terça-feira, 12 de abril de 2022

 

“UMA PEÇA

PARA FELLINI”

ou

(“SEU FELLINI”

TRANSFORMA.)

ou

(UMA AULA DE

“FELLINIDADE”.)

ou

(“SEU FELLINI” 

É POVÃO.)

ou

(SER “FELLINIANO”

É UM

ESTADO DE ESPÍRITO.)

 



 

        O TEATRO sempre nos surpreendendo. Quando ele se mescla com outras linguagens artísticas, então, o resultado pode nos proporcionar momentos de indescritível alegria e beleza. Bem recentemente, saí “nas nuvens” do estacionamento do CCBB – Rio de Janeiro, depois de ter assistido a “Urutu”, um espetáculo de Renato Rocha, que amalgamava TEATRO, CIRCO e DANÇA. No último sábado (09 de abril de 2022), vivi a mesma emoção, quando terminou a sessão de “UMA PEÇA PARA FELLINI”, em cartaz no saguão do cinema Estação NET Rio, por conta de uma experiência belíssima, emocionante, envolvendo TEATRO e CINEMA.



Coisas parecidas eu já havia visto, inclusive no mesmo lugar, vinte anos atrás, quando Bruce Gomlevsky, ali, encenou um revolucionário espetáculo, que começava à meia-noite e se chamava “Vida, O Filme”. Também, quando CAVI BORGES, o diretor do espetáculo ora comentado, nos proporcionou uma experiência muito interessante, associado à atriz Patrícia Niedermeier - que assistiu a “UMA PEÇA PARA FELLINI” na minha mesa, mais Regina Miranda e José Karini - sobre misturar essas duas linguagens, TEATRO e CINEMA, por meio da realização de uma peça-filme, “O Censor” (2019). Depois, em 2020, nos mesmos moldes, foi a vez de “François Truffaut – O Cinema É Minha Vida” e “Marguerite Mon Amour”, sempre utilizando as salas de cinema e suas telas como elementos dramatúrgicos desses espetáculos.



        Passados dois anos de uma terrível pandemia, que mudou as nossas vidas, em todos os sentidos, CAVI BORGES nos presenteia com uma nova e linda experiência, por meio de um solo, interpretado pela grande atriz MARCIA DO VALLE, prestando uma digna e merecidíssima homenagem a um dos maiores gênios do cinema mundial, por quem nutro o maior respeito e admiração, FEDERICO FELLINI (1920 – 1993), para reverenciá-lo e nos fazer lembrar dele, em seu centenário, ocorrido dois anos atrás, exatamente quando a COVID-19 nos pegou de surpresa.



Não é segredo, para os meus amigos e os que me seguem e têm o hábito de visitar meu blogue, que não sou de ir ao cinema, embora admire bastante essa ARTE e os que a fazem. Vou ao cinema muito esporadicamente, até porque o TEATRO me rouba quase todo o meu tempo, do que não reclamo nem um pouquinho. Acho “chato” o ato de ir ao cinema e, quando vou, dou preferência às boas produções nacionais, que são muitas, felizmente, a meu juízo, e a alguns filmes estrangeiros, muito “badalados”, assim como um ou outro “polêmico” ou vencedor de prêmios. Só não perco duas coisas: os musicais e os filmes do mestre FELLINI, uma das minhas grandes paixões, no mundo das ARTES.



        Discorrer, aqui, sobre FELLINI, o homem e o artista, seria o equivalente a escrever sem parar, durante muito tempo, e alongar, mais ainda, esta crítica, cujo propósito é apenas avaliar um espetáculo teatral que gira em torno do renomado cineasta, entretanto não me sentiria à vontade se não fizesse um resumo da importância desse homem para o cinema mundial. Vou procurar fazê-lo da forma mais sucinta, porém completa.


Federico Fellini.


