UM DIA
A MENOS
(UM PRESENTE
PARA OS “CONVIDADOS”.)
Normalmente, quando se comemora um aniversário, o
presente vai para o/a aniversariante, e não vem dele/a. No caso de ANA
BEATRIZ NOGUEIRA, que está em cartaz no Teatro Petra Gold (Antigo Teatro
Leblon – Sala Marília Pêra) (VER SERVIÇO), ela está comemorando 35
anos de uma brilhante carreira profissional, nos palcos e nas telas, a
grande e a pequena, entretanto é ao público que ela oferece um presente. Aliás,
um presentão: interpreta um belíssimo conto da magistral CLARICE LISPECTOR,
inserido no livro “A Bela e a Fera”. Trata-se de um solo, na
íntegra, apenas com uma passagem, da terceira para a primeira pessoa do
singular, adaptado por LEONARDO NETTO, que também dirige o espetáculo.
SINOPSE:
MARGARIDA (ANA BEATRIZ NOGUEIRA) vive só, desde que
sua mãe morreu, na mesma casa onde nasceu e cresceu.
A funcionária doméstica da vida inteira
está de férias, não há mais ninguém por perto, e ela tem, diante de si, a árdua
tarefa de atravessar mais um dia inteiro sozinha, dentro de casa.
Ela cumpre seus rituais diários,
esquenta sua comida, almoça, torce para que o telefone toque e vai buscando o
que fazer, até a hora do jantar, quando, finalmente, anoitece e pronto: um
dia a menos.
Até que, esgotada pela repetição
infinita, MARGARIDA tem um rompante inesperado, que não pode ser
revelado nesta sinopse; precisa ser visto.
De
acordo com o “release”, enviado por STELLA STEPHANY (JSPONTES
COMUNICAÇÃO), “UM DIA A MENOS” é um dos últimos
contos escritos por CLARICE LISPECTOR (1920-1977), já no ano de sua
morte. O texto fala da solidão e dos possíveis muros que, às vezes, levantamos,
sem perceber, ao nosso redor.”.
Antes de começar a tecer qualquer comentário sobre a montagem em
tela, é preciso cumprimentar ANA e LEO, pela coragem, “ousadia”,
no melhor sentido conotativo da palavra, por terem abraçado um projeto teatral
em torno de CLARICE. Ela não é para os fracos. Considerada uma das
maiores escritoras da literatura brasileira, parece que sua obra foi
escrita para leitores solitários, que devem fazer sua leitura da forma mais
intimista possível, contudo, em espetáculos anteriores, utilizando textos seus, e neste, podemos
chegar à conclusão de que seu legado literário também é bem dramático,
servindo a uma dramaturgia que sempre agrada aos espectadores.
CLARICE era ucraniana, naturalizada
brasileira. Adaptou-se muito bem à nossa cultura, mas jamais perdeu um
pouco do seu sotaque, sempre com uma voz rouca, culpa (?) do cigarro, e mansa,
falando sempre pausadamente. Como o espetáculo é uma grande homenagem a
ela, convém deixar registrados alguns poucos detalhes de sua vida pessoal e
profissional, da forma mais breve possível. Nasceu em Chechelnyk, em 10 de dezembro de 1920, tendo falecido no Rio de Janeiro, em 9 de dezembro de 1977, antes de completar 57 anos
de idade, vítima de um câncer. Além de escritora, também
foi jornalista.
Escreveu romances, contos e ensaios, é
considerada uma das escritoras brasileiras mais importantes do século XX e a
maior escritora judia, desde Franz Kafka. Sua
obra está repleta de cenas cotidianas simples e tramas psicológicas, reputando-se
como uma de suas principais características a epifania de
personagens comuns, em momentos do cotidiano. Chegou
ao Brasil, ainda pequena, em 1922, com seus pais e duas irmãs. É
incluída, pela crítica especializada, entre os principais autores
brasileiros do século XX. (Informações extraídas, com supressões e
adaptações, da Wikipédia.)
