sexta-feira, 9 de fevereiro de 2024

 

POR ELAS”

OU

(ELAS PARA MIM.)

OU

(ELAS PARA 

TODOS NÓS.)

 

 




          Procuro jamais deixar de assistir aos musicais em cartaz, porque sou um inveterado apreciador do gênero, a despeito até de críticas que recebo de pessoas que, além de não gostarem de TEATRO MUSICAL, ainda o consideram uma “arte menor” e no direito de me questionar: “Como um crítico de TEATRO pode gostar de musicais?” Respeitando a opinião de todos, custa-me crer que alguém possa não gostar de uma ARTE que reúne três, com as quais tenho a maior afinidade: TEATRO, canto e dança. Gostos há diversos, e ninguém pode, nem deve, questioná-los, mas... (“Prefiro não comentar!” – bordão da personagem Copélia, do “siticom “Toma Lá, Dá Cá”.)

 

 


 

             Na grande maioria das vezes, os musicais que entram em cartaz no Brasil são “importados” dos dois maiores centro de produção e consumo deles, a Broadway e o West End. São montagens, em geral, sofisticadas, com um grande aparato tecnológico, muito bem cuidadas, com uma ficha técnica exuberante, na qual, não raro, há nomes dos criadores do original, mesclados aos de grandes artistas de criação brasileiros. E o resultado, via de regra, costuma ser o melhor possível. Ocorre que, de uns tempos para cá, venho percebendo uma maior incidência de musicais autorais brasileiros, como o que está sendo motivo desta crítica, pelos quais passei a desenvolver uma admiração e um carinho especiais. Por conta de acuradas observações que venho fazendo, cheguei a uma reflexão que, inevitavelmente, me leva a uma afirmação: Não devemos nada, em termos de produção e execução, aos estrangeiros, quando o assunto é TEATRO MUSICAL. Havendo quem tenha interesse e “munição” para produzi-los, visto que, mesmo para a mais simples das produções, sempre isso demanda um custo muito elevado, a maior porção do desafio já não preocupa. É só partir para quem tem competência e talento para “pôr a mão na massa”, os artistas, o que existe à farta entre nós.

 

 


 

          Por vários motivos, todos muito alheios à minha vontade, só consegui assistir a “POR ELAS” no penúltimo dia da curta temporada, que, infelizmente, se encerrou no último domingo, dia 04 de fevereiro, no Teatro Clara Nunes, Rio de Janeiro. “Antes tarde do que nunca”, porque valeu muito a pena. O musical foi idealizado e escrito por ELINE PORTO, que também atua, ao lado de mais quatro excelentes “cantrizes”: ESTRELA BLANCO, JANA FIGARELLA, MARYA BRAVO e SUZANA SANTANA. O quinteto atua sob a direção de STELLA MARIA RODRIGUES. No título da peça, utilizei apenas duas palavras, para facilitar a comunicação; e continuarei a fazê-lo, no decorrer destes escritos, entretanto o título oficial é “POR ELAS - UM MUSICAL SOBRE A FORÇA DO CANTO FEMININO”. É muito importante essa complementação, por ser o “cartão de visitas” do espetáculo.

 

 



 SINOPSE:

Mergulhando em histórias autênticas de mulheres reais, e outras fictícias, o musical tece um fio condutor de emoção e ressonância, através da música. 

Trata-se de um musical brasileiro e autoral que tem como objetivo celebrar a força feminina, dentro e fora dos palcos. 

Buscando transcender o entretenimento, o espetáculo, inédito, emociona e celebra, através da música, a história e memória de inúmeras mulheres queridas pelo público, brasileiras e estrangeiras. 

Histórias e canções se cruzam na trajetória de mulheres fortes e determinadas.

 

 


 


         “POR ELAS” é um daqueles musicais montados com poucos recursos financeiros e que deu muito certo. O talento e a garra do artista brasileiro falaram mais alto que o dinheiro. A célula inicial da peça surgiu durante a pandemia de COVID-19 e foi tomando forma, à medida que o tempo passava e as peças do “quebra-cabeças” iam se ajustando, pelas mãos de ELINE PORTO, sua idealizadora, além de atriz, cantora, autora, compositora e produtora. A grande motivação para criar sua primeira dramaturgia foi sua “paixão por narrativas diversas e impulsionada por uma profunda conexão com as mulheres de sua família”. A partir desse mote, a autora mergulhou no afã de “compreender as raízes e os caminhos trilhados pelas gerações que a precederam”. O resultado de seu trabalho de pesquisa e criação desaguou num musical inédito, “a celebração da resiliência feminina”, contada através de mais de 20 músicas “que ecoam em cada capítulo das vidas dessas mulheres extraordinárias”, o que inclui sucessos de nomes como Gal Costa, Rita Lee e Elza Soares, além de outras cantoras nacionais e estrangeiras, com arranjos vocais exclusivos, dignos dos maiores elogios direcionados ao trabalho de CLAUDIA ELIZEU e ERICA DE PAULA. Além dos sucessos que compõem a trilha sonora da peça, ainda há algumas canções autorais, de ELINE PORTO.

