DEPOIS
DO AMOR
(UM
ENCONTRO COM MARILYN MONROE.)
(UMA
BOA SURPRESA PARA
ABRIR
O ANO TEATRAL DE 2016.)
“DEPOIS DO AMOR (UM
ENCONTRO COM MARILYN MONROE)”, em cartaz no Teatro Vannucci (VER SERVIÇO) não foi a primeira peça a que assisti
neste início de 2016, mas, como “Brimas”,
que revi no segundo dia do ano, era uma reestreia, a primeira inédita, de 2016,
foi “DEPOIS DO AMOR...”, escrita,
por FERNANDO DUARTE, interpretada
por DANIELLE WINITS e MARIA EDUARDA DE CARVALHO, com direção de MARÍLIA PÊRA, tendo FERNANDO
PHILBERT como diretor assistente.
Para
iniciar a atual temporada teatral, considero a peça um bom espetáculo, que
superou bastante as minhas expectativas.
Para
facilitar, na divulgação da peça, o título é “DEPOIS DO AMOR”, mas ele continua, com uma espécie de subtítulo: “UM ENCONTRO COM MARILYN MONROE”. Em
termos de “marketing”, o espetáculo é, facilmente, identificado apenas pelas
três primeiras palavras, entretanto, ainda no campo do “marketing”, o subtítulo
é importantíssimo, pois ele é a síntese maior do que o ocorre em cena: um
encontro (de alguém) com nada menos do que um dos maiores mitos do universo
artístico mundial, de todos os tempos. Isso é muito bom, para “vender” o
espetáculo, e, certamente, é responsável por uma boa fatia do público que
decide assistir à peça. “Marilyn
forever!”
SINOPSE:
Em 1962 MARILYN MONROE (DANIELLE WINITS) iniciou as filmagens de “Something’s Got
to Give”, seu último filme, que ficaria inacabado. Para assinar os
figurinos, ela convidou o famoso estilista Jean
Louis.
Nos primeiros dezesseis dias, ela não
apareceu no “set”, alegando uma sucessão de enfermidades. Quando, finalmente,
decidiu trabalhar, estava alguns quilos mais magra e foi preciso ajustar todos
os vestidos. Jean enviou uma de suas
assistentes à casa que MARILYN tinha
acabado de comprar.
MARGOT
TAYLOR (MARIA EDUARDA DE CARVALHO), a bela assistente de Jean Louis, era uma velha conhecida de MARILYN. Conheceram-se em 1952, nos
bastidores de um filme, e ficaram amigas. Na época, MARGOT era namorada de Joe
DiMaggio, mas logo que conheceu MARILYN,
ele se apaixonou, perdidamente por ela, rompeu com MARGOT e se casou com a “sexy symbol”.
O casamento durou apenas nove meses. MARGOT perdeu o namorado e a amiga. Dez
anos depois, a vida se encarregou de colocar as duas frente a frente, para um “acerto
de contas”.
Enquanto MARILYN experimenta os belos
vestidos, elas falam do passado, dos amores, das alegrias, lembram relatos
engraçados, as aflições e vislumbram um futuro, que a deusa do cinema não
teve, já que faleceu aos trinta e seis anos.
Não posso
deixar de me valer das excelentes informações, adaptadas, contidas no “release” da peça, para falar um pouco
sobre a conturbada personalidade do grande mito MARILYN MONROE.
Seu
nome, apenas, já provoca diferentes decodificações em pessoas também
diferentes. Para alguns, principalmente os homens, remonta ao padrão absoluto
da sensualidade feminina, sinônimo de beleza, graça, sofisticação,
sensualidade. Para outros, sugere insegurança, sofrimento, infelicidade,
vulgaridade, promiscuidade, tragédia...
A peça propõe
que deixemos do lado de fora do teatro todo e qualquer tipo de preconceito e pré-julgamentos,
amoleçamos o coração e procuremos enxergar um outro lado dessa mulher, que
conseguiu, inclusive, abalar os alicerces da política norte-americana, ao se
envolver, intimamente, com o presidente John
Fitzgerald Kennedy. Eu consegui.
Sem a
intenção de justificar suas atitudes e o tipo de vida que escolheu (Será que
ela o escolheu?) para si, pode-se dizer que MARILYN
foi uma pessoa que superou dificuldades, aparentemente intransponíveis, para se
tornar não só respeitada e adorada, mas também, para muitos, a maior estrela de
cinema do mundo. Embora grande parte de sua vida tenha sido dedicada a
construir e manter sua carreira, MARILYN
era apaixonada, em particular, pela busca por uma família. Perseguia a
estabilidade, subtendida na ideia de um núcleo familiar. Infelizmente, para
ela, essa promessa não se cumpriu.
Talvez a
verdadeira história de MARILYN MONROE
gire em torno de algo que ela, em seus melhores momentos, possuía em
abundância: esperança. Acreditava que tudo era possível. Era mais que, apenas,
uma atriz famosa. Foi uma alma vulnerável, um espírito generoso e um soldado
corajoso, na devastadora batalha com a própria mente.
