“FESTIVAL DE CURITIBA”
“AVESSO DO AVESSO”
ou
(IDENTIFIQUE-SE E
RIA DE SI MESMO.)
ou
(BOM HUMOR
A SERVIÇO
DO TEATRO.)
Sabidamente
um gênero popular, sem ser "popularesco", que agrada à maioria daqueles que frequentam os teatros, a COMÉDIA,
infelizmente, por incrível que possa parecer, não goza da simpatia de muitas pessoas
–
inclusive da classe teatral -, as quais chegam a enxergá-la com uma “arte
menor”, do que discordo, peremptoriamente, com todas as minhas forças.
É claro que, de forma lamentável, uma considerável quantidade dos espetáculos desse
gênero é montada sem muito cuidado, principalmente com o texto, e nada mais
desagradável do que ter a “obrigação de sorrir” diante de
textos tão ruins, pobres de graça, e, como se isso já não bastasse para nos
aborrecer, ainda temos que nos deparar com uma fraca interpretação e/ou com
elementos de construção da peça abaixo de um bom nível de qualidade.
Felizmente,
não é o que acontece com a peça “AVESSO
DO AVESSO”, um mosaico de seis pequenas histórias, esquetes escritos por
quem entende de dramaturgia e de bom humor, interpretados por um casal de atores os quais sabem como se colocar numa COMÉDIA: HELOÍSA PÉRISSÉ e MARCELO
SERRADO, sob uma competente direção de
MARCELO SABACK.
SINOPSE:
Juntos, pela primeira vez, num palco, HELOÍSA PÉRISSÉ e MARCELO
SERRADO interpretam seis diferentes casais, em crise, que, de comum,
só têm as diferenças que há entre os dois membros da dupla de personagens, e que até devem ser salutares, entre duas
pessoas que formam um casal, desde que não sejam extremas nem absurdas.
Situações inusitadas — e
até bizarras — do cotidiano na nossa contemporaneidade dão o tom da comédia “AVESSO DO AVESSO”.
Embora
exista, entre os dois atores, uma amizade que supera as três décadas, é a
primeira vez que ambos dividem um palco, numa COMÉDIA leve e gostosa de
ser assistida. O espetáculo, que fez parte da programação oficial do “33º
Festival de Curitiba”, vem de uma fabulosa temporada de sucesso no Rio
de Janeiro, já tendo passado por outras praças, sempre com grande
sucesso de público e com lotações esgotadas. A propósito, foi um dos que
tiveram suas duas sessões, no “Festival”, esgotadas, tão logo os
ingressos passaram a ser vendidos, o que levou a mais duas, extras, sempre
lembrando que o Teatro Guaíra comporta 2.180 espectadores, por sessão. O
sucesso, no Rio de Janeiro, fez com que a temporada prevista fosse
prorrogada, antes de o espetáculo viajar para Curitiba. E os dois atores
se preparam para “enfrentar” um público de cerca de alguns milhares de espectadores,
numa só sessão, em apresentação única, que farão, no dia 18 de maio deste ano,
numa casa de espetáculos do Rio de Janeiro, preparada para receber
um público gigantesco, de acordo com cada configuração de plateia, em seu
espaço físico. É muita responsabilidade, que o casal de artistas saberá
superar, com seu talento e carisma.
Num palco,
os atores dependem muito uns dos outros. É preciso que eles se entrosem
bastante, que seja desenvolvida uma boa química na interpretação e que ninguém,
mesmo que haja um protagonista e vários outros colegas de cena, em personagens
secundários, se considere “o vinho servido na Santa Ceia”,
visto que sempre um tem que “levantar a bola, para o outro cortar”,
como numa partida de voleibol. Sempre alguém é “escada” para outrem e não
deve haver “vedetismo”. Todos têm que jogar a favor da "vitória do time", porque, dessa maneira, vencem todos. É exatamente
o que fazem PÉRISSÈ e SERRADO, vivendo uma excelente
cumplicidade no palco. Ambos são assaz engraçados, sem apelações, descortesias e inconveniências para com o público. Motivos de sobra eles nos dão
para boas risadas e até umas gostosas gargalhadas.
