"TOM JOBIM
MUSICAL"
ou
(O QUE DE MELHOR MERECE UM
GÊNIO
DA MÚSICA,
UM "MAESTRO SOBERANO")
ou
"SE TODOS FOSSEM,
NO MUNDO,
IGUAIS A VOCÊ..."
Chico
Buarque, outro gênio, não
é do time dos “fracos” e “sabe das coisas”, a ponto de, em
sua canção “Paratodos”, se
referir, em homenagem, a Antônio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim, como “meu maestro soberano”. Nosso
maestro soberano, meu caro
amigo; um maestro
soberano do mundo. NELSON MOTTA, PEDRO BRÍCIO, JOÃO
FONSECA, produtores e um batalhão de artistas
e técnicos também, por
“saberem das coisas”, se reuniram para prestar uma linda e justíssima
homenagem àquele “maestro soberano”, simplesmente conhecido, no
mundo inteiro, como TOM JOBIM,
num espetáculo emocionante, encantador e que jamais será apagado da mente e dos
corações dos que assistirem a ele. Refiro-me a “TOM JOBIM MUSICAL”, em
cartaz no Teatro Casa Grande, Rio de Janeiro, para uma extensa e
merecida temporada. Mas, por favor, não sejam “brasileiros”, uma vez na vida, pelo menos, e não deixem para
ir nos últimos dias da referida temporada, porque estarão correndo o risco de não
conseguir ingressos, os quais vêm sendo esgotados, em todas as sessões (VER SERVIÇO.).
Assisti a essa maravilha de musical duas vezes, a convite
de dois queridos amigos: Leo Haus, diretor artístico do Teatro Casa Grande
(a primeira vez) e JOÃO
FONSECA, diretor da peça (a segunda), aos quais agradeço, de
coração; e seria capaz de assistir à peça outras vezes mais, pelo imenso prazer
de rever o musical, em si, e poder ouvir tantas OBRAS-PRIMAS da música popular brasileira, reunidas e
interpretadas por atores e atrizes da primeira linha do TEATRO MUSICAL BRASILEIRO.
“Soberano”, além de outas acepções,
é um adjetivo que significa “que
possui suprema autoridade”, “que
é capaz de exercer o poder de maneira
extrema”; “que
está acima de tudo e todos”. E não é, exatamente, tudo o que era, ou
ainda é, e sempre será, TOM JOBIM, como músico e compositor?
Não estava mais que certo Chico, quando escreveu a letra da
canção: “Meu maestro soberano foi Antônio
Brasileiro.”, como se TOM tivesse
sido seu mestre? E não poderia ter sido? Um deles, pelo menos.
Parece que foi ontem, mas já se passaram
30 anos do dia em que o “passarim” deu o seu último pio e voo, para
não pousar mais por estas bandas, porém deixando um invejável legado de ouro.
Já era tempo de se prestar, a TOM
JOBIM, a belíssima homenagem ora concretizada no palco do Teatro Casa Grande, “uma montagem emocionante, que retrata a
vida e o legado do maior artista popular do Brasil”. Numa “viagem”, que vai da icônica praia
de Ipanema, nos anos 1950, até suas conquistas
internacionais, em Nova York,
onde difundiu a Bossa Nova
para mundo, o público tem a rara oportunidade de assistir a um corretíssimo musical,
do ponto de vista de pesquisa, tecnologia e plasticidade, o qual enaltece a
importância de TOM JOBIM, que não é pouca, para a cultura musical do país e desperta o
orgulho de ser brasileiro. (Aqui,
gostem ou não, faço questão, mais uma vez, de confessar que poucas coisas,
pouquíssimas mesmo, me fazem sentir orgulho de ter nascido no Brasil; TOM JOBIM é uma delas.) “Amado,
por sua música, inteligência e humor, TOM JOBIM mostrou, ao mundo, o melhor do Brasil.”
SINOPSE:
O espetáculo “TOM JOBIM MUSICAL” é uma montagem que retrata a vida e o legado
do artista brasileiro, um dos maiores nomes da música popular do país.
O espetáculo celebra a essência da bossa nova
e a importância de TOM JOBIM na cultura musical brasileira e universal.
A minha fiel sinceridade me obriga a
dizer que, já de um bom tempo, não venho tendo muita paciência para com os chamados
“musicais biográficos” e,
consequentemente, já não me sinto tão ansioso por eles, ainda que não perca um.
