FATAL
(A
VEZ DA “VOZ”
DO /
NO AMOR-PAIXÃO.)
No
“meu” Gênesis, Deus disse: “HAJA AMOR”!
E o AMOR se fez.
E disse,
depois: “HAJA A PALAVRA”!
E a PALAVRA se fez.
E completou: “QUE A PALAVRA TRADUZA O AMOR”! E a PALAVRA, ela apenas, pode, com toda a
sua força, traduzir o AMOR e tudo o
que ele representa na vida e na perpetuação do ser humano.
É só conferir,
no Teatro OI Futuro Flamengo, o que
está dito acima, presente na peça “FATAL”,
uma coletânea de três textos inéditos, curtos, em extensão, e profundos, em
verdades e emoções, representados por DEBORA
LAMM e PAULO VERLINGS, escritos
por três dos mais representativos dramaturgos brasileiros da atualidade, aqui,
na ordem em que os textos são representados: PEDRO KOSOVSKI (“MONSTROS”), MARCIA
ZANELATTO (“TRISTÃO E ISOLDA PEEP SHOW”) e JÔ BILAC (“KAMA-SUTRA SECRETO”).
SINOPSE:
São três histórias de amor,
inspiradas em mitos e lendas.
O amor em três tempos.
Uma trilogia sobre a paixão, criada a partir de mitos e lendas.
Os dramaturgos PEDRO
KOSOVSKI, MARCIA ZANELATTO e JÔ BILAC criaram três textos,
livremente inspirados nas histórias de EROS
E PSIQUÊ, TRISTÃO E ISOLDA e KAMA E RATI, respectivamente, na ordem em que são apresentadas.
Em cena, DEBORA LAMM e
PAULO VERLINGS formam um casal, que conta, em três atos, sem
intervalos, os encontros amorosos desses mitos e a fatalidade (daí o titulo do
espetáculo) a que levam tais encontros.
Filho de pai indiano, JÔ BILAC
mergulhou na própria ancestralidade e inspirou-se na história de KAMA, o deus do amor hindu, e RATI, a deusa da paixão e dos prazeres
eróticos, para escrever “KAMA-SUTRA
SECRETO”, título de seu texto.
MARCIA ZANELATTO apresenta “TRISTÃO
E ISOLDA – PEEP SHOW”, uma genial adaptação do clássico universal “Tristão e Isolda”, lenda, de origem
celta, sobre o amor trágico de um jovem casal, unido por uma paixão fatal.
Em “MONSTROS”, que inicia a peça, PEDRO
KOSOVSKI, de forma bastante ousada e criativa, teve, como ponto de partida,
os encontros, às escuras, de Eros e
Psiquê, num “dark room” mitológico. Em vez de um espaço
tradicionalmente reservado para atividades sexuais, aqui ele se destina aos
percalços da paixão.
Debora Lamm e Paulo Verlings.
Com o
propósito de continuar desenvolvendo projetos que reunissem fragmentos de
variações sobre uma mesma temática, novos olhares sobre um mesmo tema, como já
fizera em “RockAntígona” e “Trágica.3”, nos quais as tragédias
gregas eram o pano de fundo, o diretor GUILHERME
LEME GARCIA resolveu, com esta montagem, investir na “paixão”, explorar novos olhares sobre o amor e suas consequências.
GUI escolheu os três autores, tão distintos, entre si,
nos seus estilos, sugeriu-lhes as histórias e ficou na expectativa de que,
individualmente, sob uma ótica particular, cada um desenvolvesse as três
propostas, os três mitos, com ênfase na palavra.
A
palavra que tem força.
A
palavra que subverte.
A
palavra que atiça e acalma.
A palavra
que explica, que define, que provoca, que encanta, pela sonoridade, e eleva ou
destrói, pela intenção.
O
processo de criação dos textos foi
bastante solitário, cada um dramaturgo, distante do outro, embora trabalhando
no (e para o) coletivo, criando, mas sem tomar conhecimento do trabalho do
companheiro de ofício. Mas os três sabiam, por orientação do diretor, que a mola mestra do
espetáculo seria a “paixão” e que a
ferramenta que a levaria ao público estaria no som, na “palavra falada”, um espetáculo em que a força visceral estaria
nela, e não nos movimentos. Um
espetáculo para os ouvidos, e não para os olhos. O ato de interpretar, de passar uma mensagem
ao público ficaria por conta da força persuasiva dos vocábulos e não no
gestual, na movimentação corporal. E assim se fez “FATAL”.
