sábado, 5 de novembro de 2022

 

“TRÁFICO”

ou

(ATIREM A PRIMEIRA PEDRA!)

ou

(A DEGRADAÇÃO HUMANA TEM

NOME E ENDEREÇO.)


 

E a temporada de monólogos continua aberta, e firme, no Rio de Janeiro. Felizmente, até o presente momento, o ano de 2022 vem sendo bastante profícua, nesta cidade, com trabalhos merecedores dos mais vibrantes aplausos, como é o caso de “TRÁFICO”, em cartaz no Teatro Poeirinha, encerrando o ano teatral daquela simpática casa, em Botafogo, Rio de Janeiro (VER SERVIÇO.).

 

 

Foto: Gilberto Bartholo.

 

        Aguardei, com bastante ansiedade, pare ver encenado mais um solo escrito por SERGIO BLANCO, grande dramaturgo franco-uruguaio, já bastante conhecido pelos brasileiros, por conta das montagens de duas de suas principais obras: “A Ira de Narciso” e “Tebas Land”, o que já era suficiente para que eu fosse ao Poeirinha, na noite de estreia, com a certeza de que seria testemunha de mais um sucesso de público e de crítica, tendo BLANCO como um dos protagonistas responsáveis por isso.

 

 

Foto: Gilberto Bartholo.

 

     Há alguns pontos de convergência que ligam as três peças, as duas primeiras, anteriormente montadas no Brasil, e “Tráfico”, o alvo desta crítica. Aquelas tiveram suas estreias, no Rio de Janeiro, em 2019, tendo sido “A Ira de Narciso” uma das grandes e mais procuradas atrações do “Festival de Curitiba”, em 2018, passando por outras cidades, até chegar à (ex-)Cidade Maravilhosa, de onde partiu para uma belíssima carreira, seguindo para outras cidades brasileiras. “A Ira de Narciso” e “Tráfico” foram escritas no formato de “autoficção, “gênero” sobre o qual falarei adiante. “Tebas Land” e “Tráfico” receberam um excelente tratamento de direção por parte de VICTOR GARCIA PERALTA. ROBSON TORINNI, um dos dois protagonistas de “Tebas Land” é quem estrela “TRÁFICO”. Partindo das impressões que as duas peças, “A Ira...” e “Tebas...”, me causaram – duas OBRAS-PRIMAS, a meu juízo -, a ponto de me levar a assistir a cada uma delas algumas vezes, tudo me levava a crer que eu “não perderia a viagem”, se fosse, numa noite fria e chuvosa, da minha casa até o Teatro Poeirinha, dirigindo, num percurso de 30 quilômetros para ir e mais 30 para voltar. E não deu outra.

 

 

 

    “A Ira de Narciso”, espetáculo dirigido por Yara de Novaes, serviu para que eu alicerçasse, mais ainda, a minha imensa admiração pelo talento e a coragem de Gilberto Gawronski, expondo-se, nu e cru, num trabalho arrebatador. “Tebas Land” foi ganhador de muitos prêmios (“A Ira de Narciso” também os merecia.) e levava, para o palco, de forma irrepreensível, a metalinguagem, inspirada no mito de Édipo e na vida de São Martinho de Tours, santo europeu do século IV, tendo, como tema central, um parricídio. Em ambos os espetáculos, o público deixava o Teatro completamente arrasado, emocionalmente, “derrotado”, “por nocaute”, diante de tão cruel realidade, entretanto, como aconteceu comigo, querendo rever as duas peças outras vezes. Masoquismo? Não! O aproveitamento da oportunidade de assistir a montagens que dignificam o TEATRO BRASILEIRO. E “TRÁFICO” só vem ratificar isso, constituindo um trio de grandes espetáculos.

