“A LUA VEM
DA ÁSIA”
ou
(UMA GRANDE
AULA DE
INTERPRETAÇÃO
TEATRAL.)
ou
(“UM DELÍRIO
POÉTICO DE UM
HOMEM À MARGEM
DA RAZÃO”.)
Está em cartaz, no Teatro
Vannucci, um ótimo solo: “A LUA VEM DA ÁSIA”, muito bem sintetizado pelo segundo subtítulo
desta crítica. O instigante espetáculo é inspirado na obra do escritor mineiro CAMPOS DE CARVALHO, adaptado e interpretado por CHICO DIAZ, trazendo à cena um
personagem em busca de sentido, em meio ao caos da existência.
Walter CAMPOS DE CARVALHO nasceu
em Uberaba,
em 1916
e faleceu em 1998, na cidade de São Paulo. Embora tivesse escrito
vários gêneros, notabilizou-se, sobretudo, por sua ficção, que envolve cinco
romances, uma novela, um conto, muitas crônicas, além de dezenas de poemas. Sua
obra ficcional já foi associada ao “surrealismo”, ao “nonsense”,
ao “absurdo”,
ao “insólito”,
ao “misticismo”,
ao “gnosticismo” (Conjunto
de doutrinas religiosas que enfatizam o conhecimento – “gnosis – como caminho
para a salvação.) e ao “estranho”, informação que devem ter
todos os que vão assistir a esta montagem. A “estranheza” é, sem
sombra de dúvida, uma de suas grandes marcas, a maior de todas, o que pode
incomodar um pouco o espectador no início da peça, porém este logo se acostuma
e entende a proposta do espetáculo, por mais “estranha” que possa
parecer.
SINOPSE:
Acreditando estar em um “hotel
de luxo”, um homem isolado do mundo, que pode ter vários nomes próprios
-
Adilson, Leonildo, Ruy Barbo ou Astrogildo -, prova de que não sabe bem
quem seja, escreve suas memórias, para mostrar até onde chega a fabulosa
aventura humana e, depois, as leva ao conhecimento de seus semelhantes, “hóspedes”
do mesmo “hotel” – o público -, pois pensa estar,
assim, prestando um serviço enorme à cultura universal.
Entre grandes devaneios e escrita
compulsiva, registra suas memórias.
Reúnem-se, diariamente, num grande
pátio, onde trocam importantes informações e visões deste e de outros mundos.
Não se sabe em que instância
narrativa pertence; se é lembrança, fato sendo vivido ou invenção.
O tempo passa.
Após algumas decepções e experiências
duras, descobre não estar em um hotel, e sim em tenebroso “campo de concentração”;
na verdade, um manicômio, um hospício real.
Trata-se de um monólogo contundente, oportuno, reflexivo, bem humorado, trazendo
questões do mundo moderno a serem discutidas. Não li o livro – mas
vou fazê-lo – e, portanto não sei se procede a informação de que a
adaptação está perfeita, no que acredito piamente. E mais: este recorte novo (uma
segunda montagem da peça) está muito parecido com o original, de 2011,
e é, basicamente, o mesmo espetáculo, “com mais leveza e mais humor, mais próprio
dos tempos que correm”. Lá isso é verdade. O fato é que, como assisti
ao espetáculo, naquela primeira montagem, há quase 15 anos, só posso acrescentar
que gostei mais desta, por sentir que o texto é mais aplicável à
loucura do mundo hodierno.
Quanto
à estrutura cênica da montagem, o espetáculo se constrói como um diário em cena,
marcado, cronologicamente, por projeções, numa tela ao fundo, especificando
cada momento do livro, o que ajuda muito o espectador a seguir a narrativa e se
encontrar nela. Dividido em duas partes, a primeira revela o percurso do “Eu”,
quando o protagonista explora as vozes que habitam sua mente. Na segunda, ele
parte para o percurso pelo mundo, confrontando uma realidade tão, ou mais,
absurda que sua própria loucura.
Retirado do “release”,
que recebi da produção (HERNANE
CARDOSO): “Em constante fluxo entre lembrança, invenção e delírio, ‘A LUA VEM DA
ÁSIA’ propõe uma crítica mordaz ao mundo moderno”. Nas palavras do
próprio CAMPOS DE CARVALHO, trata-se
de um “gigantesco grito lançado sobre a vulgar balbúrdia cotidiana”.
