segunda-feira, 16 de outubro de 2023

“O PROFETA”

ou

(O QUE O MUNDO

PRECISA OUVIR AGORA.)

 

 

 

            Num determinado momento, no Brasil, um livro “ficou na moda”. Era “O Profeta”, publicado, pela primeira vez, nos Estados Unidos, há 100 anos, escrito por Khalil Gibran, um ensaísta, prosador, poeta, conferencista e pintor, de origem libanesa, também considerado um filósofo, embora ele rejeitasse esse título. Seus livros e escritos, de simples beleza e espiritualidade, são reconhecidos e admirados para além do mundo árabe. Não sei a que, ou a quem, atribuir o fato de um livro “ficar na moda”. Creio que a mídia, por qualquer motivo, foi parte importante, para levar as pessoas a um desfile, em lugares públicos, com um exemplar do livro embaixo do braço, da mesma forma como, em outro momento, o “must” era carregar consigo uma unidade de “O Capital”, de Karl Marx. Todos queriam demonstrar estar “na crista da onda”, em termos de leitura “obrigatória”. Li este, aos 19 anos e aquele já na casa dos 20. O primeiro, motivado pelo movimento estudantil – Eu cursava Letras, à época, na Universidade Federal do Rio de Janeiro; todo mundo exibia o seu “O Capital”. O segundo, mais por curiosidade, uma vez que sua temática não era tanto de meu interesse naquele tempo. Quanto a “O Capital”, li e gostei, embora muita coisa tivesse ficado meio “nublada”, na minha mente. Já “O Profeta” foi uma grande surpresa, para mim, porque me chegou numa hora em que eu estava precisando muito ler e aprender sobre a importância e necessidade de alguns valores inerentes ao Homem, como o amor, a dor, a amizade, a família, os filhos, a beleza, a natureza, a religião, a alegria, a tristeza, a morte, a dádiva, o prazer, o trabalho e muito mais, por exemplo. Fiquei fascinado pelo livro e me lembro de ter presenteado muitos amigos com um de seus exemplares, que logo se tornou um “best seller”, entre nós. 

 

 

 




 SINOPSE:

O profeta All Mustafa (SAMI BORDOKAN) está prestes a embarcar em um navio, para retornar à sua terra natal, após um ciclo de doze anos no exílio, na cidade de Orfhalese.

No dia da partida, antes da chegada iminente de seu navio, os habitantes da pequena cidade pedem a ele que lhes fale sobre as questões fundamentais da condição humana.

Assim, o profeta responde com reflexões, que, na sua aparente simplicidade, revelam uma compreensão profunda da vida e do processo de existir.

 

 

 


 



         O livro, realmente, é um primor. Uma OBRA-PRIMA, assim como a peça baseada nele. Cada ideia se reveste de uma imagem e se transforma em parábola, criando uma atmosfera de enlevo e encantamento, marcada pela melodia das frases. Khalil Gibran nos convida a nos tornarmos pessoas verdadeiras. Essa atmosfera está presente nesta montagem, fruto de um trabalho conjugado de LÚCIA HELENA GALVÃO, autora do texto, LUIZ ANTÔNIO ROCHA, diretor da peça, e SAMI BORDOKAN, ator que interpreta o Profeta.



         Khalil Gibran, cujo nome original é Gibran Khalil Gibran (em árabeجبران خليل جبران بن ميکائيل بن سعد.), viveu e trabalhou, a maior parte de sua vida, nos Estados Unidos e teve uma vida breve, de apenas 48 anos, o suficiente para nos legar uma profícua obra, acentuada e artisticamente marcada pelo misticismo oriental. Seus livros, escritos em inglês e árabe, expressam as inclinações religiosas e místicas do autor, sendo “O Profeta” sua produção mais conhecida, um dos livros mais vendidos de todos os tempos – o segundo mais vendido, depois da “Bíblia Sagrada” -, tendo sido traduzido em mais de 100 idiomas. A mensagem central da obra, totalmente transposta para o palco, continua a tocar corações através de gerações, contando a história da jornada turbulenta e incerta do Homem pela vida. 





O espetáculo é um solo musical, que desembarcou no Rio de Janeiro, depois de ter sido aclamado pelo público e pela crítica das cidades de São Paulo, Belo Horizonte, Belém e Fortaleza. E já está com uma agenda lotada até o primeiro semestre de 2024. É extremamente positiva esta montagem, que nos mostra que “a cultura amplia nosso entendimento da vida e do mundo e nos aproxima das pessoas com um espírito de respeito, solidariedade e compreensão, com a finalidade de alcançar valores éticos, morais e permanentes que reforcem a dignidade humana”, como está no “release” que recebi de ALESSANDRA COSTA (Assessoria de Imprensa). Destarte, surgiu o projeto de encenar uma peça de TEATRO que se constituísse numa busca para melhorar o mundo e o ser humano, por meio do TEATRO e da filosofia, baseado na obra homônima de Khalil Gibran.






