“O FORMIGUEIRO”
ou
(A DISTOPIA DE UMA FAMÍLIA
EM CRISE.)
COMO É GRATIFICANTE SAIR DE UM TEATRO EM TOTAL ESTADO DE GRAÇA! Infelizmente, não é comum isso acontecer, mas, quando tal fato se dá, agradeço aos Deuses do Teatro por tal prazer e alegria. Foi o que ocorreu comigo, na noite de ontem (18 de outubro de 2025), depois de ter assistido a “O FORMIGUEIRO”, peça que está em cartaz, já em final de temporada - QUE PENA!!! - no Teatro Glaucio Gill, no Rio de Janeiro.
O texto, excelentíssimo, é
escrito por THIAGO MARINHO – seu
primeiro texto para os adultos -, e também corresponde ao seu primeiro
trabalho de direção. Por esses dois motivos, já passo a aplaudir e
respeitar o THIAGO, que também é um
ótimo ator, nas duas atividades.
SINOPSE:
“O
FORMIGUEIRO” conta a história de uma família que se reúne para o almoço de
aniversário da mãe, Gilda, que está em estágio avançado de Alzheimer.
O deprimente estado de saúde da
matriarca da família serve como catalisador para a história, um gatilho.
A sinopse descreve o caos e as
tensões que surgem nesse reencontro, abordando a forma como a doença afeta a
dinâmica familiar, seus papéis e a convivência entre os irmãos, com um
equilíbrio entre humor e drama.
O reencontro familiar traz à tona
traumas, disputas e um segredo, escondido sob as mentiras guardadas, há décadas, pela família.
A peça explora o impacto emocional e
psicológico da doença na família, focando nas mudanças de papéis e na
convivência entre os irmãos e a mãe.
Lendo a SINOPSE supra, você, que me honra com a
distinção da sua leitura, pode achar que não vale a pena assistir a esta
montagem, pensando que vai sofrer por conta da doença de Gilda, mas fique sabendo
que isso não é nada, diante dos conflitos que envolvem os três irmãos. Isso,
sim, incomoda e provoca um oceano de reflexões no público. Mas nada que a gente não suporte,
nada que possa nos afastar do prazer de assistir a um magnífico espetáculo do
verdadeiro TEATRO, visto que se trata de uma COMÉDIA dramática, que
amalgama momentos de um ótimo humor e passagens que mexem com o nosso emocional,
tudo na dosagem certa, bem balanceado. Segundo THIAGO MARINHO, e eu ratifico, “a peça é mais engraçada do que
triste”.
Muito poucos dramaturgos
atingem o grau de perfeição em sua primeira experiência como autores. THIAGO MARINHO apresenta-se como uma
dessas raridades, ao nos brindar com um texto tão enxuto, sem qualquer tipo
de “gordura”
que pudesse ser retirada da peça, quanto perfeito em todos os arcos dramáticos.
Do início ao final do espetáculo, que tem a duração de 80 minutos, a plateia se
projeta para o espaço cênico e não consegue se desligar dele, atenta e
totalmente motivada a saborear cada uma das falas e das cenas, como hipnotizada
pela trama. O texto é atemporal e universal e nos surpreende com surpresas
que ninguém consegue antever.
Acumulando o dramaturgo
com o diretor, THIAGO dá
uma aula de direção teatral, muito criativo - a solução para termos Gilda em cena é ótima - e sabendo como extrair, do
quarteto de atores, o melhor rendimento de cada um dos quatro, contando com a
experiente supervisão artística de JOÃO
FONSECA. Para quem se expõe, em sua primeira vez, como o “maestro” de uma
montagem teatral, o diretor já disse a que veio, marcando seu território, com
maestria, e se mostrando como um grande candidato a premiações, também como dramaturgo.
Não basta um bom diretor,
se lhe falta um elenco de primeira. Afinados no mesmo diapasão e nível de
atuação, com o sarrafo colocado a uma superlativa altura, os atores não me
permitem destacar algum nome, dado que cada um dos quatro dignifica a profissão
de ator/atriz
e sabe como se destacar em cada cena. O que não falta é verdade cênica a RODRIGO FAGUNDES (Luiz), LUCAS DRUMMOND (Victor), ROBERTA BRISSON (Joana) e
DIEGO DE ABREU (Cláudio Márcio). Feliz reunião de talentos num só elenco. Todos
se agarram à boa construção de cada personagem e nos revelam um estupendo
quarteto de actantes. Os quatro personagens são profundo e humanos, o que cada um representa magistralmente.
