segunda-feira, 23 de setembro de 2019

O DIABO
EM MRS. DAVIS
(ANDREA DANTAS, EM CENA,
“COMO O DIABO GOSTA”.)





            Mais um monólogo ocupa os palcos do Rio de Janeiro, nas suas duas últimas semanas em cartaz, acompanhando a crise econômica por que vimos passando e a tentativa de desmonte do TEATRO BRASILEIRO, o que não haverão de conseguir. Se não dá para se montar um texto com muitos atores e recursos técnico, monta-se um solo, e a resistência continua. Precisa, porém, que seja um bom texto, nas mãos de um competente diretor, interpretado por um(a) grande artista, contando, ainda, com o suporte de uma boa equipe de criadores e técnicos. Deu para fazer isso? Dará certo, com certeza; o resultado será positivo.

Assim é “O DIABO EM MRS. DAVIS”, em final de temporada, infelizmente, no Teatro Rogério Cardoso, dentro da Casa de Cultura Laura Alvim (VER SERVIÇO.).




          O espetáculo, inspirado nos “One Woman Shows”, protagonizados pela atriz BETTE DAVIS, depois de afastada dos “sets” de filmagens e dos palcos, palestras que realizou, durante os anos 80, marca os 30 anos de sua morte (1908-1989) e os 40 anos de carreira da grande atriz brasileira ANDREA DANTAS, que apresenta a personagem sob um ângulo menos conhecido do grande público, mais humanizada, sem abandonar, obviamente – e nem poderia ser de outra forma -, sua marca registrada, o seu lado irônico, mordaz, por vezes; cruel, muito semelhante a algumas de suas mais emblemáticas personagens, interpretadas, principalmente, no cinema, que ela preferia ao TEATRO.







SINOPSE:

BETTE DAVIS (ANDREA DANTAS), numa espécie de “One Woman Show”, compartilha, com o público, “depois de morta”, episódios de sua história pessoal: amores, família, fracassos e sucessos, bastidores da carreira e sua visão da profissão de atriz.

E o que não falta é história para ser contada, com muitas pitadas de pimenta e ironia.

Num tom confessional, a personagem não varre, para debaixo do tapete, o que não deveria ficar à mostra e solta a sua língua ferina, mostrando-se, contudo, muito sincera e desprovida de nenhum pudor em suas revelações.







     O texto da peça foi escrito por JAU SANT’ANGELO, o qual mergulhou numa minuciosa pesquisa sobre a série de palestras realizada por BETTE DAVIS, entre 1985 e 1986, quando, já “aposentada” da cena, aceitou falar ao público, numa espécie de One Woman Show”, palestras que lotaram todos os Teatros por onde passaram, fato e momento ignorados, creio, por boa parte de seus fãs e admiradores; pelo grande público, com certeza, e que constituem um material riquíssimo, para que se conheça um pouco mais da vida e da trajetória profissional da grande atriz.

            Extraído do “release”, enviado por JSPONTES – ASSESSORIA DE IMPRENSA, “Para além da mulher de temperamento irascível, ou arrogante, como se costumava definir a atriz, o espetáculo revela um lado menos conhecido pelo público, uma BETTE DAVIS humanizada, que revisita, com olhar crítico e fina ironia, a sua história. O humor está sempre presente, através da verve e da mordacidade, que fazem parte de sua lenda.”. O riso e, mesmo, gargalhadas, por parte da plateia, se sucedem, durante todo o tempo de duração da peça, cerca de 60 minutos, graças ao texto, que, em muito, reproduz frases e reflexões de MRS. DAVIS, e, sem dúvida, por conta, também, do enorme talento de ANDREA DANTAS, transformada, física e dramaticamente, na “perversa”.




Já no seu tempo, BETTE percebeu que interpretar personagens más, vilãs, era muito mais agradável e lhe poderia render mais fama e reconhecimento do que ficar repetindo o protótipo das mocinhas. Ela se realizava na pele de suas vilãs. E como as interpretava bem! “Dando vida a essas personalidades, de empatia nada óbvia, brilhou de maneira única entre suas contemporâneas. Suas escolhas profissionais, somadas ao comportamento pouco amigável nos “sets” e estúdios, acabaram por sedimentar a imagem da artista como uma mulher difícil e, até mesmo, temida. Mas, ainda assim, adorada e, até hoje, considerada uma das maiores atrizes de todos os tempos.”. Seu alvo preferido, para ataques e provocações, era a atriz Joan Crawford, com quem trabalhou algumas vezes e que era alvo de suas mais profundas estocadas; uma rival, em quase todos os sentidos.