 

 


Declaro-me, “despudoradamente”, “fã de carteirinha” de SERGIO BLANCO, um dos mais importantes dramaturgos latino-americanos contemporâneos. Nasceu no Uruguai (Montevidéu – 1971), porém está radicado em Paris, desde 1998, cidade que escolheu, para se dedicar ao seu trabalho de escrita dramática, sendo, também, ator e diretor, além de formado em Filologia Clássica e Arte Teatral, já tendo sido agraciado, merecidamente, com vários prêmios, como o “Prêmio Nacional de Dramaturgia do Uruguai”, o “Prêmio Internacional Casa de las Américas”, o “Prêmio de Dramaturgia do Município de Montevidéu”, o “Prêmio Fundo Nacional de Teatro”, o “Prêmio Florencio de Melhor Dramaturgo”, além de outros, na Grécia e na Inglaterra. Desde 2008, faz parte, com outros companheiros, da gestão da “Sociedade de Artes Contemporâneas COMPLOT”. Seus textos já foram traduzidos em português, francês, inglês, grego e japonês. A base de sua obra teatral caracteriza-se por um “gênero teatral autônomo, a autoficção, termo cunhado pelo escritor francês Serge Doubrovsky, que o desenvolveu em romances, misturando relatos reais, pessoais, com invenção: verdade e mentira.

 


Assim como os dois espetáculos anteriores, acima mencionados, “‘TRÁFICO’ não é para os fracos. É preciso ir para o Teatro – e eu já sabia disso – preparado para ser bastante “golpeado”, pronto para receber “socos desferidos na boca do estômago ou na face”, por “punhos de aço”, ou “profundas estocadas, da parte de um exímio esgrimista”, uma vez que o dramaturgo parece testar nossa resistência ao sofrimento e, também, à empatia, quando, da forma mais “abissal” possível, nos mostra que a coexistência entre as pulsões de vida e de morte, que coabitam em todo ser humano, sentimentos representados, na psicanálise, respectivamente, por Eros e Thanatos, deuses mitológicos que, na ciência freudiana, correspondem ao desejo erótico e ao fascínio pela destruição, estão concentrados no personagem Alex.

 

 

 

É possível, ao espectador, se ele se permitir deixar-se provocar, procurar - e encontra, em níveis não padronizados, entre os indivíduos - Eros e Thanatos no seu “eu”, para conseguir administrar as tentações propostas por um e outro. E se eu conseguir me fixar somente na vida, no preenchimento dela apenas pelo amor, conduzido por Eros? Ótimo! E se eu conseguir fugir à tentação de ser seduzido pelo deus que se compraz na morte, na destruição, Thanatos? Melhor ainda! Como o exemplo de Alex pode me servir, para traçar o meu caminho e fazer as minhas próprias escolhas?  Corro o perigo de, realmente, encontrar um Alex dentro de mim? Em quantas pessoas eu consigo enxergar essa dualidade? Como não a percebi, até agora, pulsando dentro de mim, se, de verdade, ela existe?


 

 

SINOPSE:

A peça se passa na periferia de uma cidade latino-americana, cheia de desigualdades, onde vive Alex (ROBSON TORINNI), um jovem e atraente garoto de programa.

Os problemas familiares, o relacionamento conturbado com a sua namorada e a vontade de vencer na vida, representada pelo sonho de comprar uma moto de alto luxo, o levam para caminhos sedutores e, também, muito violentos.

A partir de uma paixão, a história acessará as áreas mais sombrias da vida desse personagem, o qual, paralelamente à sua profissão de garoto de programa, se tornará um frio e covarde assassino de aluguel.

Aos poucos, começa a surgir uma trama fascinante, que mistura a narração dos seus encontros, sonhos e seu dia a dia.

Ao longo da peça, Alex vai se desnudando, expondo o seu lado mais ingênuo e mostrando o seu lado mais monstruoso.

