domingo, 20 de abril de 2025

 

“FESTIVAL DE CURITIBA”

“AVESSO DO AVESSO”

ou

(IDENTIFIQUE-SE E

RIA DE SI MESMO.)

ou

(BOM HUMOR

A SERVIÇO

DO TEATRO.)

 



     Sabidamente um gênero popular, sem ser "popularesco", que agrada à maioria daqueles que frequentam os teatros, a COMÉDIA, infelizmente, por incrível que possa parecer, não goza da simpatia de muitas pessoas – inclusive da classe teatral -, as quais chegam a enxergá-la com uma “arte menor”, do que discordo, peremptoriamente, com todas as minhas forças. É claro que, de forma lamentável, uma considerável quantidade dos espetáculos desse gênero é montada sem muito cuidado, principalmente com o texto, e nada mais desagradável do que ter a “obrigação de sorrir” diante de textos tão ruins, pobres de graça, e, como se isso já não bastasse para nos aborrecer, ainda temos que nos deparar com uma fraca interpretação e/ou com elementos de construção da peça abaixo de um bom nível de qualidade.





          Felizmente, não é o que acontece com a peça “AVESSO DO AVESSO”, um mosaico de seis pequenas histórias, esquetes escritos por quem entende de dramaturgia e de bom humor, interpretados por um casal de atores os quais sabem como se colocar numa COMÉDIA: HELOÍSA PÉRISSÉ e MARCELO SERRADO, sob uma competente direção de MARCELO SABACK.





 

SINOPSE:

         Juntos, pela primeira vez, num palco, HELOÍSA PÉRISSÉ e MARCELO SERRADO interpretam seis diferentes casais, em crise, que, de comum, só têm as diferenças que há entre os dois membros da dupla de personagens, e que até devem ser salutares, entre duas pessoas que formam um casal, desde que não sejam extremas nem absurdas.

Situações inusitadas — e até bizarras — do cotidiano na nossa contemporaneidade dão o tom da comédia “AVESSO DO AVESSO”.


 

 



 

         Embora exista, entre os dois atores, uma amizade que supera as três décadas, é a primeira vez que ambos dividem um palco, numa COMÉDIA leve e gostosa de ser assistida. O espetáculo, que fez parte da programação oficial do “33º Festival de Curitiba”, vem de uma fabulosa temporada de sucesso no Rio de Janeiro, já tendo passado por outras praças, sempre com grande sucesso de público e com lotações esgotadas. A propósito, foi um dos que tiveram suas duas sessões, no “Festival”, esgotadas, tão logo os ingressos passaram a ser vendidos, o que levou a mais duas, extras, sempre lembrando que o Teatro Guaíra comporta 2.180 espectadores, por sessão. O sucesso, no Rio de Janeiro, fez com que a temporada prevista fosse prorrogada, antes de o espetáculo viajar para Curitiba. E os dois atores se preparam para “enfrentar” um público de cerca de alguns milhares de espectadores, numa só sessão, em apresentação única, que farão, no dia 18 de maio deste ano, numa casa de espetáculos do Rio de Janeiro, preparada para receber um público gigantesco, de acordo com cada configuração de plateia, em seu espaço físico. É muita responsabilidade, que o casal de artistas saberá superar, com seu talento e carisma.








 

           Num palco, os atores dependem muito uns dos outros. É preciso que eles se entrosem bastante, que seja desenvolvida uma boa química na interpretação e que ninguém, mesmo que haja um protagonista e vários outros colegas de cena, em personagens secundários, se considere “o vinho servido na Santa Ceia”, visto que sempre um tem que “levantar a bola, para o outro cortar”, como numa partida de voleibol. Sempre alguém é “escada” para outrem e não deve haver “vedetismo”. Todos têm que jogar a favor da "vitória do time", porque, dessa maneira, vencem todos. É exatamente o que fazem PÉRISSÈ e SERRADO, vivendo uma excelente cumplicidade no palco. Ambos são assaz engraçados, sem apelações, descortesias e inconveniências para com o público. Motivos de sobra eles nos dão para boas risadas e até umas gostosas gargalhadas.




