TRAGA-ME
A CABEÇA
DE
LIMA BARRETO
(FICÇÃO
DOCUMENTAL
OU
DOCUMENTO
FICCIONAL
DE
EXCELENTE QUALIDADE.)
De uma cabeça privilegiada, saiu uma
ideia, que entrou em outra cabeça, igualmente fértil, a qual lhe deu forma. E,
do abstrato, fez-se o concreto, num palco de TEATRO. E que “concreto”!
A ideia, uma ficção, veio do consagrado ator, autor, diretor, produtor,
iluminador, um “faz-tudo”, em TEATRO,
HÍLTON COBRA, que teve, em LUIZ MARFUZ, o arquiteto de um belo texto, concretizado, em cena, pelo
próprio COBRA.
Fui à Sala Multiuso, do SESC
Copacabana, no dia da estreia deste espetáculo, há três dias, com uma expectativa “x” e saí de lá totalmente encantado
com o monólogo, carregando muitos “x”,
além da minha expectativa.
A
ideia é excelente; o texto, brilhante, assim como a atuação do ator, muito bem
dirigido por FERNANDA JÚLIA.
A temática, infelizmente, ainda é
bastante atual, pois trata de racismo,
discriminação racial; aqui, ela é
fortemente ampliada, pela teoria da eugenia,
uma falsa ciência, surgida à época em que viveu o grande escritor brasileiro,
orgulho da nossa literatura, LIMA
BARRETO (1881-1922), negro, “pisoteado, sem o devido reconhecimento de
sua inovadora obra literária, em vida” (HILTON COBRA).
“A eugenia (ou eugenismo), é
um termo criado, em 1883, por Francis Galton (1822-1911),
significando ‘bem nascido’. Galton
definiu eugenia como ‘o estudo dos agentes, sob o controle social,
que podem melhorar ou empobrecer as qualidades raciais das futuras gerações,
seja física ou mentalmente’.
O tema é bastante controverso,
particularmente após o surgimento da ‘eugenia nazista’, que veio a ser parte
fundamental da estúpida ideologia de ‘pureza racial’, a qual culminou no Holocausto,
promovido pelo sanguinário criminoso Adolf
Hitler.
Mesmo com a, cada vez maior, utilização de técnicas de melhoramento
genético, usadas, atualmente, em plantas e animais, ainda existem
questionamentos éticos quanto a seu uso com seres humanos,
chegando até o ponto de alguns cientistas declararem que é, de fato, impossível
mudar a natureza
humana.
Desde seu surgimento, no final do
século XVIII, até os dias atuais, muitos historiadores, filósofos e sociólogos declaram que existem diversos
problemas éticos sérios na eugenia,
como a discriminação de
pessoas por categorias (...).” (Wikpédia,
com adaptações.)
Muito mais do que isso, trata-se de algo ignóbil, vil, desprovido de
qualquer noção de respeito à dignidade do ser humano.
Os fatos encenados não são verídicos, mas bem poderiam ter sido. Só o
fato de se imaginá-los como uma verdade já nos indigna, da mesma forma como o
teor das frases projetadas, durante o espetáculo, retiradas de publicações de eugenistas, os quais tiveram a
insensatez, para dizer o mínimo, de considerar a raça negra como inferior.
SINOPSE:
Partindo de um texto fictício, logo após a morte de LIMA BARRETO, os eugenistas exigem a exumação do seu cadáver, para uma autópsia, a
fim de esclarecer “como um cérebro
inferior poderia ter produzido tantas obras literárias - romances, crônicas,
contos, ensaios e outros alfarrábios - se o privilégio da arte nobre e da boa
escrita é das raças superiores?”
É a partir desse argumento
que se desenvolve o espetáculo, com LIMA
se defendendo de tal infâmia e, ao mesmo tempo, num tom de deboche, destilando,
de forma bem sarcástica, seu veneno contra os opressores, dizendo-lhes o óbvio:
a cor da pele é apenas um detalhe racial, genético, que diferencia um ser
humano do outro, apenas em termos de raça, igualando-os,
porém, na condição de seres humanos.
A partir desse embate com
os eugenistas, a peça mostra as
várias facetas da personalidade e da genialidade de LIMA BARRETO: sua vida, a família, a loucura, o alcoolismo, sua
convivência com a pobreza, sua obra não reconhecida, o racismo, suas lembranças
e tristezas...
Com este belo espetáculo, HÍLTON
COBRA celebra os 135 anos do
nascimento de Lima Barreto, os 15
anos da Cia dos Comuns, fundada por ele, e os 40 anos de carreira artística. O espetáculo pode ser, portanto,
resumido como uma bela e merecida celebração.
De acordo com o “release” da
peça, enviado por MÁRCIA VILELLA (TARGET
ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO), “LIMA BARRETO definia sua obra como
‘militante’. Sua produção literária está, quase inteiramente, voltada para a
investigação das desigualdades sociais, da hipocrisia. É justamente essa
vocação (‘arte militante’) que aproxima COBRA de LIMA BARRETO”, com o
que concordo plenamente. Ali, sob os refletores e expondo-se aos olhos e
ouvidos críticos de seus espectadores, COBRA
se mostra um grande militante da causa negra. Mais que isso, da causa antieugenística;
mais ainda, da tolerância, em todas as suas manifestações.
