INIMIGO OCULTO
(MA NON TROPPO...)
O mestre disse que “TODO ARTISTA TEM DE IR AONDE O POVO ESTÁ”. O mestre tem razão, mas
eu acho que o povo também deve ir à procura do artista. No caso do TEATRO, TEM de ir ao teatro, mas também DEVE ir a outro qualquer espaço em que esteja sendo apresentado um
espetáculo teatral, seja esse espaço qual for.
Como crítico teatral e jurado de um
Prêmio de TEATRO, o PRÊMIO BOTEQUIM CULTURAL, além de
colaborador, no “site” “RIO ENCENA”,
sinto-me na obrigação, E COM MUITO
PRAZER, de ir ao encontro do artista, numa lona cultural do mais distante
subúrbio, numa fábrica desativada, num prédio abandonado, na rua, num
apartamento... E não apenas os “globais” me interessam. Procuro prestigiar e incentivar a todos.
No último sábado (22 de abril de 2017), visitei um apartamento, em Copacabana (por questão de segurança, o
endereço só é revelado a quem se propõe a assistir à peça, minutos antes do seu
início, num ponto de encontro, marcado próximo ao local da exibição), para
assistir a um espetáculo, feito para apenas dez espectadores.
Tudo acontece num apartamento minúsculo,
classe média, onde as pessoas se acotovelam, a fim de assistir, durante 60 minutos, a pequenas cenas, que
retratam o cotidiano da violência doméstica, que não dá mais para ser varrida
para debaixo do tapete.
O tema, felizmente, vem sendo discutido
cada vez mais; infelizmente, porém, quase na mesma proporção em que os crimes
contra a mulher continuam acontecendo, a despeito de uma “Lei Maria da Penha” e das denúncias que vêm a público todos os
dias, pelas mais diversas mídias.
SINOPSE:
Um marido que estupra a esposa, por ter certeza de que a
certidão de casamento é um alvará de consentimento.
O tio, pastor, desejando “salvar” a castidade de uma
sobrinha, prestes a abusar da pobre jovem.
Um namorado machista e possessivo, que culpa as mulheres
que “pedem para ser estupradas”, por seu “mau comportamento”.
Um marido que não procura a mulher por não achá-la mais
atraente e a ignora até como ser humano.
Estupro coletivo.
Essas são algumas das situações fictícias, na prática
teatral, porém mais que realistas, no dia a dia, no Brasil e no mundo.
Um pouco do “release” da peça, enviado pela assessoria de imprensa (TÁSSIA
DI CARVALHO), com pequenas interferências:
“‘INIMIGO OCULTO’ revela nuances da violência doméstica
no Brasil. Você pode pensar que
situações de violência contra a mulher estão longe do seu cotidiano. Mas será
que estão mesmo? Seria isso verdade? Quem não viveu uma violência doméstica, de
qualquer tipo ou origem, ou não conhece quem a tenha vivenciado? No singular e/ou
no plural? O que se lê, na sinopse,
são apenas algumas das cenas que compõem o espetáculo “INIMIGO OCULTO”, da COMPANHIA
CICLUS.
É impossível sair das apresentações, sem
sentir e refletir sobre as nuances e variações das violências nossas de todos
os dias: machismo, sexismo, racismo e tantos outros ‘ismos’.
O palco é um apartamento, por cujos
cômodos os espectadores são conduzidos e assistem a cenas curtas, compostas por
fragmentos de várias histórias, que dispensam narração, pois todas são contadas
através dos silêncios, diálogos e ações, traduzindo, de forma real, as diversas
tipificações de violência à mulher: simbólica, psicológica, física, sexual e
moral, sofridas em diversos papéis, como o de filha, esposa, namorada, sobrinha...
A peça coloca o público como ‘voyeur’, na medida em que o espectador
se percebe em um cenário do cotidiano, no qual as ações são cometidas pela
maioria das famílias; quando não, pelo menos, sabidas por todos.
‘Possibilitamos que as pessoas vejam o
quanto naturalizamos diversas violências, transmitindo um olhar diferenciado
sobre as relações abusivas’, dizem os idealizadores
do espetáculo.
Embora a violência sofrida pelas mulheres
seja o mote da peça, as cenas são compostas de muita sutileza, mas nem por isso
menos angustiantes, pois a interferência realista é maior do que a ficcional.
O cenário ‘doméstico’, inclusive, foi
escolhido intencionalmente, como palco dessa encenação, para aproximar o
público da realidade, causar empatia imediata e provocar sentimentos, no
mínimo, desconfortáveis.”
O “release”
é bem elucidativo e ninguém consegue viver outras experiências e emoções que não
as nele tratadas.
