segunda-feira, 24 de abril de 2017


INIMIGO OCULTO

 

(MA NON TROPPO...)



 



 
 


O mestre disse que “TODO ARTISTA TEM DE IR AONDE O POVO ESTÁ”. O mestre tem razão, mas eu acho que o povo também deve ir à procura do artista. No caso do TEATRO, TEM de ir ao teatro, mas também DEVE ir a outro qualquer espaço em que esteja sendo apresentado um espetáculo teatral, seja esse espaço qual for.

Como crítico teatral e jurado de um Prêmio de TEATRO, o PRÊMIO BOTEQUIM CULTURAL, além de colaborador, no “site” “RIO ENCENA”, sinto-me na obrigação, E COM MUITO PRAZER, de ir ao encontro do artista, numa lona cultural do mais distante subúrbio, numa fábrica desativada, num prédio abandonado, na rua, num apartamento... E não apenas os “globais” me interessam. Procuro prestigiar e incentivar a todos.

No último sábado (22 de abril de 2017), visitei um apartamento, em Copacabana (por questão de segurança, o endereço só é revelado a quem se propõe a assistir à peça, minutos antes do seu início, num ponto de encontro, marcado próximo ao local da exibição), para assistir a um espetáculo, feito para apenas dez espectadores.
 
 
 
 
 






Tudo acontece num apartamento minúsculo, classe média, onde as pessoas se acotovelam, a fim de assistir, durante 60 minutos, a pequenas cenas, que retratam o cotidiano da violência doméstica, que não dá mais para ser varrida para debaixo do tapete.

O tema, felizmente, vem sendo discutido cada vez mais; infelizmente, porém, quase na mesma proporção em que os crimes contra a mulher continuam acontecendo, a despeito de uma “Lei Maria da Penha” e das denúncias que vêm a público todos os dias, pelas mais diversas mídias.

 
 

 
 
 
 
 
 

 
SINOPSE:
 
 
Um marido que estupra a esposa, por ter certeza de que a certidão de casamento é um alvará de consentimento.
 
O tio, pastor, desejando “salvar” a castidade de uma sobrinha, prestes a abusar da pobre jovem.
 
Um namorado machista e possessivo, que culpa as mulheres que “pedem para ser estupradas”, por seu “mau comportamento”. 
 
Um marido que não procura a mulher por não achá-la mais atraente e a ignora até como ser humano.
 
Estupro coletivo.
 
Essas são algumas das situações fictícias, na prática teatral, porém mais que realistas, no dia a dia, no Brasil e no mundo.
 
 
 
 
 
 
 
 
 




 
 
 
 

 

Um pouco do “release” da peça, enviado pela assessoria de imprensa (TÁSSIA DI CARVALHO), com pequenas interferências:

“‘INIMIGO OCULTO’ revela nuances da violência doméstica no Brasil. Você pode pensar que situações de violência contra a mulher estão longe do seu cotidiano. Mas será que estão mesmo? Seria isso verdade? Quem não viveu uma violência doméstica, de qualquer tipo ou origem, ou não conhece quem a tenha vivenciado? No singular e/ou no plural? O que se lê, na sinopse, são apenas algumas das cenas que compõem o espetáculo “INIMIGO OCULTO”, da COMPANHIA CICLUS. 

É impossível sair das apresentações, sem sentir e refletir sobre as nuances e variações das violências nossas de todos os dias: machismo, sexismo, racismo e tantos outros ‘ismos’.

O palco é um apartamento, por cujos cômodos os espectadores são conduzidos e assistem a cenas curtas, compostas por fragmentos de várias histórias, que dispensam narração, pois todas são contadas através dos silêncios, diálogos e ações, traduzindo, de forma real, as diversas tipificações de violência à mulher: simbólica, psicológica, física, sexual e moral, sofridas em diversos papéis, como o de filha, esposa, namorada, sobrinha...

A peça coloca o público como ‘voyeur’, na medida em que o espectador se percebe em um cenário do cotidiano, no qual as ações são cometidas pela maioria das famílias; quando não, pelo menos, sabidas por todos. 

‘Possibilitamos que as pessoas vejam o quanto naturalizamos diversas violências, transmitindo um olhar diferenciado sobre as relações abusivas’, dizem os idealizadores do espetáculo.
 
 
 
 
 
 
 
 








Embora a violência sofrida pelas mulheres seja o mote da peça, as cenas são compostas de muita sutileza, mas nem por isso menos angustiantes, pois a interferência realista é maior do que a ficcional.

 O cenário ‘doméstico’, inclusive, foi escolhido intencionalmente, como palco dessa encenação, para aproximar o público da realidade, causar empatia imediata e provocar sentimentos, no mínimo, desconfortáveis.

O “release” é bem elucidativo e ninguém consegue viver outras experiências e emoções que não as nele tratadas.

