segunda-feira, 21 de julho de 2025

“A LUA VEM

DA ÁSIA”

ou

(UMA GRANDE 

AULA DE

INTERPRETAÇÃO

TEATRAL.)

ou

(“UM DELÍRIO

POÉTICO DE UM

HOMEM À MARGEM

DA RAZÃO”.)

 


         Está em cartaz, no Teatro Vannucci, um ótimo solo: “A LUA VEM DA ÁSIA”, muito bem sintetizado pelo segundo subtítulo desta crítica. O instigante espetáculo é inspirado na obra do escritor mineiro CAMPOS DE CARVALHO, adaptado e interpretado por CHICO DIAZ, trazendo à cena um personagem em busca de sentido, em meio ao caos da existência.



Walter CAMPOS DE CARVALHO nasceu em Uberaba, em 1916 e faleceu em 1998, na cidade de São Paulo. Embora tivesse escrito vários gêneros, notabilizou-se, sobretudo, por sua ficção, que envolve cinco romances, uma novela, um conto, muitas crônicas, além de dezenas de poemas. Sua obra ficcional já foi associada ao “surrealismo”, ao “nonsense”, ao “absurdo”, ao “insólito”, ao “misticismo”, ao “gnosticismo” (Conjunto de doutrinas religiosas que enfatizam o conhecimento – “gnosis – como caminho para a salvação.) e ao “estranho”, informação que devem ter todos os que vão assistir a esta montagem. A “estranheza” é, sem sombra de dúvida, uma de suas grandes marcas, a maior de todas, o que pode incomodar um pouco o espectador no início da peça, porém este logo se acostuma e entende a proposta do espetáculo, por mais “estranha” que possa parecer.




 

SINOPSE:

Acreditando estar em um “hotel de luxo”, um homem isolado do mundo, que pode ter vários nomes próprios - Adilson, Leonildo, Ruy Barbo ou Astrogildo -, prova de que não sabe bem quem seja, escreve suas memórias, para mostrar até onde chega a fabulosa aventura humana e, depois, as leva ao conhecimento de seus semelhantes, “hóspedes” do mesmo “hotel” – o público -, pois pensa estar, assim, prestando um serviço enorme à cultura universal.

Entre grandes devaneios e escrita compulsiva, registra suas memórias.

Reúnem-se, diariamente, num grande pátio, onde trocam importantes informações e visões deste e de outros mundos.

Não se sabe em que instância narrativa pertence; se é lembrança, fato sendo vivido ou invenção.

O tempo passa.

Após algumas decepções e experiências duras, descobre não estar em um hotel, e sim em tenebroso “campo de concentração”; na verdade, um manicômio, um hospício real.


 

 


         Trata-se de um monólogo contundente, oportuno, reflexivo, bem humorado, trazendo questões do mundo moderno a serem discutidas. Não li o livro – mas vou fazê-lo – e, portanto não sei se procede a informação de que a adaptação está perfeita, no que acredito piamente. E mais: este recorte novo (uma segunda montagem da peça) está muito parecido com o original, de 2011, e é, basicamente, o mesmo espetáculo, “com mais leveza e mais humor, mais próprio dos tempos que correm”. Lá isso é verdade. O fato é que, como assisti ao espetáculo, naquela primeira montagem, há quase 15 anos, só posso acrescentar que gostei mais desta, por sentir que o texto é mais aplicável à loucura do mundo hodierno.




         Quanto à estrutura cênica da montagem, o espetáculo se constrói como um diário em cena, marcado, cronologicamente, por projeções, numa tela ao fundo, especificando cada momento do livro, o que ajuda muito o espectador a seguir a narrativa e se encontrar nela. Dividido em duas partes, a primeira revela o percurso do “Eu”, quando o protagonista explora as vozes que habitam sua mente. Na segunda, ele parte para o percurso pelo mundo, confrontando uma realidade tão, ou mais, absurda que sua própria loucura.



Retirado do “release”, que recebi da produção (HERNANE CARDOSO): “Em constante fluxo entre lembrança, invenção e delírio, ‘A LUA VEM DA ÁSIA’ propõe uma crítica mordaz ao mundo moderno”. Nas palavras do próprio CAMPOS DE CARVALHO, trata-se de um “gigantesco grito lançado sobre a vulgar balbúrdia cotidiana”.