A força do texto e a
atuação dos atores são os grandes “carros-chefes”
desta peça, cujo acerto conta com uma excelente cenografia, assinada por VICTOR ARAGÃO, adequados figurinos,
criados por LUÍSA GALVÃO, e uma
afinada iluminação, idealizada por FELIPE
MEDEIROS. Acrescentem-se, também, com suportes de criação para o
espetáculo, a discreta e boa trilha sonora (IFÁTÓKI MAÍRA
FREITAS) e a direção de movimento, a cargo
de VICTORIA ARIANTE, que garante muita dinâmica à encenação
A ideia para a escrita do
texto teve como ponto de partida uma experiência pessoal, quando a condição da avó
de THIAGO MARINHO mudou as relações
da sua família, embora a história não represente a sua. Sabemos todos, por experiência própria ou pelo conhecimento via
terceiros, que, “quando a doença de Alzheimer afeta uma pessoa, a dinâmica familiar
também é abalada pela carga emocional e psicológica de cuidar de alguém doente,
além das mudanças financeiras e sociais que acompanham a situação”,
trecho extraído do “release” que me foi enviado por PAULA CATUNDA, assessora de imprensa da peça.
Vale a pena uma explicação
sobre o curioso título da peça, extraída do já citado “release”: “O título
da peça surge de um paralelo feito pelo autor entre a doença e a natureza. No
formigueiro, há uma certa ordem de ‘status’ e posições. Mas, quando a rainha,
genitora de seus súditos, deixa de cumprir sua função de liderança, o caos se
instaura e as formigas perdem seu rumo, até que uma nova liderança surja. E, em
uma família, não é diferente”.
FICHA TÉCNICA:
Texto:
Thiago Marinho
Direção: Thiago Marinho
Assistência
de Direção: Mel Carvalho
Supervisão
de Direção: João Fonseca
Elenco
(por ordem alfabética): Diego de
Abreu (Cláudio Márcio), Lucas Drummond (Victor), Roberta Brisson (Joana) e Rodrigo Fagundes (Luiz)
Cenografia: Victor Aragão
Assistência
de Cenografia: Clarah Borges
Execução
de Cenografia: Tessitura Produções
Artísticas e Victor Aragão
Figurino: Luísa Galvão
Iluminação: Felipe Medeiros
Trilha Sonora: Ifátóki Maíra
Freitas
Direção de
Movimento: Victoria Ariante
Programação
Visual: Marcelo Alvim
Produção Geral: Lucas Drummond
Coordenação
de Produção: Nathalia Gouvêa
Produção Executiva: Ana Paula Marinho
Operação
de Luz: Yasmim Lira
Operação
de Som: Thiago Silva
Contrarregragem: Feliphe Afonso
Fotografia
e Vídeo: Costa Blanca Films
Assessoria
de Imprensa: Paula Catunda e
Catharina Rocha
Realização: Ministério da Cultura e Gaulia Teatro.
SERVIÇO:
Temporada: De 04 a 27 de outubro de 2025.
Local: Teatro
Glaucio Gill.
Endereço: Praça
Cardeal Arco Verde, s/nº – Copacabana – Rio de Janeiro.
Dias e Horários: sábados, domingos e segundas-feiras,
às 20h.
Valor dos Ingressos: R$ 60 (inteira) e R$ 30
(meia-entrada).
Vendas “on-line” pelo “site” da
Funarj: https://funarj.eleventickets.com/
(com taxa de serviço).
Horário de funcionamento da
bilheteria (sem taxa de serviço): De 2ª a 6ª feira, das 16h às 22h; sábado
e domingo, das 15h às 22h.
Classificação Indicativa: 16 anos.
Duração: 80 min.
Instagram: oformigueiroteatro.
Gênero: COMÉDIA
Dramática.
A peça
aborda a memória, a convivência, os laços familiares e a forma como os indivíduos
lidam com a mudança e a dor, tratando-se de uma COMÉDIA dramática
que utiliza o humor, para lidar com um tema delicado, como a dor e o desespero
diante de uma doença ainda incurável, o Mal de Alzeheimer.
A montagem
é apaixonante e me provocou o imenso desejo de revê-la, ainda que falte pouco tempo
para o término da atual temporada. Tenho a certeza de que a peça merece outras
e de que isso acontecerá, além de poder viajar por outras praças do Brasil.
É, SEM SOMBRA
DE DÚVIDAS, UM DOS MELHORES ESPETÁCULO A QUE ASSISTI NESTE ANO, E MOTIVOS NÃO ME
FALTAM, PARA RECOMENDAR ESTE MAGNÍFICO ESPETÁCULO.
FOTOS: COSTA BLANCA FILMS
·
É preciso ir ao TEATRO, ocupar todas as salas de espetáculo,
visto que a arte educa e constrói, sempre; e salva. Faz-se necessário resistir sempre
mais. Compartilhem esta crítica, para que, juntos, possamos divulgar o que há
de melhor no TEATRO BRASILEIRO!
Nenhum comentário:
Postar um comentário