Depois de uma abertura, a primeira
cena da peça, com o texto abaixo, pode-se esperar tudo:
“Eu desconfio de que a morte vem. Morte? Será que, uma vez, os tão
longos dias terminem? Assim, devaneio calma, quieta. Será que a morte é um
blefe? Um truque da
vida? É
perseguição? E assim é. O dia começara às quatro da manhã, sempre acordara
cedo, já encontrando, na pequena copa, a garrafa térmica, cheia de café. Tomei
uma
xícara
morna e lá ia deixá-la para Augusta lavar, quando me lembrei de que a velha
Augusta pedira licença, por um mês, para ver seu filho. Tive preguiça do longo
dia que se seguiria: nenhum compromisso, nenhum dever, nem alegrias nem
tristezas.”.
Como grande representante
de uma literatura intimista, com características do
nosso modernismo, CLARICE preocupava-se em descrever o psicológico das personagens e
voltava-se para falar do dia a dia comum, estabelecendo, em suas narrativas, análises
da realidade de seus personagens, sob uma ótica subjetiva, particular.
Ora seus narradores se apresentam na 3ª pessoa, ora na 1ª, do
singular, mas, ao que tudo indica, era sempre ela falando de si, de suas
experiências e vivências, de momentos e desejos por que passara ou estava
passando.
O
espetáculo já começa a chamar a nossa atenção pelo título, pois
ele está subordinado a um ponto de vista. Pode ser voltado para o lado bom ou o
ruim. Todos gostamos, quando, ao fim do dia, nos damos conta de que aquele foi “um
dia a menos” para a espera de algo que nos virá fazer bem, trazer alegria,
felicidade. Assim enxerga o otimista. E na visão oposta? “Um dia a menos”
para quê? Para que chegue ao fim uma longa e triste espera? Isso o espectador
fica sabendo, neste solo, por MARGARIDA, a personagem de ANA
BEATRIZ.
Por
que, para ela, se trata de “um dia a menos”? Ela tem, diante de si, o grande
desafio de enfrentar a solidão, uma vez que a outra pessoa da casa, a serviçal,
está de licença. MARGARIDA está sozinha e solitária, que
são departamentos bem distintos. Aquele está ligado ao mundo exterior; este, ao
interior. Mas quem pode assegurar que, mesmo quando acompanhada da velha Augusta,
não sozinha, portanto, ela já não se sentia solitária? A triste
perversa “solidão a dois”, que não é a dos casais que continuam juntos,
por conveniência ou necessidade. É a solidão de quem não se abre nem se permite
ter a intimidade invadida.
O texto contém um pouco de
tudo. É dramático, porém, ao mesmo tempo, a personagem apela para
a comicidade, resvalando, até mesmo, para o patético. A forma como ela
se mostra, nos seus sentimentos, chega a ser patética, por vezes. MARGARIDA
é uma mulher como qualquer outra, em princípio; aparentemente, normal. Mas será
mesmo? Ela carrega consigo uma dose de humanidade que pode fazer a diferença,
pode despertar, nos espectadores, os mais diversos sentimentos.
É uma delícia ouvir um texto
escrito com tanta delicadeza e técnica. CLARICE era uma artista da
palavra, uma artesã, uma tecelã, que trabalhava com fios de ouro, que ia, com
sua marca inconfundível, tecendo seus panos raros, que tanto nos aquecem até hoje e
aquecerão as gerações vindouras. E ANA BEATRIZ NOGUEIRA não pretende
representar CLARICE, mas ela fala como CLARICE, pausadamente,
proporcionando-nos o prazer de saborear cada palavra e ir, com ela, numa viagem
de sonhos.
