segunda-feira, 4 de março de 2019


A PRÓXIMA
ESTAÇÃO –
UM ESPETÁCULO
PARA LER


(E PARA RIR...
...E PARA CHORAR...
...E PARA SE APLAUDIR MUITO!!!)





            Não é a primeira vez que escrevo uma crítica sobre um espetáculo que já saiu de cartaz. E nem será a última, visto que me falta tempo para escrever sobre todas as peças de que gosto, durante o tempo em que estão sendo apresentadas. Infelizmente. O fato é que só pude assistir ao excelente espetáculo em pauta na última semana em que esteve em cartaz, numa curtíssima temporada, no Mezanino do SESC Copacabana (até o dia 24 de fevereiro de 2019), e não tive tempo hábil, para fazer o registro do quanto fiquei apaixonado por ele.

            Confesso que, quando recebi o convite, acompanhado pelo “release”, enviado por BIANCA SENA (ASTROLÁBIO – ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO), fiquei um pouco intrigado e apreensivo, uma vez que, apesar de considerar o ator CACÁ CARVALHO um dos maiores representantes do nosso TEATRO, custava-me acreditar que poderia ser interessante ficar ouvindo alguém “ler uma peça”. Não fora convidado para uma “leitura dramatizada”, mas para assistir a “um espetáculo para ler”. Convite inusitado, no mínimo. Em que daria isso? O verbo “LER” estaria sendo utilizado denotativa ou conotativamente? Quem leria? Seria “LER”, no sentido de decodificar, entender, a plateia, sentir o espetáculo, ou seria alguém, no caso, um ator, CACÁ, quem leria um texto teatral? O que eu não poderia, absolutamente, era deixar de conferir essa proposta, a qual, por mais “estranha” que pudesse parecer, tinha tudo para ser muito interessante, já que o nome de CACÁ CARVALHO fazia parte da ficha técnica.






            A peça foi escrita pelo premiado autor italiano MICHELE SANTERAMO e encenada, no início de 2015, na Itália pelo próprio autor, com excelente repercussão crítica. Na trajetória de vidas de dois personagens, o casal VIOLETA e MASSIMO, vamos nos preparando para saber “o que pode acontecer nos próximos sessenta anos e como nossas vidas terão de se adaptar às mudanças que as escolhas de hoje irão produzir”.












SINOPSE:

Em um espetáculo “para ler”, CACÁ CARVALHO está no palco e dialoga com a projeção das imagens de CRISTINA GARDUMI.

Lê, de uma maneira toda especial, a história de VIOLETA e MASSIMO, um casal, cheio de ironias, poesias, conflitos, que vive junto por 50 anos.

Vivem até o ano de 2065, em desentendimento com o mundo e o tempo vivido.

As imagens cumprem o papel de dar fisicalidade aos personagens, os quais se comunicam através da voz de CACÁ.









  Sinto uma certa dificuldade para classificar, didaticamente, o que vi, naquela noite, o que não faz a menor diferença. Sei, porém, que se trata de algo inesquecível, um trabalho de profunda riqueza, sensibilidade e técnica, capaz de prender a atenção do espectador do início ao fim e de provocar aquele desejo de “quero mais”, quando tudo termina.

            O que vemos, em cena, é, de acordo com o que se pode ler no “release” já mencionado, “o homem e sua crise em viver - foco de interesse artístico de CACÁ CARVALHO -, centrada no casal VIOLETA e MASSIMO; juntos, repassam o curso de suas vidas em seis estações, marcadas por intervalos de uma década, ao longo de 50 anos, de 2015 a 2065. O espetáculo pontua as alterações deste percurso comum aos dois, os pequenos e grandes embates do relacionamento, as modificações de seus desejos, a expressão da ternura, a maneira como eles se divertem, a inata delicadeza e as adaptações que terão de enfrentar, impostas pelo novo modo de vida de um futuro fictício, no qual pulsações profundas, desejos e paixões se deslocam no tempo. Para tratar do futuro, contendo o tempo presente, o autor concebeu o texto teatral para, como explicita o subtítulo, ser lido. CACÁ CARVALHO sobe ao palco, acompanhado de dois protagonistas, criados pela artista plástica e ‘performer’ italiana CRISTINA GARDUMI, a partir do estudo do texto de SANTERAMO. Para traduzir, em desenhos, a história de 50 anos de vida de VIOLETA e MASSIMO, CRISTINA criou criaturas humanas animalizadas, ou animais humanizados, com traços de extrema delicadeza, unindo gestualidade teatral, emoções e profundos impulsos.”. (Extraído do "release".)






  Não se veem, em cena, em forma concreta, dois personagens no corpo pleno de um mesmo ator, mas, sim, ouvem-se dois personagens, saindo da boca de um grande ator, na forma das falas que compõem os diálogos. Cada um, do casal, com suas características de entonação, inflexão, ritmo, sensibilidade e intenções, com o detalhe principal, e imprescindível, de as vozes irem se transformando, à medida que os protagonistas envelhecem, ao longo de cinco décadas. Um trabalho filigranado, que só um(a) grande ator/atriz, da magnitude de um CACÁ CARVALHO ou de uma FERNANDA MONTENEGRO, seriam capazes de dar conta. No caso desta, com sua recente “performance” “Nelson Por Ele Mesmo”, era uma leitura enxertada de muitos elementos, mas não se tratava de uma história, traduzida em diálogos. Era uma pura narrativa. De igual valor, porém uma proposta completamente diferente.