O comportamento
da plateia se dá muito por conta da identificação das pessoas com este(a) ou
aquele(a) personagem, enxergado(a)s em si mesmas ou em outros, conhecidos. Todos,
de uma forma ou de outra, estão representados no palco. Segundo MARCELO, as narrativas “têm
muita ironia e tintas fortes, uma atitude corporal e muitos ‘plot twists’
(finais surpreendentes)”, afirmação que recebe o meu aval. “Existe,
em todos os textos, uma crítica de cada autor à vida de casal nos dias de hoje.
E muitos dos conflitos são criados por situações externas, que interferem na
vida desses personagens.” Como, então, não nos vermos no palco, ou a outros
próximos a nós?
Não
há, a meu juízo, pelo menos, nenhum esquete que supere o outro, dado que os textos
foram entregues a gente de comprovada competência na arte de escrever para
divertir: ALOÍSIO DE ABREU, CLAUDIA
TAJES, GUSTAVO PINHEIRO, REGIANA ANTONINI E TATI BERNARDI. São todas histórias independentes, com princípio, meio e fim definidos, tudo muito bem costurado,
em forma de uma boa dramaturgia, pelo também diretor MARCELO SABACK. Os atores já haviam sido
dirigidos, anteriormente, mesmo que em espetáculos separados, por SABACK, o que deve ter facilitado e se
tornado um fazer mais fácil.
Os temas abordados no texto
final são universais e atemporais, o que facilitaria o espetáculo ser
apresentado até fora do Brasil. São eles machismo
X feminismo; vício em celular e internet; materialismo
X esoterismo; e, até mesmo – Pasmem-se! - transplante de
órgãos. Pelo palco, desfilam coisas como um
casal para lá de esquecido; namorados em que o homem
precisará se reinventar, para continuar com a namorada; uma
situação bem improvável em tentar se redescobrir; uma mulher submissa, mas nem
tanto; uma separação com disputa da guarda de filhos, cachorro e amigos;
e, na
sala de um consultório, o inesperado acontece.
De
uma forma muito correta, a meu ver, a direção optou por um espetáculo econômico, sem
muitos elementos cênicos, fácil de ser deslocado de uma praça a outra, com o trabalho
focado na interpretação dos atores. MARIETA SPADA, a cenógrafa, colabora com poucas peças
cenográficas, o suficiente para levar o espectador a criar, na sua mente, uma
amplificação da cenografia; suficiente para sugerir desdobramentos. Os casais
usam, praticamente, um figurino básico, de muito bom gosto e funcionalidade,
desenhado por TIAGO RIBEIRO. Tudo
isso se sobressai sob a belíssima iluminação, no ponto, de PAULO DENIZOT.
FICHA TÉCNICA:
Textos: Aloísio de Abreu, Tati Bernardi, Claudia Tajes, Regiana
Antonini e Gustavo Pinheiro
Direção: Marcelo Saback
Elenco: Heloísa Périssé e Marcelo Serrado
Cenografia: Marieta Spada
Figurinos: Tiago Ribeiro
Iluminação: Paulo Denizot
Direção Musical: Max Vianna
Direção de Movimento: Natacha Travassos
Direção de Palco: Júnior Brasil
Assistente de Direção: Alice Borges
Direção de Produção e Executiva: Rosângela Ribeiro
Direção de Produção: Filomena Mancuzo
Direção Administrativa e Contabilidade: Aguinaldo Silva Filho
Assistente de Produção: Aline Monteiro
Fotos: Annelize Tozetto
É com muito prazer que RECOMENDO O
ESPETÁCULO, o qual promete uma vida longa, ainda por vir, em função de sua real qualidade, dentro de
um universo que precisa muito de espetáculos com este, para consolidar a COMÉDIA, quando
bem feita, como um importante gênero teatral.
FOTOS: ANNELIZE TOZETTO
É preciso ir ao
TEATRO, ocupar todas as salas de espetáculo,
visto que a arte educa e constrói, sempre; e salva. Faz-se necessário resistir sempre
mais. Compartilhem esta crítica, para que, juntos, possamos divulgar o que há
de melhor no TEATRO brasileiro!
Muito bom! De inicio levei um susto, lendo. Muito bom!
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