sexta-feira, 29 de agosto de 2025

“HAMLET”

ou

(UMA EXCELENTE RELEITURA CONTEMPORÂNEA

DE UM CLÁSSICO.)

 



         O que fez com que um crítico de TEATRO, tão acostumado a assistir a montagens daquela que é considerada, pelos estudiosos, a maior peça de Shakespeare, ou, pelo menos, a melhor tragédia, “HAMLET”, aceitasse um convite para assistir a mais uma releitura da obra, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) – Rio de Janeiro? Já mais do que conhecedor do trágico enredo, certamente, foram dois os motivos: o primeiro seria conferir mais um trabalho de direção de BRUCE GOMLEVSKY, e o segundo, saber que o espetáculo seria encenado pela “Cia. Teatro Esplendor”, marcando o seu “début”, 15 anos de excelentes serviços prestados ao TEATRO brasileiro.



      Montar “HAMLET” é, sem sombra de dúvida, um grande desafio para qualquer encenador, principalmente quando se trata de criar algo diferente de tudo quanto já se aplicou em centenas, ou, talvez, milhares de montagens anteriores, mundo afora, em mais de quatro séculos. A peça, que, no longo título original, pela primeira vez publicada na Inglaterra, é “A Tragédia de Hamlet, Príncipe da Dinamarca” (“The Tragedy of Hamlet, Prince of Denmark”), é, também, a mais longa obra do bardo inglês e, ao que tudo indica, a que lhe deve ter custado mais para ser escrita, além daquela mais montada, desde sua primeira apresentação. Não se sabe, exatamente, de quando data, porém pesquisas de estudiosos levam a crer que tal fato tenha se dado entre 1599 e 1601, passando a ser conhecida, simplesmente, como “HAMLET”.



  A peça traça um mapa do curso de vida na loucura real e na loucura fingida — do sofrimento opressivo à raiva fervorosa — e explora temas como traição, vingança, incesto, corrupção e moralidade. Acredita-se que Shakespeare a tenha escrito baseado na lenda de Amleto e numa suposta peça do TEATRO isabelino, conhecida hoje como "Ur-Hamlet".

 



SINOPSE (BEM SIMPLIFICADA):

Considerada uma das maiores tragédias já escritas, “HAMLET” narra a jornada do jovem príncipe da Dinamarca, Hamlet (BRUCE GOMLEVSKY), que retorna ao castelo de Elsinore, após a morte do pai, que tinha o mesmo nome.

Ao chegar, descobre que sua mãe, Gertrudes (SIRLÉA ALEIXO), havia se casado com seu tio Cláudio (GUSTAVO DAMASCENO), que passou a ocupar o trono, usurpando-o.

O fantasma do antigo rei aparece para Hamlet, apresentando-se como seu espírito e lhe revela ter sido assassinado por Cláudio, dizendo-lhe que este, irmão do rei, o matara com um frasco de veneno, despejando o líquido em seu ouvido.

O fantasma pede que Hamlet vingue sua morte.

O príncipe concorda, com pena do espectro, decidindo fingir-se de louco, para não levantar suspeitas, contudo duvida da personalidade do fantasma.

A partir disso, ele mergulha numa busca obsessiva por vingança, que o leva a questionamentos sobre a existência, o destino e a própria loucura.

O desmascaramento de Cláudio é atingido através de um recurso singular: o teatro no teatro (metalinguagem).

Demente em luto pela morte do pai, Polônio (JAIME LEIBOVITCH), Ofélia (GLAUCE GUIMA), antes cortejada pelo príncipe Hamlet, caminha por Elsinore, cantando libertinagens, enlouquecida.

Para desmascarar o crime, Hamlet finge-se de insano, confronta seus aliados e inimigos, e se vê envolvido em uma trama trágica que culmina em um duelo fatal e no colapso de toda a corte.

A montagem leva a questionar a vida e a morte, o poder e a justiça, numa adaptação intensa, corajosa e dinâmica, física, que dialoga com os dilemas éticos da sociedade contemporânea.


