terça-feira, 10 de dezembro de 2024

 

“SIDARTA”

ou

(O PURO E O BELO

QUE HÁ NA

NUDEZ INTERIOR.)

ou

(É “OBRA-PRIMA”

QUE SE DIZ?

É, SEM A MENOR CONTESTAÇÃO.)

ou

(À PROCURA DE MIM MESMO - 

QUEM SABE DE MIM SOU EU.

 


 


 

            Sem que eu saiba o motivo, o que, aliás não tem a menor importância para mim, e acho que para mais ninguém, um determinado ator, ou melhor, um grande ator, mudou seu nome artístico. Conhecido, por seu talento e grandes trabalhos nos palcos, IGOR ALGELKORTE assumiu, neste ano, há bem pouco tempo, a personalidade artística de ANGEL FERREIRA. Acho que não seria o caso de iniciar uma crítica teatral por aqui, falando sobre isso, mas me deu vontade, depois de constatar que nomes são apenas nomes. O mais importante é que ele continua com seu manancial artístico inabalável, se é que não está ainda melhor, o que não seria nada de estranho, uma vez que a tendência do ser humano é melhorar, evoluir, com o passar do tempo e o consequente acúmulo de experiências. Talvez isso tenha acontecido ao IGOR – e eu vou ter que me esforçar para passar a enxergar nele um ANGEL.  


 

         Há pouco tempo, questão de meses, um querido ator amigo de São Paulo, utilizando as redes sociais, anunciou, num tom melancólico, aceitável e compreensível, a meu juízo, que, depois de fazer tanto sucesso, atuando em musicais que “bombaram” – e ele é excelente naquilo que faz -, não estava mais encontrando empregos. Completamente desiludido com a profissão, estava decidindo abandoná-la e voltar para a sua cidade, no interior paulista, para “tocar a vida”, sabe-se lá como. Aquilo me doeu fundo no coração, mas, infelizmente, é uma realidade do Brasil. Nada pude fazer, a não ser enviar-lhe, como amigo e fã, uma mensagem de carinho, acolhimento e solidariedade. Espero que as coisas sejam revertidas para ele.


 

 

         Agora, há cerca de uma semana, foi a vez de ANGEL FERREIRA ocupar um espaço nessas mesmas redes sociais, para também fazer um desabafo, porém diferente do de seu colega, depois de representar o monólogo “SIDARTA”, em cartaz apenas por mais esta semana, no Teatro Ipanema (VER SERVIÇO.). O Teatro, que ficou lindo, depois de uma recém-reforma, tem condições de receber até 169 pessoas, contudo, naquela sessão, estavam presentes apenas 12 espectadores. (Já vi muito isso acontecer, infelizmente. Mais atores, no palco, do que público, na plateia, inclusive.) E, assim, o ator externou sua frustração, com toda a emoção contida nas suas palavras: Quando a gente está fazendo uma bomba, uma peça ruim, a gente sabe que o boca a boca não rola. Mas, quando a gente está fazendo um trabalho com muito amor, delicadeza e a gente sente a troca com o público, é outra coisa. Não entendo.”.

 

 

A divulgação “boca a boca” é, sem dúvida, a que melhor funciona; “para o bem e para o mal”. Ou seja, quando o espetáculo não é bom, quem o viu não o divulga ou o faz desestimulando outrem a assistir a ele. Por outro lado, quando vale a pena assistir à peça, como é o caso de “SIDARTA”, as pessoas têm o hábito de divulgar o trabalho. Eu, por exemplo, sou daqueles que gostariam de que todos os meus amigos tivessem o mesmo prazer que eu tive, também vendo a peça, e saio divulgando-a aos quatro cantos do mundo. O que é curioso é que o público vibra com “SIDARTA”, aplaude, intensamente, o espetáculo e sai do TEATRO fazendo os melhores comentários sobre a peça. E não fazem favor algum.


(Foto: Gilberto Bartholo.)

