NA
COXIA,...
...COM RUBENS LIMA JR..
Rubens Lima Jr.
Se alguém o procurar por seu nome artístico, muitos
vão saber de quem se trata, entretanto, se a pesquisa for feita sobre o seu
primeiro nome, no diminutivo, não há, no universo teatral carioca, incluindo os
profissionais da área e o público em geral, quem não conheça o RUBINHO,
como, carinhosamente, é tratado RUBENS LIMA JR., professor do Departamento
de Interpretação da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO),
desde 1992, com um currículo extenso, tanto de formação quanto de trabalho.
Em 1995, criou, no Centro de Letras e Artes da UNIRIO, o “Projeto Teatro Musicado”, coroando sua dissertação de mestrado em TEATRO MUSICAL, que teve como título “Arthur Azevedo e o TEATRO Naturalista”. Para pôr em prática seu “Projeto”, RUBINHO contou com o apoio da reitoria da Universidade e estabeleceu uma parceria com a Escola de Música e com os departamentos de Teoria, Cenografia e Direção Teatral, para produzir trabalhos de pesquisa acadêmica.
Em sua primeira experiência desenvolvida no projeto, já deixou bem claro a que viera. Foi uma montagem de “Kabarret Valentim”, com 32 alunos, numa temporada de grande sucesso, que durou dois meses e fez com que o espetáculo representasse a instituição, a convite, no “Festival de Outono de Madri”, também em 1995, no qual o grupo ganhou o prêmio de “Melhor Espetáculo da Mostra Alternativa”. Uma curiosidade é que RUBINHO já havia participado de uma montagem do “Kabarret”, em 1983, como aluno, dentro da própria UNIRIO, que acabou se tornando uma produção profissional, em carreira, com temporadas em mais de um Teatro, no Rio de Janeiro.
A partir de 2007, o “Projeto”
deslanchou, com brilhantes montagens de um sucesso atrás do outro, cada um
superando, em todos os sentidos, o do ano anterior. Logo a partir dessa
primeira experiência, um público amante dos musicais, grupo no qual,
orgulhosamente, me incluo (Assisto a todas as peças, mais de uma vez.),
passou a ser fiel às "montagens de RUBINHO" e, a cada ano, um novo recorde
de espectadores é batido. Para se ter uma ideia do quanto as “peças do
RUBINHO” estão sendo concorridas, elas são iniciadas às 21h e, sendo a
entrada gratuita, a partir das 20h, distribuem-se senhas, para o acesso ao “Palcão”. Aproximando-se o final da tarde, já começa a
se formar uma enorme fila, à porta da Sala Paschoal Carlos Magno e, não
raro, voltam, frustradas, para suas casas, a cada dia, às vezes, cerca de cem
pessoas, número superior ao da capacidade de lotação da casa.
É ou não é um fenômeno? E a que se deve isso?
Além do grande público, que disputa, com unhas e dentes, um lugar no minúsculo “Palcão”
(Menos de cem lugares regulares.), sujeitando-se a se sentar nas escadas e no
chão, têm assistido às sessões dessas práticas de montagem consagrados atores,
diretores e produtores do TEATRO BRASILEIRO, da TV e do cinema. E as
opiniões são unânimes: “Uma maravilha!”. “Fantástico!”. “Inacreditável!”. Assim se pronunciaram, por exemplo, Lilia Cabral e DONA Fernanda Montenegro.
Pelas mãos do RUBINHO, dentro do seu “Projeto
de Teatro Musicado”, vários alunos passaram e, hoje, são consagrados nomes
do TEATRO MUSICAL BRASILEIRO e também atuam em outras mídias, como LEO
BAHIA, HUGO KERT, VICTOR LEAL MAIA, ANDREI LAMBERG, BÁRBARA SUT, BRUNO
NUNES, BRUNO BOER, CAIO SCOT, CAMILA MAIA, LARISSA LANDIM, LEONAM
MORAES, FERNANDA GABRIELA, LUÍSA VIANNA, LUIZ GOFMAN,
NANDO BRANDÃO, SANTIAGO VILLALBA, TAUÃ DELMIRO, VINÍCIUS
TEIXEIRA e tantos outros.
No próximo dia 8 de setembro (2020), RUBINHO
completará 40 anos de carreira profissional, uma data a ser, muito
merecidamente, comemorada.
1) O TEATRO ME REPRESENTA: Para ser bem “original”,
considerando que não sou jornalista, vou começar por uma perguntinha bem
básica. Como, onde e quando você descobriu que, para você, a “estrada de
tijolos amarelos” o levaria ao mundo do TEATRO?