 

       O comportamento da plateia se dá muito por conta da identificação das pessoas com este(a) ou aquele(a) personagem, enxergado(a)s em si mesmas ou em outros, conhecidos. Todos, de uma forma ou de outra, estão representados no palco. Segundo MARCELO, as narrativas “têm muita ironia e tintas fortes, uma atitude corporal e muitos ‘plot twists’ (finais surpreendentes)”, afirmação que recebe o meu aval. “Existe, em todos os textos, uma crítica de cada autor à vida de casal nos dias de hoje. E muitos dos conflitos são criados por situações externas, que interferem na vida desses personagens.” Como, então, não nos vermos no palco, ou a outros próximos a nós?



 

           Não há, a meu juízo, pelo menos, nenhum esquete que supere o outro, dado que os textos foram entregues a gente de comprovada competência na arte de escrever para divertir: ALOÍSIO DE ABREU, CLAUDIA TAJES, GUSTAVO PINHEIRO, REGIANA ANTONINI E TATI BERNARDI. São todas histórias independentes, com princípio, meio e fim definidos, tudo muito bem costurado, em forma de uma boa dramaturgia, pelo também diretor MARCELO SABACK. Os atores já haviam sido dirigidos, anteriormente, mesmo que em espetáculos separados, por SABACK, o que deve ter facilitado e se tornado um fazer mais fácil.



 

  Os temas abordados no texto final são universais e atemporais, o que facilitaria o espetáculo ser apresentado até fora do Brasil. São eles machismo X feminismo; vício em celular e internet; materialismo X esoterismo; e, até mesmo – Pasmem-se! - transplante de órgãos. Pelo palco, desfilam coisas como um casal para lá de esquecido; namorados em que o homem precisará se reinventar, para continuar com a namorada; uma situação bem improvável em tentar se redescobriruma mulher submissa, mas nem tanto; uma separação com disputa da guarda de filhos, cachorro e amigos; e, na sala de um consultório, o inesperado acontece.



 

           De uma forma muito correta, a meu ver, a direção optou por um espetáculo econômico, sem muitos elementos cênicos, fácil de ser deslocado de uma praça a outra, com o trabalho focado na interpretação dos atores. MARIETA SPADA, a cenógrafa, colabora com poucas peças cenográficas, o suficiente para levar o espectador a criar, na sua mente, uma amplificação da cenografia; suficiente para sugerir desdobramentos. Os casais usam, praticamente, um figurino básico, de muito bom gosto e funcionalidade, desenhado por TIAGO RIBEIRO. Tudo isso se sobressai sob a belíssima iluminação, no ponto, de PAULO DENIZOT.

 

 




 

FICHA TÉCNICA:

Textos: Aloísio de Abreu, Tati Bernardi, Claudia Tajes, Regiana Antonini e Gustavo Pinheiro

Direção: Marcelo Saback

 

Elenco: Heloísa Périssé e Marcelo Serrado

 

Cenografia: Marieta Spada

Figurinos: Tiago Ribeiro

Iluminação: Paulo Denizot

Direção Musical: Max Vianna

Direção de Movimento: Natacha Travassos

Direção de Palco: Júnior Brasil

Assistente de Direção: Alice Borges

Direção de Produção e Executiva: Rosângela Ribeiro

Direção de Produção: Filomena Mancuzo

Direção Administrativa e Contabilidade: Aguinaldo Silva Filho

Assistente de Produção: Aline Monteiro

Fotos: Annelize Tozetto


 






           É com muito prazer que RECOMENDO O ESPETÁCULO, o qual promete uma vida longa, ainda por vir, em função de sua real qualidade, dentro de um universo que precisa muito de espetáculos com este, para consolidar a COMÉDIA, quando bem feita, como um importante gênero teatral.



















 

 

 

 

FOTOS: ANNELIZE TOZETTO

 

 

É preciso ir ao TEATRO, ocupar todas as salas de espetáculo, visto que a arte educa e constrói, sempre; e salva. Faz-se necessário resistir sempre mais. Compartilhem esta crítica, para que, juntos, possamos divulgar o que há de melhor no TEATRO brasileiro! 

 

 
















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