“A INCRÍVEL
VIAGEM
DO QUINTAL”
ou
(MUITO RESPEITO
AO PÚBLICO INFANTOJUVENIL.)
ou
(O TEATRO
A SERVIÇO
DA DIDÁTICA.)
Inicio
esta crítica com palavras que não são minhas, mas que estão presentes num “release”
que recebi, sobre o espetáculo “A INCRÍVEL
VIAGEM DO QUINTAL”, ao qual assisti, em março passado, no Teatro
SESI-SP. Faço-o, porque considero muito importante que saibam sobre um
braço do trabalho do SESI-SP na área
cultural: “O Teatro do SESI-SP, do Centro Cultural Fiesp, um importante
equipamento cultural de São Paulo, celebrou 60 anos de atividades em 2024. Ao
longo dessas décadas, ele tem oferecido ao público uma programação gratuita,
diversa e alinhada aos aspectos sociais e artísticos da contemporaneidade. Os
espetáculos apresentados, assim como toda a programação cultural selecionada
pela equipe do SESI-SP, são resultado de editais de chamamento, lançados
periodicamente. Nesses editais, são escolhidos projetos artísticos de todo o
território nacional, com o objetivo de proporcionar uma mediação entre o
público e a obra.” E acrescento eu: Considero da mais expressiva
importância tal empreendimento, um projeto mais que vitorioso, apresentando, em
longas
temporadas – uma raridade nos Brasil de hoje -, e inteiramente grátis,
espetáculos da mais alta e comprovada qualidade, tanto para adultos quanto para
crianças e adolescentes, um minucioso “trabalho de formiguinha”, em prol
da formação de atuais e futuras plateias de TEATRO.
Repito
aqui, o que já disse inúmeras vezes, que, sempre que vou a São Paulo, reservo dois
momentos, para assistir ao espetáculo da noite, para adultos, e ao que é
apresentado de dia, para os pequenos, no Teatro SESI-SP. O mais interessante e digno de nota é que jamais
deixei de gostar muito de tudo quanto vi encenado naquele palco,
algumas montagens que chego a classificar como verdadeiras “OBRAS-PRIMAS”, como o
magnífico “Homem de La Mancha”, por exemplo. Neste momento, proponho-me a
tecer comentários sobre o espetáculo mencionado no início do primeiro parágrafo.
SINOPSE:
No enredo, os quatro
personagens do Quintal, Ludovico (JOSÉ EDURDO RENÓ), Doroteia
(HELENA RITO), Ofélia (MAFALDA PEQUENINO / FERNANDA VENTURA, esta
alternante) e Osório (JONATHAN FARIA), estão
prontos para realizar uma viagem de muita descoberta.
Em cada parada, eles descobrem
preciosidades da cultura brasileira e de tradições de cada região deste imenso
Brasil.
Em cena, o palco se
transforma no itinerário da própria viagem.
Eles passam por estradas
que levam de um lugar a outro, param em vilarejos, visitam fazendas e, nessa
saga, conhecem pessoas incríveis, que trazem histórias ricas da tradição
regional.
Em cena, com os
personagens do Quintal, atores/músicos participam da encenação, tocando vários
instrumentos, dançando, cantando e se transformando em vários personagens.
E cá
estou eu, batendo na mesma tecla de sempre, ou seja, dizendo que, a se montar
espetáculos infantis e infantojuvenis, "idiotizando" os espectadores,
menosprezando e subestimando a inteligência alheia, é melhor que os projetos nem
saiam do papel, contudo, se existe respeito ao público-alvo, traduzido numa
montagem correta, muito bem pensada e cuidada, com todos os elementos necessários à construção de um ESPETÁCULO
– com todas as maiúsculas (Aqui, sobra espaço para reverenciar as produtoras da peça, Célia Forte e Selma Morente) - qualquer peça que siga esse padrão será
por mim incensada, como é o caso desta em pauta. Vale, aqui, também registrar o
lema de um diretor, já falecido, com quem trabalhei, como ator,
numa superprodução infantojuvenil, nos anos 1970. Falo de Paulo
Lara, e seu lema era: “Teatro infantil não é imbecil.”.
