EU, MÃE
(“SER MÃE É
PADECER NO PARAÍSO”
PADECER NO PARAÍSO”
OU
Eu sabia que uma peça, um monólogo, em que
uma mãe (atriz/personagem) abria seu coração, para falar sobre a
experiência da maternidade, e que se tratava de um espetáculo muito
bonito, emocionante, também divertido, e, mais, que merecia ser visto, estava
em cartaz. (Recebi convite, para a estreia, mas não pude ir.). Era a opinião de
amigos leigos, mas que adoram um BOM TEATRO, e de alguns colegas, críticos
e jurados de prêmios de TEATRO, como eu, que se manifestavam, estes, sob
um olhar, também, ou principalmente, técnico. A peça, “EU, MÃE”,
estava fazendo sucesso com o público, que a indicava, bastante, por meio do
velho e simples, e muito eficiente, processo do “de boca em boca”. Por
estar envolvido com uma cirurgia de coluna, infelizmente, não conseguia
assistir à montagem, porém, em menos de um mês pós-cirurgia (Na
verdade, 23 dias, depois dela, e 8, da alta médica.), não resisti, reuni
força e coragem, sob um desejo enorme de ver o espetáculo, e fui à Casa
Rio, um simpático e aconchegante lugar, em Botafogo (Em frente
ao, também, aprazível, conjunto Teatro Poeira/Teatro Poeirinha.). Fui na
penúltima semana da temporada. Só haveria mais duas sessões, na semana seguinte. Atentem para o detalhe: a peça estava atraindo
grande público (lotações esgotadas), em horário alternativo, às 4ªs e 5ªs feiras, o que é
mais difícil, geralmente.
Sem condições físicas, na época, de ficar um longo tempo
sentado, diante de um computador, para escrever uma crítica, porém, por
ter gostado muito da peça, limitei-me, no dia 23 de agosto (2019), a
fazer uma postagem, numa rede social, recomendando-a e me desculpando, por não
ter condições de escrever sobre ela, sob o título “TEXTÃO, que vale a pena
ser lido até o final.”: “E já vou adiantando que É UMA PENA QUE NÃO
TEREI TEMPO PARA ESCREVER UMA CRÍTICA SOBRE ESTE ESPETÁCULO, o qual encerra a
temporada na próxima semana. Se houver outra, porém, já me comprometo a
escrever sobre ele, que bem o merece!!!”. Era um texto muito grande
mesmo, quase um “ensaio de crítica”, e, como se pôde ver, nele, eu
estava me propondo a escrever uma apreciação crítica sobre a peça, caso
houvesse outra temporada. É certo que, naquele mesmo dia, 22 de agosto,
quando tive o prazer, a alegria de comprovar tudo o que já ouvira ou lera sobre
“EU, MÃE”, lá mesmo, na Casa Rio, após a apresentação, fiquei
sabendo que havia grandes possibilidades de a temporada ser prorrogada,
mas não seria conveniente falar de algo que ainda não estava “fechado”. Graças
ao grande sucesso, de público e de crítica, os DEUSES DO TEATRO “deram
uma forcinha” e a temporada foi prorrogada até o dia 10 de outubro de 2019
(VER SERVIÇO.).
SINOPSE:
Criando uma espécie de peça-cápsula-do-tempo,
a atriz (CRISTINA FAGUNDES) encena e registra, para suas duas
filhas, por meio de uma câmera, todo seu assombro com a passagem do tempo e com
a maternidade recente, para que elas assistam, no futuro, e compreendam como a
mãe delas se sentia aos 43 anos de idade.
Em diversos momentos da peça, a intérprete
se dirige à câmera, como se conversasse com as filhas do outro lado da tela.