Sobre MRS. DAVIS, diz o autor do texto, JAU ANT’ANGELO: “O seu sarcasmo, sua interpretação, seus sonhos, seu sacrifício, sua energia e disposição de assumir papéis difíceis com bom senso e humor. A peça vem do coração, retratando o seu ‘One Woman Show’ com uma visão humanizada da mente de um ícone, cuja voz não pode ser reprimida. BETTE não tinha medo de nada nem de ninguém, assumia seu papel de difícil e trazia, para fora, as verdades essenciais sobre tudo e todos. Verdades nem sempre agradáveis de se ouvir.”. Dela, acrescento, podia-se dizer tudo, menos que não fosse autêntica e verdadeira, do tipo “deixar tudo em pratos limpos” e “não levar desaforo para casa”.

“Sua carreira passou por vários períodos sombrios, tendo, ela mesma, admitido que seu sucesso se deu, muitas vezes, às custas de seus relacionamentos pessoais. Casada quatro vezes, tornou-se viúva uma vez e divorciada outras três, tendo criado seus filhos como mãe solteira. Seus últimos anos foram marcados por um longo período de doença, mas ela continuou atuando até pouco antes de sua morte, por câncer de mama, com mais de 100 papéis em cinema, TV e TEATRO. Em 1999, DAVIS foi a segunda colocada, atrás apenas de Katharine Hepburn, na lista do ‘American Film Institute’ das maiores atrizes de todos os tempos.”.




A pesquisa de JAU deu origem a um texto bem agradável de se ouvir, seguindo uma sequência cronológica, e caiu nas mãos de ALOISIO DE ABREU, que fez um bom trabalho de direção, o qual, contando com o talento de ANDREA DANTAS, abusou, com todo direito e correção, nas cores, para que o público saísse do Teatro com uma visão a mais próxima possível do que foi aquela figura mitológica, BETTE DAVIS. Ele se preocupou em fazer com que fosse passada a imagem de BETE DAVIS por BETE DAVIS, sem tirar nem pôr. Tirou partido do texto, para conduzir a atriz não a uma imitação da personagem, mas a uma quase reencarnação dela.




Atores e atrizes não gostam – e acho que têm toda razão –, quando interpretam personagens “reais”, que existiram, na vida real, de uma forma a parecer, com a ajuda de um bom visagismo, que são os próprios. “Mas Laila Garin era a própria Elis Regina!” “O Chacrinha se materializou no Stephan!”. Quando isso de dá é por conta de muito trabalho de caracterização e, muito mais ainda, de estudo dos atores, de pesquisas, fruto de muitas horas de observação do comportamento dos personagens que vão viver no palco ou nas telas: como falam, andam, gesticulam, cantam... O personagem nasce de um trabalho profundo de criação, não de imitação. ANDREA não fez diferente e, apesar de “ser” a própria MRS. DAVIS, numa demonstração de grande humildade e profissionalismo, confessou, a mim e a alguns outros amigos, bem informalmente (Nem sei se deveria estar escrevendo isto, se estou sendo indiscreto.), que ainda não está satisfeita com sua criação, que está se propondo a estudar mais a personagem, assistindo a mais filmes dela, a ouvir mais gravações, até chegar ao ponto por ela desejado. Assim se comporta quem leva a sério o seu trabalho e respeita o público. Sempre procurando a perfeição, muito embora, no meu entendimento, o trabalho da atriz esteja perfeito. Eu vi MRS. DAVIS na minha frente, e me diverti muito com ela.  




            Sempre disse, digo e direi que enfrentar a solidão do palco, num solo, não é para os fracos. ANDREA, apesar da aparente fragilidade física, se transforma numa leoa, em cena. Seu trabalho é digno de muitos elogios e, profetizando, diria que lhe pode render indicações a prêmios. Sua interpretação é bem natural. Percebe-se uma atriz para lá de madura, muito à vontade. E parece que somos a plateia daquelas palestras, as quais, realmente existiram. Para interpretar essa personagem, é preciso que a atriz, a qual, no caso, já representou ótimos papéis dramáticos, tenha, também, o talento para o humor, a chamada “veia cônica”, o seu tempo certo, principalmente quando não se trata de uma jocosidade comum; não, pois o que ela faz, com muita propriedade, por meio de palavras e expressões faciais, é um humor refinado, do que poucos sabem dar conta. ANDREA encara um grande desafio e o tira de letra. 