Infelizmente, venho experimentando algumas decepções e os motivos, via de
regra, são muitos, sendo o mais comum a repetição
do mesmo formato. Já está ficando chata a falta de criatividade. Com a
minha experiência de décadas trabalhando com TEATRO, já até imagino a cena seguinte e os finais; tudo um
clichê, pasteurizado, embrulhado com o mesmo papel de presente. Poucas produções do gênero têm me agradado, nos últimos tempos, a ponto de me despertar
“tesão” para escrever sobre elas, e “TOM JOBIM MUSICAL” é uma delas, sem a
menor ponta de dúvida.
Trata-se de uma superprodução, que reúne, num palco, 27 atores e 15 músicos, além de, nos bastidores, muitos artistas de criação e técnicos, os quais, de forma honesta, muito profissional e competente, garantem o sustento próprio e o de suas famílias, graças à ARTE e à garantia de uma “Lei de Incentivo Fiscal”, a conhecida “Lei Rouanet”, tão criticada por tantos ignorantes, que não conhecem como ela funciona, ou não querem conhecer, os mesmos que vivem “vomitando” que “os artistas mamam nas tetas do Governo”. O espetáculo também conta com apoios diversos, sem o que seria impossível erguer um espetáculo de tal jaez.
As honrarias a este trabalho começam
por quem escreveu seu roteiro,
o texto, NELSON MOTTA e
PEDRO BRÍCIO, por dois motivos: o vasto, profundo, detalhado e profícuo trabalho de pesquisa
e a faina de alinhavar todas as informações obtidas, pós-selecionadas, numa
sequência de quadros, ora cronológica, ora não. Aliás, com relação a esse
detalhe, um dos fatores que fazem com que este musical biográfico, que muito me encantou, fuja à mesmice é
a desobediência à cronologia, colocando-se TOM e Vinicius de Moraes, por exemplo, contracenando,
antes mesmo de se conhecerem na vida real. No TEATRO, vale tudo; ou quase. Também é original e interessante,
além de agradar muito à plateia, o retorno de “Vini” à “terra dos
ainda encarnados”, depois de morto, com um narrador, função do personagem em boa parte da peça. (Faz de conta que não dei um
“spoillerzinho”). Os autores não deixaram passar nada de importante, na
vida pessoal e profissional, de TOM
(Alguma coisa assim teria ficado de
fora?) e tudo está organizado em cenas muito bem elaboradas, do ponto
de vista dramatúrgico. A dramaturgia é das melhores que já tive a
oportunidade de ver em musicais biográficos.
Um bom texto será sempre considerado, por mim, a espinha dorsal de
uma peça de TEATRO, em
qualquer que seja seu gênero, entretanto, poderá vir a se tornar uma “pérola atirada aos porcos” (Observação: os “porcos” a que se refere a
metáfora utilizada não são, ABSOLUTAMENTE, os espectadores. Que isso fique bem claro! É que me deu vontade de utilizar esse dito
popular, de grande profundidade.), se não houver um bom diretor, para pensar em como tirar do papel as palavras e
transformar tudo em movimentos, posturas e ações. É aí que entra a colaboração
indispensável de quem tem, em seu currículo, vários sucessos, como diretor de musicais: JOÃO FONSECA,
o “maestro” em “Tim Maia – Vale Tudo, O Musical” (2010),
“Cazuza - Pro Dia Nascer Feliz”, O
Musical” (2013), “Cássia Eller
– O Musical” (2014), “O Grande
Circo Místico” (2014), “Bilac
Vê Estrelas” (2015), “O Beijo
No Asfalto – O Musical” (2015), “A
Vida Não É Um Musical” (2018/2019), “Bonnie & Clyde – O Musical” (2023), “Kafka E A Boneca Viajante (2023/2024)
e “O Rei do Rock” (2024), além de outros títulos. Por
várias vezes, recebeu indicações a prêmios e ganhou alguns. O trabalho de direção de JOÃO FONSECA, em “TOM JOBIM MUSICAL” cheira a mais
premiações.
