudo o que se viu durante os 80 minutos de duração
do espetáculo e leva as pessoas às lágrimas.
Aqui vai transcrito o que WILDE intitulou
de LOUCOS E SANTOS.
"Escolho meus amigos
não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila.
Tem que ter brilho
questionador e tonalidade inquietante.
A mim, não interessam os
bons de espírito nem os maus de hábitos.
Fico com aqueles que fazem
de mim louco e santo.
Deles, não quero resposta;
quero meu avesso.
Que me tragam dúvidas e
angústias e aguentem o que há de pior em mim.
Para isso, só sendo
louco.
Quero os santos, para que
não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.
Escolho meus amigos pela
alma lavada e pela cara exposta.
Não quero só o ombro e o
colo; quero, também, sua maior alegria.
Amigo que não ri junto não
sabe sofrer junto.
Meus amigos são todos
assim: metade bobeira, metade seriedade.
Não quero risos
previsíveis, nem choros piedosos.
Quero amigos sérios,
daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a
fantasia não desapareça.
Não quero amigos adultos
nem chatos.
Quero-os metade infância e
outra metade velhice.
Crianças, para que não
esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa.
Tenho amigos para saber
quem eu sou.
Pois, ao vê-los, loucos e
santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a
“normalidade” é uma ilusão imbecil e estéril."
Aplausos para o elenco!
BEIJE MINHA
LÁPIDE é impactante, surpreendente, comovente e, mais que um lindo
espetáculo, que apresenta um excelente texto e interpretações irretocáveis, faz
com que pensemos sobre a vida e a arte.
Marco
Nanini + Oscar Wilde + Jô Bilac = Bala = SUCESSO.
SERVIÇO:
Temporada: até 5 de outubro de 2014 – de sexta-feira a domingo, às 19h
Local: Centro Cultural Correios - Rua Visconde de Itaboraí, 20 – Centro - Rio de Janeiro - RJ
Telefones: (21)2253-1580 (Recepção); (21) 2219-5165 (Bilheteria)
Ingressos: R$ 20 (R$ 10 meia-entrada) – de quarta-feira a domingo, das 15 às 19h
Classificação indicativa: 16 anos
Duração: 80 minutos
(FOTOS: CABÉRA)
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