Muito acertadamente, LÚCIA HELENA GALVÃO, a dramaturga, diz que O profeta está enraizado na própria experiência do autor, como um imigrante, e serve de inspiração para qualquer um que se sinta à deriva, em um mundo em fluxo. A vida e os pensamentos de Khalil Gibran se entrelaçam com as nossas vidas e compõem parte importante do que somos. Visto por esse prisma, só posso dizer que, no momento em que estamos, sim, “à deriva, em um mundo em fluxo”, quando a estupidez humana se materializa, na forma de uma guerra cruel e desumana (Todas o são, na verdade.), a Humanidade precisava assistir a este espetáculo; o Oriente Médio, principalmente.



A estrutura dramatúrgica da peça obedece a uma sequência – não me lembro de que seja a do livro – de reflexões sobre temas variados, cada uma delas intercalada por uma linda canção árabe, interpretada pelo mesmo ator, SAMI BORDOKAN, o qual também se faz acompanhar, em todos esses números, tocando um instrumento de cordas de origem árabe, um alaúde. Já aproveito, aqui, para enaltecer o trabalho de WILLIAN BORDOKAN, seu irmão, um magistral músico, que acompanha o ator, tocando variados instrumentos musicais, alguns meio exóticos. Além disso, em determinadas canções, ou trechos delas, WILLIAN faz uma espécie de segunda voz, e o conjunto disso soa como a melodia de anjos aos nossos ouvidos.





Todos os meus mais efusivos aplausos são, agora, dirigidos a SAMI BORDOKAN, um músico e cantor libanês – O “release” não o apresenta como ator, mas ele o é. E dos bons! -, que nos brinda e encanta, paulatinamente, com suas palavras, ditas num ritmo lento, suave, para que cada sílaba seja saboreada pelo espectador. Extraído do já citado “release”: “SAMI é pesquisador de música árabe clássica e folclórica e faz releituras de temas tradicionais num trabalho de resgate de peças ancestrais. Seu estilo de tocar o alaúde e de cantar é único, reunindo influências diversas, desde a música clássica árabe, o canto bizantino, o Sufismo, o flamenco e a música popular brasileira”. SAMI é um ARTISTA, com todas as maiúsculas. Espero que cada um que me honra com sua leitura não perca tempo e corra ao “Teatro Fashion Mall”, onde o espetáculo está em cartaz (VER SERVIÇO.), a fim de constatar a veracidade de minhas palavras. Fiquei com a impressão de estar ouvindo o verdadeiro “Profeta”, ainda que ficcional.



Assina a direção do espetáculo LUIZ ANTÔNIO ROCHA, que, a meu juízo, ainda não teve o reconhecimento de que é merecedor, embora seja um profissional de elevado talento, com “muitos anos de janela”, premiado e com um considerável currículo, que reúne sucessos de público e bilheteria, como, entre outros, Uma Loira na Lua”; Frida Kahlo, a Deusa Tehuana”; “Brimas”; “Paulo Freire, o Andarilho da Utopia”; e “Helena Blavatsky, a Voz do Silêncio”, este com excelente texto da mesma dramaturga de “O PROFETA”. ROCHA também é produtor de seus próprios trabalhos em TEATRO, quase todos montados sem patrocínio, e um conceituado diretor de “casting” para o cinema e a TV.



Luiz Antônio Rocha.
(Foto: fonte desconhecida.)


Vez por outra, deparava-me com dois termos considerados sinônimos, mas que podem confundir algumas pessoas, até mesmo a mim, quando escrevia minhas críticas. Qual seria a diferença entre “direção” e “encenação”, se é que existe? “Diretor” e “encenador” querem dizer a mesma coisa? Antes de uma recente pesquisa que fiz, ainda que rasa, eu achava que “encenador” pertencia à mesma área semântica de “diretor”, porém soava como mais pompa, o que me levava a usar o termo quando um trabalho de direção era tão excepcional, que colocava o “encenador” num patamar mais elevado, no meu pódio. Depois da referida pesquisa, aprendi que a “direção teatral” seria o ato e/ou o efeito resultante do trabalho teatral dos coordenadores do espetáculo cênico num “movimento criativo” de transpor à cena uma peça de TEATRO, enquanto a “encenação” seria o resultado desse mesmo “gesto teatral”. É bem possível que a origem de tal confusão esteja no fato de, em inglês, existir um só vocábulo – “director” – correspondente a “diretor” e “encenador”, em português. Assim, podemos chegar a uma conclusão: Mais do que um simples responsável pela manutenção da unidade do espetáculo, o encenador (ou diretor) é, antes de tudo, um “criador”. Voltando ao princípio que me direcionava a distinguir um “diretor” de um “encenador”, não titubeio, ao rotular LUIZ ANTÔNIO ROCHA como um grande “encenador”, como demonstra, mais uma vez, neste espetáculo, com uma proposta bem simples, porém assaz acertada.



