sexta-feira, 10 de janeiro de 2014


VAMPIRAS LÉSBICAS DE SODOMA      

 

O POLITICAMENTE MAIS “(IM)POLITICAMENTE” CORRETO OU VICE-VERSA.


 

            Um espetáculo que esteve na lista das dez melhores peças, no Rio de Janeiro, em 2013, em várias fontes, voltou ao cartaz, no Teatro Café Pequeno, por enquanto, apenas às 4ªs feiras, às 20h.
 

Trata-se de VAMPIRAS LÉSBICAS DE SODOMA, um texto que obteve grande sucesso no circuito “off-Broadway”, da autoria de CHARLES BUSCH, autor premiado, com versão brasileira e direção, ambas excelentes, de JONAS KLABIN.

                                                          Ensaio                                                
         






            No original, a peça não é um musical, mas aqui, talvez pela deliciosa febre de musicais, que vem, felizmente, se firmando no gosto do brasileiro, ela tomou a forma de um espetáculo de cabaré, o que facilita bastante a integração ator/plateia, no acanhado e agradável espaço do Teatro Café Pequeno.


            É uma comédia satírica, que se caracteriza por uma série de vinhetas sobre a vida de duas vampiras em eterna e cômica rivalidade, a saber: a monstruosa SÚCUBO, vivida pela grande cantriz MARYA BRAVO, e a VIRGEM-QUE-VIROU-VAMPIRA, uma criação impagável de THIAGO CHAGAS.  Os embates “das duas” são engraçadíssimos e levam o público a longas e sonoras gargalhadas.


                                                                  Ensaio


Após a sobrevivência à queda da mítica cidade bíblica de Sodoma, primeiro contato das duas, elas se reencontram, ao longo dos séculos, em mais dois períodos: em 1920, na pele de duas divas estrelas da Broadway e de Hollywood, como LA CONDESSA (MARYA) e MADALAINE ASTARTE (THIAGO), e em 1980, em Las Vegas, como as “showgirls” MAGDA LEGERDEMAIN e MADALEINE ANDRÉS, respectivamente, quando, finalmente, fazem as pazes.




MARYA BRAVO


            A estrutura, muito simples, do espetáculo está dividida em três grandes cenas, com um breve intervalo: cena 1, em Sodoma; cena 2, na sala de estar da CONDESSA, em Beverly Hills; cena 3, a sala de estar de uma casa de shows, em Las Vegas.


            Em cada cena, a dramaturgia, com diálogos de muito humor ferino e cáustico, “kitsch”, mordaz e satírico, alterna-se com canções, de letras não menos engraçadas, críticas e interessantes, uma delas, com o toque mágico de CLÁUDIO BOTELHO, na versão.


            Assisti à estreia, nos primeiros dias de dezembro do ano passado, e à reestreia, anteontem, e notei que o texto sofreu algumas alterações, com piadas mais atuais, aproveitando o que está se passando ao redor do mundo, todas muito oportunas, espirituosas e criativas, enriquecendo, mais ainda, o que já era rico: o bom humor do texto; sem falar nos “cacos’, principalmente por parte de THIAGO CHAGAS, o que, neste tipo de espetáculo, é totalmente aceitável e cai como uma luva.  A plateia adora.  Eu também gosto muito.


SÚCUBO morde a virgem.


            A impressão que se leva (para mim, não é só impressão, uma vez que me foi confidenciado pelos próprios atores) é de que, em cena, eles se divertem tanto, ou mais, que o público.  Apesar de ser um espetáculo muito cansativo, para os atores, é, ao mesmo tempo, leve, em função dessa atmosfera de cumplicidade e de companheirismo, explícita entre eles.


            E quem são "eles", além dos já citados MARYA e THIAGO?
 

Completam o elenco ANDRÉ VIEIRA, THADEU MATOS, THUANY PARENTE, DAVI GUILHERMME e THIAGO PÁSCOA, este em breve aparição, como um dançarino.


            ANDRÉ se sai muito bem como ALI, ETIENNE e ZACK.