A ideia de montar o espetáculo dentro de
um acanhado apartamento, para poucos espectadores funciona perfeitamente. Cada um
fica incomodado, num determinado grau, de forma normalmente controlável, porém fora
de sua zona de conforto, diante do que vê e ouve, a um metro de distância,
respirando o mesmo ar, sentindo os mesmos odores, projetando-se para cima da
cama ou do sofá ou para o interior do minúsculo box do banheiro. É extremamente
realista aquela ficção. A peça incomoda, sim, no sentido de fazer pensar no que
eu posso fazer para aplacar aquela ira, para vingar aquela mulher, para ensinar
aquele cafajeste a ser HOMEM, não “macho”.
A produção
do espetáculo, ainda que modesta, é bastante cuidadosa e atenciosa, para
com os “visitantes”. Os elementos técnicos cênicos, como luz, som, cenário e figurino, estão totalmente ajustados à
ideia, assim como vai no caminho certo a direção,
seguida, de perto, por um grupo de abnegados
atores, alguns com um pouco mais de experiência, outros um tanto quanto
incipientes, porém, todos dedicados ao
trabalho e engajados no projeto. Coisa
bonita e comovente de se ver!!!
FICHA TÉCNICA:
Texto:
Roberta Simoni e Rodrigo França
Direção:
Andréa Bordadágua e Rodrigo França
Trilha
Sonora Original (ao vivo): João Vinícius Pereira
Elenco:
Gi Durães, Marcela Fróes, Mery Delmond, Neliana Apem, Vanessa Ferreira,
Andreyuri, Bruno Guimarães, Bruno Urco, Hélder Sátiro, Luciano Segne, Márcio
Panno e Tyago Caetano.
Iluminação:
Ana Luzia Molinari de Simoni e João Gioia
Direção
de Arte (cenografia e figurino): Joana Couto
Designer:
Juliana Barbosa
Assessoria
de Imprensa: Tássia Di Carvalho
Mídias
Virtuais: Julyana Moreira e Bruno Guimarães
Contabilidade:
Thiago Araújo
Finanças:
Gi Durães
Direção
de Produção: Mery Delmond
Produção:
Diverso Cultura e Desenvolvimento
Realização:
Companhia Ciclus
CENAS/ATORES:
FAMÍLIA:
GI DURÃES (MÃE), HÉLDER SÁTIRO (PAI) e TYAGO CAETANO (FILHO).
INTERFERÊNCIA:
MARCELA FRÓES (PÚBLICO - ESPOSA) e LUCIANO SEGNE (PÚBLICO - MARIDO).
BANHEIRO:
NELIANA APEM (MULHER OPRIMIDA).
ABUSO
DA FÉ: VANESSA FERREIRA (SOBRINHA) e BRUNO URCO (TIO - PASTOR).
CASTIDADE:
MERY DELMOND (ESPOSA REJEITADA) e ANDREYURI (MARIDO).
DESPEDIDA:
NELIANA APEM (ESPOSA) e BRUNO GUIMARÃES (MARIDO).
ENGANADA:
MARCELA FRÓES (ESPOSA CONTAMINADA).
SENTENÇA:
GI DURÃES (ESPOSA ESTUPRADA), BRUNO GUIMARÃES (EX-MARIDO ESTUPRADOR). – Em “off”:
MÁRCIO PANNO (JUIZ), MARCELA FRÓES (PROMOTORA) e HÉLDER SÁTIRO (ADVOGADO DE
DEFESA).
CICLO
VICIOSO: VANESSA FERREIRA (NAMORADA) e TYAGO CAETANO (NAMORADO)
SERVIÇO:
Temporada: De 10 de março a 30 de
abril de 2017.
Local: Um apartamento do Bairro
Peixoto, em Copacabana, Rio de Janeiro.
Dias e Horários: De sexta-feira a
domingo, em duas sessões: às 19h e às 20h.
Valor dos Ingressos: R$40,00 e R$20,00 (meia-entrada).
Valor dos Ingressos: R$40,00 e R$20,00 (meia-entrada).
Lotação:
Dez pessoas por sessão.
Informações
e agendamentos através do WhatsApp (021) 98394-1991.
OBSERVAÇÃO: A produção marcará um ponto de encontro, de onde todos serão levados ao local do espetáculo.
Elenco e Equipe.
Gostei
do espetáculo, achei-o
bem interessante e desafiadora a proposta, motivos que me levam, sem muito
pensar, a recomendá-lo, lembrando que só há mais três dias em cartaz, o próximo
final de semana.
É intenção da Companhia levar a montagem a outros espaços urbanos do Rio de Janeiro, em qualquer bairro da
cidade. Tomara que o consigam e aproveito para sugerir que, se possível, com algum
patrocínio, consigam fazer um curta-metragem, para que o espetáculo possa ser
visto por um número maior de pessoas.
(FOTOS: ROBERTA SIMONI.)
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