RUBENS LIMA JR.: Gosto
de TEATRO desde pequeno. Inicialmente, fiz TEATRO escolar, infantil,
no Instituto de Educação, no Rio de Janeiro, e, no ano de 1973,
no Teatro Arthur Azevedo, dessa mesma escola, famosa pela minissérie “Anos
Dourados”. Escrevi, montei, dirigi e fui o protagonista (Risos.) de
um infantil, chamado “Circus”, que chegou a fazer alguns espetáculos
para os alunos pequenos dessa mesma escola. Eu tenho, até hoje, algumas fotos.
Tinha 12 anos, nessa época, e não parei mais. Mas o “clic”
mesmo já havia sido dado, ao assistir, aos 7 anos, levado pela minha mãe, ao filme
musical “A Noviça Rebelde”.
"Circus" - 1973
(Na porta o Instituto de Educação - Arquivo familiar.)
(Idem.)
2) OTMR: Ao contrário de hoje,
quando muitos pais sonham com filhos artistas, antigamente, era muito difícil
contar com o apoio da família, quando se escolhia qualquer arte, como
profissão, principalmente o TEATRO. Como foi isso para você?
RLJ:
Não tive apoio, mas ninguém da família nunca teve nada contra. Iam assistir aos
meus trabalhos e achavam que era um passatempo.
Meu primeiro espetáculo profissional aconteceu em setembro de 1980,
com o infantil “O Tambor do Tereré”, de Hidelmar Barbosa, no Teatro
do Monte Sinai, na Tijuca.
(Foto tirada e enviada pelo entrevistado. Arquivo familiar.)
(Foto tirada e enviada pelo entrevistado. Arquivo familiar.)
(Foto tirada e enviada pelo entrevistado. Arquivo familiar.)
3) OTMR: Como se deu a sua formação acadêmica?
RLJ: Primeiro,
formei-me em jornalismo, pela PUC - Rio, profissão, que volta e meia, ainda
exerço e que me foi fundamental, também, na área teatral; isso em 1983.
No mesmo ano, entrei na UNIRIO e fiz bacharelado em direção,
interpretação, licenciatura em TEATRO, pós- graduação (especialização)
em TEATRO MUSICAL BRASILEIRO, dois mestrados – um em educação e outro em
TEATRO - e um doutorado em TEATRO. Quando fiz o mestrado em TEATRO
- Educação e o doutorado, eu já era professor da UNIRIO. Passei no
concurso para professor em 1993.
"Uma Mulher de Vida Nada Fácil" - São Paulo - 1989
(Arquivo pessoal do entrevistado.)
(Foto tirada e enviada pelo entrevistado. Arquivo familiar.)
(Foto tirada e enviada pelo entrevistado. Arquivo familiar.)
4) OTMR: Antes de encarar os
estudos, para se tornar um profissional, você fez TEATRO amador? Em caso
afirmativo, atuando ou dirigindo?
RLJ:
Eu fiz muito TEATRO amador e tive algumas companhias de TEATRO,
na Tijuca; especificamente, no Clube Municipal e o no Clube do
América, sempre dirigindo e, algumas vezes, atuando.
"Confidências" - 1988
(Arquivo familiar do entrevistado.)
"Festival Tardieu" - Teatro da Aliança Francesa de Botafogo - 1986.
(Arquivo pessoal do entrevistado.)
(Foto tirada e enviada pelo entrevistado. Arquivo familiar.)
5) RUBINHO, por conta do seu vitorioso “PROJETO TEATRO MUSICADO”, na UNIRIO, o seu nome sempre nos remete a musicais, e, embora eu saiba que essa é, na minha opinião, a sua “praia”, você também já dirigiu, e ainda dirige, outros gêneros teatrais. Fale, resumidamente, da sua trajetória como diretor, durante uma linda carreira, à beira dos 40 anos de profissão
RLJ: Eu
fiz muitos espetáculos nesses últimos 40 anos e, apesar de grande parte deles
pertencer aos musicais, já dirigi muitos outros gêneros, que vão do drama,
comédia e infantis, passando pelo TEATRO do absurdo e alguns espetáculos
experimentais. Tenho algo em torno de 60 espetáculos, vários, montados
em diversos estados do Brasil e, também, na Espanha e em Portugal.
(Foto tirada e enviada pelo entrevistado. Arquivo familiar.)
(Foto tirada e enviada pelo entrevistado. Arquivo familiar.)