Foi diretor e roteirista  de cinema italiano, conhecido por seu estilo distinto, que “misturava fantasia e imagens barrocas com terridez”. É reconhecido como um dos maiores e mais influentes ciceastas de todos os tempos. Seus filmes foram classificados, em pesquisas, em publicações respeitáveis, como "Cahiers du Cinéma" e "Sight & Sound", como alguns dos melhores filmes de todos os tempos, com o que, humildemente, concordo. Uma carreira de quase cinquenta anos, que lhe rendeu muitas premiações, como a "Palma de Ouro", por "La Doce Vita" (“A Doce Vida”). Foi indicado a doze Prêmios Oscar, tendo ganhado quatro estatuetas, na categoria de Melhor Filme em Língua Estrangeira. Na premiação do "Oscar - 1993", em Los Angeles, recebeu um "Prêmio Honorário". Além de La Dolce Vita” e “Fellini 8¹/², foi o grande e festejado diretor de "La Strada" (“A Estrada da Vida”), "Le Notti di Cabiria" (“As Noites de Cabíria”)“Giulietta Degli Spiriti” (“Julieta dos Espíritos"), “I Clowns” (“Os Palhaços”),”Roma” (“Roma de Fellini”), “Prova D’Orchestra” (“Ensaio de Orquestra”), “E La Nave Va”, “Ginger e Fred”, "Satyricon" (“Satyricon de Fellini”), "Amarcord", “I Vitelloni” (“Os Boas-Vidas”) e "Il Casanova di Fellini" (“O Casanova de Federico Fellini”), apenas para citar os mais conhecidos e premiados.



FELLINI conheceu sua esposa, Giulietta Masina, o grande amor de sua vida, em 1942, casando-se no ano seguinte, quando, então, começa uma grande parceria criativa no mundo do cinema. “Noites de Cabíria” talvez tenha sido o maior exemplo disso. Nem todos sabem que, além do grande cineasta, FELLINI também se arriscou como um cartunista talentoso, tendo produzido desenhos satíricos, a lápisaquarelacanetas hidrocor. Também escreveu textos para “shows” de rádio e textos para filmes de outros cineastas.



Em 1993, recebeu um "Oscar Honorário", em reconhecimento por suas obras, que chocaram e divertiram audiências mundo afora. No mesmo ano, ele morreu, de ataque cardíaco, em Roma, aos 73 anos, um dia depois de completar cinquenta anos de casado. Sua amada esposa, Giulietta Masina, morreu seis meses depois, de um câncer de pulmão. Uma curiosidade: o escritor brasileiro Jorge Amado era seu amigo e grande admirador. Os filmes de FELLINI lhe renderam muitos prêmios, dentre eles quatro "Oscars", dois "Leões de Prata", uma “Palma de Ouro”, o “Prêmio do Festival Internacional de Filmes de Moscou” e, em 1990, o prestigiado “Prêmio Imperial”, concedido pela “Associação de Arte do Japão”, que é considerado como um "Prêmio Nobel", o qual analisa e premia artistas de cinco setores distintos, no campo das ARTES: pintura, escultura, arquitetura, música e teatro/filme. Com esse prêmio, FELLINI juntou-se a nomes como Akira Kurosawa, David Hockney, Balthus, Pina Bausch, e Maurice Béjart.



“Felliniano”, como eu, Caetano Veloso, em 1986, no seu album “Caetano”, incluiu uma canção que fez, para homenagear Giulietta Masina, cujo título leva seu nome e que MARCIA DO VALLE interpreta, com muita emoção e esmero, “a capella”, num determinado momento da peça, que me me provocou o embaçamento dos olhos. Aqui está a letra da canção:





 

“GIULIETTA MASINA”

 

Pálpebras de neblina, pele d'alma
Lágrima negra tinta
Lua, lua, lua, lua
Giulietta Masina

 

Ah, puta de uma outra esquina!
Ah, minha vida sozinha!
Ah, tela de luz puríssima!
Existirmos a que será que se destina?
Ah, Giulietta Masina!
Ah, vídeo de uma outra luz!

 

Pálpebras de neblina, pele d'alma
Giulietta Masina
Aquela cara é o coração de Jesus.

 

 


Giulietta Masina


A canção toma por base a atriz e a personagem que interpreta, magistralmente, em “Noites de Cabíria”, uma prostituta (Cabíria), que, como é dito, no texto da peça, “tem uma cara de santa”, como todas as outras prostitutas dos filmes de FELLINI. “Aquela cara é o coração de Jesus.”.


Cena de "Noites de Cabíria".