 

         ANGEL FERREIRA está coberto de razão. Esta é a terceira temporada do solo, no Rio de Janeiro, e só pude assistir ao espetáculo no último sábado, dia 07 de dezembro de 2024. A primeira aconteceu na Sede das Cias, na Lapa, margeando a Escadaria Selarón, na Lapa, o que me impediu de ver a peça, por falta de condição para eu ter acesso aquele agradável espaço, visto que, atualmente, vivo sob mobilidade diminuída. A segunda também aconteceu no Teatro Ipanema, mas eu estava fora do país, por um mês, e também perdi a oportunidade de conhecer o trabalho. Finalmente, matei meu desejo, e agradeço muito aos DEUSES DO TEATRO e a RENATO LIVERA, pelo convite.

 

 


        Disse que o ator está coberto de razão, no seu desabafo, e preciso justificar: Não se trata de nenhuma montagem “chinfrim”. “SIDARTA” É UMA OBRA-PRIMA”. Tão logo cheguei a casa, depois de ter visto a peça, corri para uma rede social e não titubeei em escrever que “SIDARTA” É O MELHOR MONÓLOGO A QUE ASSISTI ESTE ANO E UM DOS MELHORES DE TODA A MINHA VIDA, uma OBRA-PRIMA, que me arrancou lágrimas, o que não vem sendo muito comum acontecer comigo, de uns tempos para cá, no TEATRO, e me fez voltar para casa em TOTAL ESTADO DE GRAÇA. QUE TRABALHO DE INTERPRETAÇÃO TEATRAL!!! QUE HARMONIA PLÁSTICA!!! QUE BELEZA DE ESPETÁCULO!!!”.

 

 

A atitude de ANGEL FERREIRA deu resultado, pois, na sessão em que estive presente, o Teatro Ipanema já recebeu 12 espectadores multiplicados por algumas vezes; algumas dezenas deles. Mas é preciso fazer com que os ingressos se esgotem e que que haja uma prorrogação da temporada e/ou uma nova. É URGENTE!!!


 

E IGOR / ANGEL foi além – e também estava certo –, quando reclamou da falta de divulgação dos espaços cariocas. As pessoas sentem dificuldade em saber o que está em cartaz, e onde, em matéria de TEATRO. É A MAIS PURA VERDADE. Os veículos de imprensa, que faziam essa divulgação, estão desaparecendo, a cada dia, ou trocando os seus espaços por outras informações inúteis, mas “que vendem”.



          

Existe, no Brasil, de uma forma geral, um certo preconceito, totalmente estúpido, absurdo e inconsistente, contra monólogos. Se eu tivesse, porém, que relacionar – DETESTO LISTAS, PRINCIPALMENTE AS LIMITADAS!!! – uma relação de “TOP 10 ESPETÁCULOS DE TEATRO DE 2024”, garanto que cerca de a metade seria composta de solos, e “SIDARTA” seria um fortíssimo candidato a “o melhor”. Esse gênero teatral, via de regra, oscila entre 50 e 70 minutos. Raros são os que ultrapassam essa marca de tempo. Só que, para um monólogo ser extenso, é preciso que ele seja muito bom, ótimo ou OBRA-PRIMA. É aí que se enganam aqueles que pensam que o monólogo “é chato”. Qualquer espetáculo ruim, que não se sustenta por sua qualidade, é “chato”, difícil de ser assistido até o final. “SIDARTA” tem a duração de 100 minutos, quase duas horas, tempo que passa, se que o sintamos, e ainda ficamos com o gostinho de “quero mais”, quando a peça termina.

 

 


 

SINOPSE:

Nesta história, acompanhamos Sidarta, educado, bonito, inteligente e filho de um homem rico, de Brâmane, a deixar a casa dos pais.

Seguido por seu melhor amigo, Govinda, ambos aderem aos samanas, que viviam para pensar, esperar e jejuar, vertente espiritual que busca a iluminação, através da mortificação do corpo.

Em seguida, desconfiado e desiludido com o aprendizado com os samanas, Sidarta conhece o próprio Buda, mas não aceita a sua doutrina e dele também se afasta, determinado a encontrar seu próprio caminho ou a morte.