 


         Para os que desejam conhecer, nos mínimos detalhes, toda a trama dessa macabra história, sugiro que busquem, na “enciclopédia livre”, Wikipédia, uma sinopse super detalhada da obra. Ainda que essa fonte não possa ser reconhecida como “totalmente fidedigna”, garanto-lhes que a referida sinopse é muitíssimo rica e fiel ao original da peça.



          Perco-me na contagem de a quantas leituras e releituras da peça já assisti, lembrando-me de que algumas me marcaram sobremaneira, como foi o caso de uma, da “Armazém Cia. de Teatro” (2019), dirigida por Paulo de Moraes, e outra, sob a esplêndida direção de Gabriel Villela (2024), sendo que a atual, motivo da presente crítica, iguala-se, em qualidade, às duas citadas. Cada uma delas traz a “visão” de um grande encenador e BRUCE GOMLEVSKY, que também protagoniza, escancaradamente bem, o espetáculo, foi brilhante na decisão de levar à cena uma montagem bastante contemporânea e ousada, criativa e original, não se afastando, todavia, das raízes da peça, do seu original.



         A história é a mesma de sempre, contada literal e cronologicamente, porém as soluções encontradas pelo diretor são geniais, embora, se vistas por críticos “xiitas”, pudessem provocar a não aceitação da encenação (Não preciso dizer a quem me refiro. Todos os que conhecem e admiram o bom TEATRO já sabem que me reporto àquela senhora que, apesar de sua comprovada competência, era muito conservadora, conhecida, muito respeitosamente, como “a viúva de Shakespeare”.).



          Na sua “genial e doce loucura”, BRUCE resolveu mudar o sexo de três personagens masculinos, vividos por três atrizes. O sobrinho do rei da Noruega (Fórtimbras, vivido pela atriz trans ALITTA DE LEÓN), país que estava em contenda com a Dinamarca, o qual acabou por conquistar o solo inimigo, passou a ser uma “sobrinha”, que se apresenta como uma brava “soldada”, à feitura de uma guerrilheira, como a personagem da saudosa Dina Sfat, no filme “Macunaíma” (1969), de Joaquim Pedro de Andrade, portando uma arma moderna. Dois falsos amigos do príncipe, Guildestern (MARIA CLARA MIGLIORA) e Rosencrantz (TAMIE PANET), além de também terem se transformados em mulheres, aparecem como dois personagens humanoides, tais quais dois robôs, saídos de um jogo de videogame. Ideia magnífica!



         Outras introduções merecedoras dos meus mais profundos elogios são a utilização de telefones celulares e “laptop”, substituindo papéis e possíveis pergaminhos, personagens fazendo “selfies”, sem falar na utilização de revólveres, uma arma de fogo que só viria a ser patenteada em 1836, e outras “máquinas de matar” do mundo moderno.



       Dois detalhes igualmente bem contemporâneos estão presentes na cena em que Hamlet é torturado, com choques elétricos e afogamento, que, infelizmente nos reportam aos porões da ditadura militar no Brasil - 1964 / 1985 -, “página infeliz da nossa História”.



       Uma das mais incríveis soluções de BRUCE se concentra na cena, das mais importantes na trama, em que, para testar as reações do tio assassino, Hamlet pede a uma trupe de atores saltimbancos que representasse uma peça, procurando reconstituir a maneira como o pai havia sido morto pelo irmão usurpador. Em vez que representar, teatralmente, aquele momento, o diretor houve por bem, mostrar tudo em um “filmete”, em preto e branco, mudo, como um filme expressionista alemão, do início do século XX, cena que provoca um grande impacto na plateia.



         Um acréscimo que caiu como uma luva, dentro da proposta da direção, é uma "rodinha" em que o diretor da peça encomendada, o próprio BRUCE, passa orientações aos atores que a representarão. Mais um vibrante e interessantíssimo exemplo de metalinguagem.   