A paixão nas sombras ou à sombra da paixão.
Tanto é fato que, do ponto de vista de
movimento cênico, pode-se dizer que quase nada existe, uma vez que os atores
atuam sentados, à exceção da primeira história, em que estão de pé, porém quase
estáticos, limitando as expressões físicas, no decorrer de todo o espetáculo, à
cabeça e, raramente, às mãos, da forma mais suave e discreta possível. O resto
é som, o resto é voz, o “resto” é a
palavra.
Não
se trata de um espetáculo “comum”, que vá ser do agrado da massa, daqueles que
têm uma outra visão do que seja um espetáculo teatral, na sua concepção clássica,
tradicional. Mas tem de ser visto por
todos os que amam o bom TEATRO.
É uma peça que exige muito, em primeiro lugar, do intelecto, da atenção, da
concentração do espectador, para compreender a semântica contida no que é dito. Em segundo lugar, o esforço
intelectual do espectador volta-se para juntar essas palavras e formar o
quebra-cabeça que elas vão nos proporcionando montar, para que nos aproximemos,
o máximo possível, das sensações vivenciadas pelo três casais de protagonistas
e da fatalidade que vivem, em suas relações.
Para
a direção, que, é certo, conhecia
bem cada um dos “provocados”, os que assinam os textos, deve ter sido um
trabalho muito interessante, no sentido de criar um espetáculo que, a despeito
do caráter heterogêneo das fontes dos três textos, não permitisse que o produto
final se transformasse num falso todo, fragmentado, em três partes: aqui,
termina uma; agora, iniciamos outra; e mais esta, para finalizar. O tom de
uniformidade, de um todo indivisível, reunindo histórias de épocas diferentes,
ocorridas em culturas diferentes, forma um uníssono genialmente alcançado,
graças ao brilhante trabalho de direção,
de GUILHERME, e às magistrais interpretações
de dois jovens artistas, dos melhores de sua geração: DEBORA e PAULO.
Ainda
sobre o trabalho de direção, é
oportuno dizer que GUI ignorou,
completamente, e com muita propriedade, o que possa ser considerado contenção e
sugou, dos atores, toda a seiva arrebatadora, num profundo processo de
interpretação, e não se preocupou em economizar as explosões de sentimentos, em
refrear a carga emotiva que brota do casal de intérpretes. E o resultado é um
brilhante espetáculo, de mexer com as emoções do espectador e levá-lo ao êxtase
da paixão - da sua ou concentrada, simplesmente, na dos personagens.
Os três textos são excepcionais.
A ideia de PEDRO KOSOVSKI, de trazer um casal da mitologia grega, cuja história
é uma alegoria à alma humana, purificada por paixões e desgraças,
para o interior de uma moderna “dark
room” é genial e tem bem a “cara” desse grande dramaturgo, à frente de seu
tempo.
Ele não nos permitiu “ver”, por ter preferido um “dark room”, porém nos deu a oportunidade de “sentir”, estimulou a nossa imaginação. E como estimulou!!!
No princípio, tudo às escuras e com muita fumaça, pode parecer que o
espetáculo será monótono, mas basta se ligar no diálogo e se entregar aos estímulos
provocados pelas palavras, que tudo vir festa.
MARCIA
ZANELATTO foi de uma felicidade ímpar,
apresentando, num novo código, moderno e extremamente ousado, na forma e na
linguagem, a história de um casal, Tristão e Isolda, uma lenda medieval, de origem céltica, certamente,
uma das mais belas histórias de amor da literatura universal, cujas primeiras
versões escritas datam do século X. No palco, o que se percebe é a
grandiosidade de uma história, traduzida em formato bem minimalista e recheada
de um erotismo gostoso, estimulante e instigante, mexendo com os hormônios da
plateia. (Bem, é melhor parar por aqui...).
Creio ser oportuno explicar, a quem não
sabe, o que seja um “PEEP SHOW”, também
conhecido como “PEEP BOX”. Trata-se
de uma "caixa de
surpresas" ou “rare show” ("espetáculo raro"), surgido
no século XV, na Europa. Consiste numa caixa de madeira, com um buraco ou
vários buracos. O interior da caixa era decorado, para se parecer com cenas
teatrais (cenários). O espetáculo era acompanhado por uma recitação dramatizada,
explicando o que estava acontecendo em seu interior.