Para não comprometer seu trabalho, um bom diretor - também não importa o gênero de espetáculo que lhe caia às mãos –
precisa se cercar de bons
profissionais, dos melhores que há no mercado, uma vez que, sendo o TEATRO a “arte do coletivo”, se não houver harmonia, em todas as “camadas” – termo da moda - entre os responsáveis por cada “tijolinho da construção”, a obra
não ficará como seria de se esperar dela. JOÃO FONSECA e a produção
do espetáculo rumaram, acertadamente, na direção de grandes artistas,
com cujos trabalhos poderiam contar para a perfeição da obra final.
O espetáculo me ganhou por todos os
elementos que nele existem, e não poderia ficar de fora tudo o que se
refere à plasticidade. Começo,
assim, os comentários pela cenografia,
assinada, a quatro mãos, por dois dos nossos melhores cenógrafos, NATÁLIA LANA e NELLO MARRESE. NATÁLIA
vem sendo apontada como “a cenógrafa do
momento”, e o meu nome é o que abre a lista de assinaturas, e NELLO
é um consagrado artista, que muitos trabalhos de JOÃO FONSECA assinou,
como cenógrafo, ao longo da
carreira dos dois. A dupla optou por uma base fixa, em dois planos, ao fundo do
palco, com detalhes de arremates que me pareceram lembrar as ondas das calçadas
de Copacabana (Será?!) também
aplicados ao proscênio. Nesse espaço, ficam acomodados os músicos de uma excelente
orquestra. Em pouquíssimas cenas, atores cantam na plataforma superior. Além
dessa base fixa, vários elementos cênicos entram em cena e saem dela, para
formar diversos ambientes, obedecendo a uma ótima economia de acessórios, com
destaque para um piano, o qual, de forma genial, também é um bar - transforma-se num -, na parte
posterior.
Ainda no plano dos elementos plásticos, muito me
agradaram os figurinos, em
grande quantidade e diversidade, desenhados por THEODORO COCHRANE. Como a
narrativa se estende por algumas décadas, THEO precisou estar atento, utilizando
uma ótima pesquisa, às tendências de cada época e, com seu toque personalíssimo
e muito criativo, deu forma a dezenas de trajes, todos ajustadíssimos aos
personagens, utilizando uma profunda variação de cores e materiais diversos.
Mais um brilhante trabalho desse artista.
E não param por aqui os comentários, todos
positivos, que merece a parte visual desta montagem. CAETANO VILELA
acertou, em cheio, no desenho de luz,
quer na utilização de uma paleta variadíssima e muito alegre, para as cenas que
pedem esse tipo de iluminação, quer quando opta por cores mais tímidas, frias e
menos vibrantes, quando isso se faz necessário. O trabalho de CAETANO é
um dos melhores que observei este ano, em termos de desenho de luz.
O que não falta em “TOM JOBIM
MUSICAL” são coreografias,
envolvendo o elenco inteiro ou parte dele, algumas vezes. Esse detalhe concede
muito dinamismo ao espetáculo e é fruto do talento de GABRIEL MALO e
BÁRBARA GUERRA, dois conceituados profissionais do ramo, que vêm assinando,
separadamente, alguns dos maiores musicais, principalmente em São Paulo, e merecendo premiações
por isso. É preciso que o espectador esteja bem atento a cada número
coreográfico, porque eles contêm detalhes milimétricos, que funcionam muito, no
conjunto.
Às vezes, um profissional, seja em que
área atue, tem que ter muita “coragem”,
“ousadia” e “confie muito no seu taco”. Nesta
produção, aplaudo essas características em três artistas, especialmente, sendo
um deles duplamente: THIAGO GIMENES, que, além de assumir a direção musical do espetáculo, ainda
é um dos responsáveis pelos arranjos
musicais e orquestrações,
tarefa que divide com IVAN DE ANDRADE e TIAGO SAUL. E por que
eles merecem tanto os nossos aplausos? Simplesmente, porque não estão lidando
com a música de qualquer um; o trio
trabalhou, de forma impecável, com canções de um gênio. Todos os
arranjos e as orquestrações são dignos do talento de TOM. A quantidade de canções, de TOM JOBIM e seus vários
parceiros, no espetáculo, é farta e fantástica, que não consigo computar (Até gostaria de ter acesso ao “set list”,
mas já foi tão difícil conseguir chegar ao “release” do espetáculo...),
cantadas na íntegra ou em trechos, e, ainda, sob a forma de “mush-up”, uma composição criada por mistura de duas ou
mais músicas, ambas na mesma pista instrumental. Infelizmente, muitos grandes sucessos
ficaram de fora da trilha sonora, o que é, perfeitamente, compreensível. Se todos
tivessem entrado na montagem, o musical entraria para o “Guiness Book”, como “o
espetáculo musical de TEATRO mais longo de todos os tempos”. Parece-me ter lido, em algum lugar, que são 30 canções, mas ficou-me a impressão de que o número é maior.
