domingo, 14 de junho de 2015


O OLHO AZUL DA

FALECIDA

 

 

 

 

(SE É PARA RIR, ESTA É A PEDIDA!)

 

 

 

 


 

 


            São muitas as funções do TEATRO, todos sabemos, e uma delas é, simplesmente, divertir, fazer rir.  Também é consenso, na classe teatral e entre aqueles que amam e conhecem o TEATRO, que fazer rir é muito mais difícil do que fazer chorar.  Não há necessidade de entrar em detalhes explicativos.

           

Dessa forma, para uma comédia agradar, ao público e à crítica, deve ser, mesmo, engraçada, apresentar situações que levem as pessoas a esquecer os problemas do dia a dia e, por algum tempo, desopilar o fígado.

 

Para os que consideram a COMÉDIA uma “arte menor”, e, infelizmente, há muita gente que pensa dessa maneira, digo-lhes apenas que não devem ter tido a oportunidade de assistir a uma boa comédia, como é o caso de O OLHO AZUL DA FALECIDA, que está em cartaz no Teatro Maison de France, de 5ª feira a sábado, às 19h30min, e, aos domingos, às 18h30min, até o dia 21 de junho.

           

Não vá ao Maison com outra intenção que não seja a de se divertir bastante, com um texto muito engraçado, costurando tramas bem construídas, dirigido, com competência, por SIDNEI CRUZ, e interpretado por um excelente elenco, formado por TUCA ANDRADA, GLÁUCIA RODRIGUES, RAFAEL CANEDO, HELDER AGOSTINI, JOHNNY FERRO e MÁRIO BORGES, este como ator convidado.

 

 


 


Mário, Tuca, Gláucia e Helder.

 


 

Se é para rir, esta é a pedida. 

 

Imagine uma história em que estão presentes um homem de luto, que acabara de perder a esposa, ainda não sepultada; uma espertíssima “serial killer”, viúva de sete maridos, que trabalhava como enfermeira da falecida, responsável por sua morte e pretendente a ocupar o lugar desta, ao lado do patrão; um jovem e sedutor ladrão, filho do homem enlutado, em conspiração com um, também, jovem e sedutor agente funerário, seu amante; um tesouro, em dinheiro, a ser escondido, produto do furto a um banco vizinho à agência funerária; e um cadáver “itinerante”.

 

Deu para imaginar? 

 

E quando entra em cena a figura de um detetive com complexo de Sherlock Holmes, disposto a encontrar os ladrões?

 

 

 

 


 

 

 

Pois bem!  Misture todos esses ingredientes num “balaio de gatos” e prepare-se para dar boas gargalhadas com as situações inusitadas, quase surrealistas, que advirão daí!

 

O texto, uma farsa, foi escrito há 50 anos, mas será, para sempre, atemporal.  Seu autor é o festejado dramaturgo inglês, JOE ORTON, aqui traduzido, com esmero, por BÁRBARA HELIODORA.  Recentemente, tivemos a oportunidade de assistir à montagem de um outro texto seu, O que o Mordomo Viu, que fez ótima carreira, tanto no Rio como em São Paulo, além de outras praças.

 

São marcas pessoais de ORTON, em seus textos, o humor negro, bastante cáustico, e a crítica contundente, satírica.  Mestre em subverter, proposital e audaciosamente, a ordem e a moral vigentes, mantém sua metralhadora sempre voltada para pessoas e instituições, sem dó nem piedade.   Com seus diálogos ágeis e simples, ele é mestre em criar situações absurdas e quiproquós hilários, os quais exigem que a direção estabeleça um ritmo intensíssimo ao espetáculo, de entra-e-sai, típicos do “vaudeville”, um gênero teatral que se caracteriza por uma série de mal-entendidos, de “coincidências”, que vão se desenvolvendo, uns deflagrados por outros, num ritmo ligeiro, às vezes até frenético, com muita correria, gerando situações que beiram o ridículo, envolvendo intrigas e uma sucessão de portas que se abrem e fecham, permitindo inúmeras entradas e saídas e a circulação de atores em cena, o que provoca situações engraçadíssimas, de trocas de roupas, de enconde-esconde...

 

 

 


Rafael, Tuca, Helder e Mário.