A impecável direção musical da peça, um elemento da maior importância, nesta “encenação”,  é assinada, a quatro mãos, por SAMI e WILLIAN BORDOKAN, dois irmãos que dominam a arte de cantar e tocar a música árabe, não tanto conhecida e aceita, no mundo ocidental, porém de rara beleza. Há um diálogo muito harmonioso, doce, delicado e delicioso de ser ouvido entre aos dois e a música árabe.



Plasticamente falando, “O PROFETA” é um espetáculo lindo. Tanto o cenário quanto o figurino foram idealizados e criados pelo artista plástico uruguaio EDUARDO ALBINI. Aquele se resume a seis tapadeiras verticais, que servem de tela para lindas projeções, e dois banquinhos, sobre os quais repousam um tipo de pandeiro, usado no decorrer da peça, e uma garrafa de água. Os instrumentos musicais, habilmente tocados por WILLIAN BORDOKAN, ficam numa das laterais do palco. No chão, há um tecido displicentemente espalhado, que me passou a sensação de representar ondas do mar. Talvez seja mais uma das minhas “viagens”. O figurino não poderia ser outro: vestes típicas árabes, belíssimas.





RICARDO FUGGI, que também assinou o “desenho de luz” de “Helena Blavatsky, a Voz do Silêncio”, do mesmo diretor, trabalho que mereceu meu comentário, quando de minha crítica à peça, de que era a luz mais bonita a que tive acesso neste ano, repete a dobradinha com LUIZ ANTÔNIO ROCHA, criando outra iluminação digna dos maiores elogios.







A direção orientou o ator a dizer seu texto de forma bem pausada, leve, suave, totalmente em consonância com o personagem e o conteúdo de suas falas. A isso, juntou-se o importante trabalho de preparação corporal e direção de movimento, a cargo de HANNA PEREZ, a qual também prestou assistência de direção a LUIZ ANTÔNIO ROCHA. SAMI se movimenta pouco, em cena, e sempre com movimentos quase coreografados, dando a impressão, em alguns momentos de que estava a levitar.



 

 

 

 FICHA TÉCNICA:  

Texto: Lúcia Helena Galvão

Encenação: Luiz Antônio Rocha

Assistência de Direção: Hanna Perez

Direção Musical: Sami Bordokan e William Bordokan

 

Interpretação: Sami Bordokan

Participação Especial: William Bordokan

 

Cenário e Figurinos: Eduardo Albini

Projeto de Luz: Ricardo Fujii

Vídeo “Mapping”: Júlio Mauro / Cine Mauro

Preparação Corporal e Direção de Movimento: Hanna Perez

Montagem e Operação de Luz: Rodrigo de Lelis

Adereços e Efeitos: Nilton Araújo

Fotos: Andreia Machado, Kee Leekyung e Marlon Mikon

Parceria: Nova Acrópole Brasil

Produção: Espaço Cênico Produções Artísticas

 

 

 

 

 



 SERVIÇO:

Temporada: De 13 a 29 de outubro de 2023.

Local: Teatro Fashion Mall.

Endereço: Estrada da Gávea, nº 899, loja 2134 – São Conrado – Rio de Janeiro.

Dias e Horários: 6ªs feiras, às 21h; sábados, às 20h; e domingos, às 17h.

Com exceção dos dias 21, às 17h, e 22, às 16h.

Valor dos Ingressos: R$100,00 e R$50,00 (meia entrada) - disponíveis na plataforma Sympla.

Duração: 80 minutos.

Indicação Etária: Livre.

Gênero: Monólogo.

 

 



 

Para o diretor “O Profeta é uma história de rara beleza. A força de suas parábolas, a poética musicalidade, a profundeza de seus conceitos são um bálsamo nos dias de hoje. É uma história sobre o amor, que nos mostra uma nova fé no homem, uma nova fé na vida e nos faz redescobrir o papel do coração.”. Nos dias de hoje, isso “cai como uma luva”.



Em doze ensaios poéticos (doze temas), baseados na obra de Gibran, a história desafia o vazio e descortina a beleza das ideias sobre o que ocorre entre o nascimento e a morte. Temas profundos e atemporais são abordados com a ternura e a sabedoria que vêm do Oriente. “Numa atmosfera de enlevo e encantamento a peça é um convite para sermos dignos da vida e a viver ao nível do que há de mais elevado em nós”. Desnecessário é dizer que RECOMENDO O ESPETÁCULO, COM O MAIOR EMPENHO.

  

 

 

FOTOS: ANDREIA MACHADO,

KEE LEEKYUNG 

e

MARLON MIKON

 

 

 

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