Realmente,
deixo os teatros em total estado de graça, quando me vejo diante de uma
produção tão bem cuidada, como esta, acreditando que “há luz no fim do túnel”
e nossas crianças e pré-adolescentes não foram esquecidos e são valorizados e
respeitados. Da primeira à última cena, só enxerguei acertos nesta montagem,
que é baseada num famoso programa de televisão, transmitido pela TV
Cultura, de São Paulo, o “Quintal da Cultura”, com os
personagens da peça.
Um espetáculo
destinado aos pequenos deve ser, esteticamente, bonito e apresentar mensagens edificantes,
e este faz exatamente isso. E mais: ser educativo, sem ser “careta”, “chato”,
entediante. É preciso que o espectador mirim aprenda, sem se dar conta do
aspecto didático que está por trás de cada cena. E é exatamente isso o
que acontece em “A INCRÍVEL VIAGEM DO
QUINTAL”. O musical - Sim,
trata-se de um espetáculo musical (A música é um elemento que não deve faltar
nesse tipo de montagem.) -, além de entretenimento, traz referências de
todas as regiões do país. Isso significa que quem assiste à peça recebe uma
vasta aula sobre aspectos geográficos, sociais e culturais de cada uma das
cinco regiões do país, “viaja” por todo esse extenso Brasil,
sem sair de sua poltrona, e se divertindo bastante, tudo muito bem ilustrado
com cenários
e figurinos
de cada região.
Importante é registrar a maneira como o
espetáculo atinge o público, formado, em sua grande maioria, por crianças. Elas
se entregam, completamente, às propostas que vêm do palco e se encantam com
os quatro amigos, delas também, os quais
brincam em um quintal e fazem uma viagem de “faz de conta” que leva à
descoberta das riquezas brasileiras, materiais e imateriais.
Do ponto de vista da plasticidade,
os três elementos formadores de um tripé que ajuda a sustentar a peça, cenário,
figurinos e iluminação, merecem destaque. A cenografia é bem
econômica, comedida, mas não economizando em beleza e acabamento, na mesma
proporção que é interessantíssima. Para cada nova região geográfica
apresentada, entram no palco elementos móveis, o mínimo possível, para marcar, fisicamente,
a referida região, aguçando a curiosidade do jovem espectador. Não é necessário
um cenário exuberante. Basta “dar o caniço, o anzol e a isca”,
para a criança “aprender a pescar”. Quanto aos figurinos, tanto os
fixos, dos quatro personagens protagonistas, e os que variam, de acordo com as
características de cada região, tudo é muito bem colorido, criativo e bem
acabado. A iluminação, totalmente lúdica, potencializa o aspecto da
ludicidade que há, também, na cenografia e nas indumentárias.
Sendo um musical, o espetáculo conta com um “setlist”
original, com uma dúzia de graciosas e alegres canções, as quais ficam nos
nossos ouvidos: “O Trenzinho do Quintal”, “Navegando
no Quintal”, “Rancheira no Quintal”, “Violeiros”,
“Viver
em Paz”, “Xote da Doroteia”, “Xaxado da Ofélia”, “Coco
do Osório”, “Maracatu do Ludovico”, “A Cuca Disfarçada”, “Sambando
no Quintal” e “Então, Tá Combinado”, todos
acompanhando os ritmos típicos de cada região visitada. A precisa direção musical está a cargo da sempre correta FERNANDA MAIA.
O elenco
é formidável, tanto o original, já mencionado, quanto o convidado
(músicos/atores):
ABNER DEBRET, BEATRIZ AMADO, CAROL BEZERRA, JANA FIGARELLA e THIAGO MOTA. Todos
se comportam com total leveza e competência, sendo recebidos com muita simpatia
pelo público. Nove artistas bastante carismáticos, demonstrando estar
preparados para fazer TEATRO para crianças, um público
alvo para lá de especial, ao qual não se engana facilmente. Sim, não é qualquer
ator ou todos que consegue(m) manter um ótimo e desejado nível de comunicação
com os pequenos, oferecendo-lhes motivos para uma perfeita sintonia
palco/plateia, uma interação total. Da minha poltrona, durante muitas vezes,
desviei meu olhar, do palco para o público, e vi quão interessadas todas as crianças
estavam e como participavam, ativamente, de cada situação. Mérito para o elenco.
