UMA
ILÍADA
(SOZINHO, SIM;
SOLITÁRIO, JAMAIS!)
Mais
um grande monólogo, neste apagar das
luzes de 2015, no Rio de Janeiro: “UMA
ILÍADA”, dirigido e interpretado por BRUCE
GOMLEVSKY, no Teatro I do Centro Cultural do Banco do Brasil (CCBB).
Um palco nu,
apenas com um círculo de velas acesas, um homem sozinho, em cena, e uma instigante história a ser contada.
Sozinho, mas não solitário, pois, a cada sessão, uma média de 150 espectadores, na pior das hipóteses, ficam atentos, em silêncio
sepulcral, o tempo todo (80 minutos),
solidários, ligados àquele homem, ouvindo a história que ele conta e admirando
o “show” de interpretação que, raramente, se vê num ator.
BRUCE, que é excelente, atuando, vinha
se dedicando, nos últimos anos, mais à tarefa de dirigir, o que também faz
muito bem, e à música, com a gravação de um CD e apresentações, em shows, para
lançar o disco.
Havia
um hiato na sua trajetória de ator, que precisava ter fim e que, felizmente,
termina agora, com esta excelente montagem.
Reputo
de grande coragem subir a um palco, sozinho, apoiado em quase nada, em termos
de elementos cenográficos, emoldurado, e realçado, porém, por uma belíssima luz, para contar uma história
universalmente conhecida, consagrada e admirada, escrita em mais 15.000 versos, há mais de 3.000 anos.
Mas
só ousa quem tem consciência de que pode fazê-lo. Essa percepção não falta a BRUCE GOMLEVSKY, ainda que mesclada com
muita humildade.
A
peça (“AN ILIAD”) foi escrita, a
quatro mãos, por LISA PETERSON e DENIS O’HARE, e recebeu, entre nós, uma
excelente tradução, especialmente
feita para esta montagem, de GERALDO
CARNEIRO, um craque nisso.
SINOPSE I – A ILÍADA
“A ILÍADA” é um poema épico, cuja autoria é atribuída a Homero, poeta grego, do século VIII a.C..
Nesta obra, o autor
descreve a Guerra de Troia, entre gregos e troianos, em 20 cantos,
inicialmente. No livro, o autor conta o penúltimo ano dessa guerra, que durou
dez.
A Guerra de Troia foi um longo conflito bélico, que aconteceu por
causa do rapto da belíssima princesa grega, Helena, esposa do rei Menelau.
O príncipe troiano Paris tinha ido a Esparta, numa missão diplomática, e acabou se rendendo aos encantos
de Helena, apaixonando-se por ela e
raptando-a.
Com o rapto da esposa, Menelau ficou enfurecido e fez com que
os guerreiros gregos, que haviam sido encarregados de proteger sua esposa,
organizassem um exército, comandado pelo general Agamenon, com a finalidade de resgatar Helena, atribuição que duraria cerca de dez anos.
Nesse embate sangrento,
muitos soldados foram mortos, inclusive Aquiles,
atingido no seu ponto fraco, o calcanhar.
O conflito terminou, após
a execução de um grande plano, engendrado por um corajoso guerreiro, Ulisses, o mais esperto e inteligente
dos homens gregos.
Sua ideia, uma engenhosa
trapaça, consistiu em presentear os troianos com um grande cavalo de madeira,
alegando que os inimigos deixavam de sê-lo, estavam desistindo da guerra e que
o cavalo era um presente, como prova de um desejo de paz.
Os troianos caíram na
cilada e aceitaram a gigantesca dádiva, abrindo os portões que guardavam a
cidade, permitindo, assim, que o enorme cavalo fosse conduzido para dentro dos
muros protetores da cidade.
Após uma longa noite de
comemoração, regada a muita bebida, com a qual os troianos se fartaram, mas os
gregos não, os anfitriões foram dormir, exaustos.
Aproveitando-se disso, os
soldados gregos, que estavam escondidos dentro do cavalo, atacaram a
cidade, abrindo os portões da fortaleza, para que os outros guerreiros
entrassem e destruíssem Troia.
