“O
PORTEIRO”
(HOMENAGEM
CERTA E MERECIDA,
EM FORMA
DE UM HUMOR CORRETO
E NA MEDIDA EXATA.)
Está
em cartaz, no Teatro II do SESC Tijuca
(VER SERVIÇO.), um monólogo que deve ser prestigiado, não só
pelo público local, mas também pelos moradores de qualquer parte da cidade.
Vale a pena atravessar os túneis e ir ao simpático bairro da Tijuca.
“O PORTEIRO”, protagonizado por ALEXANDRE LINO, “traz histórias de porteiros do Rio de Janeiro, cujo
destaque é o humor nordestino, com texto e direção de PAULO FONTENELLE”, de acordo com o
“release”, enviado por Minas das Ideias, assessoria sob a responsabilidade de CARLOS GILBERTO e FÁBIO
AMARAL.
Depois do estrondoso sucesso com
outro monólogo, “Lady Christiny”, no
Rio de Janeiro e em várias outras
cidades, LINO nos brinda com um
trabalho que diverte e, ao mesmo tempo, emociona; uma justa homenagem a um
profissional tão presente e importante na vida de muita gente. Às vezes, presente
até em excesso, causando-nos alguns embaraços: o porteiro do nosso prédio.
É
a terceira vez que ALEXANDRE LINO
trabalha o universo das chamadas “minorias”. Foi assim com “Domésticas” e “Nordestinos”,
ambas as peças mais dois grandes sucessos na carreira deste grande ator, diretor e empreendedor.
SINOPSE:
O espetáculo conta histórias reais, coletadas através de entrevistas,
de vários porteiros nordestinos, que
deixaram sua cidade natal, em busca da realização de seus sonhos no Rio de
Janeiro.
Diante do não comparecimento do síndico do prédio em que WALDISNEY (ALEXANDRE LINO) trabalha, o porteiro assume o comando da reunião de
condomínio.
A plateia faz as vezes de condôminos.
Como
migrante nordestino, LINO conhece
bem a lida dos porteiros, já que a
grande maioria deles procede do nordeste; eles que, ao buscar o Rio de Janeiro, assim como São Paulo também, na esperança de um
bom emprego, que lhes garanta uma vida melhor, acabam por fazer parte, em
grande escala, dessa classe profissional, já que a profissão de porteiro é uma das raras possibilidades de emprego que encontram, além da construção
civil.
LINO
já interpretou vários porteiros, em
sua carreira profissional, e parece ter, por eles, grande respeito e afeição, a
julgar pelo modo como os interpreta. Com este personagem, WALDISNEY, de certa forma, o ator volta às suas raízes e traz um
pouco da cultura nordestina, miscigenada com a carioca.
Diz o já referido “release”
que “‘O
PORTEIRO’ não é uma peça, propriamente dita; é uma experiência interativa, em
que os espectadores são convidados a participar de um grande e divertido
encontro de condôminos.”
Isso é a mais pura verdade. Partindo da liberdade
ficcional que o TEATRO nos
proporciona, um porteiro comanda uma
reunião de condomínio, na ausência do síndico, e o texto propicia participações dos fictícios condôminos, o que se dá
da forma mais natural e respeitosa possível, como se cada um que é chamado a
participar das cenas voltasse à infância e brincasse de “faz-de-conta”. A
plateia entra no jogo, de cabeça e, se o ator der corda, o espetáculo pode durar
muito mais do que os deliciosos 60
minutos de duração.
Ainda extraído
do “release”, “Segundo LINO, é uma relação de
afeto com essas pessoas, tão necessárias nas nossas vidas, que o faz nunca
percebê-los da mesma forma quando vai interpretá-los.”
“A peça dá sequência à linha investigativa da
Documental Cia, que nasceu em 2012, com a peça ‘Domésticas’, e passa por
grandes sucessos, como ‘O Pastor’ (2013), ‘Acabou o Pó’ (2014), ‘Nordestinos’
(2015), ‘Volúpia da Cegueira’ e ‘Lady Christiny’ (2016), que têm, como um
de seus pilares, um compromisso com o real e a perspectiva do pertencimento
para suas obras.”