6) OTMR: O “PROJETO TEATRO
MUSICADO” foi criado há 25 anos, quando os musicais eram bem raros entre
nós, as grandes produções estavam apenas engatinhando, salvo raras exceções, e
não havia, ainda, um público cativo, como acontece hoje. Ainda que já saibamos
qual foi o embrião do “PROJETO”, qual era, exatamente, naquele momento,
a sua intenção, com aquela iniciativa?
(Foto tirada e enviada pelo entrevistado. Arquivo familiar.)
"Kabarret Valentim" - 1995 - UNIRIO.
(Arquivo pessoal do entrevistado.)
7) OTMR: Quais foram as primeiras
reações das pessoas, dentro da UNIRIO, quando o “PROJETO” foi
lançado? Refiro-me a toda a comunidade acadêmica, da administração ao alunado?
RLJ:
No momento da criação, e até hoje, sempre foi motivo de polêmica, pois muitos achavam (alguns professores, colegas, e alguns alunos também) que o TEATRO
MUSICAL não deveria ser ensinado numa Universidade. Polêmicas à parte, eu
nunca desisti de implantar esse projeto, e continua firme, até hoje.
(Foto tirada e enviada pelo entrevistado. Arquivo familiar.)
(Foto tirada e enviada pelo entrevistado. Arquivo familiar.)
(Foto tirada e enviada pelo entrevistado. Arquivo familiar.)
8) OTMR: Um dos aspectos que mais
me encantam, no “PROJETO”, é o seu método de trabalho, envolvendo
núcleos distintos da Universidade, todos voltados para o mesmo ideal, e, a
partir de um determinado momento, abrindo as portas para estudantes de outras
universidades públicas, inclusive para gente que não cursa TEATRO. Você
tem consciência da dimensão do que representa, no momento político atual, essa
união de forças?
RLJ:
Acredito que todos podem aprender a atuar e no TEATRO MUSICADO. Acredito, também, nisto: que todos podem ser introduzidos nesse mundo. Depois de algum tempo, a
proposta se estendeu a todos os cursos da UNIRIO e, mais tarde, a
qualquer universidade federal do Brasil. Acho que, desde sempre, essa força e
essa união se tornaram fundamentais para o "PROJETO".
(Foto tirada e enviada pelo entrevistado. Arquivo familiar.)
(Foto tirada e enviada pelo entrevistado. Arquivo familiar.)
(Foto tirada e enviada pelo entrevistado. Arquivo familiar.)
9) OTMR: Como eu já tive a
oportunidade de dizer, na apresentação desta entrevista, muita gente talentosa,
reconhecida, hoje, pelo grande público, saiu das suas montagens, passou pelos
seus ensinamentos, crivo e orientação. Vendo aqueles jovens, atuando nos seus
musicais, você já enxergava, lá atrás, uma carreira de sucesso para eles, no
futuro, que já é hoje?
RLJ:
Eu nunca pensei ou criei expectativas sobre o sonho de todo ator que me
procurava para estudar e aprender com o gênero musical. Apenas me senti como
uma espécie de instrumento para isso. É o ator que tem que aproveitar e se
desenvolver. Mas confesso que fico muito orgulhoso de ver vários atores que
passaram por esse processo, trabalhando, hoje, profissionalmente, com muito
sucesso.
(Foto tirada e enviada pelo entrevistado. Arquivo familiar.)
(Foto tirada e enviada pelo entrevistado. Arquivo familiar.)
10) OTMR: Você parece Midas,
na escolha dos textos que monta, porque tudo se transforma em grande sucesso.
Quais são os critérios, além da qualidade, obviamente, para essas escolhas?
RLJ:
Minhas escolhas de qual espetáculo musical eu vou montar, inicialmente, eu as
desenvolvo dentro da minha pesquisa na Universidade. Geralmente, de três em
três anos, estudo uma linha dramatúrgica e pesquiso arduamente. Com certeza,
aprendo junto. Atualmente, estou na fase 3 do trabalho de pesquisa do TEATRO
MUSICAL BRASILEIRO, que passou por “O Mambembe”, do Arthur
Azevedo, “O Primo da Califórnia”, de Joaquim Manuel de Macedo
e, agora, com um texto inédito, e nunca montado como um musical, que é o conto “O
Alienista”, de Machado de Assis.