Esse poema épico é constituído por, exatamente, 15.693 versos, em hexâmetro datílico, que é a forma
tradicional da poesia épica grega. Foi escrito numa mistura de dialetos, resultando
numa língua literária artificial, que nunca foi, de fato, falada na Grécia.
Considera-se que tenha a
sua origem na tradição oral, desde tempos micênicos,
ou seja, teria, originalmente, sido cantado pelos aedos, contadores de
histórias, artistas que cantavam as epopéias,
acompanhando-se de um instrumento musical, semelhante a uma cítara, e que,
só muito mais tarde, os versos foram compilados numa versão escrita, no século VI a.C., em Atenas.
O poema fora, então,
posteriormente dividido em 24 cantos,
divisão que persiste até hoje. A divisão, com cada canto correspondendo a uma
letra do alfabeto grego, é atribuída aos estudiosos da biblioteca de Alexandria,
mas pode ser anterior.
“A ILÍADA” é considerada a “obra fundadora da literatura ocidental
e uma das mais importantes da literatura universal.
SINOPSE II – UMA ILÍADA
Resgatando a tradição dos
antigos contadores de histórias (aedos),
BRUCE GOMLEVSKY, sozinho, em cena,
narra, ao público, a Guerra de Tróia,
acompanhado por uma contrabaixista, ALANA ALBERG.
Não basta, apenas, o saber acadêmico
de que “A” pode ser um artigo definido e “UMA”, indefinido. É
fundamental saber a distinção entre o emprego de ambos. “A ILÍADA” é a obra atribuída a Homero.
Trata-se de uma determinada obra, única.
“UMA ILÍADA” é
mais uma das várias maneiras de se apresentar essa mesma obra. Aqui, é a que
cabe aos autores do texto original, LISA
PETERSON e DENIS O’HARE, a GERALDO CARNEIRO, que traduziu a peça,
e, principalmente, a BRUCE GOMLEVSKY,
que, num momento de inspiradíssima criação artística, nos brinda com uma das
melhores interpretações deste ano.
De acordo com o “release”,
enviado pela assessoria de imprensa
(JSPontes), “‘UMA ILÍADA’ busca a conexão
com os aspectos mais essenciais do TEATRO.
Abrindo mão de quaisquer elementos ou artifícios, a peça vale-se, basicamente,
do trabalho do ator e a comunicação direta com seu interlocutor.
Em cena, vivendo um poeta de um tempo
e lugar indeterminados, BRUCE,
acompanhado da contrabaixista ALANA
ALBERG, faz uma releitura dos antigos “aedos”,
artistas andarilhos da Grécia Antiga,
que cantavam, para o povo e para as cortes, os poemas ‘homéricos’.
‘Com poesia e humor, o texto
apresenta a história da Guerra de Troia
ao mundo contemporâneo, tratando de temas ainda atuais, como a escolha entre valores materiais e morais, a ira, a sede de guerra e
suas consequências.”
“Para mim, é uma satisfação
imensa ter encontrado esse texto tão especial. Uma versão condensada da
Ilíada, de Homero, escrita de forma acessível e comunicativa, para as
plateias contemporâneas, sem perder a profundidade e a beleza poética do texto
(…) Me interessei, também, por tentar investigar como essa obra – que tem
três mil anos e é considerada o primeiro poema épico ocidental que chegou
aos nossos dias – nos afeta, ainda hoje, por tocar em questões míticas
do ser humano, como, por exemplo, a violência, a ganância e
a ferocidade humana. A necessidade infindável do homem de guerrear,
conquistar e subjugar o seu semelhante.”, afirma BRUCE GOMLEVSKY.
Não
há muito a acrescentar a estes comentários, a não ser que me encantou, profundamente, a atuação de BRUCE, que ainda se dá ao luxo de cantar, entoando, mais de uma vez, uma
espécie de mantras, com sua bela e potente voz. A riqueza de detalhes como vai
narrando e descrevendo o que lhe vem à mente transporta-nos ao teatro da
guerra.