Aproveitando que estamos na área musical, que
envolve som, sonoridade, é oportuno citar o
correto trabalho de TOCKO MICHELAZZO, que garante o trajeto do som, do
palco à última fileira do balcão, de forma cristalina, “comme il faut”. Não escutei, nas duas vezes, nenhuma reclamação
sobre o som da peça, o que, de
certa forma, é comum acontecer aqui ou ali. Ao contrário, percebi elogios, que engrosso.
O trabalho de caracterização, num espetáculo teatral, via de regra, passa ao
largo, pelos espectadores e pelos críticos e jurados de prêmios, entretanto é
um detalhe que sempre me prende a atenção, mais ainda quando se trata de uma
peça de época, ou que faz referências a épocas passadas, como o caso do
espetáculo em tela, para que não ocorram exageros nem bizarrices. Sendo assim,
é meu dever respeitar e elogiar o excelente trabalho de ANDERSON BUENO e
SIMONE MOMO. Ambos valorizaram cada detalhe no visagismo de todos os personagens. Os atores não tinham a
obrigação de ficar com a mesma cara do personagem, porém era preciso que chegassem
perto disso, não só no aspecto de identidade visual, da semelhança física, mas também
com relação aos trejeitos externos de cada um ser representado, que também
conta muito com o trabalho de direção
de movimento, rubrica que não se faz presente, na FICHA TÉCNICA do espetáculo, contudo
me parece ter o dedo da dupla responsável pela coreografia. Está de parabéns o casal de profissionais do visagismo, ANDERSON e SIMONE. Destaque para a caracterização de OTÁVIO MÜLLER, como Vinicius de Moraes.
Agora, já começo a me deixar dominar
pelo medo de poder esquecer algum detalhe relativo ao brilhante elenco do musical. De uma forma geral, afirmo,
peremptoriamente, que todos atuam com conhecimento de causa, ou
seja, sabem muito bem o que estão fazendo e como devem fazê-lo. Economizando
palavras: O ELENCO É “FORMIDÁVEL”. (O adjetivo é uma homenagem que faço a um
ser especial para todos nós, principalmente da “turma do TEATRO”: DONA Fernanda
Montenegro, que faz uso excessivo dele.). É claro que os atores que representam os principais
personagens da peça merecerão um destaque nos comentários.
Tão
logo soube que TOM JOBIM seria
vivido por ELTON TOWERSEY, comecei a enxergar o sucesso da montagem,
porque, para quem acompanha a vitoriosa carreira deste jovem ator, de 29 anos, e cara de 18, essa escolha
já seria o primeiro acerto do que estava para vir. Conheço o trabalho do ELTON
desde seus 13 anos, quando
estreou numa das versões do icônico “A
Noviça Rebelde (2008)”, mas nos tornamos amigos a partir de sua
participação em “Gypsy (2010),
ele com 15 anos. De lá para cá,
aprendi a aplaudi-lo, em todos os seus trabalhos e jamais o vi se sair mal em
nenhum deles. E olha que ele já atua
em musicais há mais que uma década e meia. Cito alguns: “O Homem de la Mancha”, “My Fair Lady”, “A
Madrinha Embriagada”, “O Mágico de Oz”, “Shrek”,
“Raia
30 Anos”, “Ghost”, “A Pequena
Sereia – O Musical” “Annie” e “Sweeney Todd – O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet”, não
citados na ordem cronológica.
Além de um ótimo ator, ELTON também é cantor, sapateador,
músico,
arranjador,
diretor
musical, dublador, dramaturgo e compositor, um
reconhecidíssimo autor de trilhas sonoras para musicais, tendo
assinado as canções de obras como “Iron
– O Homem da Máscara de Ferro”, “Bom Dia Sem Companhia”, “Donatello” e “Se Essa Lua Fosse Minha”, espetáculo este que lhe rendeu
um merecido prêmio de Melhor Letra e Música Originais. Ao
saber que ele seria o protagonista da peça, fiquei feliz,
visto que, de um tempo para cá, passou a atuar menos e a se dedicar mais à música
para TEATRO. Sem o menor pudor ou preocupação com possíveis
julgamentos, considero ELTON TOWERSEY um
“geninho”; e não é de hoje. São vários esplêndidos artistas num só, numa
só pessoa.