  

Uma outra cena que não pode passar em branco é quando é feita a revelação do assassinato. No original, há uma aparição de um fantasma, mas, na visão de BRUCE, o que ocorre é Horácio (RICARDO LOPES) incorporando, com voz e gestos, o espírito do rei falecido. Outra jogada de mestre.



         Não se consegue detectar nenhum defeito nesta montagem. A cenografia (NELLO MARRESE) é econômica e satisfaz, completamente, às necessidades de todas as cenas. Os figurinos (MARIA CALLOU) são extremamente criativos e elegantes. A iluminação, de ELISA TANDETA, nome sempre presente nas peças dirigidas por BRUCE, é de uma expressividade a toda prova. Também me encantou a caracterização, a cargo de MONA MAGALHÃES. A direção, de BRUCE GOMLEVSKY, é impecável; só não diria que é surpreendente, porque, dele, sempre espero o melhor e uma superação, em relação aos seus trabalhos anteriores. E nunca me engano.



         O elenco, coeso e totalmente comprometido com sua função na peça, atua de forma irretocável, coerente e perfeitíssima, observação que faço dos principais personagens aos que são de menor importância na narrativa cênica. Além dos nomes já citados, e seus respectivos personagens, ainda merecem aplausos DANIEL BOUZAS, como Laertes e, ainda, AQUARELA NEVES e GUILHERME PINEL.



O espetáculo, cujo texto traz uma excelente tradução inédita de GERALDO CARNEIRO, é, indubitavelmente, mais um sucesso da Cia. Teatro Esplendor”, que registra, entre tantos outros, premiadíssimos, “Festa de Família”, “O Funeral”, “O Homem Travesseiro”, “A Volta ao Lar”, “Um Tartufo”, “Uma Revolução dos Bichos”, “Outra Revolução dos Bichos” e “Pedrinhas Miudinhas”.



         A encenação leva a plateia a assistir ao desenrolar da peça de pé – uma pequena parte inicial – e ocupando, sentada, diferentes lugares, dispostos em três partes da audiência. Geralmente esquecida, nas críticas, louvo a direção de produção, de GABRIEL GARCIA

 

 


 

FICHA TÉCNICA:

Texto: William Shakespeare
Tradução: Geraldo Carneiro
Direção: Bruce Gomlevsky
Assistência de Direção: Julia Limp

Elenco: Bruce Gomlevsky, Gustavo Damasceno, Ricardo Lopes, Glauce Guima, Sirléa Aleixo, Jaime Leibovitch, Daniel Bouzas, Maria Clara Migliora, Tamie Panet, Alitta de Léon, Aquarela Neves e Guilherme Pinel


Cenário: Nello Marrese
Figurino: Maria Callou
Iluminação: Elisa Tandeta 
Caracterização: Mona Magalhães
Trilha Sonora Original:  Sacha Amback
Operação de Som: Manuella Prestes
Duelo de Espadas: Marcus Bittencourt
Fotos: Dalton Valério
Foto Cartaz: Guilherme Scarpa
Filmagem e Edição: Bruno Primo
Programação Visual: Amarildo Moraes
Assessoria de Imprensa: Dobbs Scarpa
Assistência de Produção: Lucas Gustavo
Direção de Produção: Gabriel Garcia


 

 

 

SERVIÇO:

Temporada: De 15 de agosto a 08 de setembro de 2025.
Local: Centro Cultural Banco do Brasil do Rio de Janeiro (CCBB – RJ) – Teatro III.
Endereço: Rua Primeiro de Março, nº 66 – Centro (Candelária) - Rio de Janeiro – RJ.
Dias e Horários: De quarta-feira a segunda-feira, às 19h; domingo, às 18h.
Valor dos Ingressos: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia-entrada).

Vendas: Bilheteria do CCBB ou pelo site www.ccbb.com.br
Duração: 140 minutos, aproximadamente.
Capacidade: 30 lugares.

Classificação Etária: 18 anos.

Gênero: Tragédia.