 

 

 


Como a proposta de mais um texto seu centrado na autoficção, SERGIO BLANCO mistura relatos reais com invenção, ou seja, verdade e mentira. No início da peça, com sua própria identidade de ator, ROBSON TORINNI explica, ao público, que vai contar a história de Alex. Enxergo, aqui, uma certa relação com a teoria do “distanciamento”, de Brecht, quando este propõe uma “cisão” entre o ator e a personagem e, também, entre os espectadores e a história narrada, para que estes, de uma forma mais real e autêntica, possam fazer juízos de valor sobre o que está sendo representado. Trechos da vida do dramaturgo também estão inseridos no texto, quando cria o personagem de um professor universitário, como ele, e que leva seu nome, o qual passa por um envolvimento com Alex e ganha o apelido de “o francês”. É esse personagem, apenas citado, quem encoraja o garoto de programa a entrar no mundo do crime. Creio que, com isso, BLANCO deseja chamar a nossa atenção para as escolhas, que fazemos, das pessoas nas quais devemos, ou não, confiar e, também, nos mostrar quão influenciáveis e frágeis, diante de um “dominador”, somos. O que de mais “forte”, acusativo, se pode dizer – os “julgadores de plantão” – sobre a atividade exercida por um “michê”, é que se trata de algo “imoral”, condenável, do ponto de vista ético ou religioso, sem que seja preciso punir essa pessoa, entretanto o ato de tirar uma vida humana, por qualquer motivo, extrapola esses conceitos e é encarado como crime, sujeito a penas impostas por um órgão de justiça, representando a sociedade. E Alex transita nas duas esferas.

 

 

 

ROBSON TORINNI e VICTOR GARCIA PERALTA cuidaram da tradução e adaptação do texto, que deve estar muito próxima do original, já que ambos estão bem alinhados e familiarizados com o trabalho e o pensamento do dramaturgo, pesando, ainda mais, para um bom trabalho final do texto em português, o fato de PERALTA dominar o idioma de BLANCO, por ser argentino de nascimento, radicado, para a nossa alegria, no Brasil. É claro que os dois tradutores e adaptadores, visando a uma melhor comunicação com o público brasileiro, tiveram que fazer uso de palavras e expressões, gírias e jargões do universo dos garotos de programa, que só existem na língua portuguesa ou que soariam melhor que outras, se tivessem sido traduzidas fidedignamente, o que constitui um peso favorável à tradução. Nesta adaptação, seus responsáveis não se preocuparam em medir o tom das palavras e expressões, utilizando uma linguagem bem realista e própria do tipo dos personagens, que pode até melindrar ou chocar algumas pessoas, porém não poderia ter sido feito de outra forma. Palavras também ferem; às vezes, mais que agressões físicas ou, também, o nu, para alguns pudicos. Ao saber que a peça tem a indicação etária a partir de 18 anos, o que é muito raro, hoje em dia, no Brasil, a pessoa pode ir ao Teatro, imaginando, ainda mais se souber, antes, do que trata a peça, que o ator, em algum momento, pelo menos, poderá estar nu, em cena, o que, absolutamente, não acontece. Creio que a referida indicação se deve ao emprego de um vocabulário muito “underground”, chulo, como não poderia deixar de ser, repito, e às cenas de insinuação ou simulação de sexo e violência, extremamente “fortes” e impactantes. Com relação a essas cenas, confesso que um fator me incomodou, no texto. Concentra-se nos mínimos detalhes dos métodos empregados por Alex, para abater as suas vítimas indefesas, narrados e representados, mimicamente, por ele, principalmente quando o alvo dos crimes são crianças. Creio que isso poderia ter sido omitido, entretanto não tenho o direito, nem qualquer outra pessoa, de fazer tal exigência ao dramaturgo, até porque isso faz parte das intenções do autor. O outro fator é a percepção de um pouco de inverossimilhança, quanto aos sucessivos desaparecimentos e retornos do personagem do/ao cenário de seus crimes, sem ser molestado, o que demorou muito a acontecer. “Licenças poéticas”. Aceitemo-las! 