Por tudo isso, fiquei bastante curioso para ver como ele se sairia no papel, e o que vi
não merece um adjetivo inferior a “estupendo”, ou algo semelhante. É
espantosa a transformação de um ator em personagem, como acontece com ELTON neste papel. O que mais me
impressionou, na sua composição artística, foi a sua maneira de falar e cantar,
como TOM
JOBIM. Ele atingiu o timbre e o ritmo da voz do homenageado. É
indescritível e, a título de informação, ouvi dizer, na minha segunda vez ao Casa
Grande, da boca de gente da produção, que parentes e amigos de TOM
fizeram comentários a respeito de traços, trejeitos e manias muito pessoais do
artista, ao falar e quando cantava, reconhecidos na interpretação de ELTON, o que é fruto de um minucioso trabalho
de pesquisa do ator. É o primeiro protagonista em sua carreira. ELTON TOWERSEY, além de atuar, cantar e
participar de algumas coreografias aqui, ainda toca piano, ao vivo, acompanhando-se
e a outros
atores.
A OTÁVIO MÜLLER coube ser Vinícius de Moraes, durante as quase três horas de duração do espetáculo, contando-se os 15 minutos que separam os dois atos. OTÁVIO, que foi meu aluno, na adolescência, e já demonstrava o que faria quando adulto, é uma atração à parte, nesta história. Os autores da peça retrataram, muito bem detalhadamente, o relacionamento entre TOM e Vinícius, parceiros em dezenas de canções. Mas o que chama a atenção, no trabalho de MÜLLER é a sua capacidade de representar o “Poetinha”, de uma forma tão específica: seu jeito de falar, seu humor inteligente e seu “cinismo orgânico”. O espetáculo é um musical “para cima”, e muito disso se deve às participações de OTÁVIO MÜLLER, que tem uma maneira muito pessoal de fazer humor, de forma sarcástica, como se estivesse dizendo as maiores verdades e coisas sérias. Em vários momentos em que são executados os sucessos de TOM, OTÁVIO conclama a plateia a cantar junto, transformando a cena numa festa bem popular. Uma composição de personagem tão perfeita, posso dizer, quanto à de ELTON, como TOM. Na pele do personagem, OTÁVIO participa de cenas e, ao mesmo tempo, funciona como um narrador na história, fazendo os liames entre os vários momentos da vida do protagonista.
O elenco
é numeroso e cada um dos aprovados nas audições ou diretamente convidados pela produção/direção
não dispensa nada de bom que pudesse agregar valor ao seu personagem. Alguns
representam mais de um. As duas atrizes que interpretam as esposas de TOM,
BELA
QUADROS (Thereza, a primeira) e ESTRELA BLANCO (Ana Lontra, a segunda)
dão o seu recado com correção e graça, ambas com grande experiência em
musicais. Sem, absolutamente, desfazer de nenhum trabalho, vou me ater apenas a
alguns comentários, que me chamaram mais a atenção: JEAN AMORIM não se
parece, em nada, com João Gilberto, fisicamente, mas é só
fechar os olhos, e esse outro grande gênio da MPB nos vem à mente. MARCEL OCTAVIO não precisa se esforçar
muito para “ser” Frank Sinatra. LUCAS
DA PURIFICAÇÃO é ovacionado, pela plateia, quando assume seu Jair
Rodrigues. ANALU PIMENTA é
destaque em qualquer musical de que participa, e não seria diferente aqui, quer
na pele de Dolores Duran, quer como Elza Soares. FELIPE ADETOKUNBO nos traz à memória o talento de Johnny
Alf. Um dos maiores parceiros de TOM,
e grande injustiçado, Newton Mendonça, é muito bem
interpretado por WILL ANDERSON. Outro
grande cantor negro que marcou a nossa música é Agostinho dos Santos,
vivido por JOW BLACK. MOIRA OSÓRIO, tão frequente em grandes
musicais em São Paulo, nos presenteia, com muita graça, no papel de Astrud Gilberto. SAULO SEGRETO, um jovem veterano em musicais, está sempre pronto,
para entrar em qualquer cena, em personagens diferentes.