11) OTMR: Na minha opinião, e acho
que na de muita gente, um dos maiores sucessos de todas as montagens do “PROJETO”,
se não for a melhor, foi “Tke Book of Mormon”. Eu assisti, três vezes,
na UNIRIO, em outros espaços (UERJ, Cidade das Artes e Teatro João Caetano) e, uns dois anos depois da sua montagem, tive a oportunidade
de conferir a produção londrina, em West End, e digo, de coração, que,
guardadas as devidíssimas proporções, considerando-se os parcos recursos
financeiros aqui disponíveis, e muito bem empregados, comparados com os de uma
produção profissional, em Londres, em termos de qualidade, de espetáculo, de
produto final, vocês não ficaram nada a dever aos gringos. Eu saí do Prince
of Wales Theatre muito orgulhoso de vocês. Como se deu o processo de
permissão para que o musical fosse montado no Brasil?
RLJ:
Pela lei de direitos autorais aqui, no Brasil, há uma cláusula, bem clara, que
me permite montar qualquer espetáculo, desde que seja em um espaço escolar
público, numa universidade federal, com intuito de aprendizado, de forma
gratuita e, caso seja, também, apresentado em outro espaço, que tem ser público
também, como um Teatro administrado por algum órgão oficial ou fundação,
as apresentações terão de ser sempre de forma gratuita e sem ter nenhum tipo de
propaganda ou patrocínio. Com isso, eu pude montar, tranquilamente, o “The
Book of Mormon”. Fomos questionados, em algum momento, sobre essa montagem.
O escritório de New York, que detém os direitos, contratou um advogado
do Brasil, para assistir à montagem, entender e saber o que estava acontecendo aqui,
já que esse sucesso tinha chegado até a Broadway, mas não tivemos nenhum
problema, já que o advogado viu que não estávamos infligindo nenhuma lei de
direitos autorais, para a tristeza de quem denunciou o nosso projeto (Risos.).
(Foto tirada e enviada pelo entrevistado. Arquivo familiar.)
(Foto tirada e enviada pelo entrevistado. Arquivo familiar.)
12) OTMR: Você prefere trabalhar com
elencos numerosos ou com poucos atores. Vejo em você, uma facilidade muito
grande para conduzir trabalhos com muita gente em cena. Como funciona, na
prática, o seu processo de ensaio e, em média, quanto tempo dura?
RLJ:
A escolha dos atores para o projeto da UNIRIO se dá em um teste, para
ver as possibilidades de cada um e nunca escolher um ator de musical pronto. No
início desse processo, todos são avisados do tempo previsto, para não termos
problemas no futuro. Ele dura, em media, um ano e meio e não começa,
diretamente, com o musical escolhido. Trabalha-se, inicialmente, o TEATRO
MUSICADO e todas as suas vertentes, como introdução à dança, o canto, a
interpretação, a história do TEATRO MUSICAL e gêneros afins… Ainda
acontecem exercícios de integração e relação, trabalhos com “cross fit”,
TEATRO do Oprimido, de Augusto Boal, seminários
feitos por eles e, só depois de seis meses, é que vamos pensar no texto do
musical escolhido. E, desse trabalho, participam, ativamente, professores da Escola
de Teatro e da Escola de Música da UNIRIO, além de diversos
voluntários e especialistas de todos os setores que abrangem uma montagem
musical.
Theatro Municipal do Rio de Janeiro - 2008
(Foto tirada e enviada pelo entrevistado. Arquivo familiar.)
(Foto tirada e enviada pelo entrevistado. Arquivo familiar.)
13) OTMR: Existe uma preferência por
alguma temática? Uma justificativa, por favor.
RLJ:
Eu gosto de todos os gêneros musicais, mas prefiro as comédias musicais e o TEATRO
de Revista Brasileiro.
(Foto tirada e enviada pelo entrevistado. Arquivo familiar.)
(Foto tirada e enviada pelo entrevistado. Arquivo familiar.)
14) OTMR: Você já teve experiências
de direção em outras mídias? Em caso afirmativo, em qual(is) e como foi?
RLJ: Já
dirigi algumas coisas diferentes, saindo um pouco do TEATRO. Para a
televisão, uma minissérie sobre TEATRO, para a Fundação Roberto
Marinho/Canal Futura, e, até, o “Miss Estado do Rio de Janeiro”, por
dois anos seguidos, pela TV Band Rio, ao vivo. Algumas “performances”,
para a “Flip”, de Parati, na Casa da Leitura, e diversos projetos
do “Grupo ClãdestinoI”, de arte e educação, em seções de criação verbal,
por todo o Brasil.
"Fascinante Gershwin"
(Foto: Thiago Ristow.)
15) OTMR: O seu método de direção,
de trabalho, obedece a alguma disciplina rotineira ou varia de montagem para
montagem?
