MENINES
(LÚDICO, DE LUDUS = JOGO;
OU LUDES, NÃO NUDES.
ou
VAMOS “BRINCAR”
DE FALAR DE GÊNERO?)
Em tempos sombrios, de polarização radical, quando
tentam que nos curvemos a uma ditadura social, retrógrada, como, aliás, é toda
ditadura, chegando ao extremo absurdo de tentar nos impor que “meninos
vestem azul e meninas vestem rosa”, o TEATRO, que sempre salvou,
salva e continuará salvando, lutando contra os mais poderosos inimigos, surge,
com alguns espetáculos, para tratar de assuntos muito importantes,
ligados à causa LGBT+, como um grito de alerta e uma forma de resistência
a essa hipocrisia de uma parte da sociedade, que insiste em que os que
pertencem àquele universo (LGBT+) são pessoas inferiores, “do mal”, e
não seres humanos, como todos somos, cidadãos, que pagam seus impostos e têm
seus direitos, e que, portanto, merecem todo respeito, de todos,
simpatizantes ou não da causa.
A peça
motivo desta crítica é “MENINES” e estreou, recentemente, para
uma curtíssima temporada, no Teatro FIRJAN SESI Centro (VER SERVIÇO.).
O texto é da consagrada
dramaturga MARCIA ZANELATTO, que também dirige a montagem,
junto com CESAR AUGUSTO, outro bom diretor e ator, com
quem MÁRCIA já vem mantendo uma vitoriosa parceria faz um bom tempo.
Por meio de,
exatamente, seis esquetes,
carregados de humor e leveza, com forte apelo lúdico, a autora “explora
o atrito entre afetos e tabus num mundo balizado pelo binarismo, através
de cenas curtas – casuais, porém reveladoras –, que se passam entre enamorados,
como em “ROMIET E JULIEU”; entre amigos, como em “CASAL GRÁVIDO”; entre
pais e filhos, como em “NO ARMÁRIO” e “EM FAMÍLIA”; diante de
autoridades, como em “EXPLIQUE-SE”. Na cena “DRAG”, o espetáculo faz uma
homenagem a Shakespeare que, segundo estudiosos, teria inventado esta palavra
(DRAG), ao usá-la como sigla para a rubrica “DRESSED
AS A GIRL” – em português, “VESTIDO COMO
UMA GAROTA”, como consta no “release”, enviado por JSPONTES COMUNICAÇÃO (JOÃO PONTES e STELLA
STEPHANY).
SINOPSES:
“ROMIET
E JULIEU”: O enamoramento entre duas pessoas não-binárias, aquelas
cuja identidade de gênero não é nem inteiramente masculina nem inteiramente
feminina, revela a beleza do amor acima de qualquer tabu.
“EM
FAMÍLIA”: Uma mãe "paternal" e um pai "maternal" estão às voltas com
seus filhos, um menino superprotegido e uma menina empoderada, liberando a
filha e prendendo, em casa, o filho. contrariando o “natural”.
“CASAL
GRÁVIDO”: Dois casais se encontram para um jantar. Um dos casais
está grávido e a barriga está… no homem. Ainda assim, os quatro têm que lutar
muito, para tentar se livrar dos grilhões das convenções binárias, que se
revelam na escolha das cores do enxoval do bebê. (NOTA: Este texto foi escrito em 2016, bem antes do recente episódio
público, ocorrido acerca das cores “apropriadas” para meninos e meninas).
“DRAG”:
Um certo SR. WILLIAM e
uma certa trupe de TEATRO estão às
voltas com um problema de época: a Lei
do Pudor, que, durante a Inglaterra
do Século XVII, proibiu que mulheres
subissem aos palcos. O primeiro ator
da trupe discorda sobre a estratégia do autor,
para driblar a lei: fazer com que atores
homens se vistam de mulher.
“NO ARMÁRIO”: LUCA tem um mundo mágico, porém
secreto: o armário de sua mãe, no qual vive trancado e de onde a mãe quer que
ele saia. Comovidos com os conflitos de LUCA
sobre “que peças do vestuário pode ou não usar”, em dado momento, o SAPATO DE SALTO e a PERUCA resolvem contar-lhe suas
próprias e verdadeiras histórias.
“EXPLIQUE-SE”: Num
interrogatório surreal, PEDRO se vê
diante da possibilidade de ser acusado de ter cometido um crime mais surreal
ainda. As autoridades em vigor acabam de determinar que só se pode comer laranjas em cubos e não admitem
que PEDRO possa gostar de chupar laranjas.
O texto
foi escrito sob encomenda, o que MARCIA
já fez outras vezes, e sempre muito bem, para o projeto “Conexões de Fomento à Dramaturgia Jovem”,
criado pelo National Theatre / Londres, no qual a querida dramaturga, para orgulho nosso, foi premiada, recentemente, como autora
e realizadora, pelo International Brazilian Press Award, na categoria Perfomance Arts, pela ocupação “Brazil Diversity – LGBT+
short plays”, no Theatre503,
em Londres /
Inglaterra, 2018.