 

 

            A falta de ética e moral caracteriza todos os personagens, à exceção do SR. MCLEAVY (MÁRIO BORGES), verdadeiro baluarte da honestidade e do civismo, que acredita, piamente, nas instituições públicas e o retrato da moralidade.  Exatamente por suas qualidades, será o bode expiatório na trama, sobre quem a “justiça” será feita, facilitando a vida de todos os vilões da história.  Sem dúvida, a “Justiça”, ou a sua falta, é o alvo maior da peça.

 

            O espetáculo tinha tudo para não agradar, não fazer rir, que é seu objetivo maior, considerando-se a grande distância que há entre o tipo de humor inglês e o brasileiro.  Mas ocorre o contrário, graças, não só à excelente tradução de BÁRBARA HELIODORA, como também aos “cacos” e “adaptações”, feitas, creio, pela própria direção e pelos atores, inserindo, vez por outra, críticas visíveis à atual situação política brasileira.  Mantém-se, assim, a fleuma do humor inglês, mas acrescenta-se um pouco do escracho e da espontaneidade do brasileiro.  E que excelente casamento!

 

SIDNEI CRUZ acertou a mão, no seu trabalho de diretor, o que muito contribui para o sucesso desta peça.

 

É muito bom o cenário, de JOSÉ DIAS, com portas, janelas, biombos, armários e outros elementos, para servirem ao desenvolvimento da macabra trama.

 

Agradam, também, os figurinos, de SAMUEL ABRANTES, pela simplicidade, criatividade e fidelidade à época e aos personagens.  São dele, também, em parceria com GUILHERME REIS, os bons adereços utilizados em cena.

 

 

 


Tuca e Johnny.

 

 

 

A música original e a direção musical levam a assinatura do maestro WAGNER CAMPOS, que, ao lado de GLÁUCIA RODRIGUES e EDMUNDO LIPPI, são os fundadores da CIA LIMITE 151, responsável por esta montagem, uma das mais competentes companhias de TEATRO do Rio de Janeiro, já tendo levado ao palco, em mais de vinte anos de existência, textos dos mais consagrados dramaturgos nacionais e estrangeiros.

 

ROGÉRIO WILTGEN é o responsável pela boa iluminação.

 

No elenco, bastante homogêneo, TUCA ANDRADA está excelente, como o detetive TRUSCOTT, um policial de péssima índole, o oposto de um profissional “da lei”, ou que investiga, para que ela seja aplicada.  TUCA é um ator versátil, desfilando, de ponta a ponta, com bastante desembaraço, da comédia ao drama, expondo uma veia cômica natural e comedida.

 

Falar em versatilidade é o mesmo que falar em GLÁUCIA RODRIGUES, a primeira mulher a viver, no palco, um personagem masculino, João Grilo, da obra-prima O Auto da Compadecida, do genial e inesquecível mestre Ariano Suassuna.  Como a sagaz e cruel enfermeira FAY, GLÁUCIA registra mais uma excelente personagem em sua vasta galeria.

 

RAFAEL CANEDO é um dos melhores atores da novíssima geração.  Brilhou, em O Estranho Caso do Cachorro Morto, injustiçado por não ter sido indicado a prêmios, em Fazendo História e O Auto da Compadecida, e, agora, mostra, mais uma vez, seu grande talento, como HAROLD, ou HALL, como é mais tratado, um jovem extremamente inteligente e perspicaz, que resolve assaltar um banco e usar o dinheiro para fugir do universo católico em que foi criado e que considera hipócrita.  Paradoxalmente, é um malfeitor, que assalta turistas, deflora virgens, não demonstra qualquer sensibilidade em relação à morte da mãe, mas, ao mesmo tempo, é membro da Irmandade dos Filhos da Divina Providência e é incapaz de mentir.  “Durma-se com um barulho desses!”

 

HELDER AGOSTINI, outro bom ator jovem, embora tarimbado, por ter iniciado sua carreira profissional, ainda criança, na TV, também interpreta, com competência, seu DENNIS, esperto e “não muito confiável”, meio dividido entre uma relação amorosa com HALL ou FAY, na dependência de quem lhe oferecer mais vantagem.

 

JOHNNY FERRO interpreta o policial MEADOWS, com pouca participação na trama, mas convincente.