RLJ:
Meu trabalho de direção é sempre diferente, dependendo da proposta, dos atores,
dos gêneros... Eu gosto muito de estar, sempre, buscando novas fórmulas de
direção e, volta e meia, misturo tudo. Sou um “psicólogo”, na direção,
em todos os sentidos.
"Fascinante Gershwin"
(Foto: Thiago Ristow.)
"Fascinante Gershwin"
(Foto: Thiago Ristow.)
"Fascinante Gershwin"
(Foto: Thiago Ristow.)
16) OTMR: Já passou pela experiência de dirigir e atuar, num mesmo espetáculo? Em caso afirmativo, como se dá o processo?
RLJ:
Durante o início da minha carreira, fiz isso, algumas vezes, de atuar e
dirigir, mas, como eu deixei de ser ator, isso, atualmente, não é nenhum
problema. Mas, hoje em dia, eu jamais faria um trabalho atuando e dirigindo ao
mesmo tempo. É muito ego para administrar. (Risos.)
17) OTMR: Nos últimos anos, você tem
se dedicado, quase que “full time”, às suas atividades docentes e ao “PROJETO”.
Não sobra tempo para dirigir um espetáculo, no circuito comercial? Por que
você, infelizmente, atua bissextamente nesse circuito?
RLJ:
Apesar do pouco tempo, consigo fazer trabalhos do “PROJETO UNIRIO TEATRO
MUSICADO” junto com trabalhos profissionais.
18) OTMR: Pode parecer meio óbvio,
mas você seria capaz de, sinteticamente, definir quais são a função e a
importância do diretor num espetáculo teatral?
RLJ:
Sou um diretor “à antiga” (Risos.) e acho que a direção é a coisa
mais importante em um espetáculo. Eu concebo a direção, as marcas, o que eu
quero dizer sobre esse espetáculo e me cerco de atores, técnicos, para me
ajudar a desenvolver essa minha concepção. Sou muito personalista no que faço,
na direção, mas aceito, com tranquilidade, todas as sugestões, mas jamais
conseguiria trabalhar em uma direção coletiva.
19) OTMR: As relações diretor/elenco
e diretor/artistas de criação (cenógrafo, figurinista, iluminador...) são bem
distintas, mas "dialogam". Como elas se dão?
RLJ:
Tenho ótimas relações com os outros setores de uma montagem. Acredito, piamente,
que o TEATRO é uma arte coletiva, mas, com um comando.
20) OTMR: Quando o planeta foi
tomado, de assalto, por um inimigo invisível, capaz de fazer parar o mundo,
você estava em pleno processo do que seria o musical de 2020: “O
Alienista”. Gostaria de que você falasse um pouco sobre ele e se continuará
sendo a próxima montagem, em 2021, na hipótese, quase certeza, de que,
infelizmente, o ano teatral, no Brasil, terminou, bruscamente, no dia 13 de
março próximo passado, ou se vai abandonar o projeto e partir para outro.
RLJ:
Apesar da pandemia, o próximo projeto do “UNIRIO TEATRO MUSICADO”, que é
“O Alienista”, continua firme nos planos. Assim que passar essa pandemia,
e quando tivermos segurança, voltaremos a ensaiar, para estrear logo.
Deveríamos ter estreado em maio deste ano.
(The Rocky..."
(Divulgação)
(The Rocky..."
(Divulgação)
(The Rocky..."
(Divulgação)
(The Rocky..."
(Divulgação)
(The Rocky..."
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(The Rocky..."
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(The Rocky..."
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(The Rocky..."
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(The Rocky..."
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(The Rocky..."
(Divulgação)
21) OTMR: Você, principalmente, no
início de sua carreira, dirigiu muito TEATRO InfantojuveniL, ou,
simplesmente, Infantil. Como se posiciona com relação ao que é feito,
hoje, em termos de qualidade e de preocupação, por parte das produções, no que
diz respeito à intenção de formar uma futura plateia?
RLJ:
Gosto muito do TEATRO Infantil com qualidade e sempre busco isso, quando
vou dirigir algum projeto do gênero.
Fujo de coisas fáceis e sem qualidade artística.
(Divulgação)
"Tommy..."
22) OTMR: Você encara o TEATRO
MUSICAL mais como uma forma de entretenimento ou ele acrescenta valores
para o espectador?
RLJ:
O TEATRO MUSICAL é um entretenimento e acrescenta valores ao público. O
gênero é vasto em possibilidades.
(Divulgação)
(Divulgação)
(Divulgação)
23) OTMR: Nas suas montagens, você
utiliza a caracterização para transformar atores e atrizes jovens em
personagens velhos. Há algum limite de idade, para participar do “PROJETO”?
