sábado, 27 de julho de 2024

 

“APARTAMENTO 301”

ou

(AMIZADE COM TODAS

AS CORES DO ARCO-ÍRIS;

E MAIS ALGUMAS.)

ou

 (BASTIDORES 

DE UM UNIVERSO “MARGINAL” 

IGUAL A QUALQUER OUTRO, 

DITO “NORMAL”.)

 



     Se “Todo artista tem que ir aonde o povo está.” (Milton Nascimento e Fernando Brant), penso que é obrigação de todo crítico teatral ir aonde o espetáculo está sendo apresentado, seja num Teatro convencional, seja em qualquer lugar alternativo; até mesmo num apartamento, em Santa Teresa.


 

 

   E foi assim, com esse pensamento e disposição, que não abandono nunca, que fui parar naquele bucólico bairro do Rio de Janeiro, na noite de 22 de julho de 2024, para assistir a “APARTAMENTO 301”, uma “peça gay”, como está no “release” que recebi, de FELIPE CABRAL, o qual faz parte do elenco, ao lado de BRENO SANCHES, CAMILO PELLEGRINI, EDUARDO RIOS, JUNIO DUARTE e LUCAS ABÁ. Fiz questão de destacar a “classificação” da peça (“peça gay”), feita pela própria produção da encenação, porque não vejo nenhuma necessidade da adjetivação. Entendo, perfeitamente, por que o fizeram, e não tenho nada contra, entretanto, para mim, não seria necessário o epíteto, pois, no meu entender, trata-se, simplesmente, de um “peça”; e isso é o que basta, já que qualquer peça boa é uma peça de TEATRO, independentemente de seu tema, dos assuntos tratados, das mensagens que passa; basta que seja boa, condição, indispensável, que me leva a escrever sobre ela.

 

 



 

 

     Não tinha aceitado, antes, o convite para conhecer o “APARTAMENTO 301”, por se tratar, para mim (É muito fácil, na verdade, chegar até ele.), de uma “aventura” ir até ele e demandar algum sacrifício, por conta das minhas condições restritas de deslocamento, contudo, graças a uma série de facilidades que foram colocadas à minha disposição, utilizei três veículos de locomoção (carro próprio, metrô e carro de aplicativo), além da companhia de João Bartholo, meu sobrinho-neto e também ator, e lá fui ver o que me esperava.

 

 

 

    E o que “eu” esperava? Não sabia bem, exatamente, porém já tivera a oportunidade de conhecer alguns projetos semelhantes, cerca de dez, dos quais apenas um não me agradou. Eu já havia “invadido”, ainda que a convite, a privacidade de alguns apartamentos do Rio de Janeiro, para assistir a uma proposta teatral não-convencional.

 

 

 

 

SINOPSE:

Em “APARTAMENTO 301”, o espectador é levado a acompanhar as relações, por vezes conturbadas, entre um grupo de seis amigos, os quais conviveram, por anos, no mesmo imóvel, nem todos juntos num mesmo momento, explorando suas intimidades e afetos.

Amores, conflitos e mágoas atravessam seus encontros, transformando suas vidas para sempre.

Um término afetuoso, um terapeuta que cruza os limites de sua ética, para viver uma paixão, e um ex-ator mirim, frustrado com os rumos de sua carreira, após “sair do armário”, são algumas das linhas narrativas que a plateia encontrará entre os cômodos do imóvel

O reencontro do amigos se dá quando combinaram para decidir o que fazer com as cinzas de um deles, acondicionadas numa pequena urna de vidro, que já está exposta na sala, quando o público vai chegando.

Muitas das ações são trazidas à tona em “flashbacks”.

Há um desfile de sentimentos e reações diversos e, por vezes, opostos, numa sucessão de surpresas para os “visitantes”.    

 


 

 

 

 

    A experiência e apresentada para um restrito público de, no máximo, 24 pessoas. O espectador é recebido por um dos atores (CAMILO PELLEGRINI), o qual faz as honras da casa, já dentro do apartamento, oferecendo uma cachacinha e pãezinhos de queijo aos “visitantes”. A proposta da peça é uma “experiência intimista”, tão bem recebida pelo público, com lotações esgotadas, desde a primeira apresentação, no início de abril -  as reservas se esgotam em poucos minutos -, que a produção decidiu estender sua temporada - originalmente de abril a junho - até o final de agosto, quando completarão cinco meses em cartaz. 

 

 

 

             Os personagens recebem os mesmos nomes dos atores, que vivem suas próprias experiências, envolvendo relações abertas, aplicativos de pegação, paixões e mágoas, brincando com o limite entre ficção e realidade. Em pouco tempo, por vezes, não sabemos se o que estamos vendo já aconteceu ou está acontecendo, pela primeira vez, naquele instante. Não há, em absoluto, a pretensão ou, até mesmo, o objetivo, de responder à questão de “o que é ser gay”. Apenas “o coletivo explora as subjetividades de cada encontro entre seus integrantes”. Menos ainda se trata de uma peça panfletária, na qual se alardeia “as delícias de ser gay”, com, implicitamente, uma intenção de conquistar mais adeptos à “irmandade”. Também não se trata de uma autovitimização, culpando este ou aquele, isso ou aquilo, por sua condição sexual, e explorando o que há de ruim ou perigoso, quando se assume uma “preferência” (Seria, de verdade, uma “preferência”?), uma escolha por amar um semelhante em “gênero”. (“Gênero”? Teria isso alguma importância no amor? Ouçam "Paula e Bebeto" - Milton Nascimento e Caetano Veloso: "QUALQUER MANEIRA DE AMOR VALE A PENA, QUALQUER MANEIRA DE AMOR VALE AMAR".). São reflexões que a peça sugere. O sexteto apenas, “no frigir dos ovos”, deseja mostrar como é o dia a dia de pessoas tão execradas pelos homofóbicos de plantão, na esperança de que alguma coisa aconteça, em termos de respeito e empatia pelos que são “diferentes” (De quê? De quem? Como assim?).