Com esta
peça, FERNANDO DUARTE, pretende mostrar
que existiu uma outra MARILYN, uma
mulher muito mais complexa, séria, mas, também, extremamente divertida e
inteligente. A MARILYN humana,
a mulher por trás do mito, era bem mais fascinante, como podemos comprovar,
assistindo ao espetáculo.
Ainda hoje, é
vista, nas vitrines da vida, como uma referência, que nunca sai de moda. No
entanto, por trás do sorriso fotogênico, era uma pessoa frágil e
vulnerável, tinha uma combinação de esplendor e anseio, que a destacava. Longe
dos holofotes, sem a maquiagem, que a transformava no mito, MARILYN MONROE, às vezes, passava
despercebida. Era uma mulher muito simples e amada pelas pessoas de seu circulo
mais próximo. E é justamente esse lado menos conhecido, o lado mais humano, que
o espetáculo pretende mostrar.
Cinquenta e
três anos após sua morte, ainda é capaz de fascinar e inspirar. A MARILYN, viva, promoveu um caso de amor
com o mundo e, morta, provocou uma espécie de necrofilia em massa. Sim, teve, e
mantém, a espantosa fama que tantos almejam, mas, além disso, tinha uma
incrível doçura que tocava a todos.
A primeira
grande surpresa da peça é o bom texto,
de FERNANDO DUARTE, com diálogos
curtos e recheados de muita ironia e sarcasmos, de ambas as partes, MARILYN e MARGOT, pondo bastante lenha na fogueira, alimentando a
“guerrinha” entre as duas, fomentando uma contenda entre “cobrança X desculpas”, quando, na verdade, nada daquilo caberia,
passados dez anos de uma “traição dupla”. Gostei do texto, principalmente pela sua simplicidade, que não exige muito
esforço, do público, para ser compreendido.
A segunda boa
surpresa foi revelada pela atuação das duas atrizes. Tinha receio de ver a MARILYN versão DANIELLE WINITS, visto que não considero fácil interpretar um
mito, menos ainda quando se trata da diva em questão. Muitas atrizes já o
tentaram e se deram mal. É totalmente inadmissível uma MARILYN caricatural.
Não sei se,
exatamente, pelo fato de o autor do texto
querer mostrar uma outra face da mulher MARILYN,
o fato é que gostei do trabalho de DANIELLE,
e isso me deixa muito feliz, ou seja, o fato de uma pouca expectativa e de
muita desconfiança ser transformado numa agradável surpresa.
Danielle Winits / Marilyn Monroe.
Quanto à
atuação de MARIA EDUARDA DE CARVALHO,
cujo trabalho eu pouco conhecia, de zapeadas, na TV, e de dois ou três
espetáculos de TEATRO, só tenho a
dizer que também me agradou a sua atuação, prejudicada, um pouco, no início da
peça, quando a atriz – creio que por nervosismo – falava um pouco baixo. Tudo
muito natural, numa estreia e para alguém que entrou no projeto com a difícil
missão de substituir uma outra atriz. Aos poucos, porém, foi se mostrando mais
confiante e assumindo a personagem, muito interessante, por sinal, que “morde e
sopra”, que elogia e desfere uma saraivada de balas contra a “rival”, que se
mostra passiva e pacífica, mas não faz muito esforço para conter e tentar domar
a fera ferida que habita uma caverna do seu coração.
Maria Eduarda de Carvalho / Margot Taylor.
Não chamaria,
bem, de terceira surpresa a direção
da peça. Pode ser que eu esteja enganado, mas, embora, na ficha técnica, apareça, oficialmente, o nome de MARÍLIA PÊRA, como responsável pela direção (teria sido seu último trabalho
nessa área), com FERNANDO PHILBERT, como diretor assistente, acredito que, em função do precário estado de
saúde de MARÍLIA, que, infelizmente,
acabou por levá-la a óbito, no dia da estreia da peça, em Manaus, foi ele quem
assumiu, na prática, a direção. FERNANDO vem se destacando, nos últimos
tempos, assinando ótimas direções e
trabalhando em codireções, ao lado
de alguns dos mais destacados diretores, como Aderbal Freire-Filho (“Vianinha
Conta o Último Combate do Homem Comum” e “Incêndios”, por exemplo). Mas isso não importa; é apenas um
detalhe. O importante é que é um bom trabalho.
O cenário, de NATÁLIA LANA, a casa da atriz, é bem interessante. Simples, mas bem
bonito, bastante diferente e distante do que se poderia imaginar, mas, talvez,
bem próximo ao ambiente da mulher, e não do mito. Se MARILYN, na intimidade, era simples, tudo bem, o cenário está
perfeito. Destaque para as três telas, uma maior, central, e duas estreitas,
nas duas laterais do palco, nas quais são projetadas, entre outras imagens, as
de MARÍLIA PÊRA, numa bela
homenagem, e da própria MARILYN.