E quais são os pré-requisitos exigidos, para fazer parte de uma “montagem do
RUBINHO”?
RLJ: Não
existe nenhum pré-requisito especial, para participar do “PROJETO UNIRIO
TEATRO MUSICADO”. Tem que ser apenas um candidato matriculado em alguma
Universidade Federal e muita vontade de aprender, de querer fazer, de se
entregar. Eu busco, nesse candidato, nas audições que faço, duas coisas:
vontade e determinação.
(Divulgação.)
24) OTMR: O TEATRO MUSICAL,
no Brasil, já atingiu um patamar, que justifica que haja alguns prêmios
especiais, voltados, apenas, a esse gênero. Fora esses, os quais ainda são poucos,
é bastante difícil ver musicais emplacando premiações, em todas as categorias,
em prêmios não específicos para o gênero. Algumas pessoas me dizem que, de uma
forma geral, infelizmente, ainda há um grande preconceito contra musicais, no
Brasil, assim como também existe, com relação às comédias. Eu mesmo já ouvi
comentários desabonadores sobre os dois gêneros, o que me deixa bastante triste
e irritado. Digo-lhe, inclusive, que conheço atores (?) e atrizes (?) que
consideram o TEATRO MUSICAL como uma espécie de “arte menor”,
assim como, por total ignorância, muita gente tem o mesmo pensamento com
relação às comédias. Na sua opinião, existiria uma espécie de preconceito com
relação aos musicais e às comédias, por parte de quem organiza os prêmios de TEATRO
ou julga? O que você tem a dizer sobre isso?
RLJ: A
comédia e o musical sempre vão sofrer preconceito em matéria de premiação. Não
é à toa que o “Globo de Ouro” nos EUA, divide essa premiação em dois
setores, por causa disso. Existem, sempre, erros de avaliação. Afirmo que o TEATRO
MUSICAL é um desafio muito forte para quem o faz, pois o ator é um
verdadeiro atleta, que tem que, ao mesmo tempo, saber representar, cantar e dançar.
É muito difícil e complexo. O preconceito contra o TEATRO MUSICAL, infelizmente,
ainda vai existir, enquanto os críticos não entenderem que a arte pode ser
comercial e, ao mesmo tempo, artística.
(Divulgação)
(Divulgação)
25) OTMR: Tendo a sorte de poder
assistir a musicais fora do país, e, salvo algum engano, sendo o maior
frequentador e admirador de musicais no Brasil (Risos meus.), sem nenhum
ufanismo, digo que, em muitos aspectos, já constatei que não ficamos devendo
nada aos estrangeiros, ou muito pouco, principalmente na qualidade do material
humano, quanto a esse gênero teatral. Você concorda comigo? O que ainda está
faltando aos musicais brasileiros, para que atinjam um perfeito nível de
qualidade, aceitação e maior valorização?
RLJ:
Acho que o musical brasileiro está em pé de igualdade com qualquer musical
estrangeiro, como o americano. Só acho que temos que evoluir mais na
dramaturgia, na criação de textos para musicais, que, em minha opinião, ainda
não é o ideal.
(Divulgação)
(Divulgação)
26) OTMR: Antigamente, para se
montar um musical, no Brasil, era um grande problema, uma vez que os diretores
e produtores se esforçavam muito para encontrar gente que, no mesmo nível de
qualidade, cantasse, dançasse e representasse.
Era muito difícil formar um elenco, principalmente quando era grande. Hoje, ocorre o contrário: os diretores e
produtores sofrem muito, por terem de abrir mão de grandes talentos, que se
multiplicam a cada dia, nas audições. O que mudou na formação do ator
brasileiro de hoje?
RLJ: Acho que, há muito tempo, o ator de musical vem buscando,
por conta própria, a sua formação, principalmente na área de música e de dança,
com aulas focadas na formação desse ator específico. No “PROJETO UNIRIO
TEATRO MUSICADO”, vimos tentando trabalhar essa formação. em canto, dança e
interpretação, de uma forma mais integrada de linguagens. Lembro-me de uma
entrevista do Maurício Sherman, falando que, quando montou “Evita”,
no início dos anos 80, teve que “pedir emprestado” os bailarinos e
cantores do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, para fazer parte do
elenco. Hoje, isso já não acontece mais.
(Divulgação)
(Divulgação)
27) OTMR: Por que, hoje, os Teatros
lotam, quando o espetáculo em cartaz é um bom musical? Mudou o interesse da
plateia? Em função de quê?