O espetáculo direciona todos os focos a alguém
que, infelizmente, muitas vezes, é ignorado por boa parte da sociedade, humilhado,
até, e que, aqui, se torna o protagonista
e reina, absoluto, conduzindo, como faz um maestro, a sua orquestra. O porteiro tem vez e voz. E poder.
O texto
da peça é muito engraçado. O autor
colecionou e soube costurar verdadeiras “pérolas” do “folclore porteirês”. E esse texto
é muito bem explorado pelo talento de ALEXANDRE
LINO, que, mais uma vez, demonstra total domínio de cena e de público. Um
trabalho desse tipo exige muito do ator,
uma vez que nunca se sabe qual será a reação da pessoa a quem ele se dirige,
para chamar de Dona Alzira, do
307, uma velha maconheira, e de Dona
Juliana, do 302, a vizinha dona de um cachorro insuportável. Ambas
vivem a reclamar, uma da outra, e o porteiro promove as pazes entre as duas,
culminando com um abraço. Poucos atores conseguem atingir esse nível de
confiança do público.
E ainda temos a Dona Adelaide, do 504, que tem umas “manias meios estranhas”. E o morador – não me lembro de seu nome – que é inadimplente com o condomínio e vive se escondendo, passando pela entrada de serviço e fugindo das câmeras de segurança? E o rapaz que mora com um “amigo” sarado, num apartamento que só tem um quarto?
E ainda temos a Dona Adelaide, do 504, que tem umas “manias meios estranhas”. E o morador – não me lembro de seu nome – que é inadimplente com o condomínio e vive se escondendo, passando pela entrada de serviço e fugindo das câmeras de segurança? E o rapaz que mora com um “amigo” sarado, num apartamento que só tem um quarto?
Como eu me diverti com as inúmeras vezes em que WALDISNEY se dirige ao Seu
Waldemar, do 802, o ex-síndico, a quem não poupa elogios e bajulações, pelo
fato de ser merecedor de grandes regalias e benesses, durante a gestão daquele
senhor!
Ri-se da primeira à última cena. Por tudo. WALDISNEY faz parte de uma família numerosa, tendo como irmãos “machos”
Rodney, Sidney, Fransciney e Paul Macartney (a sílaba tônica é a última,
como nos nomes dos demais irmãos). Este, um verdadeiro achado, para não fugir à
“criatividade” dos pais. Paul é
lembrado, várias vezes, durante a peça, pois está para chegar ao Rio de Janeiro (mais um) e sempre liga
para WALDISNEY, dizendo que pegou o ônibus
errado, tendo ido parar nos lugares mais insólitos.
As irmãs do porteiro são Helen, Suelen, Marielen, Kellen e Roberta. Esta, a “ovelha negra”, cujo nome fugiu à sonoridade da
terminação dos nomes das outras, acaba por se tornar “artista”, assumindo o
pseudônimo de Michellen. Diga-se, de
passagem, que a atividade artística escolhida pela moça é um tanto reprovável,
porém não percebida por WALDISNEY (pelo
menos, aparentemente), o que lhe confere um ar de ingenuidade, que, aliás, ele
demonstra durante a peça.
Com uma produção bem barata, não
há grandes destaques para o cenário,
de KARLLA DE LUCA, que procura
reproduzir a portaria de um prédio de classe média baixa. O figurino, também
assinado por KARLLA, se resume a um
uniforme de porteiro, onde se lê “EDIFÍCIO
CLÍMAX”, e não poderia ser outro. A iluminação
– leia-se RENATO MACHADO - é simples
e não comportaria nada além do que é utilizado.
FICHA TÉCNICA:
Texto e Direção: Paulo Fontenelle
Assistente de Direção: Rodrigo Salvadoretti
Atuação: Alexandre Lino
Iluminação: Renato Machado
Cenário e Figurino: Karlla de Luca
Preparação Corporal e Voz: Paula Feitosa
Direção de Arte e Produção: Alexandre Lino
Produção Executiva: Equipe Cineteatro
Programação Visual: Guilherme Lopes Moura
Fotos: Janderson Pires
Assessoria de Imprensa: Minas de Ideias
Idealização e Realização: Documental.Cia e Cineteatro
Produções
SERVIÇO:
Temporada: De 08 de
setembro a 01 de outubro de 2017.
