segunda-feira, 20 de outubro de 2025

 

“NAS SELVAS

DO bRAZYL”

ou

(UM AMÁLGAMA DE HISTÓRIA E TEATRO.)

 


Depois de uma considerável entressafra de espetáculos de gosto duvidoso, no Rio de Janeiro, voltei a sentir prazer em ir ao Teatro, de dez dias para cá, só tendo assistido a peças agradáveis de serem vistas, todas merecendo uma crítica deste amante do bom TEATRO, como foi o caso de ontem (19/10/2025), no CCBB - RJ (Teatro I), quando me deliciei, assistindo à “NAS SELVAS DO bRAZYL”, com essa grafia mesmo.



 

SINOPSE:

Dois atores embarcam no desafio de encenar a célebre expedição do Marechal Rondon (GUSTAVO GASPARANI) e do ex-presidente dos Estados Unidos, Theodore Roosevelt (ISIO GHELMAN), pelo mítico Rio da Dúvida, no início do século XX.

À medida que a narrativa avança, os limites entre atores e personagens se dissolvem, arrastando-os para dentro da própria selva.

Entre especulações sobre a expedição histórica e os anseios do presente, a floresta revela seus riscos e os sinais das mudanças climáticas que ameaçam o futuro de todas as espécies.




 

       Antes de entrar nos comentários sobre a peça, considero oportuno e esclarecedor falar um pouco sobre a expedição que motivou PEDRO KOSOVSKI a escrever a dramaturgia do espetáculo. A Expedição Científica Rondon - Roosevelt (1913-1914), patrocinada pelo Museu Americano de História Natural, foi uma experiência real, liderada, conjuntamente, pelo marechal brasileiro Cândido Rondon (1865 / 1958) e pelo ex-presidente dos Estados Unidos, Theodore Roosevelt (1858 / 1919), 26º presidente norte-americano, para explorar e mapear o Rio da Dúvida, localizado no Mato Grosso, na Bacia Amazônica. O objetivo era descobrir se o rio era um afluente do Amazonas, mas enfrentou muitos desafios, como o clima, a selva densa e doenças, como a malária, que, gravemente, afetou Roosevelt. Como resultado da expedição, o rio foi renomeado para Rio Roosevelt, em homenagem ao ex-presidente. 



Fotos da expedição real.


A equipe enfrentou inúmeros perigos, incluindo o terreno difícil, cachoeiras, a correnteza forte do rio, durante a estação chuvosa, e o impaludismo (malária). Apesar dos muitos contratempos, entre as conquistas do grupo expedicionário, contabilizam-se o pretendido mapeamento do rio e a coleta de inúmeros espécimes de animais, principalmente insetos.



  Entre os obstáculos que o grupo enfrentou, destaca-se o fato de Roosevelt ter quase morrido, durante a viagem, e sua saúde ter ficado, permanentemente, debilitada, por doenças contraídas na expedição. Por outro lado, Rondon, apesar de também ter contraído malária, permaneceu imune durante a maior parte da viagem. A expedição explorou mais de 500 km do tortuoso percurso do rio.



   Extraído do rico “release” que me foi enviado por STELLA STEPHANY, assessora de imprensa da peça: Através do encontro entre o estrangeiro colonizador e o militar brasileiro, defensor dos indígenas, a peça reflete sobre os efeitos provocados pelo modelo colonizador no meio ambiente, na floresta e em seus povos”.



  A preciosa e muito bem elaborada dramaturgia, de PEDRO KOSOVSKI, funde duas camadas em cena: os personagens, às voltas com a expedição, no início do século XX, e os atores hoje, em pleno terceiro milênio, lidando com as memórias daquele tempo, diante de um colapso climático iminente, que assola o planeta Terra. Até certo ponto - o que é bom e funciona muito bem -, o texto pode ser considerado um pouco hermético, o que não constitui nenhum defeito, obrigando o espectador a se manter bem atento às falas, ora emitidas pelo dois protagonistas, ora, por dois atores: ISIO e GASPARANI ou dois outros, aleatórios?





                                   Pedro Kosovski.


A melhor qualidade do texto, a meu juízo, é buscar uma nova forma de compreender as relações entre humanos e natureza e a origem do povo brasileiro, convidando o público a uma reflexão sobre temas urgentes, como mudanças climáticas, diversidade e ancestralidade. 



  Sem fazer muito esforço, identificamos, nos personagens, dois claros e evidentes arquétipos: Roosevelt, como o homem branco, estrangeiro colonizador; Rondon corresponde ao homem militar pacifista, protetor dos povos originários, engajado na construção de uma ideia de naçãotendo descoberto e nomeado uma quantidade inestimável de rios, montanhas, vales e lagos, além de implantar mais de cinco mil quilômetros de linhas telegráficas nas florestas brasileiras.



