sábado, 8 de outubro de 2022

 “VINGANÇA, O MUSICAL”

ou

(EU VI NELSON RODRIGUES

NO JOCKEY CLUB.)

ou

(CHEGOU AO FIM A PERSEGUIÇÃO

DO GATO AO RATO.)





        Como foi linda, emocionante e deliciosa a noite de ontem, 07 de outubro de 2022, que ficará, para sempre, na minha memória e no meu coração! Foram nove anos à espera de uma oportunidade para assistir a um musical tão esperado, uma verdadeira “perseguição do gato ao rato”, ao feitio de Tom & Jerry, dos desenhos animados, que nunca chegava ao fim. Perdi a conta das vezes que tentei assistir a “VINGANÇA, O MUSICAL”, em São Paulo, sem sucesso. Sempre, por vários motivos, os DEUSES DO TEATRO achavam que não estava ainda na hora. Mas me lembro da última, bem recente. Eu “driblei o time inteiro, fiquei cara a cara com o goleiro e, na hora de chutar a gol, a perna falhou”. Não, a culpa, na verdade, não foi minha. Ou foi? “A bola parou a um centímetro de distância da linha do gol”. Em julho passado, o espetáculo estava em cartaz, no Teatro Raul Cortez, na capital paulista, e eu havia agendado, com a minha querida amiga CÉLIA FORTE, uma das produtoras da peça, ao lado de SELMA MORENTE (MORENTE FORTE – COMUNICAÇÕES), que iria, num sábado, dia 23, matar o meu desejo de anos, e em dose dupla. Assistiria a “Assassinato Para Dois”, em cartaz naquele Teatro, às 18 horas, que eu também estava louco para ver, e emendaria com “VINGANÇA, O MUSICAL”, às 21 horas, porém as duas sessões daquele dia haviam sido canceladas, pois o Teatro, que pertence à “FECOMÉRCIO-SP”, estava reservado para um evento corporativo. Que decepção!!! Frustação foi muito pouco. Fiquei “arrasado”. Mas vida que segue!



        Agora, resolveram aqueles mesmos DEUSES, os do TEATRO, os quais não podem ser contrariados, que eu merecia assistir a esse magnífico espetáculo – Não é à toa que já marcha para dez anos de carreira!!! – e que ele, o musical, sim, viesse até mim, no Rio de Janeiro, embora a temporada seja relâmpago, de apenas duas semanas, com seis apresentações. Vi, na estreia, ontem, e estou tentando encontrar uma nova data, na agenda – talvez o último dia -, para rever o espetáculo, uma, das muitas, ideia brilhante de ANNA TOLEDO, autora do texto e que também atua, acompanhada de um naipe de primeiríssima estirpe - DANILO  MOURA, JONATHAS JOBA, LOLA FANUCCHI, MARIA BIA, SERGIO RUFINO e PIERO DAMIANI – sob a direção de ANDRÉ DIAS.

 

 



 SINOPSE:

A trama se passa nos anos 50, no Sul do Brasil, e tem, como pano de fundo, a vida boêmia de um cabaré.

O enredo narra a história de três triângulos amorosos, em que um boêmio, de vida dupla, quer manter a esposa e as amantes, mas nada sai como o planejado, quando ele se envolve com uma “mulher fatal”.

Toda a ação se dá sob a efervescência passional do samba-canção.

A obra foi escrita para comemorar o centésimo aniversário de LUPICÍNIO RODRIGUES, autor das canções do espetáculo, cujas letras serviram de inspiração para a dramaturgia de ANNA TOLEDO. 

 


 


        LUPICÍNIO RODRIGUES, compositor e cantor gaúcho, entrou para os anais da Música Popular Brasileira como o grande representante, em seus sambas-canção, da “dor de cotovelo”, expressão popular que significa tristeza, decepção, frustação, forte depressão moral. O termo evoluiu, posteriormente, para "fossa" e, muito recente,ente, recebeu a denominação de "sofrência". Há muitos que gostam; eu não. Na verdade, eu sofro, de raiva, quando sou obrigado a ouvir o que é composto hoje em dia. Só faço uma exceção às canções de Marília Mendonça. Mas deixemos isso para lá. Gosto é gosto, e mau gosto também o é. (Momento descontração.) As letras de LUPICÍNIO sempre estiveram ligadas a temas como amores perdidos, outros não correspondidos, intrigas, paixões impossíveis, traição, a boemia alegre e os desencontros amorosos. Foram essas canções que levaram ANNA TOLEDO, admiradora confessa da obra do compositor, a escrever um musical, homenageando, dessa forma, seu ídolo, no ano de 2013, um antes de ser comemorado, se vivo fosse, seu primeiro centenário de nascimento, em 1914


Ana Toledo

(Foto: autoria desconhecida.)