Local: Teatro Sesc
Tijuca- Teatro II.
Endereço: Rua Barão de
Mesquita, 539 – Tijuca - Rio de Janeiro.
Telefone: (21) 3238-2167.
Capacidade: 50 Lugares.
Preço: R$ 6,00
(COMERCÁRIO) R$ 12,00 (Meia) R$ 25,00 (INTEIRA).
Horários: De sexta-feira
a domingo, às 19h.
Classificação: 16 anos.
Duração: 60 minutos.
Gênero: Comédia.
Para
terminar, faz-se necessário dizer que “O
PORTEIRO” é um espetáculo despretensioso.
Toda vez, porém,
que utilizo tal adjetivo, fico com a preocupação de que o meu leitor possa
achar que o espetáculo não seja de boa qualidade, “porque não tem grandes
pretensões”.
NÃO É NADA DISSO!!!
Verificando-se
as várias acepções que o adjetivo contém, temos, sim, a de que pode significar “que não tem ou em que não há pretensão”,
mas, também, ocorre no sentido de “sem
afetação; modesto, simples”. É neste segundo viés que a peça se encaixa. E
isso é muito bom!!!
Mas
não pensem que só vamos ao SESC Tijuca
para dar boas gargalhadas com “O
PORTEIRO”. A peça também nos faz refletir bastante, principalmente no seu
final, quando, sob um único foco de luz, e sentado, ao contrário do que faz
durante, praticamente, a peça inteira, WALDISNEY, praticamente, cede espaço ao ator ALEXANDRE LINO,
que diz um belíssimo texto, sem o
sotaque nordestino, seriamente, como se chamasse as pessoas à realidade.
Nem para todos
caberá a carapuça, mas se ela couber em, pelo menos, uma cabeça, a função
social da peça, do TEATRO, estará
cumprida.
Graças
à gentileza de LINO, que me enviou o
texto, aproprio-me de alguns trechos
desse enorme “bife”:
“Vocês sabem, o único defeito que
eu vejo desse serviço é que, muitas vezes, as pessoas destratam a gente, como
se não fosse nada. Agem como se a gente não existisse. Isso acontece mais com
gente que vem visitar. Aqui, vocês, os moradores, me tratam direitinho.”
“Aqui tem quase 100 apartamentos.
Olha quanta gente? Tem de todo tipo. Branco, preto, amarelo, homem, mulher, veado,
sapatão, travesti, puta, maconheiro e até gente doente da cabeça... Mas eu
gosto mais é de gente da minha idade. Tem muita. É o pessoal que mais gosta de
cumprimentar e dá um bom dia, boa tarde e boa noite... O pessoal mais jovem
gosta disso não.”
Às vezes, o pessoal pergunta se
eu sinto saudade da minha terra... Eu não sinto, não. Minha mãe e meu pai já
morreram e muitos parentes também. Todos os meus irmãos e irmãs, tirando o Paul
Macartiney, que já deve estar chegando, todo mundo já está aqui. Eu vou buscar
o que lá? Eu já me sinto daqui. Minhas filhas nasceram aqui.”
“O porteiro é aquele que abre as
portas da sua vida, da sua vida. Nós sempre sabemos as últimas do ‘Balanço
Geral’. Tratamos todo mundo com respeito e estamos sempre prontos pra ajudar,
com as compras, com o elevador, segurando as crianças para vocês irem buscar os
carros. Não adianta ter mestrado e doutorado e não cumprimentar o porteiro. Não
adianta fazer yoga e não cumprimentar o porteiro. Não adianta ser vegetariano e
não cumprimentar o porteiro. Não desconte o seu mau humor no porteiro! Quando a
gente não recebe um ‘bom-dia’, ao menos, a gente se sente invisível. A gente
gosta, sim, de conversar; gosta, sim, de um cumprimento; até de um abraço.”
Fica a dica: um ótimo espetáculo em
cartaz, no Rio de Janeiro, esperando
por você, em curta temporada.
Recomendo muito!!!
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