ISSO
JÁ É UMA BOA CREDENCIAL, PARA QUE SE ASSISTA À PEÇA AQUI ANALISADA.
Além disso, MARCIA vem escrevendo seu nome no
exterior, já tendo participado de debates
internacionais (Women Playwrights
International Conference / Chile, 2018; Female Voices from Brazil, Martin E. Segal Center Theatre, Nova York,
2018; Pen Word Voices, Martin E.
Segal Center Theatre, Nova York, 2017; Outburst
Queers Arts Festival / Irlanda do Norte, 2017; Birth Debate, Royal Exchange Theatre / Inglaterra, 2016) e outros fóruns ligados à causa LGBT+.
“MENINES” é um texto
inédito, que costura seis esquetes,
ainda que independentes, mas voltados para a mesma temática, todos em cenas curtas e com muito dinamismo, já no corpo da escrita,
ampliado pelo trabalho de direção. “Com ‘MENINES’, eu percebi que é preciso
sonhar e lutar por um futuro melhor”, diz CESAR AUGUSTO, diretor convidado por MARCIA
ZANELATTO. São esquetes muito bem
humorados, “que
montam um jogo de desconstruir certezas e provocar novas perguntas”.
Segundo
a autora e codiretora, “MENINES é uma brincadeira de
dar três voltas em tornos das convenções binárias, rindo. Nada
resiste ao riso, confio nele para nos dizer para onde o mundo deve ir”.
Nunca é demais lembrar que, através do humor, chega-se, mais facilmente, à
crítica. O espectador ri e reflete, em seguida, sobre o que o motivou a achar
graça de algo que, no fundo, é muito sério. Acho que um dos maiores méritos do espetáculo reside no humor e na leveza do texto, nas boas soluções encontradas pela direção e
no elenco de jovens e talentosos atores,
os quais, além de interpretar, cantam, dançam e, alguns, tocam instrumentos musicais.
Trabalho completo.
Quer
em cenas nas quais se destacam mais, como “protagonistas”
(Não se pode falar em “protagonismo”,
propriamente dito, nesta peça.), quer em trabalhos em conjunto, todos os atores demonstram talento e estar
muito conscientes de suas funções no espetáculo. Além se SIMONE MAZZER, atriz e cantora, das boas, especialmente
convidada para esta temporada de lançamento da peça (Espero que jamais
deixe o elenco.), todos merecem
destaque: (em ordem alfabética) AGNES
LOBO, BRUNO MARIA TORES, ELISA CALDEIRA, IAN BELISÁRIO, MAÍRA GARRIDO,
PEDRO MARQUEZ e ZANE. “O elenco, escolhido nas peças das novas gerações e nas salas das
escolas de TEATRO, coloca em cena um grupo de novos talentos de 20 a 25 anos, o
que renova, também, a plateia do TEATRO carioca, dando voz e representatividade
a uma geração que, raramente, vê suas questões nos palcos profissionais.”.
Pela
sucessão dos (Ou das; prefiro o vocábulo no masculino.) esquetes,
vamos aos destaques:
“ROMIET E JULIEU” – Uma excelente ideia
de inverter os papéis, para abordar o amor do amantes de Verona. Se viva, ainda, fosse, talvez, uma determinada senhora,
crítica afamada, profunda conhecedora e admiradora da obra do bardo inglês,
ficasse chocada. Ou não. ROMIET é vivido por PEDRO MARQUEZ (excelente ator, com um
ótimo “timing” para o humor) e o papel de JULIEU cabe a AGNES LOBO,
também em boa atuação. Há, na cena, um toque de deboche, “do bem”, uma sátira
muito bem feita às convenções estabelecidas pela sociedade, que não se
diferenciam muito, as daquela época, das de hoje.
“EM FAMÍLIA” é outra ideia sensacional.
Talvez seja a minha cena preferida.
A inversão dos papéis e das situações é o ponto alto da cena, nas quais os dois
casais de atores têm um rendimento
totalmente nivelado; para cima. O pai, BRUNO
MARIA TORRES, comporta-se como a mãe, e esta, vivida por MAÍRA GARRIDO, age como um pai,
tradicionalmente falando. Ambos impõem cortes às asas do filho (ZANE), não o liberando para as “baladas”,
com a justificativa de que “é muito perigoso” – o “menino” pode se perder” ou
“ser, facilmente, “corrompido” pelas meninas – (mais a mãe), ao mesmo tempo que
“liberam geral” a filha (ELISA CALDEIRA).
