PRECISO ANDAR
(CAMINHAR É PRECISO. CADA UM COM SEUS PRÓPRIOS PÉS. MAS PARA ONDE?)
Muitas das vezes, vou ao teatro com uma grande expectativa, provocada pelos mais diversos motivos.
Na última 3ª feira, dia 7 de janeiro, fui ao Teatro de Arena da Caixa Cultural, afogado em tanta expectativa, causada pelo diretor do espetáculo.
IVAN SUGAHARA, ao apagar das luzes de 2013, me falara, com tanto entusiasmo, de uma peça, WANDERLUST, que ele estava ensaiando, e que, no Brasil, recebeu a tradução (brilhante), de GUSTAVO KLEIN, para PRECISO ANDAR, escrita em 2010, e de seu jovem autor, o inglês NICK PAYNE, vencedor de vários prêmios na Europa, que eu não via a hora de ver representada a tal peça, o que se deu na sua estreia para convidados.
Algo me dizia que eu iria gostar muito do espetáculo, porque sou um grande admirador do talento do IVAN e, conhecendo alguns dos atores do elenco, acreditava que o projeto estaria fadado ao sucesso. E, após o espetáculo, só fiz ratificar a minha expectativa. Mais que isso. Ela foi superada.
Não precisa de legenda.
O texto é excelente. Trata de quê? Fala de assuntos cotidianos, mas que, em sociedades tradicionais, são tratados com parcimônia, quase proibidos. Libido, prazer, afetividade e amor são os pontos convergentes neste texto. E SUGAHARA e seus seis maravilhosos atores, muito corajosamente, ousados ao extremo, não tiveram o menor pudor para discuti-los, levando as situações abordadas pelo autor às últimas consequências, em termos de representação teatral.
WANDERLUST é uma expressão alemã, traduzida, ao pé da letra, por "SEDE DE VIAGENS" e pode significar tanto o desejo de viajar quanto, metaforicamente, o de sair de uma zona de conforto ou do próprio eixo.
Tal expressão foi incorporada ao vocabulário britânico e sua escolha como título não foi aleatória. SUGAHARA vê, nesse termo, a necessidade que cada personagem tem de se reinventar, por meio de seus próprios passos ("Começar de novo e contar comigo / Vai valer a pena ter sobrevivido" - Ivan Lins e Vítor Martins).
A caminhada de cada um dos personagens os levará não importa aonde, mas, certamente, há de tirá-los de uma situação estanque, do marasmo, da mesmice. São palavras do próprio diretor: "O viajar para fora também implica olhar para dentro de si. Reinventar-se é recomeçar. Não é à toa que a última fala da peça é 'COMEÇAR DE NOVO'."
A caminhada de cada um dos personagens os levará não importa aonde, mas, certamente, há de tirá-los de uma situação estanque, do marasmo, da mesmice. São palavras do próprio diretor: "O viajar para fora também implica olhar para dentro de si. Reinventar-se é recomeçar. Não é à toa que a última fala da peça é 'COMEÇAR DE NOVO'."
Caminhar, sim, cada um com suas próprias pernas, em direção ao seu destino, se é que há um ou cada um traça o seu e por ele é responsável.
Cenário simples, mas muito funcional e objetivo.
Pode-se dizer que o espetáculo envolve três pares, não casais, não entre si, mas com ligações íntimas entre si. "Cada personagem atravessa uma crise e faz o seu 'wanderlust', em busca do seu ideal de felicidade", segundo TÁRIK PUGGINA, idealizador do projeto e um dos componentes do elenco.
SUZANA NASCIMENTO e OTTO JR., respectivamente, LIZ e ALAN, a despeito das boas atuações de todos do elenco, destacam-se com excelentes interpretações. A cena do "striptease" desajeitado, feito por SUZANA, para "agradar" ao marido, quase que já vale a ida ao teatro.
Um pouco da sinopse da peça:
WANDERLUST é a palavra que todos os personagens de PRECISO ANDAR (e todos os humanos) trazem atravessada na garganta. Todos passam por transformações em suas vidas: descoberta da sexualidade, do corpo e do primeiro amor, por um casal de adolescentes; colapso conjugal, traição, fantasias sexuais e entrega ao amor, pelo casal protagonista; fuga emocional, questionamentos sobre suas escolhas e busca pelo autoconhecimento, por uma jovem de 26 anos; e, por fim, uma busca, no passado, para responder a angústias, por um homem de 38.
