terça-feira, 19 de abril de 2022

“ALEGRIA

DE

NÁUFRAGOS”

ou

(TEATRO

PARAIBANO

DA MELHOR

QUALIDADE.)

ou

(DAS BOAS

SURPRESAS

DO TEATRO.) 









       Convidado que fui para a estreia de um espetáculo, no Teatro Ipanema, no último dia 15 de abril (2022), lá estava eu, para conhecer o trabalho de um grupo de TEATRO de João Pessoa, Paraíba. Fui com pouca informação sobre a peça, apenas com o “release”, que me foi enviado por ALESSANDRA COSTA (Assessoria de Imprensa e Comunicação), e com muita curiosidade e encantado com a criatividade que há no nome do Grupo: “SER TÃO TEATRO”.



Foi uma deliciosa surpresa e mais uma prova concreta daquilo que já venho comprovando, e propagando, há muitos anos, que é o fato de que a produção de excelentes montagens teatrais não é exclusividade, apenas, do Rio de Janeiro e São Paulo. Existe muito TEATRO de excelentíssima qualidade nascendo em todo o Brasil, principalmente no nordeste, e se espalhando pelo país afora. Que bom que isso esteja acontecendo! E cada vez mais!



    O espetáculo foi montado para comemorar os “15 anos de estrada” do Grupo, que me deixou muito bem impressionado. O nome da peça é “ALEGRIA DE NÁUFRAGOS”, baseado num conto de Anton Tchekhov, “Uma História Enfadonha”. Trata-se de uma livre adaptação, para os palcos, que, na visão do Grupo, é um “drama de Tchekhov, temperado com humor ácido da Paraíba”. Infelizmente, não conheço o conto (Vou procurar lê-lo.), mas vi muito “humor ácido da Paraíba” naquele palco. Da melhor qualidade.



        Antes de iniciar uma análise da montagem, acredito que seria interessante conhecermos um pouco sobre a trajetória do Grupo “SER TÃO TEATRO”, surgido em 2007, na cidade de João Pessoa, formado por alunos, professores e funcionários da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e outros artistas locais e que “vem se destacando no cenário artístico, com uma trajetória de sucesso e pesquisa, especialmente voltada para o trabalho do ator, para a musicalidade e para o treinamento físico/energético, fortalecendo os princípios da criação coletiva e colaborativa”.



     O Grupo já montou os seguintes espetáculos: “Vereda da Salvação, de Jorge Andrade (2007); “Farsa da Boa Preguiça”, de Ariano Suassuna (2010/2012), “Prêmio Funarte Artes Cênicas na Rua”, montagem em parceria com a “Cia. Clowns de Shakespeare” (RN); “Coronel de Macambira: Experimento” (2010); “Flor de Macambira” (2011), “Prêmio Funarte Myriam Muniz”, de 2011; “ALEGRIA DE NÁUFRAGOS” (2016); e “Reses” (2017), livremente inspirado na obra “A Santa Joana dos Matadouros”, de Bertold Brecht.



      O “SER TÃO TEATRO” vem tendo uma grande participação em Festivais de Teatro, o que considero muito interessante e importante, para o intercâmbio entre os diversos grupos, de todas as regiões do Brasil. Aqui, alguns dos Festivais dos quais o Grupo participou: “Mostra Latino-Americana de Teatro de Grupo” – SP; Cena Brasil Internacional” – RJ; “Festival do Recife de Teatro Nacional”; “FIT Rio Preto”; “Janeiro de Grandes Espetáculos”; “Virada Cultural Paulista”; “Festival Internacional de Artes de Brasília”; “Circuito Nacional do Palco Giratório – 2016”; “Festival Nordestino de Guaramiranga" (2013 e 2017): “Mostra de Teatro de Rua do Sesc” – SP; e “Festival Nacional de Teatro Cidade de Vitória” – ES.



      Em tão pouco tempo de existência, o “SER TÃO TEATRO” já conquistou vários prêmios, como o Domingos Sérgio Batista de Destaque da Cultura Paraibana” (2007); Melhor Espetáculo e Melhor Direção, com “Vereda da Salvação”, no “Festival Aldeia SESC” (2009); “Funarte Myriam Muniz de Teatro”, com “Coronel de Macambira” (2009); “Funarte Interações Estéticas”, com “Ser Tão Clowns” (2009); “Funarte Artes Cênicas na Rua”, com “A Farsa da Boa Preguiça” (2009); Melhor Espetáculo, pelo Júri Popular, com “Flor de Macambira”, no “XVIII Festival Nordestino de Teatro do Ceará” (2011)“Teatro Myriam Muniz”, com “Roda SerTão” (2012).