          Espetáculo bem franciscano, a montagem fica marcada, sobretudo, na memória do espectador, pelo texto e pela interpretação da atriz, visto que os demais elementos, como o cenário (ambientação cênica), de ANDREA DANTAS e JAU SANT’ANGELO, e o figurino, de MARCELO MARQUES são bem parcimoniosos; este, entretanto, elegante e bem ligado ao estilo de se vestir da personagem. Não há, na ficha técnica, menção ao nome do responsável pela modesta iluminação, simples e descomplicada, como deveria mesmo ser. Em compensação, lá está o nome de WALTER DO VALLE, merecendo um brilho especial, responsável pelo excelente visagismo, que transforma, fisicamente, DANTAS em DAVIS. Ótimo trabalho!  







FICHA TÉCNICA:

Texto: Jau Sant’Angelo
Direção: Aloisio de Abreu

Atriz: Andrea Dantas

Figurino: Marcelo Marques
Ambientação Cênica: Andrea Dantas e Jau Sant’Angelo
Visagismo: Walter do Valle
Fotos: Luciana Mesquita
Produção: Jau Sant’Angelo
Assessoria de Imprensa: JSPontes Comunicação – João Pontes e Stella Stephany





 








SERVIÇO:

Temporada: De 10 de setembro até 02 de outubro de 2019.
Local: Teatro Rogério Cardoso (Casa de Cultura Laura Alvim).
Endereço: Avenida Vieira Souto, 176 – Ipanema – Rio de Janeiro.
Dias e Horários: Às 3ªs e 4ªs feiras, às 19h.
Valor dos Ingressos: R$60,00 (inteira) e R$30,00 meia entrada).
Horário de Funcionamento da Bilheteria: De 2ª feira a domingo, a partir das 16:00.
Vendas pela internet: “site” Ingresso Rápido.
Capacidade: 53 lugares.
Duração: 50 minutos.
Classificação Etária: Livre.
Gênero: Monólogo/Comédia.

  





Para estimular o leitor a aproveitar as duas últimas semanas da curta temporada do espetáculo, resolvi transcrever algumas das chamadas “pérolas de MRS. DAVIS”, que estão na peça:







“Eu tenho os vinte dedos podres para homem. Se eu gostei, podem estar certos de que é um patife.”.

“Era gorda, como uma vaca, parecia uma Brastemp, com as duas portas abertas.” (sobre a produtora Laura Crews). 

“Deu-me muitos conselhos naquele dia. Alguns não pude seguir e os outros usei contra ele, quando começou nossa briga.” (sobre Jack Warner).

“Você precisa ter muito cuidado, pois o sucesso é muito mais perigoso e corruptor que o fracasso. Eu não tive tempo de perceber isso e, quando vi, já tinha me transformado numa pessoa insuportável.”.

“Não valia seu peso em merda, além de ter dormido com Hollywood inteira... Exceto Lassie… E King Kong… E, talvez, RinTin-Tin.” (sobre Joan Crawford).

“Quando um ator interpreta uma cena exatamente da forma como o diretor manda, isso não é atuar. É seguir instruções.”.

“Warner ficou exultante com a oportunidade de cancelar meu contrato. E eu tomei uma garrafa de uísque e fiquei ótima.”.

“Eu estava doida por uma discussão violenta, onde voassem palavras e perucas.” (sobre Joan Crawford).

“Alguém disse, certa vez, que preferia enfrentar um leão cara a cara do que dividir uma cena comigo. Eu também me sinto assim comigo. Porém, hoje, eu não mordo mais; só rosno. O diretor de “O Aniversário”, por exemplo, saiu, um dia, do ‘set’ de maca. Nunca, na minha longa carreira, tinha visto aquilo. Já vi diretores saírem do ‘set’ de helicóptero, limusine, táxi... Agora, de maca, foi a primeira vez.”.








            “O DIABO EM MRS. DAVIS” é, certamente, um dos melhores monólogos do ano, dos cerca de 40 a que já assisti, até agora, o que me leva a recomendá-lo com um ótimo motivo para sair de casa em busca de um bom entretenimento.






E VAMOS AO TEATRO!!!

OCUPEMOS TODAS AS SALAS DE ESPETÁCULO DO BRASIL!!!

A ARTE EDUCA E CONSTRÓI!!!

RESISTAMOS!!!

COMPARTILHEM ESTE TEXTO, 
PARA QUE, JUNTOS, POSSAMOS DIVULGAR
O QUE HÁ DE MELHOR NO
TEATRO BRASILEIRO!!!



(FOTOS: LUCIANA MESQUITA.)



(FOTOS PARTICULARES, 
FEITAS POR JAU SANT'ANGELO.)

























































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