O lema da mãe, diante do empoderamento da filha, é “Prendam seus bodes, que a minha cabra está solta!”, numa
“subversão” total quanto ao que dizem os pais (homens) machistas.
“CASAL GRÁVIDO” – Também bastante
interessante, este esquete apresenta, logo de cara, o insólito de, num casal,
quem está, literalmente, “de barriga” é o pai. Entre eles, gira uma acalorada
discussão acerca de ir contra os padrões estabelecidos, as convenções sociais a
respeito do que pode ou não pode um menino e uma menina, o que cabe, ou fica
melhor, a um e a outro. Chega às raias do patético, provocando muitas
gargalhadas na plateia. O destaque maior vai para as cores que as crianças
devem vestir: azul, para meninos, e
rosa, para meninas. O curioso é que a cena é atualíssima, ainda que tenha
sido escrita antes de uma certa senhora, que ocupa um ministério, neste (DES)governo federal pífio, de
chanchada (de terror), ter apresentado, sua opinião, sua “tese”, catastrófica, sobre
o assunto, em ampla divulgação, no Brasil
e no exterior, para a nossa vergonha do alheio. Achei genial a ideia de chamar
o grávido, PEDRO MARQUEZ, de PÃE e AGNES LOBO, a mulher do casal, de MAI. Além deles, estão, nesta cena, IAN BELISÁRIO (ELE) e ELISA
CALDEIRA (ELA).
“DRAG” pega o espectador, aquele que é
apaixonado pelo TEATRO, pela emoção
e pela afetividade, pois põe em cena um personagem,
um certo SENHOR WILLIAM, facilmente
identificado, por um adereço, uma gola, como Shakespeare, um mito, um gênio da dramaturgia universal de todos os tempos,
e faz alusão a um fato real, “de certa forma”, já abordado num excelente filme,
“Shakespeare Apaixonado”, título com
o qual foi batizada, no Brasil, a
película britano-estadunidense, de 1998, “Shakespeare in Love”, indicado a vários prêmios e vencedor de
muitos. Era vedado a mulheres atuar no TEATRO
e, caso houvesse lugar para uma personagem
feminina, coisa rara, o papel deveria ser feito por um homem, devidamente
caracterizado de mulher. (Releia os
primeiros parágrafos desta crítica e a sinopse.). BRUNO MARIA TORRES, em excelente interpretação, é o SENHOR WILLIAM; os atores da companhia
são AGNES LOBO, PEDRO MARQUEZ, MAÍRA GARRIDO
e ZANE, este o ator que se recusa a se travestir.
“NO ARMÁRIO” é uma cena muito criativa,
em que o jovem LUCA (ELISA CALDEIRA),
metaforicamente, nega-se a “sair do
armário”, por não saber o que vestir, no que é pressionado por um SAPATO DE SALTO (MAÍRA GARRIDO) e por
uma PERUCA (SIMONE MAZZER), ícones
da padronização de um travesti, que “dialogam” com o personagem indeciso. É bem
interessante ver o comportamento de alguém diante do medo de se assumir “gay”
e de como seria a reação da sociedade em que vive, a começar pela família.
“EXPLIQUE-SE”
– cena totalmente construída sobre uma metáfora, é bem interessante e muito bem
escolhida, para encerrar o espetáculo.
Por trás do surreal que o esquete apresenta, está a cobrança social, a
não-aceitação do diferente, que não se encaixa nos padrões de gênero
estabelecidos pela sociedade, a “punição” a quem “sai da caixinha”, a quem
prefere “chupar” laranja a “comer” a fruta. Não é preciso desenhar;
é?. É preciso, sim, ir logo ao Teatro
FIRJAN SESI Centro, para assistir ao espetáculo.
A direção da peça optou por um palco livre e poucos elementos cenográficos: ao fundo, alguns instrumentos musicais; tapadeiras
de fitas largas, ao fundo e dos lados; uma pequena escadaria; uma arara de
roupas; uma bola de pilates e um ou outro material de cena. Esse é o resumo cenográfico, idealizado por CESAR AUGUSTO e BELI ARAÚJO.
A iluminação, de ADRIANA ORTIZ, os figurinos,
de MARIA DUARTE, e o visagismo, de MÁRCIO MELLO / ESPAÇO RIO e BRUNO MARIA TORRES, jogam a favor da montagem.
LAVÍNIA BIZOTTO faz um simples e bom
trabalho de direção de movimento,
trazendo frescor à peça, e a direção musical, a cargo de LUIZA TOLEDO e MAIRA GARRIDO, também agrega valores ao espetáculo. Vale a pena lembrar que as canções da trilha sonora são originais, compostas por
alguns dos atores, como consta na ficha
técnica, assim como MARCIA ZANELATTO
aproveitou dois poemas incidentais,
no texto, também presentes da ficha técnica.