Pela sinopse, curta e bem “enxuta”, enviada pela
própria atriz, fica um pouco distante a dimensão do espetáculo,
entretanto, na verdade, por outro lado, esse resumo acaba por despertar
o interesse dos pretendidos espectadores, uma vez que os leva a imaginar tanta
coisa que uma mãe tem a dizer sobre o seu relacionamento com as duas filhas, as
suas expectativas e, também, embora não esteja no texto da sinopse, a
importância da cumplicidade do marido nesse processo todo. O espetáculo,
embalado por muito amor, verdade, singeleza e emoção, é um preito de amor e
agradecimento, escrito e interpretado pela CRIS, uma
confissão, mais que explícita, de amor às filhas, Nina (5 anos) e
Bruna (3 nos), e ao marido, Marcelo. E isso é muito bonito e
emocionante de se ver e ouvir.
Durante
60 minutos, participamos de uma “peça-legado-de-amor”, para mim,
e uma “peça-cápsula-do-tempo”, para ela, durante os quais a ótima atriz alterna
momentos em que se dirige ao público com outros, quando se volta para uma
câmera, gravando depoimentos para as suas filhotas, o que seria o ponto de
vista das duas meninas.
Com
o público, que ocupa a cozinha da Casa Rio (são poucos lugares) – não
poderia ter sido mas bem escolhido o espaço para a representação da peça
– CRIS, “mãe velha”, como ela mesma se assume, abre seu coração e
divide suas experiências com a maternidade e o relacionamento com as duas
filhas e o “maridão”. E nos acolhe e encanta, a todos.
No espetáculo, como já disse, o texto foi escrito pela
própria intérprete, é muito bem dirigido, com soluções admiráveis, a
seis mãos: por ela mesma e por ALEXANDRE BARROS e DANIEL
LEUBACK. Como dizem que “duas cabeças pensam melhor do que apenas
uma”, pela lógica, três funcionam melhor do que duas. Pela lógica; mas,
às vezes, muitas cabeças pensantes acabam se atrapalhando. Não é o caso aqui.
Muito pelo contrário, a direção é excelente. Sabendo bem o que pretende
passar ao público, a participação da autora e intérprete é de
grande valia nessa direção. Somam-se a isso, a criatividade e a sensibilidade
dos seus dois companheiros de direção. E o espetáculo ganhou um
formato tão agradável, em que o público se sente transformado em “amigos de
infância” da personagem. Há cenas
ou curtos momentos que marcam o espectador, como a oportunidade de ver um copo
d´água transbordar, na mão da atriz, porque esta, propositalmente, não fecha o
registro do filtro, no momento em que o texto fala de uma tempestade de
verão.
Na
época em que assisti à peça, havia mais duas, em cartaz, abordando o
mesmo tema, todas tratando das delícias
e das dores que a maternidade faz uma mulher conhecer: “Mãe Fora da Caixa”,
que consegui ver, e “Vale Night”, à qual não tive a oportunidade de assistir,
ambas ainda em cartaz. Embora só conheça o teor daquela, e não o desta, posso
afirmar que “EU, MÃE” apresenta um diferencial, pois vai muito além de
mais uma peça sobre maternidade. É, acima de tudo, uma peça que fala da
família, do amor, dentro de uma família; um registro, para o futuro,
representado da forma mais simples, natural e deliciosa possível, numa
constante troca com o público, o qual se sente na sua própria casa.
CRISTINA
FAGUNDES está excelente, como atriz e anfitriã, em “sua”
Casa (Rio), inclusive servindo um chazinho de capim-limão aos seus
“convidados”, enquanto conversa, natural e espontaneamente, com todos, antes de
assumir a personagem e dar início, propriamente, à peça. Por
falar de si mesma, na primeira pessoa, e pela proposta do espetáculo, o
público não enxerga uma interpretação teatral, já que a naturalidade, a
espontaneidade e, acima de tudo, a verdade estão ali, a, no máximo, cinco
metros dos espectadores que ocupam a última fileira de cadeiras. Isso dá margem a uma cumplicidade ímpar, a uma troca de energia, à criação de uma atmosfera intimista. É TEATRO,
sim, todavia, acima de tudo, é um TEATRO-VERDADE, uma conversa,
praticamente, entre uma pessoa, que a conduz, e outras - acho que menos de
trinta -, que interagem com a atriz, quando essa oportunidade lhes é dada.
