AMIGO CYRO, MUITO TE
ADMIRO!
AMIGOS QUE ADMIRAM O AMIGO CYRO, NÓS
TAMBÉM MUITO OS ADMIRAMOS!
Nada melhor, para começar o ano, do que assistir a um
excelente espetáculo teatral, como AMIGO
CYRO, MUITO TE ADMIRO!, texto de RODRIGO
ALZUGUIR, direção de ANDRÉ PAES LEME,
elenco formado por ALEXANDRE DANTAS, CLÁUDIA VENTURA, MÍLTON FILHO e RODRIGO ALZUGUIR, acompanhados por quatro excelentes músicos.
O espetáculo está em cartaz (estreou anteontem) no TEATRO II DO CENTRO CULTURAL BANCO DO
BRASIL e lá ficará até o dia 9 de fevereiro, de 5ª a domingo, às 19h30min.
Conheço pessoas que torcem o nariz para o que chamam de "teatro biográfico", peças que retratam a trajetória pessoal e/ou profissional de artistas, principalmente. Particularmente, muito me agrada esse gênero. É, a grosso modo, trocar a leitura de um livro biográfico por uma peça biográfica. Mudam as linguagens e as mídias, mas a história de alguém, que merece tê-la contada, lá está, num ou noutro. E quem ganha é o grande público. Não estou, absolutamente, pregando a maior importância do TEATRO sobre a Literatura.
Os nomes de ALEXANDRE DANTAS e CLÁUDIA VENTURA reportam, imediatamente, a tal tipo de espetáculo, que já fazem há alguns anos.
Tudo começou com ANTÔNIO MARIA – A NOITE É UMA CRIANÇA, quando os dois iniciaram uma bela trilogia, que deu certo, com texto de MARCOS FRANÇA, o qual também atuava no espetáculo, e a direção de JOANA LEBREIRO.
A já referida trilogia, nos mesmos moldes e com os
mesmos artistas, se completou com AI,
QUE SAUDADES DO LAGO! (uma homenagem a MÁRIO
LAGO) e AQUARELAS DO ARY (desta
vez, homenageando ARY BARROSO).
A cumplicidade do casal, dentro e fora do palco, é um
fator de muita relevância na atuação dos dois.
O trabalho anterior deles, AMOR
CONFESSO, com texto de ARTHUR AZEVEDO e brilhante direção de INEZ VIANA, foi grande sucesso de público e de crítica e viajou, pelo Brasil
e por Portugal, em longas e vencedoras temporadas. São dois excelentes atores e, como não poderia
deixar de ser, resplandecem neste espetáculo.
RODRIGO ALZUGUIR, autor do excelente texto de AMIGO CYRO, MUITO TE ADMIRO, é um artista polivalente. Produtor, grande pesquisador, músico, ator e cantor. Entre os anos de 1997 e 1999, trabalhou na curadoria, catalogação e organização do acervo do produtor HERMÍNIO BELLO DE CARVALHO, o que lhe rendeu profundos conhecimentos e experiência na área musical.
Organizou o levantamento da obra do compositor JOSÉ RAMOS. Como ator, atuou, dentre tantas peças, no musical "O SAMBA CARIOCA DE WILSON BATISTA", escrito por ele, o grande biógrafo do consagrado sambista (acabou de lançar, em livro ricamente editado, a biografia de WILSON), após uma longa e profunda pesquisa. Nesse espetáculo, que fez uma brilhante carreira e foi transformado num excelente CD, RODRIGO dividia o palco com CLÁUDIA VENTURA. A direção era de SIDNEI CRUZ.
Na área de pesquisa para musicais, produziu CLARA NUNES - BRASIL MESTIÇO; OUI, OUI, A FRANÇA É AQUI e RIO... ENREDO DO MEU SAMBA. RODRIGO, como sempre, está muito à vontade neste espetáculo.
MÍLTON FILHO,
ainda que jovem, também é um veterano ator de musicais, tendo-se destacado em
trabalhos como NOEL, O FEITIÇO DA VILA;
SAMBINHA; UM RIO CHAMADO MACHADO; RAIMUNDA,
RAIMUNDA; NA SELVA DAS CIDADES; AS MIMOSAS DA PRAÇA TIRADENTES; REVISTA DO ANO – OLIMPO CARIOCA e QUANDO A GENTE AMA, seu mais recente
trabalho. Desses, apenas RAIMUNDA, RAIMUNDA e NA SELVA DAS CIDADES não eram
musicais. Além de interpretar e cantar
muito bem, MÍLTON tem uma intimidade
muito grande com a comédia, revelando-se um ótimo ator cômico. Todos provocam risos (e lágrimas também) na plateia, nesta peça,
mas ele é o que mais aguça as gargalhadas do público, com seus trejeitos, caras
e bocas, além de engraçadas inflexões de voz.
No programa da peça, RODRIGO ALZUGUIR transcreve citações de ELIS REGINA sobre CYRO MONTEIRO, de quem foi amiga, que também é apresentado como um homem alegre, carinhoso, espirituoso, malandro, delicado, charmoso, emotivo e desafetado, acrescentando, ainda, que o seu canto “além de traduzir muito bem o seu dono, mudou paradigmas da música popular brasileira, lá pelos anos
A direção do espetáculo, de ANDRÉ PAES LEME, é excelente. Ele optou por um CYRO representado pelos quatro atores, ao redor de uma mesa de bilhar, instalada num botequim de um subúrbio qualquer do Rio de Janeiro ou, mais propriamente, do Rocha, bairro em que nasceu o cantor e compositor. Num tom narrativo, mesclado por encenações dos mais importantes momentos na vida e na carreira artística de CYRO, a história vai sendo contada. ANDRÉ preferiu não fazer um musical coreografado, mas os movimentos dos quatro atores em cena conferem à peça um dinamismo muito grande, reforçado pelo revezamento dos quatro na interpretação do protagonista.