No dia em
que assisti ao musical pela segunda vez, houve algumas pequenas alterações no elenco,
o que é muito comum acontecer, por vários motivos. Destaco WILL ANDERSON, dando seu recado como Vinicius de Moraes e MOIRA OSÓRIO, como Elis Regina. Se mais
substituições houve, não me ocorrem no momento.
FICHA TÉCNICA:
Texto: Nelson Motta e Pedro Brício
Direção: João Fonseca
Arranjos Musicais e Orquestração: Thiago Gimenes, Ivan de Andrade e
Tiago Saul
Direção Musical: Thiago Gimenes
ELENCO:
Tom Jobim – Elton Towersey
Vinicius de Moraes – Otávio Müller
João Gilberto – Jean Amorim
Frank Sinatra e Tom Jobim Alternante – Marcel Octavio
Ana Jobim – Estrela Blanco
Thereza – Bela Quadros
Elis Regina – Thainá Gallo
Jair Rodrigues – Lucas da Purificação
Elza Soares e Dolores Duran – Analu Pimenta
Eurídice – Ayana Amorim
Orfeu – Gabriel Vicente
Ary Barroso, Ensemble e Cover 2 de Tom Jobim – Tiago Herz
Johnny Alf e Ensemble– Felipe Adetokunbo
Billy Blanco, Ensemble e Cover de João Gilberto – Vinicius Loyola
César Camargo Mariano, Toquinho e Ensemble – Pablo Áscoli
Newton Mendonça e Ensemble – Will Anderson
Villa Lobos, Ensemble e Cover 2 de Vinicius de Moraes – Lucas Corsino
Helô Pinheiro e Ensemble – Carolina Amaral
Agostinho dos Santos e Ensemble – Jow Black
Astrud Gilberto e Ensemble – Moira Osório
Raimunda, Ensemble e Cover de Eurídice – Mariana Gomes
Miúcha, Ensemble e Cover de Elza – Joyce Cosmo
Dora Vasconcelos, Ensemble e “Dance
Captain” – Débora Polistchuck
Cole Porter, Garçom e Ensemble – Saulo Segreto
Swing masculino e Cover de Frank Sinatra– Pedro Arrais
Swing feminino – Giselle Lima
Swing feminino – Mirella Guida
Coreografia: Gabriel Malo e Bárbara Guerra
Cenografia: Natália Lana e Nello Marrese
Figurino: Theodoro Cochrane
Iluminação: Caetano Vilela
“Design” de Som: Tocko Michellazo
Direção Vídeográfica: Batman Zavareze
Visagismo: Anderson Bueno e Simone Momo
Produção Geral: Luiz Oscar Niemeyer, Júlio Figueiredo e Bárbara Guerra
Realização: Bonus Track e Barbaro! Produções
Produzido através de um acordo especial com a Jobim Music.
SERVIÇO:
Temporada: De 17 de outubro de 2024 a 23 de fevereiro de 2025 (Pausa na temporada: De 16 de dezembro de 2024 a 01 de janeiro de 2025).
Local: Teatro Casa Grande.
Endereço: Avenida Afrânio de Melo Franco, 290–A – Leblon – Rio de
Janeiro.
Telefone: (21) 2511-0800.
Dias e Horários: 5ªs e 6ªs feiras, às 20h; sábados e domingos, às 15h e
às 19h.
Valor dos Ingressos: Plateia VIP / Camarote: R$ 160 (meia-entrada) e R$
320 (inteira); Plateia Setor I: R$ 140 (meia-entrada) e R$ 280 (inteira); Balcão
Setor I: R$ 90,00 meia-entrada e R$ 180 (inteira); Balcão Setor II: R$ 21 (meia-entrada)
e R$ 42 (inteira).
Ingressos à venda na bilheteria do Teatro (sem taxa de conveniência) ou
pelo “site” eventim.com.br (com taxa
de conveniência).
Funcionamento da Bilheteria: 4ª feira: das 12h às 18h; de 5ª feira a domingo,
das 15h até 30 minutos após o início da última sessão.
Em dias de espetáculo, mesmo durante a semana, sempre a partir das 15h.
Formas de pagamento: dinheiro, cartão de débito, cartão de crédito (Bandeiras:
Visa, Mastercard, Elo).
Indicação Etária: Livre
Todas as sessões contam com audiodescrição e
libras
Gênero: Musical.