RLJ:
O TEATRO MUSICAL já tem, há um bom tempo, muito sucesso aqui, no Brasil,
e isso se intensificou pela retomada mais
efetiva do gênero, no final do século passado, mais propriamente, na
última década (1990), e, também, porque o público gosta dele aqui, como em qualquer parte do mundo. No Brasil, desde o tempo do TEATRO
de Revista, com textos do Arthur Azevedo, sempre fez mais sucesso
que outros gêneros teatrais. O TEATRO MUSICAL sempre vai ter as maiores
bilheterias e uma maior visibilidade, pois é um gênero que tem muita gente em
cena, cantando e dançando, grandes cenários, figurinos deslumbrantes etc.. O TEATRO
MUSICAL é pura magia, um gênero que grande parte do público quer ver e se
divertir, refletir, em algumas montagens, e sair feliz do Teatro.
(The Book...")
(Divulgação.)
(The Book...")
(Divulgação.)
28) OTMR: Que espetáculo lhe deixou
mais saudade? Por quê?
RLJ: Pode
ser chavão, mas sinto saudades de todos os espetáculos que dirigi. Tenho a
minha casa lotada de cartazes nas minha paredes e, volta e meia, eu paro em
frente deles para lembrar. Fico com muita saudade de atores com quem trabalhei
e que já partiram. Tenho aquela sensação de que algo se perdeu naquela montagem
que se foi. Eu sinto saudades desses espetáculos.
(The Book...")
(Divulgação.)
(The Book...")
(Divulgação.)
(The Book...")
(Divulgação.)
(The Book...")
(Divulgação.)
29) OTMR: Que espetáculo, musical ou
não, já montado, profissionalmente, no Brasil, você gostaria de ter
dirigido? Por quê?
RLJ:
Tinha muita vontade de ter dirigido “Gota d’Água”, com Bibi Ferreira.
Assisti ao espetáculo, em 1975, e nunca mais me esqueci.
(The Book...")
(Divulgação.)
(The Book...")
(Divulgação.)
(The Book...")
(Divulgação.)
(The Book...")
(Divulgação.)
30) OTMR: Mesmo trabalhando muito, a
gente se encontra, vez por outra, nas plateias, principalmente nas
estreias. Dos mais recentes, ou qualquer
outro a que tenha assistido, qual(is) espetáculo(s) lhe causou(aram) grande
prazer e admiração em assistir a ele(s)?
RLJ:
Adoro fazer e ir a musicais. Tive muito prazer, recentemente, em ver a Bárbara
Sut, atriz que tive o prazer de dirigir, em “O Mambembe”, ser a
protagonista da versão musical de “Romeu e Julieta - ao Som de Marisa Monte”.
(The Book...")
(Divulgação.)
(The Book...")
(Divulgação.)
(The Book...")
(Divulgação.)
31) OTMR: Cite os nomes de alguns
atores a atrizes, com os quais ainda não tenha trabalhado, profissionalmente,
que você gostaria de dirigir.
RJL: Gotssha, Maria Stella
Rodrigues, Alessandra Verney, Laila Garin e Daniel Boaventura
são alguns deles, mas há muito mais gente que eu gostaria de dirigir um dia.
"O Jovem..."
(Divulgação.)
"O Jovem..."
(Divulgação.)
32) OTMR: Cite um (ou mais, se
desejar) espetáculo que tenha sido mais desafiador para você, no sentido de
mais trabalhoso, e diga por quê.
RLJ:
O mais desafiador, para mim, foi “Rock Horror Show”, sem nenhuma verba e
com a garra dos meus atores.
"O Jovem..."
(Divulgação.)
"O Jovem..."
(Divulgação.)
"O Jovem..."
(Divulgação.)
33) OTMR: Vou repetir uma pergunta
que já fiz a outro entrevistado. Apesar de seus projetos, em TEATRO,
serem sempre vitoriosos, você já deve ter recebido alguma crítica negativa que
lhe tenha desagradado, não por ela em si, mas por não a achar pertinente. Sim
ou não? Em caso afirmativo, sem citar nomes de pessoas, evidentemente, poderia
nos dizer qual?
RLJ:
Já recebi várias críticas pertinente e outras não. Já recebi até elogios de espetáculos
que eu não merecia. Na verdade, eu leio e guardo para mim, sem me sentir
injustiçado. Cada um tem sua própria versão do que gosta ou não. Só fiquei
chateado uma vez, por uma crítica maldosa, por um erro da produção, em que um
crítico não tinha sido convidado para a estreia. Ele foi no segundo dia e
acabou com a peça.
"O Jovem..."
(Divulgação.)
"O Jovem..."
(Divulgação.)
"O Jovem..."