 

Para fechar o elenco, um nome intimamente ligado ao TEATRO; ao BOM TEATRO: MÁRIO BORGES, uma vez que não me lembro e tê-lo visto mal em nenhum dos muitos trabalhos de que já participou.  Como grande admirador de seu trabalho, acho que assisti a todos.  Veterano ator, nome garantido na minha lista dos melhores, apresenta-se, nesta peça, como ator convidado, interpretando um personagem vilipendiado por todos os outros.  Homem probo, que “paga” por essa qualidade, cada vez mais rara, nas sociedades competitivas de hoje.  Mais um belo trabalho do ator!

 



 


 

 

 

            O OLHO AZUL DA FALECIDA é um espetáculo para pessoas das mais diferentes idades, que eu recomendo com empenho.

 

 

 


 

 

 

 

 
SINOPSE:
O SR. MCLEAVY (MÁRIO BORGES) é um homem inocente, probo, de luto pela morte de sua esposa.  
Seu filho, HALL (RAFAEL CANEDO), em conluio com um agente funerário, chamado DENNIS (HELDER AGOSTINI), que é também seu amante, assaltam o banco ao lado da funerária.
Quando o detetive TRUSCOTT (TUCA ANDRADA) começa a busca pelos ladrões, bisbilhotando a casa do SR. MCLEAVY , HAL e DENNIS decidem esconder o tesouro no caixão da falecida.  Como ambos, a defunta e o produto do roubo, não cabem lá, eles transferem o cadáver para o guarda-roupa, pondo em movimento um jogo, que marca o dilema do que fazer com o corpo.
FAY (GLÁUCIA RODRIGUES), a enfermeira, que matou a SRA. MCLEAVY, tem planos de se casar com o SR. MCLEAVY e, depois, matá-lo, e é, por algum motivo, o objeto de afeto de DENNIS.
Para o diretor, SIDNEI CRUZ, “a peça é uma joia rara de carpintaria teatral, uma engenhoca de fabulação absurda, em que enredos díspares se entrelaçam e se fundem a golpes de martelo, misturando ingredientes de comédia com tramas policiais”.
As personagens disputam um jogo estonteante, em que blefar é a regra geral, dentro de uma situação absolutamente rotineira, que vai sendo conduzida para um ângulo totalmente absurdo.
A família, o luto, a justiça, o casamento, a religião e outras instituições são achincalhadas pela pena anarquista de JOE ORTON.
 

 

 

 


A “lei” e a “justiça”.

 

 

 

 
FICHA TÉCNICA:

Texto: Joe Orton
Tradução: Bárbara Heliodora
Direção: Sidnei Cruz
Elenco: Tuca Andrada (Truscott), Gláucia Rodrigues (Fay), Rafael Canedo (Harold), Helder Agostini (Dennis), Johnny Ferro (Meadows) e Mário Borges (McLeavy), ator convidado. 
Cenário: José Dias
Figurinos: Samuel Abrantes
Música Original e Direção Musical: Wagner Campos
Iluminação: Rogério Wiltgen
Adereços: Guilherme Reis e Samuel Abrantes
Assessoria de Imprensa: Ana Gaio
Programação Visual: João Carlos Guedes
Fotos: Guga Melgar
Produção Executiva: Valéria Meirelles
Direção de produção: Edmundo Lippi
Realização: Cia Limite 151
 

 

 
SERVIÇO:

Temporada: Até 21 de junho.
Local: Teatro Maison de France – Avenida Presidente Antônio Carlos, 58 – Centro
Tel.: 2544 2533
Horário: De 5ª feira a sábado, às 19h30min, e domingo, às 18h30min.
Preço: 5ª e 6ª feira - R$60,00; sábado e domingo - R$70,00
Classificação Etária: 10 anos
Lotação do teatro: 352 lugares
Duração do espetáculo: 1h40min
Gênero: Comédia
 

 

 

(FOTOS: GUGA MELGAR.)

 

 

 

 


Com Tuca Andrada e Gláucia Rodrigues.

 

 


Com Helder Agostini.

 

 


Com Rafael Canedo, Mário Borges e Johnny Ferro.

 

 

 

(FOTOS PESSOAIS: MARISA SÁ.)

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