Combinando memóriasonhosfantasia e desejo, os filmes de FELLINI têm uma profunda visão pessoal da sociedade, não raramente, colocando as pessoas em situações bizarras. Existe um termo, um adjetivo, “Felliniesco", que é empregado para descrever qualquer cena que tenha imagens alucinógenas que invadam uma situação comum.



Agora, vamos ao motivo principal destes escritos, uma apreciação crítica do espetáculo “UMA PEÇA PARA FELLINI”.


 

 

SINOPSE:

Na peça, uma atriz, uma faxineira e o próprio “FELLINI” traçam um pequeno “panorama pandêmico” sobre a vida e obra do artista e seus colaboradores.

São historietas que vão além da vida, a respeito do CINEMA, TEATRO, ATORES e seu ofício, destacando como a ARTE é essencial para todos.

A faxineira relata como conheceu “SEU FELLINI”, se apaixonou por ele e pelo cinema, e como isso mudou sua vida: “Eu fiquei mais inteligente; agora eu adoro pensar”.

Ela contracena com imagens dos filmes e outras que remetem ao universo cinematográfico e de FELLINI.

Conta como “SEU FELLINI” sempre esteve perto do pensamento dela.

Os três personagens se alternam e seguem um fluxo de raciocínio do texto contemporâneo.

 

 


   Muitas palmas para MARCIA DO VALLE, que idealizou o espetáculo, JOAQUIM VICENTE, o dramaturgo, e o “cúmplice”, CAVI BORGES, que codirigiu, com MARCIA, a peça, e para todos os que colocaram a mão na massa, para que a montagem se concretizasse! Já era tempo de alguém pensar numa grande homenagem a esse homem, por sua importância e representatividade para o cinema mundial. Todo o trabalho empregado nessa impecável produção faz jus ao legado deixado pelo mestre da sétima arte.



  Foi muito feliz JOAQUIM VICENTE, ao escrever o belo texto do espetáculo, partindo de uma profunda pesquisa e deixando, também, aflorar seu sentimento de admiração pelo grande cineasta. A ideia de colocar uma faxineira de um cinema, a qual se deixou apaixonar por FELLINI e, durante todo o espetáculo, ignorar a quarta parede (Aí, também, entra a mão da direção.) e se comunicar, diretamente, com cerca de cinquenta pessoas, que têm o privilégio de assistir a esta OBRA-PRIMA, por sessão, é algo muito lindo e emocionante. COMOVENTE!!! Tendo tido acesso ao texto original, faço questão de destacar alguns trechos ou partes que me tocaram de forma mais profunda.



 Em primeiro lugar, é importante que se diga que MARCIA DO VALLE se divide em três personagens: a própria atriz, a faxineira GIUVANEIDE e “SEU FELLINI”. O nome da faxineira deve ter sido escolhido em homenagem a GIUlieta Masina: GIUvaneide.



  Apagadas todas as luzes do ambiente, surge GIUVANEIDE, segurando uma vela acesa, que ela procura proteger, com muito cuidado, para que não se apague, porque, segundo o texto, quando ela era criança, certo dia, na fila para uma procissão, lhe deram uma velinha e a advertiram para que não deixasse que a luz se apagasse, “porque Jesus não quer”. E, desde criança, ela guardava aquela “responsabilidade”. Com qualquer vento, a vela nunca pode se deixar apagar. O espetáculo já se inicia com essa bela metáfora “construtiva”. Aquela advertência a acompanhava para sempre.



 Ela mesma apaga a vela, num determinado momento, pós-fala, e, vassoura na mão, inicia a faxina do local, já se dirigindo, diretamente, à plateia, para contar um sonho que teve com “SEU FELLINI”, no qual ele entrava naquele mesmo cinema e a convidava para ser a estrela de um de seus filmes. A personagem confessa que se tornou uma “fanática” por “SEU FELLINI”, incentivada por um namorado mais velho, o qual lhe dissera: “Vou te dar uma ‘overdose’ de Fellini!”. Achei bastante interessante a comparação que ela faz com a atitude da personagem Sherazade, de “As Mil e Uma Noites”, já que, todas as noites, o namorado lhe apresentava a uma nova obra, em vídeo, do celebrado cineasta. Isso a levou a “se apaixonar” por FELLINI e sua obra, sem saber que ele já havia morrido, e passou a ser uma “rival” de Giulietta Masina, a ponto de se transformar, fisicamente, numa mulher bem típica das matronas dos filmes de seu ídolo. O processo de transformação, narrado pela personagem, é bastante divertido.