Seu
domínio de palco e sua expressão corporal, sua “mise-en-scène”, também são dignos
de elogios, graças ao seu esforço pessoal, já que não é mais um ”menino”, e ao
excelente trabalho de direção de movimentos, de Daniela Visco.
Na
ficha técnica, há espaço de destaque para o interessante figurino, de CAROL LOBATO, a trilha sonora original, de MAURO BERMAN e a fantástica iluminação, de ELISA TANDETA, que é fundamental nesta encenação, quase um “personagem”.
A
participação, no contrabaixo, de ALANA ALBERG, fazendo uma espécie de contraponto ao texto dito pelo ator, variando o
volume do som emitido pelo instrumento e criando efeitos especiais, para valorizar
determinados momentos do monólogo, é excelente. A execução e, antes, a ideia.
Quanto
ao cenário, do próprio BRUCE, não há nada especial;
ou outra, há, sim. É extremamente simples, apenas utilizando um círculo de velas
acesas, no chão. Nada mais seria mesmo necessário, já que o ator é o foco de
todas as atenções.
Dois
detalhes, na atuação de BRUCE, vieram-me, agora, à
mente: o quanto ele é visceral no seu trabalho, chegando a fazer pingar cera
derretida, de uma vela, sobre o dorso de uma das mãos, e as várias vezes em que
atua no proscênio, para um contato maior com o público. Num determinado
momento, chega a descer à plateia, falando, diretamente, a alguns espectadores,
cara a cara.
Além
de narrar a história, interpreta alguns personagens, com vozes e posturas
distintas. Uma maravilha!
O espetáculo reserva
uma bela e impactante surpresa, na última cena, graças a um efeito especial, de DERÔ MARTIN,
enquanto o ator vai enumerando dezenas de guerras e conflitos,
cronologicamente, ao longo da história da humanidade, chegando a citar os
massacres de Vigário Geral e da Candelária, o que causa uma comoção
grande no público.
Ao
final de cada sessão, para os que desejarem, o ator promove um rápido debate
sobre o espetáculo e a obra, do qual vale a pena participar.
Recomendo, com bastante empenho, uma ida ao CCBB, para que assistam a um grande espetáculo e tomem conhecimento de uma
das mais consagradas obras da literatura universal, de uma forma tão simples,
didática e poética.
FICHA TÉCNICA:
Texto: Lisa Peterson e Denis O’Hare
Tradução: Geraldo Carneiro
Direção e Interpretação: Bruce Gomlevsky
Trilha Sonora Original: Mauro Berman
Contrabaixista: Alana Alberg
Iluminação: Elisa Tandeta
Figurino: Carol Lobato
Cenário: Bruce Gomlevsky
Direção de Movimento: Daniela Visco
Assistente de Direção: Lorena Sá Ribeiro
Efeito Especial: Derô Martin
Fotos: Dalton Valério
Projeto Gráfico: Maurício Grecco e Tiago Ristow
Direção de Produção: Carlos Grun – Bem Legal Produções
Produção e Realização: BG ArtEntretenimento Ltda
Assessoria de Imprensa: JSPontes Comunicação – João Pontes e Stella
Stephany
SERVIÇO:
Temporada:
Até 21 de dezembro (2015).
Local: Teatro I -
Centro
Cultural Banco do Brasil (CCBB) – Rio de Janeiro.
Endereço:
Rua Primeiro de Março, 66 – Centro – Rio de Janeiro.
Telefone: (21)
3808-2020.
Dias e Horários: De 4ª feira a 2ª feira,
sempre às 19h.
Valor dos
Ingressos: R$10,00 e R$5,00 (meia-entrada).
Funcionamento
da bilheteria: De 4ª feira a 2ª feira, das 9h às 21h (Aceita cartão).
Vendas
também pelo site http://www.ingressorapido.com.br/
Capacidade: 172 espectadores.
Gênero: Drama
Duração: 80 minutos
Classificação Etária: 12 anos
“UMA ILÍADA” é o único espetáculo em
cartaz, atualmente, no Rio de Janeiro, de 4ª feira a 2ª feira, com seis sessões
semanais.
(FOTOS: DALTON VALÉRIO)
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