  Cresci ao som de LUPICÍNIO, de quem também sou ardoroso fã, porque papai e mamãe, demasiadamente musicais, viviam cantando, em casa, as suas canções, normalmente na voz de sua intérprete preferida, Linda Batista, e eu, igualmente amante da música, aprendi, desde tenra idade, todo o repertório do compositor. Ontem, na terceira fila da plateia do Teatro XP Investimentos, cantei, baixinho, quase todas as canções, “fazendo companhia” aos atores, em cena.



 Em termos de dramaturgia, ANNA TOLEDO foi de uma felicidade incontestável, pois, como boa “tecelã”, “urdiu”, com maestria, muitos fios, “metamorfoseados” nas letras das composições de LUPICÍNIO, e soube criar uma trama, planejar intrigas e peripécias, jogando com a vida de seis personagens, no fim da qual não há vencedores; ninguém vence nesse jogo. Todos saem derrotados; ficam, apenas, almas despedaçadas, esperanças perdidas, sonhos em cacos, impossíveis de serem colados. ANNA consegue transformar a dor em profunda poesia, com seu lindo texto, e isso agrada ao espectador e prende sua atenção, da primeira à última cena. A trama do musical trata, na verdade, de uma “ciranda de paixões entre amantes”. Sucessos, como “Nervos de Aço”, “Nunca”, “Ela Disse-me Assim” e “Vingança”, entre outros, não poderiam ficar de fora desta montagem. Vi, com certeza, um Nelson Rodrigues, “de saia”, naquele palco, como se parecem os estilos dos dois.



 O texto também ganha relevância, por tratar de questões sensíveis, que sempre existiram, mas que, infelizmente, estão muito presentes, hoje, como o machismo, a violência, a hipocrisia e as várias formas de abuso. “Talvez estas questões fiquem mais evidentes hoje, em 2022, do que foram em 2013, quando a peça estreou.”, comenta o diretor ANDRÉ DIAS. “Pode ser mais intenso, pode ser mais incômodo, mas foi um risco que valeu a pena correr.”, completa.



 A direção, de ANDRÉ DIAS é primorosa, algo que merece minutos de aplausos de pé e muitos gritos de “BRAVO!”, tamanha é sua criatividade, apostando na velha máxima do “menos é mais”. Não corro o menor risco de incorrer num erro ou ser chamado de “exagerado”, ao afirmar que o trabalho de ANDRÉ merece um lugar de destaque, no meu pódio particular, destinado às melhores direções a que venho assistindo nos últimos anos. Ele, reconhecidamente, um ótimo ator, se revelou, para mim, um DIRETOR com todas as letras em maíúsculo. Jogando com a exploração do corpo e da voz dos atores, a serviço de um texto brilhante, ANDRÉ não sentiu necessidade de uma cenografia que deixasse claro, para o espectador, quais eram as locações das cenas. Ele mesmo resolveu tudo, escolhendo um cabaré, como ponto fixo de referência, contando, apenas, com cadeiras, e faz com que um espaço se multiplique em outros, levando o espectador a “visualizar” tudo o que, de concreto, não existe no palco. ANDRÉ DIAS “abusou” do direito de ser um bom diretor de TEATRO. De musical, com certeza.


André Dias

(Foto: autoria desconhecida.)


  E, já que falei em cenografia, preciso fazer referência ao nome do consagrado artista de criação FABIO NAMATAME, o cenógrafo, responsável, também pelos figurinos da peça. O cenário se resume a algumas cadeiras de bar, dois cabideiros de pé, que quase não estão à vista do público, ao fundo, nas laterais do palco, e duas penteadeiras antigas, de época, creio, salvo engano, uma variação do estilo “chipandelle” – posso estar dizendo alguma bobagem, mas eram iguais aos móveis da minha casa, quando criança, exatamente de quando é encenada a peça - com alguns objetos sobre elas. São duas belas e preciosas peças, quase iguais, colocadas nas duas laterais do proscênio.


(Foto: Gilberto Bartholo.)


(Foto: Vinícius Oliveira.)


  Os figurinos, na minha modesta opinião, o “grande forte” da ARTE de NAMATAME, obedecem ao estilo da época, são muito bonitos e de fino acabamento, bem de acordo com as características pessoais dos personagens.



  Vi, nesta peça, um dos melhores desenhos de luz assinados por WAGNER FREIRE. E olha que sempre gosto do seu trabalho e já vi tantas obras maravilhosas desse grande artista de criação... WAGNER soube decodificar, com perfeição, cada momento, cada emoção contida nas cenas e misturar cores vibrantes e variadas com intensidades vibrantes ou moderadas, “comme il faut”.