Também é hilário o momento em que a atriz escolhe um homem da plateia, como se “SEU FELLINI” ele fosse, e lhe faz uma “declaração de amor”, numa mistura de português com um italiano “macarrônico”.



  Um dos momentos mais emocionantes da peça, para mim, é quando, na pele da atriz, MARCIA fala sobre Giulieta Masina, exaltando seus predicados como atriz, comparando-a a um palhaço. “Uma atriz-palhaço, um autêntico palhaço”. Para mim, tal comparação é profundamente viável e concordo com o autor do texto, pela boca da atriz, quando ele diz que “o talento de palhaço, de um ator, a meu ver, é o dom mais precioso, o sinal de uma vocação aristocrática para a arte cômica. O palhaço é a nobreza da comédia. Por trás de cada palhaço, existe um acrobata. Se você não é um acrobata, não consegue cair bem, e uma bela queda ainda faz rir. Ser palhaço faz bem à saúde”. Isso é lindo!!!



Da mesma forma, adorei o momento em que a personagem GIUVANEIDE diz: “SEU FELLINI fez de mim uma mulher inteligente; agora eu adoro pensar.” E a quem, “SEU FELLINI” não faz pensar, GIUVANEIDE? Penso, ou melhor, tenho certeza de que “SEU FELLINI” é um ser transformador e que “ser felliniano” é um estado de espírito, que, a mim, especialmente, faz muito bem.



  Aplaudo a iniciativa do dramaturgo, quando mostra a origem do cinema, lembrando que este “nasceu num teatro”, o Teatro Éden, “localizado em La Ciotat, na França, que existe até hoje, firme, forte e reformado e é considerado o cinema mais antigo do mundo ainda em atividade”.



  Merece destaque o momento em que, na pele de “SEU FELLINI”, a atriz conta como ele não aceitou se dedicar a outras profissões e ter se dedicado, de corpo e alma, ao cinema.



  Muito oportuno é o momento em que, no texto, faz-se alusão ao surgimento das primeiras videolocadoras, com destaque para a “Cavídeo”, aberta, no Rio de Janeiro, por CAVI BORGES. Mergulhei no meu passado, nem tão distante, e me lembrei de que, algumas vezes, eu a visitei. Já, há algum tempo, considerado algo anacrônico, acho muito pertinente a cena em que a atriz, na pele de GIUVANEIDE, explica, de uma forma bastante didática, que acaba se tornando engraçada, o que vinha a ser uma videolocadora (locadora de vídeo ou videoclube ou clube do vídeo).



  Mexeu muito com o meu emocional o momento em que GIUVANEIDE toca na paixão de “SEU FELLINI” pelo circo, porque também sou um como ele. Da mesma forma, senti-me tocado e fazendo coro com ela, quando diz que o que mais gostava, no “SEU FELLINI”, “é que ele amava os estranhos, os sem-jeito para vida, os desprezados, os desvalidos, os pobres, os biscateiros trapaceiros, o povo. Mas isso não impediu d’ele ser crítico com a Humanidade, não”. Sim, FELLINI flertava com esses “párias”, mas, ao mesmo tempo, usava-os para criticar as injustiças da sociedade aristocrata para com essa gente.



          Cada vez que MARCIA, atriz, assume a “persona” de “SEU FELLINI” é para nos mostrar algumas reflexões e posicionamento dele sobre a vida e o ser humano, principalmente. E isso ela também o faz de forma brilhante. É FELLINI quem diz, em certo momento da peça; “Se, por política, entende-se a possibilidade de viver junto, de agir em uma sociedade de indivíduos que tenham respeito por si mesmos e que saibam que a própria liberdade termina onde começa a dos outros, me parece que meus filmes são políticos.”. E são mesmo, porque, em todos os seus filmes, ele dá um jeito de abordar, de forma mais ou menos incisiva, a moral normativa de um governo, de um poder, com relação à sociedade civil; ou, dentro de um microcosmo, a mesma coisa, com relação às atitudes dos mais poderosos, numa sociedade, “esmagando” os menos favorecidos. E o mais interessante é que ele era capaz de fazer tudo isso “sin perder la ternura”; com beleza, “ingenuidade”, lirismo e muita poesia. Essa fala de “SEU FELLINI” é bem atual.