O espetáculo é tão lindo, na
mesma proporção que é simples. Não há grandes aparatos cênicos, pois tudo se
concentra no texto e na impecável interpretação da atriz. Cenário
simples e descomplicado, uma ambientação cênica do diretor e da atriz:
apenas uma poltrona de couro (“escolhido por Augusta”) e uma mesinha de
canto, ou de lado, com pouquíssimos objetos sobre ela, destacando-se um
telefone, peça importante na trama. Apenas um figurino, criado por KIKA
LOPES, sóbrio, um "robe de chambre" sobre uma roupa "de andar em casa", complementando, um pouco, uma aparência um tanto
desleixada, visível nos cabelos da personagem. Um bom desenho de luz,
bastante econômico e direcionado para o minúsculo espaço cênico, obra do grande
AURÉLIO DE SIMONI, contribuindo para uma ambientação puxada para o
sombrio, se não exagero.
Paradoxalmente, porém totalmente
possível, como consta, no “release”, “UM DIA A MENOS”, além de um espetáculo complexo na sua
simplicidade, é, também, uma reafirmação da crença no poder de comunicação do TEATRO,
que, se resiste, há cinco mil anos, e sobrevive a todas as crises, é porque
pode abrir mão de tudo, menos do humano. Do elemento humano, do questionamento
humano, do pensamento humano. Ainda temos muito o que entender sobre nós
mesmos.”, nas palavras de
LEONARDO NETTO.
FICHA TÉCNICA:
Uma adaptação do conto homônimo de
Clarice Lispector
Adaptação e Direção: Leonardo Netto
Assistente de Direção: Clarice Derziê
Luz
Interpretação: Ana Beatriz Nogueira
Ambientação Cênica: Leonardo Netto e
Ana Beatriz Nogueira
Figurinos: Kika Lopes
Desenho de Luz: Aurélio de Simoni
Fotografias: Dalton Valério
Uma produção de Ana Beatriz Nogueira
Direção de Produção: Thiago Franco
Realização: Trocadilhos 1.000 Prod.
Art.
Design Gráfico: Chico Tomaz
Assessoria de Imprensa: JSPontes
Comunicação – João Pontes e Stella Stephany
SERVIÇO:
Temporada: de 07 de setembro a 13 de
outubro de 2019.
Local: Teatro Petra Gold (Sala Marília
Pêra).
Endereço: Rua Conde de Bernadote,
26, Leblon – Rio de Janeiro.
Telefone: (21) 2529-7700.
Dias e Horários: Sábados e domingos,
sempre às 17h.
Valor dos Ingressos: R$60,00
(inteira) e R$30,00 (meia entrada).
Horário de Funcionamento da Bilheteria: Diariamente,
das 14h às 20h.
Capacidade: 411 espectadores.
Duração: 50 minutos.
Classificação Indicativa: 14 anos.
Gênero: Comédia Dramática (Monólogo).
A peça está inaugurando
o novo horário das 17 horas, aos sábados e domingos, para peças
adultas, no Teatro Petra Gold, o que considero uma das grandes ideias
mais recentes, ligadas ao TEATRO. Começou há tão pouco tempo e já pode
ser considerado um grande sucesso o empreendimento, o qual já tem outros grandes
espetáculos pautados. Fiquem atentos à programação do Teatro!
Parabéns a Well Aguiar e sua equipe de funcionários e colaboradores!
Para finalizar,
digo-lhes que é um privilégio e um prazer indescritível assistir a “UM DIA A
MENOS”. Por CLARICE. Por ANA, Por LEO. Pelo TEATRO
BRASILEIRO.
Merece uma
recomendação com ênfase.
E VAMOS AO TEATRO!!!
OCUPEMOS TODAS AS SALAS
DE ESPETÁCULO DO BRASIL!!!
A ARTE EDUCA E
CONSTRÓI!!!
RESISTAMOS!!!
COMPARTILHEM ESTE
TEXTO,
PARA QUE, JUNTOS, POSSAMOS DIVULGAR
O QUE HÁ DE MELHOR NO
PARA QUE, JUNTOS, POSSAMOS DIVULGAR
O QUE HÁ DE MELHOR NO
TEATRO BRASILEIRO!!!
(FOTOS: DALTON
VALÉRIO.)
(GALERIA PARTICULAR:
FOTO: KÁTIA SAULES.)
Eu e a Ana Beatriz Nogueira.
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