 

 


 

       Segundo a dramaturga, no “release” que me chegou às mãos, as personagens foram sendo criadas como uma colcha de retalhos”, com base em histórias diversas que ouvira e também saídas de sua imaginação. Segundo ela, “é uma grande celebração da força e união feminina, representando a interconexão entre diferentes origens”. Todas as histórias, brilhantemente interpretadas pelo quinteto de atrizes, são bastante emocionantes e encantam o público. A estrutura do musical divide-se em cinco monólogos centrais e diversas outras cenas, “que abordam, com sensibilidade, através de jogos teatrais, fazendo um paralelo entre a força das mulheres brasileiras e a grandeza musical das cantoras homenageadas, temas cruciais na construção social do papel da mulher”. Mas não pensem que “POR ELAS” é uma encenação direcionada, exclusivamente, às mulheres. É um espetáculo para todos, independentemente de gênero e idade; é um espetáculo para a família e para quem gosta de boa música e bom TEATRO. Antes de ocupar o palco do Teatro Clara Nunes, para apenas 12 apresentações, a peça passou por uma estreia especial, em Ipatinga, Minas Gerais, no Teatro do Centro Cultural Usiminas, em outubro do ano passado, como um “esquenta”.

 

 




         Merecedor de muitos aplausos, um detalhe muito importante, nesta produção, é que, além das cinco “cantrizes” e da diretora, a equipe criativa é, em sua grande maioria, feminina, além de outras mulheres que, ao vivo, acompanham, as intérpretes: ANNE AMBERGET, GEORGIA CÂMARA, THAÍS FERREIRA e LETÍCIA MAYARA. E isso é formidável - a mulher mostrando seu poder de ocupação de um espaço que lhe pertence e lhe é de direito; a mulher com vez e voz.

 


         A simplicidade da montagem, do ponto de vista estético, é mais que compensada pelo teor do texto, a inventividade na direção e, acima de tudo, pela interpretação de cinco das melhores “cantrizes” do TEATRO MUSICAL BRASILEIRO. Para atender ao propósito do espetáculo, as “pirotecnias” plásticas, sobre as quais não tenho, absolutamente, nada contra – muito pelo contrário – poderiam mesmo ser dispensadas. O conjunto cenário / figurinos /  iluminação sejam de ótimo bom gosto e atendam, perfeitamente, às necessidades da peça e ao conjunto da obra. A diretora do espetáculo, ao final da sessão a que tive acesso, durante um bate-papo com a plateia, disse que, para a realização daquela montagem, bastavam cinco boas atrizes e cinco cadeiras; eu já dispensaria até as cadeiras e ficaria só com as magníficas atrizes.

 

 



  Para a cenografia, BETO SARGENTELLI utilizou apenas cinco “chamativas” cadeiras amarelas sobre um grande tapete redondo. Essas cinco peças são, constantemente, deslocadas e trocadas de lugar, pelas próprias atrizes, o que confere dinamismo à encenação. Ao fundo, uma parede, ou melhor, um grande pano em cor neutra, o que me trouxe a mente uma alegre recordação: o espetáculo “Beatles num Céu de Diamantes”, da dupla Charles Möeller e Claudio Botelho, que trazia um cenário que lembra um pouco o de “POR ELASS”. É menos sendo mais. Os figurinos, de KATIA GIMENEZ, elegantes e muito bem talhados, com um fino acabamento, são em cores diferentes e alegres, o que dá um toque de leveza ao espetáculo, sem falar que os modelos pendem um pouco para o lado do “arrojado” e parecem deixar as atrizes muito soltas e confortáveis dentro deles, para a execução dos muitos movimentos de dança que há na peça – JULIANA GAMA caprichou na direção de movimento e, implicitamente, na coreografia. ADRIANA ORTIZ emoldura e faz realçar toda essa bela simplicidade plástica com cores firmes, num belo desenho de luz, que tem alguns momentos de grande destaque, mais um pouco para o final da encenação. Todos os elementos de apoio, aos quais incorporo o visagismo, a cargo de MARCOS PADILHA, concorrem para o engrandecimento do musical. Não podem ficar de fora, quando se fala em setores favoráveis à peça, a preparação vocal, de BETO SARGENTELLI; o desenho de som, de JOÃO PAULO PEREIRA; e a direção de arte, de GUS PERRELLA. Cada dedinho empregado na mistura agrega valores positivos à peça. Afinal de contas, TEATRO não é uma ARTE coletiva?

 

 




         Sob meu humilde “julgamento”, ou melhor, minha modesta opinião, STELLA MARIA RODRIGUES “passa direto, por média, sem prova final” para a sua próxima aventura “do outro lado”, já que é uma excelente atriz, com atuação em grandes musicais, ela que também domina o canto. ELINE PORTO "acertou na mosca", quando a convidou para dirigir o musical, o primeiro de sua carreira, salvo engano, que a credencia a assinar outros. 