FICHA TÉCNICA:
Texto:
Fernanda Maia
Direção Geral: Bete Rodrigues
Direção
Musical: Fernanda Maia
Elenco
Original: Helena Ritto, Jonathan Faria, José Eduardo Rennó, Mafalda Pequenino e
Fernanda Ventura (Alternante)
Elenco Convidado: Abner Debret, Beatriz Amado, Jana Figarella, Carol Bezerra e Thiago
Mota
Direção de
Movimento e Coreografia: Zuba Janaína
Cenografia: Marco Lima
Figurinos Elenco Original: Edson Braga
Figurinos Elenco Convidado: Sonia Ushyama
Visagismo: Fernanda Mourão
Iluminação:
Túlio Pezzoni
Desenho de Som: João Baracho
Preparação Vocal e Diretor Musical Assistente: Rafa Miranda
Assistente de Direção: Ana Minehira
Assistente de Cenografia: César Costa
Aderecista de Cenário: Douglas Vendramini
Confecção de Perucas: Adriana Almeida
Fotos Estúdio: Caio Gallucci
Fotos Cena: Priscila Prade
Desenho Gráfico: Vicka Suarez
Assessoria de Imprensa: Thais Peres
Vídeos e Conteúdo para Redes Sociais: Bia Capelas
“Social Media”: Isabella Pacetti
Gravação do Espetáculo: Suçuarana Filmes – Humberto Bassanello
Audiodescrição e Libras: All Dubbing Group
Operador de Luz: Rafael Boese
Operador de Som: Valdilho Cruz
Camareira: Juliana de Melo
Contrarregras: Matheus França e Luiz Carlos Ferreira
Assistente Administrativa: Alcení Braz
Produção Executiva e Administração: Martha Lozano
Coordenação de Projeto: Egberto Simões
Produção: Morente Forte Produções Teatrais
SERVIÇO:
Temporada: De 27 de fevereiro a
29 de junho de 2025.
Local: Centro Cultural
Fiesp - Teatro do SESI-SP.
Endereço: Avenida Paulista, nº 1313 (em frente à estação
Trianon-Masp).
Dias e Horários: Quinta e sexta-feira, às 11h (para colégios e
convidados); sábado e domingo, às 14h (para o público em geral).
Valor dos Ingressos: Ingresso gratuito. Reservas pelo MeuSESI, a cada
segunda-feira, a partir das 8h, ingressos válidos para a semana. https://www.sesisp.org.br/eventos
Duração: 75 minutos.
Indicação Etária: Livre.
Sessões com acessibilidade comunicacional nos dias 29 de março, 26 de
abril, 24 de maio e 29 de junho de 2025.
Gênero: TEATRO Infantil.
Por
sua altíssima qualidade e atendendo a pedidos, o espetáculo, que já foi assistido,
até agora, contando só a primeira temporada, por quase 30.000 espectadores, está de volta ao Teatro
Sesi-SP, depois de uma vitoriosíssima primeira temporada, iniciada em agosto
de 2024 – 61 sessões esgotadas -, que lhe rendeu o “Prêmio APCA”, como “Melhor
Musical Infantil de 2024”. A expectativa é de que, na atual temporada,
seja superado o número de espectadores que prestigiaram a primeira. Creio que
não preciso apresentar mais nenhuma razão para que eu RECOMENDE O ESPETÁCULO.
FOTOS:
CAIO GALLUCCI (estúdio)
e
PRISCILA
PRADE (cena).
É preciso ir ao
TEATRO, ocupar todas as salas de espetáculo, visto que a arte educa e
constrói, sempre; e salva. Faz-se necessário resistir sempre mais. Compartilhem esta crítica,
para que, juntos, possamos divulgar o que há de melhor no TEATRO brasileiro!