É muito interessante a ideia de ir marcando, num quando de giz, que fica ao fundo, no cenário, não os pontos que os “jogadores” vão marcando, durante o “jogo”, mas, sim, os nomes de personagens que marcaram a trajetória de CYRO, incluindo um de seus amores, MARILU.
Apenas um comentário “negativo”, fácil de ser sanado: os atores grafam MARILÚ, com um acento agudo, proibido em vocábulos oxítonos terminados em –U.
Perdão pelo vício do professor de Língua Portuguesa, lembrando que tal “escorregão” nem de longe causa algum prejuízo ao belo e emocionante espetáculo. E vai ver até que a tal moça poderia ter sido registrada com o acento, já que, em priscas eras, os cartórios não levavam muito em consideração as normas gramaticais.
Por falar em cenário, este, assinado por CARLOS ALBERTO NUNES, reproduz, com precisão, como já foi dito anteriormente, um botequim, ou um salão de bilhar, suburbano, com detalhes muito interessantes da direção de arte. O mesmo CARLOS ALBERTO é responsável pelo figurino, muito interessante: os quatro atores usam calça bege, corte clássico de alfaiataria, e camisas num tom azul claro, em quatro diferentes modelos. Tudo muito sóbrio e elegante, ao feitio do homenageado.
Num musical, seria considerado um pecado mortal uma má conduta dos músicos, o que não é o caso aqui. Pelo contrário, o quarteto formado por LEVI CHAVES (sopros), LUCAS PORTO (violão), LUÍS BARCELOS (bandolim e cavaquinho) e MARCUS THADEU (percussão) é excelente, comentário que também ouvi da boca de vários espectadores, à saída do espetáculo, seguindo a bela e competente direção musical de LUÍS BARCELOS.
Muito boa é a direção de movimento, de DUDA MAIA, assim como a iluminação, de RENATO MACHADO, o desenho de som, de FERNANDO FORTES e a preparação vocal, de MARCELO RODOLFO.
Toda essa gente reunida e mais alguns outros, nos bastidores, são responsáveis por um belo espetáculo, uma merecida homenagem a CYRO MONTEIRO, que tem uma programada temporada de apenas seis semanas, no CCBB, mas que promete atingir uma longevidade, em outros teatros e em outras praças, por conta da excelente qualidade do espetáculo.
E, como se tudo isso não bastasse, ainda há uma cena, no espetáculo, em que é interpretada uma canção de CHICO BUARQUE, uma genial obra-prima, em homenagem (na verdade, uma brincadeira) a CYRO, sob a forma de uma carta, quando este, flamenguista doente, presenteara a primeira filha de CHICO, sabidamente um grande tricolor, com uma camisa do Flamengo. A canção, que eu adoro, se chama ILMº SR. CYRO MONTEIRO (subtítulo: RECEITA PRA VIRAR CASACA DE NENÉM), e vai aqui a letra:
ILMº SR. CYRO MONTEIRO
(ou RECEITA PRA VIRAR CASACA DE NENÉM)
(Chico Buarque)
Amigo
Cyro,
Muito te admiro,
O meu chapéu te tiro
Muito humildemente.
Minha petiz
Agradece a camisa,
Que lhe deste à guisa
De gentil presente.
Mas, caro nego,
Um pano rubro-negro
É presente de grego,
Não de um bom irmão.
Nós, separados,
Nas arquibancadas,
Temos sido tão chegados
Na desolação.
Muito te admiro,
O meu chapéu te tiro
Muito humildemente.
Minha petiz
Agradece a camisa,
Que lhe deste à guisa
De gentil presente.
Mas, caro nego,
Um pano rubro-negro
É presente de grego,
Não de um bom irmão.
Nós, separados,
Nas arquibancadas,
Temos sido tão chegados
Na desolação.
Amigo
velho,
Amei o teu conselho,
Amei o teu vermelho,
Que é de tanto ardor,
Mas quis o verde
Que te quero verde.
É bom pra quem vai ter
De ser bom sofredor.
Pintei de branco o teu preto,
Ficando completo
O jogo da cor.
Virei-lhe o listrado do peito
E nasceu, desse jeito,
Uma outra tricolor.
Amei o teu conselho,
Amei o teu vermelho,
Que é de tanto ardor,
Mas quis o verde
Que te quero verde.
É bom pra quem vai ter
De ser bom sofredor.
Pintei de branco o teu preto,
Ficando completo
O jogo da cor.
Virei-lhe o listrado do peito
E nasceu, desse jeito,
Uma outra tricolor.
MAIS QUE
RECOMENDO!
Amigos que admiram o amigo CYRO,
nós também o admiramos e a vocês.
E VIVA A
MÚSICA POPULAR BRASILEIRA!
E VIVA O
TEATRO MUSICAL BRASILEIRO!
Elenco, músicos e equipe de produção.
Panorâmica da cena.
Confissões. Amigo é pra essas coisas.
Quem ganhará a partida? Os espectadores, é claro!
Depois da tempestade...
...vem a bonança.
Momento de ternura.
CLAUDIA VENTURA e RODRIGO ALZUGUIR.
O que é aquilo?!
Descontração. Quem entra na roda?
Acertando a parte musical.
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