 

 


Esta nova montagem do clássico de Shakespeare propõe uma abordagem intensa, emocional e física — construída ao longo de mais de 11 meses de laboratório nos ensaios —, ao mesmo tempo que preserva a força da poesia shakespeariana. A encenação evidencia os conflitos morais e psicológicos do protagonista e o embate entre aparência e verdade, razão e instinto, poder e corrupção. A adaptação também busca um diálogo direto com o mundo contemporâneo, jogando luz sobre os dilemas éticos que atravessam a sociedade. Trata-se de uma das quatro peças que correspondem a uma ocupação da “Cia. Teatro Esplendor, no CCBB-RJ, para festejar seus 15 anos de existência, reafirmando o compromisso do grupo com a experimentação estética, o aprofundamento dramatúrgico e a reinvenção de grandes obras do repertório nacional e mundial. Aconselho a que não percam este evento, que vai, aqui, RECOMENDADO POR MIM.

 

 

 

FOTOS: DALTON VALÉRIO

 

 

 

É preciso ir ao TEATRO, ocupar todas as salas de espetáculo, visto que a arte educa e constrói, sempre; e salva. Faz-se necessário resistir sempre mais. Compartilhem esta crítica, para que, juntos, possamos divulgar o que há de melhor no TEATRO BRASILEIRO!

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 




 

 




 


















































































quinta-feira, 21 de agosto de 2025

“CLARA NUNES

– A TAL GUERREIRA”

ou

(UMA BELA E COMOVENTE CELEBRAÇÃO.)

 

        

 

Tinha tudo para ser mais um musical biográfico, “engessado”, seguindo os trâmites desse tipo de espetáculo, mas não o é, porque é algo “na visão de JORGE FARJALLA”. É fato que não tenha fugido às características principais de um musical biográfico, mostrando, cronologicamente, os detalhes mais importantes da vida do homenageado - No caso, homenageada, a grande intérprete CLARA NUNES. -, mas este tem um tempero especial: o foco na espiritualidade da cantora e em sua ancestralidade. Já assisti a dois ou três outros musicais que abordavam e homenageavam CLARA, mas, sem dúvida, nenhum deles traz a força e a pujança deste.


 

 

SINOPSE:

Um ritual!

Reencontro com o sagrado, na obra de uma das maiores cantoras do Brasil.

Abram alas para “CLARA NUNES - A TAL GUERREIRA”, uma viagem onírica pela trajetória da intérprete, que escreveu seu nome na história da Música Popular Brasileira, através do samba e de sua busca na religiosidade de um povo ecumênico, miscigenado e plural, universalidade das raças, dentro de um "corpo-partitura", que cultua os santos, reza um canto e canta um ponto.

O palco de um teatro, sua morada, é o ponto de partida na sagração de sua história.

Guiada pela amiga e diretora Bibi Ferreira e por seus orixás, CLARA ainda está arraigada no plano físico e precisa entender a transição entre dois mundos, vida após a vida, mistura instigante e curiosa, amálgama de um pensamento terreno.

Sua casa, no musical, é o “olimpo” dos bambas: um barracão de escola de samba, onde as personagens de sua trajetória se destacam, em pedaços de carros alegóricos, refletidos na realidade de CLARA, futuro, presente e memória, no barracão da vida desse grande carnaval, que aqui chamamos de eternidade.


 

 


O espetáculo é uma grandiosa, linda e merecida celebração que, através das canções interpretadas por CLARA, glorifica a passagem desse “ser de luz”, a “Claridade”, como era chamada por muitos, pelo plano material e perpetua aquela que foi a primeira profissional feminina a ter status célebre de venda de discos no país, sendo respeitada por tal feito. Ela abriu as portas do sucesso e do reconhecimento para tantas outras também importantes intérpretes. Desde o continente africano até uma cidade no interior do Brasil, nas Minas Gerais, os povos se fundem, para contar e cantar a vida de nossa eterna “Sabiá”.