  As canções de LUPICÍNIO RODRIGUES ganharam uma maior dimensão, um “brilho especial”, nas mãos de GUILHERME TERRA, que assina uma excelente direção musical, com arranjos modernos e utilizando, à farta, algo de que gosto muito, o efeito do chamado "mashup", que consiste em "misturar duas ou mais canções, normalmente utilizando-se a transposição do vocal de uma música em cima do instrumental de outra, de forma a se combinarem". Fica muito bonito, em cena. Aproveito, aqui, para elogiar o trabalho dos três músicos que acompanham, ao vivo, os atores: PIERO DAMIANI, ao piano, que tem uma participação como ator, no personagem Seu Maestro; JEFFERSON DE LIMA (violão); e RICARDO BERTI (percussão).



  Um dos detalhes que mais me chamaram a atenção, nesta montagem – diria, mesmo, que “me tirou do sério”, provocando-me a vontade de aplaudir várias cenas, durante a sua execução, foi a extraordinária direção de movimento, de KÁTIA BARROS, com destaque para a cena que inicia o segundo ato. Prestem bastante atenção a ela e, obviamente, ao conjunto da obra. Que trabalho formidável, que chega a “flertar” com coreografias!



  O elenco da peça, como seria inevitável, nesses quase dez anos em cartaz, tirando-se apenas o período de cerca de dois anos, durante os quais os Teatros estiveram fechados, por conta da pandemia de COVID-19, sofreu algumas alterações. Do original, restaram ANNA TOLEDO, JONATHAS JOBA e SERGIO RUFINO. Dos “novos”, isto é, os que já estão presentes nesta configuração há algum tempo, DANILO MOURA, LOLA FANUCCHI e MARIA BIA. Impossível seria destacar algum nome, uma vez que existe um ótimo nivelamento, “bem para cima”, do sexteto, sendo que cada um tem o seu momento de brilho maior. Quando isso ocorre, no decorrer da peça, todos, da forma mais competente possível, sabem como tirar partido de seu talento e pisar forme as tábuas, sendo, merecidamente, muito aplaudidos, ao final de “seus momentos”.

 


 

FICHA TÉCNICA:

Texto Original: Anna Toledo

Músicas: Lupicínio Rodrigues

Direção Geral: André Dias.

Assistência de Direção: Carla Masumoto

Direção Musical: Guilherme Terra.

 

Elenco: Anna Toledo – Luzita; Danilo de Moura – Alves; Jonathas Joba – Liduíno; Lola Fanucchi - Maria Rosa;

Maria Bia – Linda; Sergio Rufino – Orlando; e Piero Damiani, ao piano, como Seu Maestro

 

Músicos: Jeferson de Lima (violão) e Ricardo Berti (percussão)

 

Direção de Movimento: Kátia Barros

Cenários e Figurinos: Fabio Namatame

Desenho de Luz: Wagner Freire

Pianista Ensaiador: Piero Damiani

Coordenação de Comunicação: Beth Gallo

Assessoria de Imprensa: Barata Comunicações e Morente Forte Comunicações

Programação Visual: Cassiano Pies

Fotografia: Caio Gallucci

Filmagem: Jady Forte

Produtoras: Selma Morente e Célia Forte 

 


 






SERVIÇO:

Temporada: De 07 a 16 de outubro de 2022.

Local: Teatro XP Investimentos.

Endereço: Avenida Bartolomeu Mitre, nº 1110 – Leblon/Gávea – RJ.

Dias e Horários: Sexta-feira e sábado, às 20h; domingo, às 18h.

Valor dos ingressos: R$80,00 (inteira) e R$40,00 (meia entrada).

Vendas: Sympla

Capacidade: 360 lugares.

Duração:100 minutos, com intervalo de 10 minutos.

Classificação Etária: 16 anos.

Gênero: Musical Melodramático.

 

 


 


        Se há uma coisa que o brasileiro – nem todos – aprendeu a fazer, e muito bem, principalmente nas duas últimas décadas, é TEATRO MUSICAL, sejam as grandes montagens, “broadwayanas”, sejam as mais modestas. “VINGANÇA, O MUSICAL” é um dos melhores exemplos dessa competência e habilidade do ARTISTA BRASILEIRO DO TEATRO MUSICAL. É por isso que JAMAIS CONSEGUIRIA DEIXAR DE RECOMENDAR ESTE ESPETÁCULO. Só há mais cinco apresentações, contando com a de hoje, sábado, 08 de outubro de 2022.



      Valeu a pena esperar por nove anos e deixar o Teatro XP Investimentos com a alma “lavada e enxaguada”, como diria Odorico Paragraçu, personagem icônico, criado pelo gênio de Dias Gomes, para ser interpretado por outro gênio, da representação, Paulo Gracindo. Em tempo: Que pena que não consegui assistir ao musical “O BemAmado”, este ano, em São Paulo!



  Vida longa a “VINGANÇA, O MIUSICAL”!

 

 

FOTOS: CAIO GALLUCCI


 

 

GALERIA PARTICULAR:

 


Com André Dias.
(Foto: Vinícius Oliveira.)





Com Célia Forte.
(Selfie.)




Foto: André Dias.






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