 Ainda que baseado num evento real, a partir das memórias de uma expedição, a peça é uma obra de ficção. Destarte, os diálogos correspondem a tudo aquilo que não foi dito entre os dois personagens protagonistas, fruto da imaginação criativa do dramaturgo. KOSOVSKI afirma que pouco se fala sobre esse importante encontro, pouco é narrado e, muito menos, conhecido. Sendo assim, “a dramaturgia investe num exercício de imaginar, especular o que teria acontecido entre os dois”, da mesma forma que faz pensar que “há, nesse encontro, uma síntese de processos históricos importantes, feridas históricas importantes para o nosso país, como, por exemplo, a ideologia do progresso e do desenvolvimento, todo processo de colonização, de subalternização do Brasil, dependência do Brasil em relação os Estados Unidos - processos que hoje cobram o seu preço e se pronunciam em nossas vidas de modo muito visível e avassalador”.




           Em diálogos ágeis, abertos e francos, detectamos, ao longo da peça, vários temas, como o etnocentrismo, a postura colonizadora do homem branco em relação à floresta e seus povos e a hegemonia geopolítica dos Estados Unidos sobre Brasil, este aspecto acentuado e muito em voga nos dias de hoje.



           Embora a peça apresente dois protagonistas, podemos dizer, sem medo de errar, que, de forma humanizada, a Floresta Amazônica pode ser considerada um terceiro protagonista, na narrativa. Pelo olhar retrospectivo do autor, é fácil perceber os efeitos nocivos que o modelo colonizador imprimiu sobre o meio ambiente e os povos originários.



           Considero DANIEL HERZ um dos maiores encenadores brasileiros. Já tive a oportunidade de fazê-lo exaltado, em muitos trabalhos anteriores dirigidos por ele, mas creio que sua melhor “performance”, até agora, recai sobre esta montagem. Contando com colaboradores de peso, como DINA SALEM LEVY (cenografia), WANDERLEY GOMES (figurino), AURÉLIO DE SIMONI (iluminação), MARCELLO H (trilha sonora) e MÁRCIA RUBIN (preparação corporal), HERZ explora, a contento, todos os meandros do texto e, como poucos, executa um belíssimo trabalho de direção de atores.  




Daniel Herz.


          É profundamente prazeroso aplaudir dois dos nossos melhores atores, como ISIO GHELMAN e GUSTAVO GASPARANI. Tudo o que eu pudesse escrever sobre suas atuações seria pouco, diante do brilhantismo como se saem na interpretação dos dois opostos personagens, empreendendo uma verdade cênica poucas vezes observada num palco. Suas atuações se equivalem, em magistral qualidade, e são responsáveis por manter viva a atenção dos espectadores, da primeira à última cena, o que os faz merecedores de muitos merecidos aplausos ao final da peça.



 

FICHA TÉCNICA:

Idealização: Gustavo Gasparani

Texto: Pedro Kosovski

Direção: Daniel Herz

Assistência de Direção: Carol Pucu

 

Elenco: Gustavo Gasparani e Isio Ghelman

 

Cenografia: Dina Salem Levy

Assistência de Cenografia: Alice Cruz

Figurino: Wanderley Gomes

Iluminação: Aurélio de Simoni

Trilha Sonora: Marcello H

Preparação Corporal: Márcia Rubin

“Design” Gráfico: Luciano Cian

Fotos: Nil Caniné

Coordenação Administrativo-Financeira: Cacau Gondomar

“Performance” e Rede Social: Lead Performance

Produção Executiva: Luciano Pontes

Coordenação de Produção: Ártemis

Direção de Produção: Silvio Batistela

Produção: Idarte Produções Artísticas

Realização: Centro Cultural Banco do Brasil 

Assessoria de Imprensa: JSPontes Comunicação – João Pontes e Stella Stephany


 

 





 

SERVIÇO:

Temporada: De 10 de outubro a 30 de novembro de 2025.

Local: Teatro I do CCBB - RJ / Centro Cultural Banco do Brasil – RJ.  

Endereço: Rua Primeiro de Março, nº 66 / Centro, Rio de Janeiro.

Telefone: (21) 3808-2020. 

Dias e Horários: De 5ª feira a sábado, às 19h; domingo, às 18h.

Valor dos Ingressos: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia-entrada), na bilheteria do CCBB (sem taxa de serviço) ou no “site” bb.com.br/cultura (com taxa de serviço).

Horário de funcionamento da bilheteria: de 4ª feira a 2ª feira, das 9h às 20h.

Capacidade: 159 lugares.

Duração: 70 minutos.

Classificação Etária: 14 anos.

Gênero: Drama Contemporâneo.


 


 

          Para os padrões dos dias de hoje, felizmente, a temporada não é tão curta, o que permite que um maior número de pessoas que apreciem um bom TEATRO possa conferir as minhas palavras. RECOMENDO MUITO ESTE ESPETÁCULO.

 

 

FOTOS: NIL CANINÉ

 

GALERIA PARTICULAR:


Com Daniel Herz.

Com Isio Ghelman.

Com Gustavo Gasparani.



É preciso ir ao TEATRO, ocupar todas as salas de espetáculo, visto que a arte educa e constrói, sempre; e salva. Faz-se necessário resistir sempre mais. Compartilhem esta crítica, para que, juntos, possamos divulgar o que há de melhor no TEATRO BRASILEIRO!













































































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