 Enquanto dá conta dos diálogos, “lidos”, da forma mais expressiva possível, para ajudar a situar o público e para ilustrar o que está sendo dito, “legendas acompanham os desenhos projetados em um painel, e desempenham um papel fundamental, para que se estabeleça o jogo teatral: Projetadas com legendas, são lidas pelo espectador, criando um fluxo de diálogo entre o espectador, a página escrita e a mediação evocativa da voz do ator”. (Extraído do “release”.)






            Paradoxalmente, podemos dizer que se trata de um espetáculo de TEATRO sem atores, porém com personagens, quase materializados. Se fecharmos os olhos, como fiz, por duas ou três vezes, somos capazes de ver, além de ouvir, VIOLETA e MASSIMO, na forma física, um tanto quanto esdrúxula, como nos foram apresentados, entretanto inseridos num cenário, que podemos imaginar, num exercício inquestionável, do ator, de provocação e procura de interação com a plateia, mesmo que essa possa não ter sido a intenção dos criadores da peça.

            Embora, para o grande público, CACÁ CARVALHO tenha se tornado popular, graças a um personagem, muito carismático, vivido num folhetim televisivo, em 1998, teve poucas outras participações na TV, visto que sua formação é de palco e é nele que vem mostrando, há cerca de quatro décadas, seu enorme talento. Foram muitos os sucessos, como a inesquecível montagem de Macunaíma” (1978), dirigida por Antunes Filho; “O Homem com a Flor na Boca” (1994); “Partido” (1999), convidado pelo Grupo Galpão; A Poltrona Escura(2003), “O Homem Provisório” (2007), inspirado na obra de Guimarães Rosa; “umnenhumcemmil (2013); e “2 X 2 = 5 - O Homem do Subsolo” (2015); isso do que me lembro sem muito pesquisar. Como se vê, CACÁ é um ator que desafia os desafios.






            É tudo muito simples, aparentemente, neste trabalho. Parece que tudo se resume a uma pessoa, num palco, lendo, e um “pobre” cenário: uma estante para partituras, onde se apoiam as folhas do texto e uma tela, na qual alguém faz projeções; e outra pessoa, que se encarrega de inserir sons e canções. O fato, porém, é que a sincronização disso tudo, das falas com as imagens e os sons paralelos emitidos, é algo que requer muito ensaio e entrosamento dos envolvidos. Caso contrário, o espetáculo não seria irrepreensível, como é.

            O ator e o diretor foram minuciosos, bastante detalhistas, na evolução dos personagens, a cada década vivida e vencida. Tudo o que ocorre, de verdade, na vida em comum de um casal é retratado em cena, os momentos bons e os difíceis, sempre em busca da tentativa de fugir à rotina, tão cantada e decantada, num casamento, principalmente nos relacionamentos longevos.











FICHA TÉCNICA:

(De uma ideia de Luca Dini e Michele Santeramo)
Texto e Direção: Michele Santeramo
Tradução: Cacá Carvalho

Elenco: Cacá Carvalho

Ilustrações: Cristina Gardumi
Coordenação Artística: Márcio Medina
Assistente de Direção na Itália: Erica Artei
Colaboração Artística: Roberto Bacci
Músicas Originais: Sergio Altamura, Giorgio Vendola e Marcello Zinn
Sonorização e Projeção: Kako Guirado e Tiago Mello
Operação de vídeo, Som e Luz: Michelle Bezerra
Fotografia: Lenise Pinheiro
Produção Executiva: Thaís Venitt
Produção Geral: Núcleo Corpo Rastreado/ Gabi Gonçalves









            Fiquei profundamente emocionado com a história do casal e com o modo como CACÁ CARVALHO vai conduzido a narrativa, cheia de diálogos humanos, sinceros, contundentes, engraçados, por vezes, e, acima de tudo, com a verdade e emoção colocadas, pelo grande ator, em cada uma das palavras sopradas ao vento, para que a saboreemos, da forma mais prazerosa possível.

            Lamento por aqueles que não tiveram a oportunidade de assistir ao espetáculo e fico na esperança de que os DEUSES DO TEATRO intercedam, para que, no mínimo, uma outra temporada aconteça no Rio de Janeiro. Estarei presente na reestreia, certamente, e muito feliz.







(FOTOS: LENISE PINHEIRO.)










E VAMOS AO TEATRO!!!

OCUPEMOS TODAS AS SALAS DE ESPETÁCULO DO BRASIL!!!

A ARTE EDUCA E CONSTRÓI!!!

RESISTAMOS!!!

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POSSAMOS DIVULGAR O QUE HÁ DE MELHOR NO
TEATRO BRASILEIRO!!!













































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