 

 

 

VICTOR GARCIA PERALTA marca mais um gol de placa”, à frente da direção deste solo. PERALTA percebeu, com muita propriedade, que o texto é universal – acho ser proposital o fato de não haver, na peça, nenhuma indicação espacial determinada, ou seja, não fica claro em que lugar, propriamente, as coisas acontecem, a não ser a citação de que tudo ocorre “na periferia de uma cidade sul-americana”;  não há essa preocupação - e, cada vez mais, atual. E, também, como bom conhecedor da realidade brasileira, nos mostra um Alex que pode ser nosso vizinho de porta, colega de faculdade, amigo do clube ou, até mesmo um nosso familiar, alguém que existe, de verdade, que “extrapola as garras da ficção”. Antes da estreia oficial, em cumprimento ao edital a que fez jus, o espetáculo fez três apresentações, em três lonas culturais, situadas em “comunidades” do Rio de Janeiro, as quais eu continuo chamando de “favelas”, contrariando o “chato” do “politicamente correto”, e me confidenciou o diretor ter ouvido comentários de vários espectadores, com outros, relacionando o que estavam vendo, na encenação, com a vida de Fulano ou Sicrano. Isso, porque, como já disse acima, um Alex pode estar muito mais próximo de nós do que possamos imaginar. São palavras do diretor: “A peça fala sobre pessoas sem chances na vida, que acabam tendo que seguir caminhos violentos, da corrupção dos poderosos e da hipocrisia de um grupo de ‘progressistas’. A história de Alex é a história de muitos, no Brasil. Pessoas pobres, frutos de um sistema que não lhes dá oportunidades, que sofrem violência familiar, morte de pais, e precisam se virar, muito cedo, na vida.”. Simbolicamente, Alex cobra isso ao "francês", que o direcionou ao estágio maior de degradação, mas não lhe dá ouvidos e o ignora, quando "a casa cai". Essas palavras de PERALTA, que endosso, “in totum”, já seriam o bastante para que ninguém pense que vai ao Teatro Poeirinha à procura de um simples lazer, terminando a noite num bar, com rodadas de chopes e pizzas. Acho muito difícil alguém conseguir comer e beber, após ter assistido a “TRÁFICO”. O texto é um estopim para detonar a “bomba da reflexão”. E, para isso, o diretor trabalhou nos mínimos detalhes. Paralelamente ao seu direcionamento, no palco, houve a valorosa contribuição de TONY RODRIGUES, numa excelente direção de movimento.

 

 


Victor Garcia Peralta.
(Foto: autor desconhecido.)


Quanto à atuação de ROBSON TORINNI, é a terceira vez que o vejo em cena, num palco. A primeira foi em “A Sala Laranja no Jardim de Infância”, em 2017, também com direção de PERALTA. Ali, gostei muito dele, como ator. A segunda foi no magnífico “Tebas Land”, em 2019, quando troquei o verbo “gostar” pelo pronominal “apaixonar-se”. E, agora, não sei mais como evoluir na escala de admiração por seu trabalho. É a primeira vez que ROBSON não divide o palco com alguém, está sozinho, em cena, como Alex, ao lado de sua moto – seu sonho de consumo -, alternando relatos de encontros sexuais com outros de grande violência, dando voz, também, aos demais personagens que transitam na trama. Considero isso um ato de grande bravura e coragem. São 90 minutos de entrega total ao nobre ofício de representar, da forma mais visceral possível (Sei que o adjetivo já está bastante “desgastado”, porém, para mim, é de um significado muito profundo, a ponto de eu não conseguir substituí-lo por um sinônimo.). A interpretação vai ganhando dimensões maiores, à proporção que o personagem passa ser mais realista, preso a uma violência crescente, e vai, cada vez mais, tornando-se promíscuo e envolvido em ações que o degradam, como ser “humano”. É comovente, às raias da perfeição, o trabalho de ator de TORINNI, por meio da exploração de seu corpo e de sua voz. Acrescente-se a isso tudo o detalhe de como a plateia é provocada pela sensualidade e magnetismo que tanto o ator como o personagem nela despertam, em mulheres e homens.