A ideia de montar o espetáculo dentro de um acanhado apartamento, para poucos espectadores funciona perfeitamente. Cada um fica incomodado, num determinado grau, de forma normalmente controlável, porém fora de sua zona de conforto, diante do que vê e ouve, a um metro de distância, respirando o mesmo ar, sentindo os mesmos odores, projetando-se para cima da cama ou do sofá ou para o interior do minúsculo box do banheiro. É extremamente realista aquela ficção. A peça incomoda, sim, no sentido de fazer pensar no que eu posso fazer para aplacar aquela ira, para vingar aquela mulher, para ensinar aquele cafajeste a ser HOMEM, não “macho”.

A produção do espetáculo, ainda que modesta, é bastante cuidadosa e atenciosa, para com os “visitantes”. Os elementos técnicos cênicos, como luz, som, cenário e figurino, estão totalmente ajustados à ideia, assim como vai no caminho certo a direção, seguida, de perto, por um grupo de abnegados atores, alguns com um pouco mais de experiência, outros um tanto quanto incipientes, porém, todos dedicados ao trabalho e engajados no projeto. Coisa bonita e comovente de se ver!!!

 

 



 
 
 
 

 
FICHA TÉCNICA:
 
Texto: Roberta Simoni e Rodrigo França
Direção: Andréa Bordadágua e Rodrigo França
Trilha Sonora Original (ao vivo): João Vinícius Pereira
 
Elenco: Gi Durães, Marcela Fróes, Mery Delmond, Neliana Apem, Vanessa Ferreira, Andreyuri, Bruno Guimarães, Bruno Urco, Hélder Sátiro, Luciano Segne, Márcio Panno e Tyago Caetano.
 
Iluminação: Ana Luzia Molinari de Simoni e João Gioia
Direção de Arte (cenografia e figurino): Joana Couto
Designer: Juliana Barbosa
Assessoria de Imprensa: Tássia Di Carvalho
Mídias Virtuais: Julyana Moreira e Bruno Guimarães
Contabilidade: Thiago Araújo
Finanças: Gi Durães
Direção de Produção: Mery Delmond
Produção: Diverso Cultura e Desenvolvimento
Realização: Companhia Ciclus
 
CENAS/ATORES:
FAMÍLIA: GI DURÃES (MÃE), HÉLDER SÁTIRO (PAI) e TYAGO CAETANO (FILHO).
 
INTERFERÊNCIA: MARCELA FRÓES (PÚBLICO - ESPOSA) e LUCIANO SEGNE (PÚBLICO - MARIDO).
 
BANHEIRO: NELIANA APEM (MULHER OPRIMIDA).
 
ABUSO DA FÉ: VANESSA FERREIRA (SOBRINHA) e BRUNO URCO (TIO - PASTOR).
 
CASTIDADE: MERY DELMOND (ESPOSA REJEITADA) e ANDREYURI (MARIDO).
 
DESPEDIDA: NELIANA APEM (ESPOSA) e BRUNO GUIMARÃES (MARIDO).
 
ENGANADA: MARCELA FRÓES (ESPOSA CONTAMINADA).
 
SENTENÇA: GI DURÃES (ESPOSA ESTUPRADA), BRUNO GUIMARÃES (EX-MARIDO ESTUPRADOR). – Em “off”: MÁRCIO PANNO (JUIZ), MARCELA FRÓES (PROMOTORA) e HÉLDER SÁTIRO (ADVOGADO DE DEFESA).
 
CICLO VICIOSO: VANESSA FERREIRA (NAMORADA) e TYAGO CAETANO (NAMORADO)
 

 
 
 


 
SERVIÇO:
 
Temporada: De 10 de março a 30 de abril de 2017.
Local: Um apartamento do Bairro Peixoto, em Copacabana, Rio de Janeiro.
Dias e Horários: De sexta-feira a domingo, em duas sessões: às 19h e às 20h. 
Valor dos Ingressos: R$40,00 e R$20,00 (meia-entrada).
 Lotação: Dez pessoas por sessão.
 Informações e agendamentos através do WhatsApp (021) 98394-1991.
 
OBSERVAÇÃO: A produção marcará um ponto de encontro, de onde todos serão levados ao local do espetáculo.
 

 
 
 
 


Elenco e Equipe.

 
 
Gostei do espetáculo, achei-o bem interessante e desafiadora a proposta, motivos que me levam, sem muito pensar, a  recomendá-lo, lembrando que só há mais três dias em cartaz, o próximo final de semana.

É intenção da Companhia levar a montagem a outros espaços urbanos do Rio de Janeiro, em qualquer bairro da cidade. Tomara que o consigam e aproveito para sugerir que, se possível, com algum patrocínio, consigam fazer um curta-metragem, para que o espetáculo possa ser visto por um número maior de pessoas.

 
 

 



  

 
 
 
(FOTOS: ROBERTA SIMONI.)

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