FICHA
TÉCNICA:
Texto: Marcia Zanelatto
Direção: Cesar Augusto e Marcia Zanelatto
Diretor Assistente: Pedro Uchôa
Consultoria Intelectual: Prof. Guilherme Almeida
Elenco (em ordem
alfabética): Agnes Lobo, Bruno Maria
Torres, Elisa Caldeira, Ian Belisário, Maíra Garrido, Pedro Marquez e Zane
ATRIZ CONVIDADA: Simone Mazzer
CENA / TERSONAGEM / ATOR / ATRIZ:
“ROMIET E JULIEU”: Romiet
– Pedro Marquez; Julieu – Agnes Lobo
“EM FAMÍLIA”: Pai –
Bruno Maria Torres; Mãe – Maíra Garrido; Irmã – Elisa Caldeira; Irmão – Zane
“CASAL GRÁVIDO”: Mai
– Agnes Lobo; Pãe – Pedro Marquez; Ele – Ian Belisário; Ela – Elisa Caldeira
“NO ARMÁRIO”: Luca –
Pedro Marquez / Elisa Caldeira; Sapato de Salto - Maíra Garrido; Peruca -
Simone Mazzer
“EXPLIQUE-SE”: Pedro –
Zane; Norma - Pedro Marquez; Guerra - Bruno Maria Torres
“DRAG”: William –
Bruno Maria Torres; Paul Grahan – Zane; Trent Douglas – Agnes Lobo; Roger
Briggs – Pedro Marquez; John Pack – Maíra Garrido
Poemas incidentais: TRANSORAÇÃO, de
Bruno Maria Henríquez; QUEBRA-CABEÇAS, de
Ian Belisário
Músicas: PODE
AMAR, letra e música de Maíra Garrido;
TRANS-ORAÇÃO, letra de
Bruno Maria Torres e música de Maíra Garrido; DESARMÁRIO, letra e música de Maíra Garrido; COMO EU QUISER, letra e música de
Isadora Cecatto e Maíra Garrido; RITO,
letra de Bruno Maria Torres e música de Maíra Garrido
Direção Musical: Luiza Toledo e Maíra Garrido
Espaço Cênico: Cesar Augusto e Beli Araújo
Iluminação: Adriana Ortiz
Figurinos: Maria Duarte
Direção de Movimentos: Lavínia Bizzotto
Visagismo: Marcio Mello / Espaço Rio e Bruno Maria
Torres
Programação
Visual: Thiago Ristow
Fotos: Renato Mangolin
Vídeo e “Teasers”: Bruna Leal
Conteúdo para
Transmídias: Bruna Leal e Marcia
Zanelatto
Mídias Sociais: Marina Rattes
Assistência de
Produção: Glauco Deris
Produção Executiva: Renata Campos
Direção de
Produção: Juliana Mattar
Idealização: Marcia Zanelatto
Realização: Transa Arte e Conteúdo
Apoio Cultural: Teatro Firjan Sesi
Assessoria de Imprensa: JSPontes Comunicação – João Pontes e
Stella Stephany
SERVIÇO:
Temporada: De 14 de
março a 14 de abril de 2019.
Local: Teatro FIRJAN
SESI Centro.
Endereço: Avenida Graça
Aranha, nº 1 – Centro – Rio de Janeiro.
Telefone: (21)
2563-4163.
Dias e Horários: De 5ª
feira a sábado, às 19h; domingo, às 18h.
Valor dos Ingressos: R$40,00 (inteira) e R$20,00 (meia entrada).
Classificação Indicativa: 14 anos.
Duração: 70 minutos.
Gênero:Comédia.
“A
encenação de ‘MENINES’ busca a estética da expressão corporal no século XXI, em
que os papéis atribuídos a meninos e meninas se renovam e se fundem nos espaços
de trabalho, de estudo e de lazer; nas ruas e nas casas. ‘MENINES’ é um
espetáculo feito por jovens, para todas as plateias, e pretende ser uma
celebração da alegria de ser e de viver.
Acho que os
objetivos da peça são alcançados e
ela deverá fazer uma boa temporada.
Recomendo-a e espero
que a divulgação “de boca em boca”
consiga lotar o Teatro FIRJAN SESI
Centro, uma vez que são muito parcos os recursos da produção, para a divulgação deste bom espetáculo na grande mídia.
FOTOS: RENATO MANGOLIN.)
E VAMOS AO TEATRO!!!
OCUPEMOS TODAS AS
SALAS DE ESPETÁCULO DO BRASIL!!!
A ARTE EDUCA E
CONSTRÓI!!!
RESISTAMOS!!!
COMPARTILHEM ESTE
TEXTO, PARA QUE, JUNTOS,
POSSAMOS DIVULGAR
O QUE HÁ DE MELHOR NO
TEATRO
BRASILEIRO!!!
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