ANDRÉ VIEIRA (ensaiando)



            THADEU impressiona por sua plástica e incrível capacidade de trabalhar, corporalmente, seu privilegiado físico, em demonstrações de extrema flexibilidade e mobilidade, fruto de muita dedicação aos exercícios e às aulas de dança.  Além disso, sai-se muito bem, interpretando AQUI, CARLOS ROBERTO e DANNY.
 

De protagonista do musical TOMMY, quando ainda aluno da UNIRIO, onde, antes, já trabalhara em THE ROCK HORROR SHOW, ambas com direção de RUBENS LIMA JR., passando por vários outros espetáculos, com destaque para os musicais AS MIMOSAS DA PRAÇA TIRADENTES, O MÁGICO DE OZ e SHRECK, até este mais recente trabalho, é visível o progresso deste ator, que já ocupa um lugar de destaque no cenário dos musicais brasileiros.

 
                                         THADEU MATOS (ensaiando)                                   
      


            THUANY, uma linda presença feminina em cena, defende, corretamente, suas duas personagens: RENÉE GLAMOUR e PRISCILLA.  Tem uma bela voz e, na peça, aproveita bem a oportunidade de mostrá-la.

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THUANY PARENTE




            DAVI GUILHERMME, outra feliz descoberta da dupla MÖLLER & BOTELHO, no memorável O DESPERTAR DA PRIMAVERA, é uma grata surpresa (pelo menos o foi para mim), pois, além de se sair bem como ator, é um exímio pianista e canta maravilhosamente bem, destacando-se num solo, na abertura do 2º ato, que arranca aplausos em cena aberta.
 

Não bastasse tudo isso, seus conhecimentos, com relação à música, o credenciaram a assinar a direção musical do espetáculo, aos 22 anos de idade.  Já não é uma promessa.  Feliz realidade, que só tende a se aperfeiçoar, mais e mais.



                                                 DAVI GUILHERMME




            Não se pode deixar de fazer uma alusão e um voto de merecimento aos seguintes profissionais: JONAS KLABIN, pelas já citadas versão e direção da peça; ALAN REZENDE, pela coreografia; CÉSAR AUGUSTO, pela supervisão geral; MARTA REIS, pela direção de arte; LUIZ PAULO NENEN, pela iluminação; GABRIEL D’ÂNGELO, pelo som e pela sonoplastia, e DANIEL REGGIO, pelo visagismo (muito boas as caracterizações).




As vampiras "inimigas".




            É um espetáculo muito divertido, escrachado e, paradoxalmente, caprichado; ousado, atrevido e transgressor, ao mesmo tempo, respeitoso com a plateia (os raros momentos de interatividade, em nada, ofendem ou humilham o espectador, como, infelizmente, se vê em outras montagens do gênero). 


É para ser visto mais de uma vez, já que, paralelamente ao fio da trama, o elenco parece ter, por parte da direção, licença para brincar com o texto e criar em cima ele.  Não há fígado que consiga sair do teatro opilado; muito pelo contrário, lá ficam, talvez, os problemas e as preocupações que, porventura, nos acompanharam até o Café Pequeno.





                                            Coreografia na cena 3.




Um detalhe que não pode passar em branco: por conta de um grave problema técnico, do teatro, na reestreia, os atores tiveram de ser apresentar sem os microfones, o que, praticamente, não comprometeu o trabalho do grupo, principalmente o de MARYA BRAVO, que tem uma participação maior nos vocais e que dá conta do recado com seu vozeirão.


            Mais que recomendo. 


MARYA BRAVO e detalhe da iluminação.




Tomara que consigam pautas para esticar a curta temporada de um dia só por semana!
 

Se quiser assistir, compre seu ingresso com muita antecedência, pois, desde a primeira estreia, a casa sempre trabalhou com lotação esgotada.





                                            A sensualidade abunda.       
                                    


Às favas o “politicamente correto”!
 

Viva o humor!
 

Viva a alegria!
 

Viva o divertimento!






"Espelho, espelho meu!"






Vivam as VIRGENS LÉSBICAS DE SODOMA!




 

THUANY e THIAGO




                                                             DAVI e MARYA





DAVI e ANDRÉ




THIAGO e MARYA





THADEU e THUANY














(FOTOS RETIRADAS DA PÁGINA DA PEÇA, NO FACEBOOK, E DE DIVULGAÇÃO DO ESPETÁCULO.)






 

 

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