      Adoro, quando, num tom meio "panfletário", quase que de algum cabo eleitoral, angariando votos para o seu candidato, GIUVANEIDE faz questão de dizer, alto e bom som, que “‘SEU FELLINI’ amava o povo e, se o povo, hoje, conhecesse os filmes dele, como já conheceu, também o amaria, como já o amou. ‘SEU FELLINI’ pras massas!!! Os filmes do ‘SEU FELLINI’ deviam passar nas praças públicas!Seu Fellini’ é povão!”. Mas quanta verdade numa fala só!!! Se isso fosse possível de se tornar uma realidade, se o povo, hoje, pudesse ser reunido, nas praças públicas, das grandes cidades às minúsculas vilas do interior, para assistir aos filmes de FELLINI, talvez não estivéssemos amargando a dor e o retrocesso, provocados, deliberadamente, por um (DES)governo federal, no Brasil, há mais de três anos. (“Vem, vamos embora, que esperar não é saber! Quem sabe faz a hora, não espera acontecer!” – Geraldo Vandré.)



        O público - e eu faço parte dele também - ri bastante, quando a faxineira discorre sobre o significado do vocábulo “puta” e em que consistia ser uma, desde quando o ouviu pela primeira vez, na sua infância; mas não há nada de ofensivo nem agressivo nessa cena; muito pelo contrário. Chega a confessar que dissera, ingenuamente, de certo, à mãe, ter escolhido, para quando crescesse, aquela profissão, para o total espanto e desaprovação de Dona Elza. A diferença é que ela seria “uma puta felliniana”, porque, a seu juízo, “As prostitutas do seu Fellini tinham um quê de santas.”. Está aí Cabíria, que não nos deixa mentir, uma cortesã que sonha com o verdadeiro amor, mas sofre constantes desilusões amorosas.



        Em dado momento, a atriz estende a homenagem às grandes colegas de profissão que tiveram o privilégio de terem sido dirigidas por FELLINI: Quem me dera ser a atriz-palhaço que FELLINI, tanto amava! Eu sou uma atriz, uma mulher brasileira, homenageando FEDERICO FELLINI. Ah, as atrizes de FELLINI! Esta homenagem também é para elas. Acho que todas as atrizes sonhavam ou sonharam serem dirigidas por ele.”. E segue o seu texto, até se deter numa menção mais demorada e detalhada com relação à atriz Vanja Orico, brasileira, que FELLINI dirigiu, ainda que numa “pontinha”, em 1950, por um acaso da vida.



        Um dos momentos de maior emoção, para mim é aquele em que, depois de ter feito uma alusão à pandemia de COVID-19, MARCIA DO VALLE, a atriz, diz: “Quando eu conheci FELLINI, eu aprendi que o artista não tinha nenhuma função. Quero dizer, não tinha nenhuma função utilitária, que todo o sistema, as pessoas e a sociedade esperam. O artista veio para ‘bagunçar o coreto’ desse sistema. O artista é o palhaço que vai trazer as trapalhadas para a sua vida, pretensamente ‘certinha’. Por isso me identifico com o palhaço (Eu também, MARCIA!). Ele pode ser risonho, engraçado ou sinistro. O circo é a vida. Esses anos que, de várias maneiras, têm sido ‘fellinianos’, no sentido de absurdos, nesses anos, em que nós, artistas, aqui, no Brasil, fomos desprezados, atacados, desrespeitados, arruinados, por favor, deixem-me louvar esse grande artista”, momento em que se dirige a um “totem” de FEDERICO FELLINI, que fica em cena durante todo o tempo de duração do solo, para um abraço, que todos ali desejariam dar, de verdade, no próprio. E os dois dançam... Eu fui às lágrimas.



        Não falta alusão a Nino Rota, autor das trilhas sonoras dos filmes de FELLINI. Aliás, a ótima trilha sonora original da peça, composta por LEONARDO MIRANDA, foi baseada nas obras de Rota.