LIZ e ALAN estão com o casamento em crise. Vivem um conflito profundo com relação aos desejos e necessidades sexuais. Ela só vive adiando o sexo e ele, sempre cobrando esse adiamento. Ela acha que ele a utiliza apenas como alguém que possa satisfazer seus impulsos da carne, como um objeto sexual, enquanto ele, obsessivamente, tenta resgatar o prazer e a sanidade que a vida sexual já proporcionara aos dois.
SUZANA e OTTO.
Ele busca, com frequência, o sexo da esposa, à noite. LIZ, por sua vez, tenta resgatar o relacionamento, ou melhor, o "status" de casal, evitando o assédio de ESTÊVÃO, personagem de TÁRIK PUGGINA, colega de escola, que reaparece na sua vida, em seu consultório médico, para tratar de males localizados na região genital. É hilária a "consulta médica" e todas as demais cenas envolvendo os dois atores.
ESTÊVÃO é aquela pessoa que se pode dizer "sem-noção", completamente atrapalhado, muito confuso, e que tenta um relacionamento extraconjugal com LIZ, do que advêm muitas situações engraçadíssimas. Ele também é casado e busca uma salvação para o seu presente, sem perspectivas. Muito bom o trabalho de TÁRIK.
SUZANA e TÁRIK.
ESTÊVÃO é aquela pessoa que se pode dizer "sem-noção", completamente atrapalhado, muito confuso, e que tenta um relacionamento extraconjugal com LIZ, do que advêm muitas situações engraçadíssimas. Ele também é casado e busca uma salvação para o seu presente, sem perspectivas. Muito bom o trabalho de TÁRIK.
Já ALAN, professor, encontra amparo em CLARA, personagem de CRISTINA LAGO, uma colega de profissão, no mesmo colégio, mais jovem, com quem se envolve. Correta atuação a da atriz.
Enquanto isso, o adolescente TÉO, de quinze anos, vivido por FÁBIO CARDOSO, filho de ALAN e LIZ, faz suas primeiras descobertas sexuais com a amiga MICHELLE, representada por BEATRIZ BERTU. Juntos, eles vão desvendando seus corpos e revelando suas angústias, medos, tudo regado a uma dose de muito bom humor, que os dois jovens sabem como fazer, com relativa facilidade. Bom trabalho da dupla.
FÁBIO CARDOSO e BEATRIZ BERTU
Não há desfecho para os personagens. Todos seguem "precisando andar", ainda que tenham dado seus primeiros passos. Mas fica muito bem claro, com a marca do diretor, de colocar os atores, ao final do espetáculo, andando, incessantemente, no perímetro do espaço cênico (arena), que não se pode mesmo parar. É PRECISO ANDAR.
Segundo TÁRIK PUGGINA, "O texto é despudorado e objetivo. O autor não usa de preâmbulos para chegar a um ponto". E é isso mesmo; ele vai direto, com o dedo na ferida. Talvez resida, exatamente, nesse despudor, fundamentado nos diálogos e nas ações, nas cenas e, também, em muito do que é sugerido nas rubricas, que reside toda a graça e qualidade do texto. Acreditem: o texto é formidável!
Um texto como o de WANDERLUST merecia uma boa tradução. Para isso, contribuiu o talento de GUSTAVO KLEIN, fazendo-a, mais do que boa, ótima.
Todos os
nomes que constam na ficha técnica estão de parabéns, mas os destaques vão para
o interessante cenário, de AURORA DOS CAMPOS; a iluminação, de TOMÁS RIBAS; os
figurinos, de TICIANA PASSOS e a trilha sonora, de IVAN SUGAHARA (um achado).
Estamos
começando muito bem a temporada teatral de 2014 e um dos espetáculos responsáveis por isso
é PRECISO ANDAR, que recomendo, com muita alegria, a quem deseja se divertir com um humor de qualidade, por meio de diálogos inteligentes e instigantes.
"O que dá pra rir dá pra chorar / Questão só de peso e medida / Problema de hora e lugar / Mas tudo são coisas da vida / O que dá pra rir dá para chorar" (Billy Blanco), dizia o compositor. O espectador ri bastante, no decorrer do espetáculo, entretanto, depois, tem tudo para mergulhar numa reflexão e chegar à conclusão de que ELE TAMBÉM PRECISA ANDAR. Como? Para onde? À procura de quê? Cada um que procure sua resposta!
(FOTOS DA PRODUÇÃO E DA DIVULGAÇÃO DO ESPETÁCULO.)
Como sempre Otto Jr. ARRASA!
ResponderExcluirBelíssimo espetáculo!
A PEÇA É O MÁXIMO <3
ResponderExcluirOTTO JR. ARRASA E É MUITO LINDO, SUZANA NASCIMENTO ESTA ESPETACULAR !