Embora, geograficamente, confinado, o personagem-narrador “viaja, pelo imaginário, para geografias improváveis. Seu único escape é a linguagem — e é através dela que ele busca libertar-se, convocando o público como ouvinte atento de suas memórias e reflexões”.



Segundo CHICO DIAZ, “...a obra se mantém atualíssima, no que diz respeito à lucidez, confrontada com a barbárie dos tempos atuais”.



Trabalhou com bastante correção toda a FICHA TÉCNICA desta peça, passando pela acertada adaptação, de DIAZ, e a direção original, de MOACIR CHAVES, chegando à cenografia e o figurino, cujas autorias não são reveladas, mas apurei serem uma adaptação do próprio CHICO DIAZ, para os originais da primeira montagem; Destacam-se, também, o desenho de luz, de RODRIGO BELAY, a trilha sonora, assinada por ALFREDO SERTÃ, e a preparação vocal, executada por ROSE GONÇALVES.



Com relação ao último elemento citado, quero fazer um registro, que julgo assaz pertinente, com relação à voz do grande ator CHICO DIAZ, que nos oferece um trabalho primoroso de interpretação, um dos melhores de sua vitoriosa carreira, uma verdadeira aula de TEATRO. Parece-me que os atores, hoje em dia, via de regra, com raras exceções, esqueceram suas lições de dicção, impostação e projeção de voz, os mais jovens, por excelência, e só se sentem confortáveis com o auxílio de microfones de lapela ou de outros tipos, incluindo os direcionais. CHICO não faz uso de nenhuma muleta tecnológica, para fazer sua possante e agradável voz chegar a todo o auditório do Teatro Vannucci, com transparência e clareza e – detalhe importantíssimo – com uma das melhores dicções que conheço. O público, empenhado, agradece.




Sou do tempo em que nossos mestres – VIVA DONA GLORINHA BEUTENMÜLLER!!! – nos ensinavam a projetar a voz, de modo que a “velhinha meio surda, sentada na última fileira do balcão, e que pagou inteira (Não havia meia-entrada para idosos naquela época.) pudesse ouvir nitidamente o que os atores diziam, porque era direito dela”. É uma pena que isso já não seja tão aplicado.



 

FICHA TÉCNICA:

Baseado na obra homônima de Campos de Carvalho

Adaptação: Chico Diaz

Direção Original: Moacir Chaves

 

Interpretação: Chico Diaz

 

Desenho de Luz: Rodrigo Belay

Preparação Vocal: Rose Gonçalves

Trilha Original: Alfredo Sertã

Operação de Som: João Guilherme Benna

Operação de Luz: Marco Cardi

Fotos: Pedro Lamare, Hernane Cardoso e Franco Salvone

Produção Geral: Hernane Cardoso

Assistência de Produção: Maria Soares e Jovi Gonçalves

Assessoria de Imprensa: Louise Cavadinha






 

SERVIÇO:

Temporada: De 05/07/2025 a 31/08/2025.

Local: Teatro Vannucci.

Endereço: Rua Marquês de São Vicente, nº 52 – 3º andar – Shopping da Gávea – Gávea – Rio de Janeiro.

Dias e Horários: Sábado, às 20h30min; domingo, às 19h30min.

Valor dos Ingressos: R$ 120 (inteira) e R$ 60 (meia-entrada).

Ingressos: Bilheteria do Teatro e pela plataforma SYMPLA.

Classificação Etária: 14 anos.

Duração: 75 minutos.

Gênero: Monólogo.


 



        

         Se o solo não tivesse outros quesitos que me fizessem RECOMENDÁ-LO com enorme satisfação – E ele apresenta muitos. -, bastava a oportunidade de assistir a uma esplêndida aula de interpretação teatral que nos oferece CHICO DIAZ.

 

 

 

A Lua Vem da Ásia – Chico Diaz – Foto: Líbia Florentinos

FOTOS: PEDRO LAMARE,

HERNANE CARDOSO e

FRANCO SALVONE

 

 

 


 

É preciso ir ao TEATRO, ocupar todas as salas de espetáculo, visto que a arte educa e constrói, sempre; e salva. Faz-se necessário resistir sempre mais. Compartilhem esta crítica, para que, juntos, possamos divulgar o que há de melhor no TEATRO brasileiro!





















































































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