        Já falei do brilhantismo do texto, de JOAQUIM VICENTE, e é tempo de comentar sobre os demais elementos da montagem, como a cenografia, o figurino, o desenho de luz e a “cereja do bolo”, que é o trabalho de interpretação do monólogo.



         Em vez de me fixar no termo “cenografia”, prefiro ficar com “espaço cênico”, o qual ocupa todo o saguão do cinema, assim como uma escada e uma parte de uma espécie de jirau. As mesas, para os espectadores, ficam dispostas no saguão, com quatro lugares em cada uma delas, espalhadas, de modo a permitir que a atriz se locomova bastante, entre elas, além de utilizar outros pontos para algumas cenas. Em dois telões, são projetadas cenas de alguns filmes de FELLINI e outras imagens. Não há, propriamente, elementos cenográficos, além do próprio mobiliário do saguão de um cinema e o já referido “totem” do cineasta. Tudo perfeito, para que MARCIA possa demonstrar seu talento, orientada por PATRÍCIA NIEDERMEIR, numa excelente direção de movimento. A monotonia ficou de fora, na outra calçada da rua Voluntários da Pátria.



        FLAVIO SOUZA assina o figurino, formado por uma “peça-base” e alguns detalhes, que vão sendo acrescidos ou retirados, em cada cena, de acordo com a necessidade dos personagens, como um chapéu, um sobretudo, uma vassoura, um par de óculos...



Pelo fato de o local onde ocorrem as apresentações da peça não ser um Teatro, um espaço destinado, especificamente, à encenação de uma peça teatral, aplaudo, com bastante entusiasmo, o trabalho desenvolvido por DJALMA AMARAL (desenho de luz), assim como as pessoas que operam toda a parte de iluminação e projeções. Tudo funciona a contento, com belas escolhas de imagens, matizes e intensidades de luz.



E o que dizer do trabalho de MARCIA DO VALLE? Atriz, diretora e produtora de TEATRO, no Rio de Janeiro, MARCIA, em trabalhos anteriores e neste, em especial, numa carreira de mais de três décadas, demonstra ser uma de nossas melhores atrizes, de uma grande versatilidade, o que atesta o fato de ter sido dirigida por alguns dos nossos melhores diretores, como Aderbal Freire-Filho, Amir Haddad, Antônio Pedro Borges, Domingos Oliveira, Eduardo Tolentino de Araújo, Luiz Arthur Nunes e outros, além de ter sido presença marcante em novelas, minisséries e programas na TV Globo, bem como em curtas-metragens e o longa “Vende-se Essa Moto”.  No auge da pandemia, fez solos para o canal “Agora já era”, no “youtube”, atuou, “on-line” e, depois, presencialmente, no espetáculo “Luiza Mahin, Eu Ainda Continuo Aqui” e na peça sonora “Os Cegos”, com direção de Marcio Abreu.



  Propor-se a realizar um solo, ao mesmo tempo que é o sonho de todos os atores e atrizes, também representa um desafio muito grande para eles. A solidão de um artista em cena carece de uma troca de energia muito grande com o público, para que aquele se sustente, diante deste, o que implica, evidentemente, que o pontapé inicial, para que se instaure o processo, deve sempre ser dado por quem está atuando. Desde sua primeira aparição para a plateia, MARCIA já adentra o espaço com muita força e presença de cena, e nos cativa, logo com a primeira fala, sobre a vela que não pode se apagar. Está estabelecida, a partir desse momento, a ligação entre atriz e público. E não há mais quem consiga, nem como, “desatar o nó”. Ela nos encanta e age como um ímã, atraindo-nos, durante toda a encenação, sempre provocando, e cumprindo, uma nova surpresa, quando, camaleonicamente, sem se utilizar de artifícios complexos, ora é ela mesma, ora é a simpaticíssima e “descolada” personagem GIUVANEIDE, ora como “SEU FELLINI”. É como se a faxineira funcionasse como sua segunda pele, com direito a uma terceira, representada pelo cineasta homenageado. Sua segurança e carisma, em cena, nos levam a achar que a peça está em cartaz há anos e que tudo aquilo, às nossas vistas, se dá de forma automatizada, de tão natural como tudo nos soa.