 

 

 

Transcrevo, aqui, palavras do ator, do “release” que recebi, de RACHEL ALMEIDA (RACCA COMUNICAÇÃO): “O maior desafio deste projeto é não ter outro ator para trocar em cena. É a minha primeira experiência em um solo, então estou aprendendo a jogar com a plateia. O texto me tocou bastante, desde a primeira vez em que o li, por falar sobre uma pessoa que, pelas circunstâncias de uma vida periférica, sem oportunidades, não conquista nada e segue pelo caminho do crime. A partir daí, a peça toca em vários temas como desejo, sonho, criação, solidão, sexualidade, vício, separação, falta de esperança, beleza, traição e crime.”.

 

 

 

O cenário e o figurino foram, aqui, reunidos numa só rubrica, direção de arte, assinada por GILBERTO GAWRONSKI, para a qual só tenho elogios. Sem, absolutamente, desmerecer a importância daqueles dois elementos de criação, afirmo que GAWRONSKI pensou da melhor forma possível: diante de um texto tão pujante e de uma interpretação tão plena e vigorosa, por que ocupar o espaço cênico com alguma cenografia sofisticada, cheia de elementos, se texto e ator quase que se bastam, para ocupar o vazio? Com um mínimo de objetos   – apenas um capacete de motociclista e uma jaqueta de couro, preta, no chão, ambos, ao centro do palco, e dois enormes espelhos, fixados a barras de ferro, no alto da parede do fundo, como a sugerir os retrovisores de uma motocicleta -, o artista preencheu, de forma muito criativa, a área utilizada pelo ator. E, quanto ao figurino, o “básico”, “clichê”, de um prostituto: além da jaqueta, que o ator veste, tão logo se apresenta ao público, como ele mesmo, transformando-se no personagem, uma calça “jeans”, bem colante, para sugerir a carne que ela cobre, e uma camiseta regata, branca, igualmente justa, deixando bem realçados os músculos do peitoral de TORINNI. Ou de Alex? Ou de ambos? Uma bota complementa a indumentária, além de um cordão com uma grande medalha de Nossa Senhora Aparecida.

 

 

Foto: Gilberto Bartholo.


Não sei em que se inspirou BERNARDO LORGA, para pensar no desenho de luz da peça, porém posso assegurar que a luz lhe cai bem, “como uma luva”, em todas as cenas, com uma constante variação de intensidade e cores, para ajudar na moldura das ações. Há momentos em que luzes coloridas se alternam, sucessivamente, no mesmo ritmo, lembrando, um pouco, a iluminação frenética utilizada nas discotecas ou boates.

 

 

 

A um espetáculo dessa monta, não poderia faltar uma apropriada trilha sonora/sonoplastia, mais um dos muitos acertos de MARCELLO H. São muito bem escolhidas as canções tomadas como temas ou “a música do personagem X”, anunciadas por Alex, ouvidas no celular do personagem. Fora isso, há sons marcantes, sublinhando as cenas.

 

 

 

SERGIO BLANCO foi de uma felicidade total, ao ter sugerido a ROBSON TORINNI que montasse o texto, no Brasil. Este e PERALTA são os idealizadores desta encenação, que conta com a acertada direção de produção de SÉRGIO SABOYA e SILVIO BATISTELA, repetindo a dupla de “Tebas Land”.

 

 


 

FICHA TÉCNICA:

Texto: Sergio Blanco

Adaptação: Robson Torinni e Victor Garcia Peralta

Direção: Victor Garcia Peralta

 

Atuação: Robson Torinni

 

Direção de Arte: Gilberto Gawronski

Iluminação: Bernardo Lorga

Sonoplastia: Marcello H.