É iniciado nos jogos do amor, estabelecendo relação com uma cortesã da cidade, Kamala, mas só encontra a decadência e decide abandonar tudo, depois de ter se tornado comerciante.

Embrenha-se no vício e no materialismo, para, novamente, deixar tudo para trás e retornar à simplicidade, junto a um barqueiro, o sábio Vasudeva, que se revela um mestre e amigo, e só então conhece a redenção.

Continuamente, encontramos, ao longo do texto, dramaturgias de aprisionamento e libertação, que descortinam suas ilusões e aprofundam sua subjetividade.


 


 


         O espetáculo, que levou 5 anos de preparação, foi inspirado numa das grandes obras da literatura universal, o romance “Sidarta” (“Sidharta), escrito por um dos maiores escritores alemães, Hermann Hesse, vencedor do Prêmio Nobel de Literatura de 1946. A sua primeira publicação foi em 1922 e conta passagem da sua vida e pensamento durante a sua estada na Índia, em 1910, inspirado na tradição contada de Siddhartha Gautama, o Buda.


 

         E o que significa a palavra “Sidarta”? Em sânscrito, “Sidarta” significa “aquele que encontrou o caminho”. O Buda encontrou o caminho da autolibertação. Sidarta” é um romance filosófico, que exalta a busca pela sabedoria e é inspirado na vida de Siddartha Gautama, fundador do budismo. Assim como na peça, o livro narra a busca de Sidarta pela iluminação, na Índia. As histórias de Sidarta e de Buda se confundem.

 



Nascido na Índia, no século 6º a.C., filho da aristocracia religiosa dos brâmanes, “Sidarta passa a infância e a juventude isolado das misérias do mundo, gozando a existência calma e contemplativa que sua condição de casta lhe permitia. A certa altura, porém, abdica da vida luxuosa, protegida, e parte, em peregrinação, pelo país, onde a pobreza e o sofrimento eram regra. Em sua longa parábola existencial, Sidarta experimenta de tudo, usufruindo tanto as maravilhas do sexo e da carne quanto a ascese e o jejum absolutos. Entre os intensos prazeres e as privações extremas, termina por descobrir ‘o caminho do meio’, libertando-se dos apelos dos sentidos e encontrando a senda da iluminação interior.”.

 

 

 O romance tornou-se “livro de cabeceira” de várias gerações, principalmente durante os anos 1960 e 1970. Eu sou testemunha disso. Era comum, na Faculdade de Letras, da UFRJ, onde me graduei, a gente encontrar dezenas de colegas com o livro debaixo do braço. Não escapei a essa tentação; para alguns, “modismo de jovens”. O meu exemplar também me servia para que eu, dentro dele, camuflasse, bem clandestinamente, “O Capital”, de Marx, numa versão em espanhol, adquirida num “sebo”, caindo aos pedaços, de tão velha.

 


 A despeito da simplicidade que envolve a encenação, há uma grande quantidade de competentes profissionais por trás de tudo, para que cada sessão possa acontecer a contento, a começar pela corretíssima supervisão artística, de BETH MARTINS e RENATO LIVERA. Seguem os seus passos THATYANE CALANDRINI, que assume a assistência de direção; WALTER DAGUERRE, responsável por uma interlocução dramatúrgica (Ele é muito bom nisso.); JOÃO GIOIA e RENATO LIVERA, que criaram uma belíssima e expressiva iluminação, que dialoga, “full time”, com o ator; e a luxuosa colaboração artística, de LAVINIA BIZZOTTO. Na FICHA TÉCNICA, não aparecem as rubricas cenografia e figurino. Aquela se resume a um tapete persa, estendido no centro do palco; este é apenas uma calça e uma camisa, bem simples, em tons pastéis, que o ator veste durante um tempo do espetáculo. Durante uma outra parte, apenas um “blazer” amarelo, simbolizando o “estar vestido”. No mais do tempo, ANGEL se apresenta totalmente despido, sem que haja, da parte da iluminação, qualquer preocupação em “cobrir-lhe as vergonhas”. “Vergonha” de quê? Toda a nudez exterior é apresentada da forma mais natural possível. E necessária, dentro da trama. Nu, de vestimentas, por fora, e, elegantemente, vestido, em “gala”, por dentro. Com um olhar de “raio X”, conseguimos enxergar cada milímetro da esplendorosa beleza de sua nudez interior.