 

Stella Maria Rodrigues.


             Considerando todos os méritos de cada um que fez parte do projeto, não posso dizer outra coisa: O elenco é a cereja do bolo de “POR ELAS”. Nem sob ameaça de morte, eu me atreveria a dizer quem é a melhor das cinco. Isso porque todas são excelentes, e cada uma, particularmente, tem seus predicados e digitais únicas. São belíssimas vozes, com um alcance surpreendente, as quais, quando reunidas, formam um coro angelical. Ouvi-las, naquela extensão de entrega e vibração, me emocionou extremamente (Saí do Teatro em estado de êxtase total.), e me emociona sempre, como quando as vi em várias montagens anteriores. Cada uma tem seus momentos de solo e, juntas, produzem um canto muito harmonioso, pela beleza das vozes e os arranjos vocais surpreendentes. A cada dia, declaro-me ser mais fã ardoroso dos trabalhos de ELINE PORTO (“O Despertar da Primavera”, "Cássia Eller - O Musical", "Dois Filhos de Francisco", "Os Últimos 5 Anos", "Nautopia", “Bonnie & Clayde - O Musical” ...) ESTRELA BLANCO (“O Despertar da Primavera”, “Beatles num Céu de Diamantes”, “A Noviça Rebelde”, “Todos os Musicais de Chico Buarque em 90 Minutos”, “Milton Nascimento – Nada Será Como Antes”, “Hair”,Los Hermanos – Um Musical em Construção” ...), JANA FIGARELLA (Cássia Eller – O Musical”, “Morte e Vida Severina”, “Dom Quixote de Lugar Nenhum” ...), MARYA BRAVO (“Somos Irmãs”, “Cristal Bacharach”, “Lado a Lado com Sondheim”, “A Ópera do Malandro”, “Beatles num Céu de Diamantes”, “Cauby! Cauby!”, “Clube da Esquina – O Musical” ...) e  SUZANA SANTANA (“A Pequena Loja dos Horrores”, “Grease – O Musical”, “Love Story - O musical”, “A Cor púrpura - O Musical”, “Bob Esponja – O Musical” ...).

 

 





 FICHA TÉCNICA:

Idealização: Eline Porto

Texto: Eline Porto

Direção: Stella Maria Rodrigues

Direção Musical e Arranjos: Claudia Elizeu e Erica de Paula

Elenco: Eline Porto, Estrela Blanco, Jana Figarella, Marya Bravo e Suzana Santana.

Cenografia: Beto Sargentelli

Figurino: Katia Gimenez

“Designer” de Luz: Adriana Ortiz

Preparação Vocal: Beto Sargentelli

Direção de Movimento: Juliana Gama

“Designer” de Som: João Paulo Pereira

Visagismo: Marcos Padilha

Direção de Arte: Gus Perrella

Assistência de Direção: Renata Ghelli

Produção Executiva: Lucas Mello

Assistência de Produção: Bia Souto Maior

Direção de “Marketing” e Comunicação: Rodrigo Medeiros - R+ “Marketing”

Social Media: 1812 Comunicação

Assessoria de Imprensa: GPress Comunicação - Grazy Pisacane  

Fotos: Rodrigo Zeferino (cena) e Stephan Solon (estúdio)

Realização: Andarilho Filmes


 

 




           Adoro quando a expectativa que me leva a assistir a um espetáculo de TEATRO fica muito além do que me foi dado ver. E isso aconteceu, mais uma vez, naquela noite de sábado. Considerando-se o grande sucesso que o musical atingiu, nas 12 sessões em que foi apresentado, contando com quase nenhum espaço na mídia carioca, valendo-se da divulgação “boca a boca”, que sempre funciona, com muita gente assistindo a “POR ELAS” mais de uma vez, com plateias que quase lotaram o Teatro Clara Nunes (800 lugares), aplaudindo muito a encenação – muitas vezes, em cena aberta -, tenho esperança de que ele volte ao cartaz, para muitas outras apresentações. E espero revê-lo, porque gostei muito da peça; do que vi e ouvi. Fiquem atentos! Evidente é que RECOMENDO MUITO O MUSICAL.

 

 

 



FOTOS: RODRIGO ZEFERINO

e

STEPHAN SOLON

 

 

 

GALERIA PARTICULAR

(Fotos: Ana Cláudia Matos):

 

Com Eline Porto.


Com Marya Bravo.


Com Estrela Blanco.


Com Suzana Santana.


Com Stella Maria Rodrigues.

 


VAMOS AO TEATRO!

OCUPEMOS TODAS AS SALAS DE ESPETÁCULO DO BRASIL!

A ARTE EDUCA E CONSTRÓI, SEMPRE; E SALVA!

RESISTAMOS SEMPRE MAIS!

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