Direção de Movimento: Toni Rodrigues

Assessoria de Imprensa: Rachel Almeida (Racca Comunicação)

Fotos: Gabriel Nogueira

Direção de Produção: Sérgio Saboya e Silvio Batistela

Produção Executiva: João Eizô Y. Saboya

Idealização: Robson Torinni e Victor Garcia Peralta

 

 


 

 

 

 

SERVIÇO:

Temporada: De 03 de novembro a 18 de dezembro de 2022.

Local: Teatro Poeirinha.

Endereço: Rua São João Batista, nº 104 – Botafogo – Rio de Janeiro – RJ.

Telefone: (21)2537-8053.

Dias e Horários: De quinta-feira a sábado, às 21h, e domingo, às 19h.

Valor dos Ingressos: R$60,00 (inteira) e R$ 30,00 (meia entrada).

Lotação: 50 pessoas.

Duração: 80 minutos.

Classificação Etária: 18 anos.

Venda de ingressos: https://bileto.sympla.com.br/event/77969/d/165271/s/1101610

Gênero: Monólogo Dramático (Autoficção)

 

 

 

 

 

      Após a última fala do personagem, depois de ROBSON ter atravessado o pequeno corredor que divide os dois grupos de cadeiras do auditório, há uma projeção, na parede do fundo do palco, que classifico como o “tiro de misericórdia”, surgido da inteligência, sensibilidade e criatividade do diretor do espetáculo, que segue abaixo:

 

 

A CADA 7 HORAS, UMA MULHER É VÍTIMA DE FEMINICÍDIO, NO BRASIL.

 

A CADA 27 HORAS, UMA PESSOA LGBTQIA+ É MORTA, NO BRASIL.

 

A CADA 54 MINUTOS, UMA CRIANÇA É ABANDONADA, NO BRASIL.

 

A CADA 25 MINUTOS, UM JOVEM É ASSASINADO, 

NO BRASIL.

 

 



       Se me perguntassem por que eu diria a alguém que deve sair da zona de conforto e proteção que sua casa lhe oferece, para ir ao Teatro Poeirinha, com o propósito de assistir a “TRÁFICO”, eu cometeria um plágio, utilizando palavras de GILBERTO GAWRONSKI, em uma entrevista dada a um jornalista, na época em que foi o protagonista de “A Ira de Narciso”“Acho que as pessoas devem ir, na verdade, ao TEATRO, antes de tudo. E esse espetáculo (Ele fala de “A Ira...”; eu, de “TRÁFICO”.) é a essência desse TEATRO, que une as pessoas, sabe? Nós vivemos uma época de divergências e intolerâncias e a nossa única possibilidade de aproximação é na sensibilização e compreensão do outro. O TEATRO habita esse lugar, o lugar da tolerância para com ideias diferenciadas. Se você não quer trocar, fica sozinho em casa. É o lugar da reflexão do homem sobre si próprio. Ir ao TEATRO é uma atividade perigosa, porque ele pode mexer em aspectos nossos que não temos nem dimensão, sabe? ‘Hamlet’, por exemplo, denuncia o assassinato do próprio pai no TEATRO, pela sensibilização. Não interessa termos leis, se não temos pessoas sensíveis para entender essas leis. E o TEATRO ocupa esse lugar da sensibilização, onde eu posso me afeiçoar à dor do outro. Estamos todos nesse momento incerto, mas eu tenho o orgulho de dizer que eu ainda me sinto coerente com o discurso que eu levo desde que comecei.”. Isso foi dito há três anos, e continua valendo nos dias de hoje. Obrigado, querido “xará”, pela honra de poder encerrar esta crítica com essa sua belíssima reflexão e, mais ainda, por ter permitido que eu o fizesse.

         

        

FOTOS:GABRIEL NOGUEIRA



GALERIA PARTICULAR:


Com o querido e talentoso amigo ROBSON TORINNI.

(Foto: Marcello H.)



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