CLARA NUNES foi o nome artístico adotado por Clara Francisca Gonçalves Pinheiro, nascida em Paraopeba, interior de Minas Gerais, em 12 de agosto de 1942. Foi uma cantora e compositora brasileira, considerada uma das maiores e melhores intérpretes do país. Pesquisadora da Música Popular Brasileira, de seus ritmos e de seu folclore, também viajou para muitos países, representando a cultura do Brasil. Conhecedora das músicas, danças e das tradições africanas, ela se converteu à umbanda e levou a cultura afro-brasileira para suas canções e vestimentas. Foi uma das cantoras que mais gravaram canções dos compositores da Portela, sua escola de samba do coração. Também foi a primeira cantora brasileira a vender mais de cem mil discos, derrubando um tabu de que “mulheres não vendiam discos”. Ao longo de toda a sua carreira, vendeu quatro milhões e quatrocentos mil discos. Foi considerada, pela revista “Rolling Stone”, como a nona maior voz brasileira e, pela mesma revista, a quinquagésima primeira maior artista brasileira de todos os tempos.




O espetáculo repete, em solo carioca, o mesmo sucesso alcançado em duas temporadas que passaram por São Paulo, além de algumas apresentações em Fortaleza e Belo Horizonte, arrancando os mais notáveis elogios do público e da crítica especializada, não sem motivo. O espetáculo já foi assistido por quase 60.000 espectadores.



         No palco, o legado de uma das maiores cantoras do Brasil é resgatado e revisita aspectos da liberdade artística, religiosa e poética da artista, transformando sua obra e sua vida em uma verdadeira celebração à brasilidade. Sim, antes de qualquer coisa, estamos diante de uma montagem que sabe explorar as belezas culturais de um país rico em arte, de qualquer gênero, representado por CLARA NUNES.



     Dono de um currículo invejável, como diretor e encenador, JORGE FARJALLA, uma das mentes mais criativas e inquietantes do universo teatral brasileiro, coleciona grandes sucessos, como diretor, dos quais se destacam, não seguindo a ordem cronológica, “Prata Palomares”, “Dorotéia”, “Senhora dos Afogados”, “Vou Deixar de Ser Feliz por Medo de Ficar Triste?”, “O Mistério de Irma Vap”, “Brilho Eterno”, Dom Quixote de Lugar Nenhum e uma vibrante leitura de “Álbum De Família”.



JORGE FARJALLA.


         Seu trabalho, “sui generis”, de encenador, prima pela “desconstrução do trabalho do ator e seus vícios, por uma linguagem única, na direção e encenação dentro do fazer teatral, território que lhe deu maior projeção, mas não está restrito somente a ele; a música e o áudio visual também contemplam sua visão, nada ortodoxa, sobre as coisas. Com um olhar peculiar no ímpeto “pop” e assinatura autoral, FARJALLA, arregimenta públicos imensos e coleciona montagens inesquecíveis, usando e ousando da criatividade e estética como assinatura”. (Trecho extraído do “release”, a mim enviado por Diogo Locci, assessoria de imprensa.).




         É impossível assistir a este musical e não se emocionar bastante e sair do teatro plenamente gratificado por tudo que nos é dado ver e admirar, do texto às interpretações, passando pela exímia direção e por toda a plasticidade da qual a peça é revestida.