 Extraído do “realease”, chegado a mim por CLÓVIS CORRÊA DE ANDRADE (ASSESSORIA DE IMPRENSA: CICLO COMUNICAÇÃO): Para MARCIA DO VALLE, a encenação, na verdade, é ‘um exercício de atriz e uma brincadeira entre o teatro e o cinema’. (Para mim, é muito mais que isso.) (...) É uma reverência à genialidade do visionário cineasta. Uma introdução, bem humorada, ao universo ‘felliniano’. Um projeto com intenção de despertar curiosidade e interesse nos jovens, estudantes, artistas, cineastas. Esse trabalho é, também, para instigar o público a uma nova visita ou lembrança dos filmes e livros do cineasta. FELLINI nunca é demais.”.


Giulietta Masina - a atriz-palhaço.


        Em geral, depois de depositada a cereja, no topo do bolo, não há mais nada a se fazer, a não ser saboreá-lo, porém ainda preciso dar um crédito de louvor à acertada colaboração de CAVI BORGES, na codireção do espetáculo, ao lado da própria MARCIA.


                                                                              

FICHA TÉCNICA:

Texto: Joaquim Vicente
Direção:  Marcia do Valle e Cavi Borges

Atriz: Marcia do Valle

Trilha Sonora e Composições Originais: Leonardo Miranda

Iluminação Cenográfica:  Djalma Amaral

Figurino:  Flavio Souza

Programação Visual: André Palatnic 

Direção de Movimento:  Patrícia Niedermeier

Bonecos: Miguel Vellinho

Assistente e Operador de Luz: Jorge Raibott

Costureiro: Caio Braga

Assistente de Produção: Marina Trindade

Cenotécnico / Telão: André Salles

Projeções: VJ Dezoito

Editor de Vídeo: Wellington dos Anjos

Assessoria de Imprensa: CICLO Comunicação – Clóvis Corrêa

Fotos: Cláudia Ribeiro

Criação, Produção e Realização:  Cavi Borges e Marcia do Valle.

 

  



 

SERVIÇO:

Temporada: de 25 de março até 25 de junho de 2022

Local: Saguão do Cinema Estação NET Rio

Endereço: Rua Voluntários da Pátria, nº 35 – Botafogo – Rio de Janeiro

Telefone: (21) 98013-0885 (Cavideo)

Dias e Horários: sábados e domingos, às 21h30min
Valor do Ingresso: ‎R$40,00 (inteira) e R$20,00 (meia entrada)
Classificação Indicativa: 12 anos
Duração: 1h

Capacidade: 40 pessoas

Gênero: Comédia Dramática

OBS: Em função da pandemia Covid -19 será exigido o uso de máscara e o comprovante de vacinação atualizado na entrada do Estação NET Rio.


 


       Vale muito a pena vivenciar essa experiência, nova, para a grande maioria das pessoas, e se deixar envolver por uma atmosfera de ARTE, amor, cumplicidade e alegria. Tudo isso graças a MARCIA DO VALLE, a GIUVANEIDE, que eu gostaria de que trabalhasse na minha casa, nem que fosse uma só vez por semana, e a “SEU FELLINI”.




FOTOS: CLÁUDIA RIBEIRO (OFICIAIS) 

E

VÁRIOS AUTORES

 

 

 

GALERIA PARTICULAR:

(FOTOS: GILBERTO BARTHOLO.)

 

 

Com Marcia do Valle.


Marcia do Valle e Cavi Borges - Agradecimentos.


 

Marcia do Valle e Cavi Borges - Agradecimentos.



 

Marcia do Valle e Cavi Borges - Agradecimentos.

 



E VAMOS AO TEATRO,

COM TODOS OS CUIDADOS!!!

 

OCUPEMOS TODAS AS SALAS DE ESPETÁCULO

 DO BRASIL,

COM TODOS OS CUIDADOS!!!

 

A ARTE EDUCA E CONSTRÓI, SEMPRE!!!

 

RESISTAMOS, SEMPRE MAIS!!!

 

COMPARTILHEM ESTE TEXTO,

PARA QUE, JUNTOS,

POSSAMOS DIVULGAR

O QUE HÁ DE MELHOR NO

TEATRO BRASILEIRO!!!

 


































































































































































































































Nenhum comentário:

Postar um comentário