(Divulgação.)
"O Jovem..."
(Divulgação.)
"O Jovem..."
(Divulgação.)
"O Jovem..."
(Divulgação.)
"O Jovem..."
(Divulgação.)
"O Jovem..."
(Divulgação.)
"O Jovem..."
(Divulgação.)
"O Jovem..."
(Divulgação.)
"O Jovem..."
(Divulgação.)
34) OTMR: Outra pergunta repetida. O nosso futuro, como humanidade, é completamente uma incógnita, pós-pandemia. Disso, acho que ninguém tem dúvidas. No que concerne ao TEATRO, quais as suas previsões com relação a quando teremos sessões “normais” ou como deve ser essa volta à “normalidade”.
RLJ: Vai
acontecer, assim que acabar essa pandemia, de fato, um renascimento do TEATRO.
As pessoas vão ficar ávidas de cultura e vão viver, intensamente, o TEATRO,
nesse “mundo novo”.
"O Mambembe"
(Arquivo.)
"O Mambembe"
(Arquivo.)
"O Mambembe"
(Arquivo.)
"O Mambembe"
(Arquivo.)
"O Mambembe"
(Arquivo.)
"O Mambembe"
(Arquivo.)
"O Mambembe"
(Arquivo.)
35) OTMR: Como encenador, você deve
ter, ainda, a vontade de montar algum(ns) texto(s) clássico(s). Isso procede? E qual
(quais) seria(m) ele(s)?
RLJ:
Ainda quero montar, profissionalmente, “A Agonia do Rei”, de Eugène
Ionesco, que montei, como aluno-diretor, na UNIRIO. É a história de um rei absolutista, que é
avisado pelo seu médico que ele vai morrer.
36) OTMR: Você acha que fazer TEATRO,
no Brasil, é, realmente, um ato político e de resistência? Por quê?
RLJ: Fazer
TEATRO, fazer artes, em geral, sempre, na minha opinião, vai ser um ato
político e de resistência. A arte transforma, questiona, quebra tabus. Coloca-se,
sempre, à frente das mudanças. É por isso que as artes, volta e meia, são
reprimidas e censuradas, em sociedades democráticas ou não.
Fila na porta do Teatro João Caetano.
(Foto: autor desconhecido.)
37) OTMR: Como você reage, quando
alguém do elenco resolve fazer uma “autodireção” e fugir ao que foi
ensaiado, “não cumprindo o combinado”?
RLJ:
Ninguém, em hipótese alguma, se autodirige nos meus espetáculos. Nunca, em tempo
nenhum!
"O Primo..."
(Divulgação.)
"O Primo..."
(Divulgação.)
"O Primo..."
(Divulgação.)
"O Primo..."
(Divulgação.)
"O Primo..."
(Divulgação.)
"O Primo..."
(Divulgação.)
"O Primo..."
(Divulgação.)
"O Primo..."
(Divulgação.)
"O Primo..."
(Divulgação.)
"O Primo..."
(Divulgação.)
"O Primo..."
(Divulgação.)
"O Primo..."
(Divulgação.)
"O Primo..."
(Divulgação.)
38) OTMR: Quais são as suas
referências de diretores de TEATRO, brasileiros, do passado e atuais, e
que lhe serviram/servem de inspiração?
RLJ: Flávio
Rangel,
José Renato e João Betthencourt. Referências antigas, que eu trago,
até hoje, como inspiração.
Audição para o elenco de "O Alienista".
(Foto: autor desconhecido.)
UM AGRADECIMENTO MUITO ESPECIAL: Não poderia encerrar esta matéria sem fazer um agradecimento especialíssimo à querida CAMILA MAIA, que, também, quando aluna da UNIRIO, participou das montagens acadêmicas dirigidas pelo RUBINHO, por seu imenso empenho por me conseguir excelentes fotos, que serviram para a ilustração deste trabalho. Ela foi incansável, fazendo contatos e pesquisando muito, no intuito de colaborar com esta entrevista. Minha eterna gratidão, querida CAMILA!.
E VAMOS AO TEATRO (QUANDO HOUVER SEGURANÇA.)!!!
OCUPEMOS TODAS AS SALAS DE ESPETÁCULO DO BRASIL (QUANDO HOUVER SEGURANÇA.)!!!
A ARTE EDUCA E CONSTRÓI!!!
RESISTAMOS!!!
COMPARTILHEM ESTE TEXTO,
PARA QUE, JUNTOS, POSSAMOS DIVULGAR O QUE HÁ DE MELHOR NO
TEATRO BRASILEIRO!!!
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