         Lamento não ter conseguido assistir a esta montagem, numa das vezes em que estive em São Paulo, com Vanessa da Mata, idealizadora do projeto, na pele da protagonista, entretanto afirmo que a atuação de EMANUELLE ARAÚJO é profícua e cercada de todos os cuidados para parecer a própria protagonista, sem, porém, o desejo de imitá-la, na íntegra. De igual forma, em termos de trabalhos perfeitos de atores, comporta-se todo o imenso elenco, muito bem entrosado, formado por artistas já meus velhos conhecidos, como, por exemplo, CAROL COSTA, ANDRÉ TORQUATO, LUCAS PURIFICAÇÃO, FÁBIO ENRIQUEZ, PAULO VIEL e FLAVIO PACATO, e muita gente, a maioria, incipiente, para mim. Todos se empenham pelo seu melhor e conseguem atingir o objetivo, quer interpretando, quer cantando, quer cumprindo os passos muito bem coreografados por GABRIEL MALO. Além do excelente protagonismo de EMANUELLE ARAÚJO, quero, representando todos os demais do elenco, louvar o brilhante e irretocável trabalho de CAROL COSTA, ao interpretar Bibi Ferreira. É incrível, de difícil dimensionamento, o nível de atuação dessa atriz, que parece ter muita habilidade para imitações, como já o havia provado, ao representar a apresentadora Hebe Camargo, no musical “Hebe” e em outro, recente, “Rita Lee - Uma Autobiografia Musical”. Por mais de uma vez, fechei os olhos e, “vi” Bibi, pela incrível imitação da voz dessa grande artista. Creio que todos passaram pela mesma sensação, dadas as reações dos que estavam perto de mim. Mil vezes parabéns, CAROL!




        O texto, escrito por ANDRÉ MAGALHÃES e JORGE FARJALLA, tem por objetivo - e o consegue - levar para as tábuas aspectos da vida da artista, que passam por suas raízes, em Minas Gerais; seu encontro com o sincretismo religioso do Brasil (o candomblé, a umbanda e o catolicismo); seus amores; e sua música, que flutua por diversos ritmos brasileiros, inclusive, o samba de sua amada Portela. Tudo isso é muito bem costurado, por intermédio de sua parceira, e amiga confidente, Bibi Ferreira.



        O visual da peça é um colírio para os olhos, representado por uma cenografia exuberante e dinâmica, que permite várias entradas e saídas de grandes elementos cênicos no palco, com uma roda de samba ao fundo, um corretíssimo trabalho de MARCO LIMA, tudo na cor branca, uma das cores dos orixás de cabeça de Clara, Ogun e Iansã. O aspecto “clean” e místico da peça se estende aos belíssimos trajes que compõem o figurino da peça, tudo, sem a menor exceção, também na cor branca, assinado por LUIZ CLAUDIO SILVA e JORGE FARJALLA, cheio de encantadores detalhes, que embelezam, sobremaneira, cada uma das muitíssimas peças. Toda a beleza plástica, passada pelo cenário e pelas indumentárias, ganha um forte e expressivo destaque, sob as luzes desenhadas pelo talento de CÉSAR PIVETTI. Que primor de iluminação! Por muito tempo, tenho a certeza de que não me sairão da memória visual afetiva os detalhes plásticos desta encenação.




        A parte musical é agradabilíssima, pousada nos grandes “hits” do repertório de Clara Nunes, vestidos em “trajes de gala”, bem modernos, fruto do brilhante trabalho de direção musical, a cargo do talento de FERNANDA MAIA, que criou excelentes arranjos musicais.  Ainda reservo muitos aplausos para um trabalho nem sempre reconhecido pelo público e pelos críticos e jurados de prêmios, que é o de visagismo, sob a tutela de SIMONE MOMO



Louvo, e isso não poderia passar em brancas nuvens, o empenho e o trabalho de três pessoas sensíveis, que acreditam no bom TEATRO e que estão à frente da produção da peça: MARCO GRIESI (Palco 7 Produções), DANIELLA GRIESI (Solo Entretenimento) e FELIPE HERÁCLITO LIMA (Sevenx Produções Artísticas). Os três apostaram no projeto e o tornaram possível, para a nossa alegria.