MARCIA nos reserva “buracos”,
para que enxerguemos, ainda que meio na penumbra, o interior dessa caixa, fazendo,
de nós, “voyaeurs” privilegiados.
JÔ
BILAC abusou do direito de acertar,
ao se concentrar na história de Kama
e Rati. “Kama, é a divindade indiana do desejo. Eternamente jovem (Porque o desejo flerta mais com os jovens
- eu acrescento.), é considerado o mais bonito, dentre os 330 milhões de
deuses do panteão hindu. No ocidente,
o termo sânscrito chegou com o clássico KAMA
SUTRA. A obra, escrita entre os séculos III e V, é uma espécie de manual
técnico para o aumento do prazer sexual. Por isso, Kama
também é, muitas vezes, visto como o deus
do desejo erótico.
Logo ao nascer, Kama, cupido, deu uma flechada em seu pai, Brahma, e o fez apaixonar-se pela própria filha (Saraswati). Irritado, Brahma o amaldiçoou e disse que, um
dia, Kama seria reduzido a cinzas,
por uma de suas vítimas. Pouco convencido
disso, o cupido indiano continuou aprontando e acertou o mestre Shiva, em plena meditação. Irado, a
divindade lançou um relâmpago sobre Kama,
cumprindo a profecia de Brahma.
Sem Kama, o desejo extinguiu-se e homens e mulheres passaram a
se ignorar uns aos outros.
Rati, deusa da paixão e esposa de Kama, pediu, então, a Shiva
que trouxesse seu marido de volta ao mundo da existência. A divindade
consentiu, mas Kama, depois disso,
se tornou invisível. Por isso,
acredita-se que ele paira acima dos amantes e faz com que se abracem, sem ser
notado. Mais “FATAL” do que isso é
impossível!
DEBORA LAMM e PAULO VERLINGS, ainda que pertencentes a companhias diferentes, já
fizeram alguns trabalhos juntos e desenvolvem, em cena, uma química, uma
cumplicidade, poucas vezes verificada entre dois grandes artistas. Completamente
desprezada qualquer possibilidade ou intenção de prevalência de egos, os dois,
da forma mais humilde e generosa possível, se doam, fundo, na troca de emoções,
valorizando o que já é ótimo em cada um dos três textos. São dois dos meus
prediletos intérpretes, tanto na comédia quanto no drama, dos melhores atores
da atualidade, sempre saindo de um espetáculo e ingressando em outro, superando-se,
a cada trabalho.
Há de se ressaltar que, além de brilhar
nas três personagens, DÉBORA está
linda em cena, uma beleza interior, que explode no seu olhar, que contagia o
público. Trata-se de uma das atrizes de maior carisma e rápida comunicação com a
plateia que já tive a oportunidade de ver atuando. Sua versatilidade, nas três
narrativas, é surpreendente, assim como a capacidade de decorar trechos dificílimos,
nas três histórias, como, por exemplo, uma sequência, na segunda, em que tem de
dizer, na ordem correta, evidentemente, 135 formas verbais, dissílabas,
paroxítonas, no modo imperativo, loucura saudável da cabeça de MARCIA ZANELATTO. Também ocorre essa “insanidade”,
no início da última história, quando a atriz tem de dizer uma sequência de
nomes indianos, ao citar quem deu origem a quem, ou quem descende de quem. Um
trabalho hercúleo, de competência e dedicação.
PAULO
VERLINGS também não dá, ao crítico, a
menor chance de lhe tecer um único comentário negativo, com relação ao seu
trabalho, em “FATAL”. Para dizer a
verdade, no seu “pior” trabalho, como ator, sempre esteve ótimo. Aqui, ele
exercitou, incansavelmente, a técnica de dizer e a arte de convencer, sempre
com o predomínio da palavra. Mesmo em certas cenas, em que o “foco” está mais
voltado para DEBORA, dá vontade de
aplaudir o trabalho do PAULO, em
cena aberta, o que não é recomendado, para não atrapalhar sua atuação. Assim
como DEBORA, ele sabe fazer, nesta
peça, com que o gestual perca para a força do texto. Para um ator, acostumado a
representar, utilizando, como ferramentas de trabalho, a voz e do corpo, o
ficar “engessado”, intencionalmente, por indicação do diretor, deve ser até desconfortável. Permanecer sentado, o tempo
todo, reprimindo a movimentação natural que acompanha as palavras. Imprime, aos
três textos, certas entonações e inflexões dignas de aplausos.