Um
dos momentos de maior emoção, na peça, é quando, numa mensagem
direcionada às filhas, a atriz nos brinda com esta maravilha de texto,
olhando, fixamente, para a câmera: “Eu quero que você, Nina, que, hoje,
está com cinco anos, e que você, Bruna, que, hoje, está com três anos, possam,
aí no futuro, me ver como eu sou hoje, no auge da saúde, da vitalidade. No auge
da minha vida. E quero que assistam a essa gravação, também, quando tiverem
quarenta e três anos de idade, cada uma, para que possamos, por, pelo menos,
uma vez na vida, num encontro único no tempo, ter a mesma idade. Eu queria ser
amiga de vocês, ir caminhando junto com vocês, mas não posso, meu tempo é
outro, eu vim primeiro. Então vamos fazer esse registro está bem? Esta cápsula
do tempo.”. Esse é um gatilho puxado, para provocar lágrimas. E não foi
só em mim.
O
texto flui com muita beleza, leveza, poesia, naturalidade e até um pouco
de humor leve, e vai levando a plateia a se sentir hipnotizada pela atriz/personagem.
Além de falar do universo em que a maternidade está inserida, a dramaturgia
ainda aborda outras “facetas”, como momentos indeléveis da vida pessoal de CRIS,
marcados por vários “eus”, próprios de cada faixa etária, que vão ficando para
trás, à medida que o tempo vai passando; as experiências e emoções vividas com
os amigos; o próprio ciclo vital do ser humano, do nascimento à velhice,
passando pelo amadurecimento; a dor que representa a perda dos pais, para um
filho, por mais natural e certo que isso vai acontecer um dia...
Ainda bem que o espetáculo teve a temporada
prorrogada no mesmo espaço em que vinha sendo encenado. É claro que ele pode
ser montado num Teatro convencional, numa sala com palco italiano, mas é
bem provável que possa perder um pouco de seu brilho. E explico o porquê. Um cenário
projetado, de uma cozinha, jamais será a mesma coisa que uma cozinha real, o
cômodo mais importante das casas do interior e das fazendas, onde as pessoas se
reúnem, à noite, perto de um fogão a lenha, geralmente, para “jogar conversa
fora”. Como nessas situações, o cenário/ambiente da peça (ALICE
CRUZ e TUCA BENVENUTTI, também responsáveis pelos adereços.),
uma cozinha de verdade, gera muito mais realismo à encenação. Basta
dizer que até um cafezinho a atriz prepara, em cena, em tempo real,
desde colocar a água para ferver, passando pelo ato de coar, até degustá-lo. E
o ambiente fica impregnado, positivamente, com o gostoso aroma da rubiácea. À
cozinha da CASA RIO, complementando o cenário, foram agregados
objetos pessoais da atriz, como porta-retratos, com fotos da família e desenhos
feitos pelas duas filhas.
É bem interessante a proposta de iluminação (FERNANDA
MANTOVANI), dentro da concepção do espetáculo. Não há uma luz
teatral; praticamente, tudo acontece sob uma iluminação natural, de uma
cozinha, entretanto a própria atriz cuida de acender e apagar vários pontos de
luz (abajures e luminárias) espalhados pela cozinha, de acordo com o texto e as
cenas.