 


 

FICHA TÉCNICA:

Idealização: Vanessa da Mata

Argumento, Direção e Encenação: Jorge Farjalla

Texto: André Magalhães e Jorge Farjalla

Direção Musical: Fernanda Maia

Direção Coreográfica: Gabriel Malo

 

ELENCO: Emanuelle Araújo (Clara Nunes), Carol Costa (Bibi Ferreira), André Torquato (Aurino), Vitor Vieira (Poeta), Caio (Adelzon), Felipe Adetokunbo (Èsù), Ananza Macedo (Nanã), Leilane Teles (Iansã), Lucas Purificação (Ogum), Fábio Enriquez (Mané Serrador), Paulo Viel (José/Músico), Badu Morais (Ensemble/Cover Clara Nunes), Marisol Marcondes (Ensemble/Cover Bibi Ferreira), Jessé Scarpellini (Ensemble/Cover Aurino/Adelzon/Poeta/Músico), Wesley Guimarães (Ensemble/Cover Ogum), Preta Ferreira (Ensemble/Cover Nanã), Larissa Grajauskas (Ensemble/Cover Iansã), Douglas Mota (Ensemble/Cover Èsù), Flavio Pacato (Ensemble/Cover José), Jade Ito (Ensemble), Elix (Ensemble), Guilherme Gila (Ensemble/Cover Mané Serrador/Músico), Silvia Lys (Ensemble/Músico), Thiago Brisolla (Ensemble/Músico), Daniel Warschauer (Ensemble/Músico), Ronaldo Gama (Músico), Tavinho Damasceno (Músico) e Matheus Caitano (Músico)

 

Cenografia: Marco Lima

Figurino: Luiz Claudio Silva e Jorge Farjalla

Desenho de Luz: César Pivetti

Desenho de Som: Bruno Pinho

Visagismo: Simone Momo

Coordenação Técnica: Hélio Schiavon Jr.

Preparação Vocal e Assistência de Direção Musical: Rafa Miranda

Coordenação de Comunicação: André Massa

Direção de Arte: Kelson Spalato

Assessoria de Imprensa: Agência Taga (Guilherme Oliveira e Diogo Locci)

Fotografia: Flávia Canavarro

Direção Residente: Dani Calicchio

Coordenação de Produção: Bia Izar

Produção Executiva: Paola Portela, Igor Bulhon e Tame Louise

Produção Geral: Marco Griesi e Daniella Griesi

Produtor Associado: Felipe Heráclito Lima

Apresentação: Ministério da Cultura e Petrobras

Realização: Palco 7 Produções, Solo Entretenimento e Sevenx Produções


 




 

SERVIÇO:

Temporada: De 08 a 31 de agosto de 2025.

Local: Cidade das Artes (Grande Sala).

Capacidade: 611 lugares.

Endereço: Avenida das Américas, nº 5300, Barra da Tijuca – Rio de Janeiro.

Dias e Horários: 6ª feira, às 20h; sábado, às 16h e 20h; domingo, às 15h e 19h.

Valor dos Ingressos: Variam de R$ 22,50 a R$ 300, dependendo da localização do assento e se é inteira ou meia-entrada.

Vendas: Internet (com taxa) | Sympla https://bileto.sympla.com.br/event/107353/d/323387

Bilheteria Física (sem taxa): No próprio Teatro (de terça-feira a domingo, das 13h às 19h).

Observação: Nos dias de espetáculos, o funcionamento se estenderá até meia hora após o início da apresentação.

Autoatendimento: A bilheteria do Teatro da Cidade das Artes possui um totem de autoatendimento para compras de ingressos.

O Teatro possui acessibilidade e ar-condicionado.

Duração: 120 minutos (sem intervalo).

Classificação Etária: 12 anos.

Gênero: Musical.


 

 



Não me canso de tecer os maiores elogios a esta obra, que mescla, de forma impecável, o sagrado e o profano, e que eu RECOMENDO, COM O MAIOR EMPENHO, e espero poder rever, se disponibilidade na agenda eu tiver.


 

 

 

FOTOS: FLÁVIA CANAVARRO

 

 

É preciso ir ao TEATRO, ocupar todas as salas de espetáculo, visto que a arte educa e constrói, sempre; e salva. Faz-se necessário resistir sempre mais. Compartilhem esta crítica, para que, juntos, possamos divulgar o que há de melhor no TEATRO BRASILEIRO!