Para
completar a correção e a beleza do espetáculo, é preciso registrar o trabalho,
em parceria, de AURORA DOS CAMPOS,
na cenografia, e TOMÁS RIBAS, na excelente iluminação, aqui chamado, muito
propriamente, o conjunto, de “instalação
cênica”.
Acompanham
os acertos, nesta montagem, o figurino,
de MARCELO OLINTO, e a trilha sonora de um craque no assunto, MARCELLO H, sempre presente nas
montagens de GUILHERME LEME GARCIA.
“FATAL” é daqueles espetáculos ditos “não-populares”, porém
considerado um magnífico trabalho
teatral, no que concerne a uma nova estética para se contar histórias e que
recomendo muito.
FICHA TÉCNICA:
Dramaturgia: Jô
Bilac, Marcia Zanelatto e Pedro Kosovski
Elenco: Debora
Lamm e Paulo Verlings
Concepção e Direção: Guilherme Leme Garcia
Assistente de Direção: Charles Asevedo
Instalação Cênica: Aurora dos Campos (Cenografia) e Tomás Ribas (Iluminação)
Figurino: Marcelo Olinto
Trilha Sonora: Marcello H.
Assistente de Trilha Sonora: Braulio Giordano
Colaboração Artística: Vera Holtz
Projeto Gráfico: Alexandre de Castro
Assistente de Direção: Charles Asevedo
Instalação Cênica: Aurora dos Campos (Cenografia) e Tomás Ribas (Iluminação)
Figurino: Marcelo Olinto
Trilha Sonora: Marcello H.
Assistente de Trilha Sonora: Braulio Giordano
Colaboração Artística: Vera Holtz
Projeto Gráfico: Alexandre de Castro
Fotos: Zô Guimarães
Assistente de Produção: Pyetro Ribeiro
Produção Executiva: Maria Albergaria
Direção de Produção: Sérgio Saboya
Assistente de Produção: Pyetro Ribeiro
Produção Executiva: Maria Albergaria
Direção de Produção: Sérgio Saboya
Assessoria de Imprensa: Bianca Senna e Paula Catunda
SERVIÇO:
Temporada: De 19 de fevereiro a 10 de abril de 2016.
Local: Oi Futuro Flamengo (Rua Dois de Dezembro, 63 – Flamengo) – Rio de Janeiro.
Informações: (21) 3131-3060.
Dias e Horários: De 5ª Feira a domingo, às 20h.
Capacidade: 63 lugares.
Duração: 60 minutos.
Classificação Etária: 14 anos.
Gênero: Drama.
Valor dos Ingressos: R$30,00 (inteira) e R$15,00 (meia-entrada).
Horários da Bilheteria: De 3ª feira a 6ª feira, das 14h às 20h. Sábados, domingos e feriados, das 13h às 20h.
Ingressos à venda, também, pelo “site” www.ingressorapido.com.br ou pelo telefone 4003-2330.
Temporada: De 19 de fevereiro a 10 de abril de 2016.
Local: Oi Futuro Flamengo (Rua Dois de Dezembro, 63 – Flamengo) – Rio de Janeiro.
Informações: (21) 3131-3060.
Dias e Horários: De 5ª Feira a domingo, às 20h.
Capacidade: 63 lugares.
Duração: 60 minutos.
Classificação Etária: 14 anos.
Gênero: Drama.
Valor dos Ingressos: R$30,00 (inteira) e R$15,00 (meia-entrada).
Horários da Bilheteria: De 3ª feira a 6ª feira, das 14h às 20h. Sábados, domingos e feriados, das 13h às 20h.
Ingressos à venda, também, pelo “site” www.ingressorapido.com.br ou pelo telefone 4003-2330.
O diretor Guilherme Leme Garcia.
Paulo Verlings, Marcia Zanelatto, Jô Bilac, Debora Lamm, Guilherme Leme
Garcia e Pedro Kosovski.
(FOTOS:
ZÔ GUIMARÃES.)
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