A importância de TOM JOBIM para a música internacional atemporal é tão
imensa, a ponto de um dos autores do texto, NELSON MOTTA, o comparar – e aqui conta com o meu total apoio – a nomes icônicos,
como os de Cole Porter, Gershwin, Irving Berlin, Duke
Ellington, Rogers e Hart,
Dylan, Stevie Wonder, Lennon e
McCartney, Richards e Jagger. “Garota de Ipanema” e “Águas de Março” estão entre os maiores ‘hits’
mundiais de todos os tempos, gravadas pelos maiores intérpretes do nosso tempo”,
continua NELSINHO. Ainda segundo ele – e mais uma vez conta com o meu humilde aval
-,
“não há um só, entre os gigantes da
música brasileira - Chico, Caetano, Gil, Milton, Edu Lobo, Paulinho da Viola,
João Bosco -, que não tenha bebido em sua generosa fonte. A parte mais difícil
de transformar sua vida e obra em um musical de TEATRO é a qualidade de suas
músicas. Como escolher apenas 30? O certo é que nenhum musical da Broadway teve,
tem ou terá um ‘score’ musical à altura do maestro soberano TOM JOBIM”,
comenta NELSON MOTTA. E não é que sou obrigado a concordar, mais
uma vez, com ele?!
Alguns dos destaques que anotei, quando
assisti pela segunda vez, que merecem um aplauso especial:
1) 1) Logo no início do
espetáculo, há um excelente “medley”
das canções de TOM, dançadas, seguindo uma excelente coreografia. Merece bastante atenção e é uma ótima cena
como cartão de visitas.
2) 2) Muito interessante
é o momento em que TOM adormece,
sobre o piano, e sonha com alguns de seus ídolos na música internacional. Bela
cena!
3) 3) A cena em que, por
sugestão de Lúcio Rangel, Vinicius convida TOM para musicar o espetáculo teatral
“Orfeu da Conceição” é bem
marcante. Foi a primeira parceria da dupla, a partir de quando se iniciou a
longa e profícua amizade entre os dois. Toda a parte referente ao “Orfeu”, como peça de TEATRO e, depois, como filme, “estragado por Marcel Camus”, é
deveras interessante.
4) 4) A participação de João Gilberto, na vida do
protagonista, é muito bem aproveitada e desenvolvida na peça, inclusive com
canções da dupla. A mania de perfeição de João Gilberto é um estopim para nos fazer rir.
5) 5) Dois excelentes momentos da peça estão ligados à execução de “Chega de Saudade” e “Garota de Ipanema”, canções que a plateia canta junto, bem animada, e aplaude muito, graças ao incentivo de OTÁVIO MÜLLER, não sei se, mais, como ator ou personagem; das duas formas, fã de TOM JOBIM.
6) 6) Excelente é a
ideia e mostrar “Garota de Ipanema”
como uma “canção do mundo”,
Interpretada em vários ritmos e idiomas, os mais diversos possíveis.
7) 7) TOM JOBIM tinha uma tremenda fobia por andar de avião e
quase deixa de participar de um espetáculo sobre a bossa nova, no Carnegie Hall, em Nova Iorque, o que só aconteceu, com
muita dificuldade, por conta da pressão feita sobre ele, da parte de Fernando Sabino e Vinicius de Moraes.
8) 8) Em função do sucesso
do “show”, TOM decidiu
ficar naquela cidade.
9) 9) A direção da peça,
de forma tão simples e original, colocou Vinícius
no Rio de Janeiro, dentro de
sua famosa banheira, ao lado do seu “combustível”,
o uísque, contracenando com TOM, em Nova Iorque. Nada de grande novidade, mas que funciona demais.
]110) Não ficou de fora o fato de TOM, de forma ingênua, ter sido ludibriado, na “terra do show business”, vendendo os direitos autorais de algumas de suas mais importantes canções por lá, por valores muito abaixo do que elas valiam e era merecido.
1111) Como é agradável ver e ouvir “Garota de Ipanema” interpretada por Astrud Gilberto (MOIRA OSÓRIO) e Stan Getz (TIAGO HERZ).
12) Não poderia ter ficado de fora a referência a um “câncer” na história do Brasil: o golpe militar de 1964 e a reação do povo, ante a metáfora presente – na letra - na excelente interpretação de “O Morro Não Tem Vez”, na voz de LUCAS DA PURIFICAÇÃO, como Jair Rodrigues. Momento de grande emoção na peça.