 

 



 

        Por comodidade, ou melhor, por opção própria, do que muito me arrependo, achei por bem permanecer na sala, onde a montagem se inicia, mas poderia ter me deslocados para outros cômodos do imóvel. Isso porque o espectador é convidado a circular pelo espaço, ao longo da apresentação, “como se pudesse espiar pelo buraco da fechadura”, legítimos “voyeurs”; ver o que acontece entre a sala, a cozinha e um dos quartos da residência. Tivesse eu a oportunidade de voltar àquele lugar, faria uma escolha diferente da que decidi viver naquela noite. 


 

 

    Sentimo-nos totalmente abraçados e imersos naquelas situações, levados por “uma dramaturgia íntima, próxima, confortável, incômoda, quente e perto demais”. A receptividade dos atores, a verdade que nos passam e o astral do “APARTAMENTO 301” são de tal forma robustos, que ficamos com a impressão de que já havíamos estado ali antes; mais ainda, no meu caso, foi como eu já estivera ali muitas vezes anteriormente, até recentemente, sensação que me ocorreu muito antes de terem decorridos os 80 minutos da peça. Isso se deu comigo, porém pareceu-me ter ocorrido a todos que lá estavam, pelo que pude observar. A título de informação sobre a minha prática como um avaliador de espetáculos teatrais: O crítico, quando assiste a uma espetáculo tem que ter, obviamente, os olhos voltados para as ações, porém, vez por outra, deve desviar sua atenção para as reações dos demais espectadores, o que se constitui num termômetro de como a peça está chegando à audiência. Posso dizer que deixei aquele agradável lugar com aquele “gostinho de quero mais”.

 

 


 

   Existe uma dramaturgia, um texto previamente escrito, entretanto os diálogos são tão naturais e ditos da mesma forma, que ficamos com a impressão de que ninguém decorou nada e as frases brotam das bocas dos atores/personagens espontaneamente, como se passassem a existir uma após um estímulo. Aplaudo bastante a conduta do sexteto em cena, assim como não tenho nada de especial a dizer sobre os elementos de apoio a uma montagem teatral (Cenogrfafia, figurinos e luz, principalmente. Tudo funciona bem.). 

 

 

 

 

FICHA TÉCNICA:

Dramaturgia Final: Camilo Pellegrini, Eduardo Rios e Felipe Cabral


Elenco: Breno Sanches, Camilo Pellegrini, Eduardo Rios, Felipe Cabral, Junio Duarte e Lucas Abá


Vídeos Projeção: Camilo Pellegrini e Astronauta Mecânico

Identidade Visual: Camilo Pellegrini

Produção: Breno Sanches e Junio Duarte

Assistência de Produção: Lindomar Melo, Carolina Panneitz e Hugo Souza

A concepção artística do espetáculo, desde sua Criação, Dramaturgia, Direção, Iluminação, Cenografia, Figurino e Trilha Sonora é assinada pelo grupo.

 


 

 


 


 

SERVIÇO:

Temporada: De 03 de abril a 28 de agosto de 2024.

Local: Largo dos Guimarães, Santa Teresa (O endereço completo será enviado, mediante reserva por e-mail.).

Dias e Horários: 2ªfeira e 4ªfeira, às 20h.

Duração: 80 minutos.

Ingresso: Contribuição voluntária, na própria sessão.

Lotação: 24 pessoas.

Classificação Indicativa: 16 anos.

Reservas através do producaoapartamento301@gmail.com (As reservas abrem às 2ªfeiras a partir das 8h da manhã, para as sessões da respectiva semana).

 

 

 

       Para ratificar a máxima de que “O teatro é a arte do coletivo.”, “APARTAMENTO 301” é um exemplo, mais que concreto, dessa verdade absoluta. É uma encenação em que, por força do trabalho de uma equipe, uma concepção “coletiva”, via de regra, já nasce predestinada ao sucesso.

 

 

 

            Pelo exposto acima, é mais que evidente que APROVEI A EXPERIÊNCIA E RECOMENDO O ESPETÁCULO, com o maior empenho. E, para concluir, relembro que, obviamente, por uma questão de segurança – não há motivos outros -, os espectadores poderão reservar seus ingressos no início de cada semana (VER SERVIÇO.) e receberão, por e-mail, o endereço completo do local exato das apresentações.

 


















FOTOS: TODOS OS ATORES.

 

 

GALERIA ARTICULAR

(Vários Fotógrafos.)

 

 

Com Felipe Cabral.


Com Camilo Pellegrini.


 

Com Breno Sanches.


Com Junio Duarte.


Com Felipe Cabral, João Bartholo e Camilo Pellegrini.

 

 

 

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