Embora,
geograficamente, confinado, o personagem-narrador “viaja, pelo imaginário, para
geografias improváveis. Seu único escape é a linguagem — e é através dela que
ele busca libertar-se, convocando o público como ouvinte atento de suas
memórias e reflexões”.
Segundo CHICO DIAZ, “...a obra se mantém atualíssima,
no que diz respeito à lucidez, confrontada com a barbárie dos tempos atuais”.
Trabalhou
com bastante correção toda a FICHA TÉCNICA desta peça, passando pela
acertada adaptação, de DIAZ,
e a direção
original, de MOACIR CHAVES,
chegando à cenografia e o figurino, cujas autorias não são
reveladas, mas apurei serem uma adaptação do próprio CHICO DIAZ, para os originais da primeira montagem; Destacam-se,
também, o desenho de luz, de RODRIGO
BELAY, a trilha sonora, assinada por ALFREDO SERTÃ, e a preparação vocal, executada por ROSE GONÇALVES.
Com relação
ao último elemento citado, quero fazer um registro, que julgo assaz pertinente,
com relação à voz do grande ator CHICO
DIAZ, que nos oferece um trabalho primoroso de interpretação, um dos
melhores de sua vitoriosa carreira, uma verdadeira aula de TEATRO. Parece-me que os
atores, hoje em dia, via de regra, com raras exceções, esqueceram suas lições de
dicção, impostação e projeção de voz, os mais jovens, por excelência, e só se
sentem confortáveis com o auxílio de microfones de lapela ou de outros tipos,
incluindo os direcionais. CHICO não
faz uso de nenhuma muleta tecnológica, para fazer sua possante e agradável voz
chegar a todo o auditório do Teatro Vannucci, com transparência e
clareza e – detalhe importantíssimo – com uma das melhores dicções que
conheço. O público, empenhado, agradece.
Sou do tempo
em que nossos mestres – VIVA DONA GLORINHA
BEUTENMÜLLER!!! – nos ensinavam a projetar a voz, de modo que a “velhinha
meio surda, sentada na última fileira do balcão, e que pagou inteira (Não havia
meia-entrada para idosos naquela época.) pudesse ouvir nitidamente o que os
atores diziam, porque era direito dela”. É uma pena que isso já não
seja tão aplicado.
FICHA TÉCNICA:
Baseado na
obra homônima de Campos de Carvalho
Adaptação:
Chico Diaz
Direção
Original: Moacir Chaves
Interpretação:
Chico Diaz
Desenho de
Luz: Rodrigo Belay
Preparação
Vocal: Rose Gonçalves
Trilha
Original: Alfredo Sertã
Operação
de Som: João Guilherme Benna
Operação
de Luz: Marco Cardi
Fotos: Pedro Lamare, Hernane Cardoso e Franco Salvone
Produção Geral:
Hernane Cardoso
Assistência
de Produção: Maria Soares e Jovi Gonçalves
Assessoria
de Imprensa: Louise
Cavadinha
SERVIÇO:
Temporada: De 05/07/2025 a 31/08/2025.
Local: Teatro Vannucci.
Endereço: Rua Marquês de São Vicente, nº 52 – 3º
andar – Shopping da Gávea – Gávea – Rio de Janeiro.
Dias e Horários: Sábado, às 20h30min; domingo, às
19h30min.
Valor dos Ingressos: R$ 120 (inteira) e R$ 60
(meia-entrada).
Ingressos: Bilheteria do Teatro e pela plataforma
SYMPLA.
Classificação Etária: 14 anos.
Duração: 75 minutos.
Gênero: Monólogo.
Se o solo não tivesse
outros quesitos que me fizessem RECOMENDÁ-LO
com enorme satisfação – E ele apresenta muitos. -, bastava
a oportunidade de assistir a uma esplêndida aula de interpretação teatral que
nos oferece CHICO DIAZ.
A Lua Vem da
Ásia – Chico Diaz – Foto: Líbia Florentinos
FOTOS: PEDRO LAMARE,
HERNANE CARDOSO e
FRANCO SALVONE
É preciso ir ao
TEATRO, ocupar todas as salas de espetáculo,
visto que a arte educa e constrói, sempre; e salva. Faz-se necessário resistir sempre
mais. Compartilhem esta crítica, para que, juntos, possamos divulgar o que há
de melhor no TEATRO brasileiro!
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