Pontua
a peça uma bela e muito ajustada, além de eclética, trilha sonora
(CRISTINA FAGUNDES e GUI STUTZ), com músicas que marcaram a vida
da autora e intérprete, misturando Jimi Hendrix (“Little
Wing”); Dominguinhos e Anastácia (“Sanfona Sentida”); Marisa
Monte e Arnaldo Antunes (“Ainda Bem”); Eric Clapton (“Cocaine”);
Peter Gabriel (“Mercy Street”); Astor Piazzola (“Libertango”); Amy
Winehouse e Ronson (“Back To Black”); Sérgio Sampaio (“Eu Quero É
Botar Meu Bloco Na Rua”); U2 (New Year’s Day”); Zé Ramalho (“Cavalos
Do Cão”); Bob Dylan (“All Along The Watchtower”); George Harrison
(“While My Guitar Gently Weeps”); e Gilberto Gil e Dominguinhos (“Lamento
Sertanejo”), além de outros “que tais”.
FLÁVIA
ESPÍRITO SANTO não quis inventar a roda e criou um figurino
simples e discreto, bem de acordo com a personagem.
Todos
os demais nomes que aparecem na ficha técnica executam,
profissionalmente, de forma correta, suas atribuições, colaborando para o
sucesso desta montagem.
FICHA TÉCNICA:
Texto: Cristina Fagundes
Direção: Alexandre Barros, Cristina Fagundes e Daniel
Leuback
Interpretação: Cristina Fagundes
Cenário e Adereços: Alice Cruz e Tuca Benvenutti
Figurino: Flávia Espírito Santo
Iluminação: Fernanda Mantovani
Trilha Sonora: Cristina Fagundes e Gui Stutz
Desenho de Som: Gui Stutz
Programação Visual: Ivison Spezani
Assessoria de Imprensa: Lyvia Rodrigues – Aquela Que
Divulga
Redes Sociais: Tatiana Borges – Agência E-Plan
Fotografias: Renato Mangolin
Direção de Produção: Cristina Fagundes
Produção Executiva: Tamires Nascimento – Tem Dendê
Produções
Realização: Fagundes Produções Artísticas
Idealização: Cristina Fagundes
SERVIÇO:
Temporada: De 07 de agosto a 10 de outubro de 2019.
Local: Casa Rio.
Endereço: Rua São João Batista, 105 – Botafogo – Rio
de Janeiro.
Telefone: (21) 2148-6999.
Dias e Horários: às 4ªs e 5ªs feiras, às 20h.
Valor dos Ingressos: R$50,00 (inteira) e R$25,00
(meia entrada).
Classificação: 14 anos.
Duração: 60 minutos.
OBSERVAÇÃO:
Como o espaço é bem reduzido, só comporta poucos espectadores, convém
consultar, por telefone, se há ingressos disponíveis.
Enquanto
o discurso do ódio, lá fora, ocupa quase 24 horas do nosso dia, proporcionado
por um bando de celerados, débeis mentais, que ocupam os mais altos postos dos
governos federal, estadual e municipal, o TEATRO e CRISTINA FAGUNDES
nos proporcionam, dentro de uma cozinha, o prazer de poder enxergar a pureza e a beleza da vida, que
parte da maternidade e, com ela, se inicia, para o resto das nossas
existências. É só a gente querer.
Recomendo,
com total empenho este espetáculo e, se tiver oportunidade,
assistirei a ele novamente, como prova do quanto ele me agradou.
E VAMOS AO TEATRO!!!
OCUPEMOS TODAS AS SALAS
DE ESPETÁCULO DO BRASIL!!!
A ARTE EDUCA E
CONSTRÓI!!!
RESISTAMOS!!!
COMPARTILHEM ESTE
TEXTO,
PARA QUE, JUNTOS, POSSAMOS DIVULGAR
O QUE HÁ DE MELHOR NO
PARA QUE, JUNTOS, POSSAMOS DIVULGAR
O QUE HÁ DE MELHOR NO
(FOTOS: RENATO MANGOLIN.)
(GALERIA PARTICULAR. FOTOS: GILBERTO BARTHOLO e VINÍCIUS ROBERTO.)
(GALERIA PARTICULAR. FOTOS: GILBERTO BARTHOLO e VINÍCIUS ROBERTO.)
(Cristina Fagundes e eu.)
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