 

 


  Assim como é dito que o “o cinema é a arte do diretor”, “o TEATRO é a arte do ator”. Aqui, eu vou muitíssimo além: “‘SIDARTA’ É A ARTE DE ANGEL FERREIRA.”. De onde o ator tira tanta força, tanta naturalidade, tanto carisma, tantos mínimos detalhes gestuais, tantas nuances para as diferentes vozes que reproduz? De onde saem tanta energia e talento, para ocupar o corpo de um só ator, dos melhores de sua geração? O que ANGEL “brinca” com seu corpo e sua voz, seus instrumentos de trabalho, é algo indescritível e digno dos maiores elogios. Trabalho para PREMIAÇÕES, se estas forem sérias. Confesso minha total paixão pelo trabalho do, então, IGOR ANGELKORTE, desde 08 de setembro de 2013, quando, salvo engano, o vi pela primeira vez, num espetáculo quase tão surpreendente quanto “SIDARTA”. Foi na Arena do SESC Copacabana, chamava-se “ELEFANTE” e, para os que tiverem interesse, aqui está o “link” da crítica que escrevi, depois de ter assistido àquela impactante peça. Foi uma das primeiras críticas para o blogue, o que me faz pedir desculpas por possíveis deslizes de qualquer tipo (A revisão era falha.): https://oteatromerepresenta.blogspot.com/2013/09/elefante-como-sao-lindas-as-marcas-do.html.     

 

 


 

FICHA TÉCNICA:

Livremente inspirado no livro homônimo de Hermann Hesse

 

Criação e Atuação: Angel Ferreira

 

Supervisão Artística: Beth Martins e Renato Livera

Diretora Assistente: Thatyane Calandrini

Interlocução Dramatúrgica: Walter Daguerre

Direção de Produção: Marcela Casarin

Iluminação: João Gioia e Renato Livera

Colaboração Artística: Lavinia Bizzotto

Fotografia: Philipp Lavra e Lean Valente

Produção: Mãe Joana Produções

Assessoria de Imprensa: Ligia Lopes


 


 

 

 

SERVIÇO:

Temporada: Até 15 de dezembro de 2024.

Local: Teatro Ipanema.

Endereço: Rua Prudente de Morais, nº 824- Ipanema – Rio de Janeiro.

Dias e Horários: De 5ª feira a sábado, às 20h; domingo, às 19h.

Valor dos Ingressos: R$ 60 (inteira) e R$ 30 (meia-entrada).

Ingressos disponíveis no “site” da Rio Cultura ou na bilheteria do Teatro.

Lotação: 169 lugares.

Duração: 100 minutos.

Classificação Etária: 18 anos.

Gênero: Monólogo.


 


 

  O espetáculo se apresenta na forma de um solo, que amalgama um narrador, personagens e ator, os quais não se confundem, a partir de uma montagem minimalista; econômica, em questões monetárias, e riquíssima, em qualidade. É lindo ver aquele personagem, Sidarta, um espírito rebelde e inconformado, que seguiu os ensinamentos de Buda, porém não se curvou àquilo em que não acreditava, mantendo-se sempre fiel à sua própria alma. Um espetáculo que aborda temas universais, em que a sensibilidade e a magia se traduzem na busca da essência do ser humano. “A trama é uma ficção que abarca temas de valor existencial e mergulha na ambiguidade entre os polos sagrado e profano, sucesso e fracasso, prazer e privação, solidão e pertencimento. Que todos possamos aprender, em “SIDARTA” a ser “sidartas”!

 

 

 

 

 

FOTOS:

PHILIPP LAVRA

e

LEAN VALENTE

 

 

GALERIA PARTICULAR

(Foto: Ligia Lopes.)


Com Angel Ferreira.





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