      Montado, pela primeira vez, em 2016, o espetáculo “ALEGRIA DE NÁUFRAGOS”, desde lá, viaja pelo Brasil, em temporadas ou participações em Festivais, sempre agradando e encantando as plateias, não sem motivo. Não se trata de um texto original, entretanto a dramaturgia me pareceu muito bem estruturada, totalmente voltada para os dias atuais, fazendo com que o consagrado escritor russo Tchekhov, autor do conto que deu origem à peça, se vestisse com roupas modernas. O conto, apesar de escrito em 1888, há quase um século e meio, é narrado, assim como na versão teatral, pelo protagonista, NICOLAI STIEPÁNOVITCH, um homem de 62 anos, entediado com a vida, porém esse tédio, bem “especial”, é racionalizado, descritivo, justificado.



O que mais chama a atenção do público, em geral, no desenrolar da história, é o fato de como, com sua imensa genialidade, ratificada pelos adaptadores do conto para o palco, Tchekhov enfatiza a forma como as pessoas vão se tornando desinteressantes e óbvias, com o amadurecimento e com a vida adulta. A efervescência da cabeça dos jovens vai perdendo sua força, como se acompanhasse a perda do vigor físico, com a velhice e o amadurecimento. O interesse pelo novo “esmaece” e tudo vai “empalidecendo”, perdendo seu valor, “perdendo a graça”, por conta de uma “estranha” sensatez, talvez em excesso, que toma conta das pessoas, de uma forma geral, nessa fase da vida.

 





SINOPSE:

Com um currículo impecável, o professor NICOLAI STIEPÁNOVITCH – pai de família e profissional reconhecido, no exercício, além das fronteiras do seu próprio país – poderia ser, facilmente, tomado como um exemplo de vida, um “homem feliz”.      

Mas, gradativamente, no desenrolar do espetáculo, esse “homem de bem” é submetido a um doloroso processo de "falência interior".

Refém das próprias escolhas e dos modelos exemplares que perseguiu, ao longo de sua caminhada, somente agora, quando pouco ou nada há de ser feito, o professor começa a adquirir clareza sobre o lado patético da sociedade e de suas instituições, incluindo seu trabalho e a própria família.

Graças ao talento do elenco afinadotrunfo do espetáculo –, essas reflexões extrapolam os personagens e tomam conta dos Teatros onde o espetáculo vem sendo encenado e, até, da própria vida.

Já o peso trágico da obra de Tchekhov é diluído em momentos de refinado e ácido humor.

 

 



 O protagonista não faz outra coisa, a não ser demonstrar uma enorme insatisfação, de uma forma geral, metralhadoras apontadas em todas as direções, criticando quase tudo, com muita sensibilidade e racionalidade: dos alunos à literatura, do TEATRO aos membros da própria família. Não sei como isso se dá, no conto, porém, em função da ótima dramaturgia, um personagem “chato e enfadonho”, uma pessoa desagradável, com a qual é difícil de se conviver, acaba por se transformar numa “metáfora da realidade”, se fizermos uso da empatia e pararmos para refletir sobre seus pontos de vista. Suas comparações, ainda que, à primeira vista, possam parecer absurdas, são bastante provocativas e ousadas.



A montagem é bastante modesta, na forma, e muito valiosa, no conteúdo. Para comentar, ainda que de forma sucinta, todos os elementos que entram na sua concretização, partirei de um trecho extraído do já citado “release”: “‘ALEGRIA DE NÁUFRAGOS’ estabelece pontes entre o discurso literário de mais de 150 anos e contundentes questões de nossos tempos. Pontes erguidas com o talento dos atores CELY FARIAS, RAFAEL GUEDES e THARDELLY LIMA, que incidem, sem concessões, sobre o presente e a geografia, com doses generosas de acidez e humor, provocando uma inevitável análise sobre si mesmos.”.