Panorâmica do belo cenário.
A iluminação, de VILMAR OLOS, não apresenta grandes destaques, mas também não aponta
para nenhum deslize.
Ponto
bastante positivo para os belos figurinos,
de SÔNIA SOARES. Modelos lindos, de
muito bom gosto, valorizados pela postura e elegância cênica de DANIELLE e MARIA EDUARDA. Não posso, porém, deixar de fazer um comentário
acerca de algo que me intrigou: todas as roupas experimentadas caem muito bem
na atriz, quando, na verdade, segundo o texto, o que leva MARGOT à casa de MARILYN é,
exatamente, a necessidade de fazer ajustes no figurino do filme, que ela acabou
não fazendo, em função de ter emagrecido dez quilos, consequência de uma
enfermidade, como já foi dito. Ficou “falso”: “Vamos ter de apertar um pouco aqui”. “Teremos de ajustar este lado”. Não exatamente essas falas, mas
coisas parecidas. Era visível que não havia nenhum retoque a ser feito.
Merecem destaque:
1) Uma
gravação, com a voz de MARÍLIA PÊRA,
muito emocionada, antes do terceiro sinal da peça, com sua imagem projetada no
cenário, ainda que o som estivesse um pouco distorcido (um simples retoque
técnico resolve o problema). O texto
dito por ela é o belo poema “Amar”,
de Carlos Drummond de Andrade.
2) Uma cena,
ainda que um pouco longa, com a voz der MARILYN,
em “off”.
3) A cena em
que MARILYN estabelece a diferença
entre “sabedoria” e “conhecimento”, usando o “tomate”, como exemplo. Ficou
curioso(a)? Vá conferir!
4) A cena em
que, aparentemente, bem à vontade, as duas personagens conversam sobre suas
intimidades sexuais, MARILYN se
destacando, é óbvio.
5) A
inclusão, numa das falas de MARILYN,
do poema “Quadrilha”, também de Carlos Drummond de Andrade, embora
fique parecendo estranho a diva do cinema mundial citar Drummond. Coisas do “faz-de-conta”,
que só o TEATRO é capaz de fazer e “justificar”,
que só ao TEATRO é permitido.
O “release” da peça diz, ainda, que “o
espetáculo é um estudo da alma feminina (...). Ou não: o espetáculo pode ser um
pouco mais do que isto. Em cena, um dos maiores mitos da feminilidade do século
XX: MARILYN MONROE, a mais absoluta
encarnação do glamour, da feminilidade e da carência afetiva, e MARGOT, uma mulher comum. Apesar das
diferenças abissais entre os dois mundos, perceptíveis de imediato, a mesma prisão
as aproxima, a dificuldade de se afirmar, com autonomia, em um mundo controlado
pelos homens e a impossibilidade de encarar a vida sem afeto”.
No mais, recomendo o espetáculo como uma boa distração
e como forma de se conhecer o outro lado de um mito.
FICHA
TÉCNICA:
Autor: Fernando Duarte
Direção: Marília Pêra
Diretor Assistente: Fernando Philbert
Assistentes de Direção: Paula Leal e Mayara Travassos
Elenco: Danielle Winits e Maria Eduarda de Carvalho
Cenário: Natália Lana
Figurinos: Sônia Soares
Iluminação: Vilmar Olos
Trilha Sonora: Paula Leal
Projeções: Aníbal Diniz
Projeto Gráfico: Ronaldo Alves
Fotografia: Lúcio Luna e Guga Melgar
Visagista Marilyn: Max Weber
Visagismo Margot: Chico Toscano
Assistente de Figurinos: Juliana Barja
Cenotécnico: André Salles e Equipe
Assessoria de Imprensa: Rafael Barcellos / Stratosfera
Operador de Luz: Walace Furtado
Operador de Som: Thiago Pinto
Contrarregra: Ricardo da Silva
Direção de Produção: Cássia Vilasbôas e Fernando Duarte
Assistente de Produção: Mayara Maia
Administração Financeira: Karime Kawaja
Assessoria Jurídica: Jonas Vilasbôas
Produção: NOVE Produções Culturais
Produtora Associada: Winits Produções
Realização: NOVE Produções Culturais
SERVIÇO:
Temporada: De 07 de janeiro a 06 de março (2016).
Local: Teatro Vannucci – Shopping da Gávea – Rua Marquês de São
Vicente, 52 – 3º piso – Gávea – Rio de Janeiro.
Dias e Horários: De 5ª feira a sábado, às 21h30min; domingo, às 20h.
Ingressos: Inteira: R$80,00; Meia-Entrada: R$ 40,00.
Vendas: Ingresso.com
Bilheteria do Teatro: (21) 2274-7246.
Capacidade: 420 lugares.
Indicação Etária: 12 anos.
Gênero: Comédia Romântica.
(FOTOS:
LÚCIO LUNA
e
GUGA
MELGAR.)
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