13) Quando TOM resolve voltar para o Brasil, foi muito bem escolhida, como ilustração, “Sabiá”, feita em parceria com Chico Buarque. A canção, belíssima, foi muito vaiada, em 1968, no “III Festival Internacional da Canção”, pelo público, que torcia por uma concorrente mais popular e não conseguia entender o recado contido na letra de “Sabiá”, a vencedora do Festival, e já um flerte de TOM com os elementos da Natureza, por cuja preservação e respeito ele tanto lutou.
14) Também em parceria com Chico Buarque, “Retrato em Branco e Preto” ilustra bem a separação de TOM e Thereza. É emocionante, muito comovente mesmo (Chorei.) ver o “maestro soberano” cantando “Passarim”, como se lamentando pela separação. Daquelas cenas que umedecem os nossos olhos (Chorei mesmo.).
15) Como deixar fora do roteiro a tumultuada relação de TOM com Elis Regina e César Camargo Mariano, durante a gravação, em Los Angeles, do antológico álbum “Elis & TOM”, uma OBRA-PRIMA, no qual está registrada a gravação de “Águas de Março”?
16) Que maneira mais simples e bonita de os roteiristas fazerem com que Ana Lontra (ESTRELA BLANCO) entre na vida de TOM, vindo a se tornar sua segunda esposa!
17) Fiquei encantado com a coreografia criada para a cena em que é executada “Borzeguim”. Que cena!
18) É claro que não poderia faltar também, regada com um tom de humor leve, a ligação de Frank Sinatra para TOM, em 1966, atendida no, então, muito famoso Bar Veloso, convidando-o para gravarem um disco, juntos, em inglês e português, nos Estados Unidos.
19) Um detalhe que muito me agrada, em musicais biográficos relacionados a artistas que já faleceram, quando morrem, é um determinado modo como isso se dá, da forma mais simples e poética possível, com naturalidade, beleza e sem apelar para o mau gosto, o lado fúnebre, lúgubre. Nesse aspecto, comparo a cena final deste musical à de “Elis, A Musical”, que tinha, como um dos autores, “coincidentemente”, NELSON MOTTA. Emocionante!!!
20) Os cenógrafos e os diretores vêm utilizando, em excesso, projeções, em suas montagens. Elas funcionam muito bem, quando não cansam, estão na dose certa e são bem feitas, como ocorre em "TOM JOBIM MUSICAL", trabalho de BATMAN ZAVARESE. A partida de TOM e o reencontro, no “céu dos artistas”, com os amigos que o antecederam, na “viagem sem volta” (Ou será que há volta?) é de uma beleza indescritível. Também entram em cena muitos ainda vivos. E não dá para conter a emoção. Chorei de novo.
“TOM JOBIM MUSICAL” é apresentado pelo Ministério da Cultura e BB Seguros, com patrocínio PRIO e MAPFRE,e realização da Bonus Track e Bárbaro! Produções. Assinam a produção geral do espetáculo os produtores LUIZ OSCAR NIEMEYER, JÚLIO FIGUEIREDO e BÁRBARA GUERRA.
RECOMENDO O ESPETÁCULO, DA PRIMEIRA À ÚLTIMA CENA, e tenho certeza de que também será sucesso em todas as praças pelas quais passar, principalmente em São Paulo. Convicção também tenho de que ainda voltarei a assistir a ele.
(Observação: Foi dificílima a escolha das fotos que ilustram esta crítica, uma vez que recebi, da assessoria de imprensa (GILDA MATTOSO, a quem muito agradeço), cerca de MIL EXCELENTES FOTOS DE CENA. Vi, e revi todas, para selecionar as que aqui estão, COM MUITA PENA DE NÃO TER PODIDO UTILIZAR TODAS.
GALERIA PESSOAL
(Vários Fotógrafos.):
VAMOS AO TEATRO!
OCUPEMOS TODAS AS SALAS DE
ESPETÁCULO DO BRASIL!
A ARTE EDUCA E CONSTRÓI, SEMPRE; E
SALVA!
RESISTAMOS SEMPRE MAIS!
COMPARTILHEM ESTA CRÍTICA, PARA
QUE, JUNTOS, POSSAMOS DIVULGAR O QUE HÁ DE MELHOR NO TEATRO BRASILEIRO!