Dizem que “o cinema é a arte do diretor, enquanto o TEATRO é a arte do ator”. Sempre achei um pouco radical essa afirmação, entretanto, em determinados casos, tal assertiva me parece bem aplicada. Mesmo considerando o bom trabalho no tecer da dramaturgia e na ótima direção, de CÉSAR FERRARIO, vejo, como o cume desta montagem, o magnífico trabalho, afinadíssimo, do trio em cena, que só pelo fato de conseguirem dizer o texto na velocidade como o fazem, utilizando uma excelente dicção e impostação de voz, sem a utilização de recursos tecnológicos, a voz pura, conseguindo fazer com que o público entenda tudo o que eles dizem, já merece os nossos aplausos. São três profissionais muito versáteis, vivendo, os três, dois atores e uma atriz, o mesmo personagem, o protagonista, num revezamento tão ágil, que, se o espectador “comer mosca”, ficará perdido, sem entender o que está acontecendo em cena. Essa passagem do personagem, de um para outro, se dá, apenas, com a colocação de um chapéu, na cabeça. E, tão logo isso se dá, quem o recebe muda, completamente, do que estava fazendo antes para o PROFESSOR NICOLAI STIEPÁNOVITCH. Eles também se alternam em outros personagens.



É claro que todo esse dinamismo foi proposto pela direção, que também se ocupou em traçar movimentos e marcações que vão se intensificando, ao longo da encenação. Uma direção muito criativa e desafiadora, tanto para o diretor como para três artistas que atuam, os quais entraram, de forma plena, na aceitação do desafio e de seu cumprimento. À risca. A ideia de fazer com que os três se revezem, na pele de um só personagem, não é nem um pouco inédita. Já vi isso em inúmeras montagens, porém nunca de forma tão perfeita como nesta.



Dão suporte à direção e ao elenco bons profissionais de criação, como MARCO FRANÇA, responsável pela direção musical e pela música original; MARIA BOTELHO, que criou a cenografia e os adereços, com poucos elementos, todos muito bem aproveitados nas cenas; VILMARA GEORGINA, criadora dos figurinos, que não poderiam ser outros, bem de acordo com o universo dos personagens; e o próprio Grupo, que se encarregou de fazer o desenho de luz da peça, sem nenhuma complicação ou sofisticações, que disso a montagem não carecia mesmo.




 

FICHA TÉCNICA: 

Baseado no conto “Uma História Enfadonha”, de Anton Tchekhov

Dramaturgia: “Ser Tão Teatro”, Cesár Ferrario e Giordano Castro

Direção: César Ferrario E Giordano Castro

 

Elenco: Cely Farias, Rafa Guedes e Thardelly Lima

 

Direção Musical e Música Original: Marco França

Cenografia e Adereços: Maria Botelho

Figurino: Vilmara Georgina

Desenho de Luz: “Ser Tão Teatro”

Operação De Som: Natália Sá

Fotografia: Eunilo Rocha e Marina Cavalcante

Assessoria de Imprensa: Alessandra Costa

Produção: “Ser Tão Teatro” e Maria Alice Silvério

 

 





  

SERVIÇO:

Temporada: dias 09, 10, 15, 16, 17, 29, 30 de abril e 1º de maio

Local: Teatro Ipanema

Endereço: Rua Prudente de Morais, nº 824 – Ipanema – Rio de Janeiro

Dias e Horários: sextas-feiras e sábados, às 20h; domingos, às 19h

Valor dos Ingressos: R$20,00 (meia entrada) / R$40,00 (inteira)

Vendas: www.sympla.com/sertaoteatro

Duração do espetáculo: 58 minutos

Classificação Etária Indicativa: 12 anos

Gênero: Comédia

 

 



        Estou bastante “chateado”, talvez tanto quanto o protagonista da peça, por não vislumbrar a possibilidade de rever o espetáculo, que eu RECOMENDO MUITO, por já estar com a agenda comprometida, nos dias em que ainda haverá sessões. Gostaria muito de que os que me leem fossem ao Teatro Ipanema, numa das datas que estão assinaladas no SERVIÇO, para conhecer e prestigiar o trabalho de um Grupo de TEATRO que merece nossos aplausos e que precisa voltar, mais vezes, ao Rio de Janeiro.

 

 

 

Sede do "SER TÃO TEATRO, em João Pessoa, Paraíba.

 


FOTOS: EUNILO ROCHA

E

MARINA CAVALCANTE

 



 

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