“Hoje, discutir racismo, através de um autor, como LIMA, no TEATRO, é
dar uma contribuição extraordinária para esse tema. Também é um carinho que
queremos fazer com LIMA BARRETO – um autor tão pisoteado, tão injustiçado, que
pensou tão bem esse Brasil, abriu, na literatura brasileira, ‘a sua pátria
estética’ (os pisoteados, ou loucos, os privados de liberdade – esses são os
personagens de LIMA BARRETO).”, explica COBRA.
O trabalho é apresentado, oficialmente, como um “projeto artístico-investigativo-formativo”, para o que não é
necessária qualquer explicação. Basta assistir a ele. Ainda propõe uma imersão
na contribuição da obra do provocativo escritor e, certamente, faz com que cada
espectador deixe aquela Sala mexido
e pronto a mergulhar num mar de reflexões.
O texto é genial, mesclando
ineditismo com frases de eugenistas
e do próprio LIMA BARRETO. Tudo o
que é dito se encadeia muito bem e se apresenta de uma forma meio didática,
porém não enfadonha; muito ao contrário, é dinâmico, valorizado pela magnífica e irrepreensível atuação de HÍLTON
COBRA, um ator de grandes possibilidades técnicas, que, parecendo imantado,
atrai os espectadores, desde sua entrada triunfal em cena, e mantém essa
atração até o apagar do último refletor. Dono de um carisma, de um talento e de
uma gigantesca presença de palco, HÍLTON
nos brinda com uma atuação inesquecível, um convite a voltar àquele espaço,
para aplaudi-lo mais e mais...
FERNANDA JÚLIA, do NATA (Núcleo Afro-Brasileiro de Teatro de
Alagoinhas), assina uma direção
brilhante. É ela quem diz, no já citado “release”: “O diálogo crítico e politizado sobre
negritude é um disparador potente do fazer cênico do NATA. Esses elementos
foram fundamentais, para que eu percebesse quais caminhos trilhar, na
construção do espetáculo. Sou uma provocadora e problematizadora, por natureza,
e acho que a encenação deve seguir este caminho – provocar a reflexão e
problematizar o que está posto. São dois caminhos que sigo e que fundamentam
minhas escolhas poéticas e estéticas. Sou uma encenadora negra e afirmativa,
desejo sempre colocar, em cena, a beleza, a grandiosidade e as vitórias do meu
povo.” Quem for assistir ao espetáculo há de encontrar tudo isso no
trabalho de FERNANDA.
Outros elementos contribuem para o sucesso da encenação, como o cenário, simples, mas muito
interessante, a serviço do espetáculo, de MÁRCIO
MEIRELES; a acertada luz, do
grande mestre JORGINHO DE CARVALHO;
o simples, despojado e belo figurino,
de BIZA VIANNA; a direção de movimento, assinada por ZEBRINHA, e a excelente direção musical, a cargo de JARBAS BITTENCOURT.
FICHA TÉCNICA:
Texto: Luiz Marfuz
Direção: Fernanda Júlia
Ator: Hílton Cobra
Cenário: Márcio Meireles
Desenho de Luz: Jorginho de Carvalho
Figurino: Biza Vianna
Direção de Movimentos: Zebrinha
Direção Musical: Jarbas Bittencourt
Direção de Vídeo: David Aynan
Direção de Produção: Tânia Rocha
Direção de Vídeo: David Aynan
Direção de Produção: Tânia Rocha
Produção Executiva: Afonnso Drumond
Design Gráfico: Bob Siqueira e Ga
Fotografia: João Meirelles e Valmyr Ferreira
Fotografia: João Meirelles e Valmyr Ferreira
Participações especiais (voz em “off”): Lázaro Ramos, Frank Menezes, Harildo Deda, Hebe Alves, Rui Mantur e Stephane Bourgade
Assessoria de Imprensa: Márcia Vilella (Target Assessoria
Assessoria de Imprensa: Márcia Vilella (Target Assessoria
SERVIÇO:
Temporada de 14 de abril a 07 de maio de 2017.
Local: SESC Copacabana (Sala Multiuso).
Endereço: Rua Domingos Ferreira, 160 – Copacabana – Rio de Janeiro.
Telefone: (21)2547-0156.
Dias e Horários: Às 6ªs feiras e sábados, às 19h, e, aos domingos, às
18h.
Valor dos Ingressos: R$25,00; R$12,00 (estudantes e idosos); R$6,00
(associados Sesc).
Horário de Funcionamento da Bilheteria: 2ª feira, das 8h às 17h; de 3ª feira
a 6ª feira, das 8h às 21h; sábados, das 13h às 21h; domingos, das 13h às 20h.
Classificação Etária: 14 anos.
Duração: 60 minutos.
Recomendo,
com empenho, este espetáculo e
espero poder encontrar uma oportunidade de revê-lo, tal foi meu encantamento
por ele.
(FOTOS: JOÃO MEIRELLES
e
VALMYR FERREIRA.)
e
VALMYR FERREIRA.)
Adorei a crítica, vou assistir essa semana!
ResponderExcluirNovamente aplaudo esse espetáculo através dessa fabulosa crítica
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