NA
COXIA,...
...COM
CLAUDIO LINS.
Claudio Lins
Há quem acredite em DNA como um agente que faz passar talentos de toda sorte, inclusive artísticos, de pais para filhos, por gerações. Não sei se isso está comprovado cientificamente, uma vez que sou um quase total ignorante em assuntos científicos, ainda que os valorize bastante e por eles tenha um certo interesse. Se o talento não for, sempre, hereditário, em certos exemplos, isso parece ser a mais pura verdade, como é o caso do meu entrevistado, o ator, cantor, compositor, músico, apresentador, diretor e empresário CLAUDIO LINS.
Creio não ser novidade, para ninguém, que CLAUDIO é filho de Ivan e Lucinha Lins, dois grandes e indiscutíveis talentos artísticos, tendo nascido e vivido numa casa em que se respirava música (arte, em geral), o que levou o jovem, desde muito cedo, a se interessar por ela e, posteriormente, a enveredar por outros campos das artes.
A primeira peça que fez, aos 11 anos de idade.
Tive a sorte de conhecê-lo, assim como a família, ainda na pré-adolescência, e o acompanhei até os 14 anos, na condição de seu professor de Criatividade e Artes Cênicas, e de sua irmã, Luciana, da 5ª à 8ª série do curso fundamental, e confesso que ele sempre me chamou a atenção; mas era pelas coisas que escrevia (Eu achava que ele poderia dar um bom escritor.), e sempre me pareceu um pouco introvertido. Ou seria impressão minha? Hoje, acho que era. Perdemos, depois, o contato e só fomos nos reencontrar, quando ele já era um adulto, começando a se projetar, na música, no TEATRO e na TV, e confesso que jamais poderia imaginar que aquele menino, muito “na dele”, pudesse se transformar, um dia, num talentosíssimo multiartista.
Há
casos, infelizmente, de pessoas que trilham o caminho das artes, pelo “empurrãozinho”
do pai ou da mãe, ou de ambos, famosos, e que não têm talento artístico que
justifique o lugar que ocupam nas mídias. Ainda bem que não são tantos e acabam
fazendo uma carreira meio meteórica. Não é, absolutamente, o caso do CLAUDINHO,
como, carinhosamente o trato, porque, a despeito do sobrenome que carrega,
sempre percebi que este só existe na certidão de nascimento e que foi mantido,
no nome artístico, não pelo seu peso, mas por outro motivo qualquer.
A segunda peça que fez, aos 12 anos de idade.
CLAUDIO + LINS é uma combinação sonora
muito boa, para um nome artístico, entretanto ele nunca se valeu de sua
ascendência, para galgar os degraus que percorreu, um a um, até atingir a
posição que ocupa, hoje, na música e, principalmente, para mim, no TEATRO,
querido e respeitado por seus pares e com uma legião de fãs e admiradores.
"A Filha do Sol"
(Com Clara Garcia. Arquivo particular Claudio Lins.)
Extremamente talentoso,
educado, generoso com os colegas de profissão e os amigos, respeitoso, um verdadeiro cavalheiro, que, até hoje, só me
trata de “mestre” e, na visão “coruja”, da orgulhosa mãe, um “príncipe”,
comparação metafórica mais que ajustada ao nosso querido “plebeu”, CLAUDIO
LINS me deu a honra deste bate-papo.
(Arquivo particular Claudio Lins.)
1) O TEATRO ME REPRESENTA: CLAUDIO, apesar de eu ter assistido a uma peça em que você atuou, a sua primeira, aos 11 anos de idade, em 1984, “Sapatinho de Cristal”, um musical infantil (Eu, hoje, prefiro a terminologia “infantojuvenil”.), dirigido pelo Claudio Tovar, me parecia que, naquela época, a sua “praia” era mais a música. Estou errado? Você, já naquela idade, pensava em ser um ator profissional, quando se tornasse adulto?
CL: Sua percepção
estava correta, sim. O TEATRO entrou na minha vida pelas mãos do meu
padrasto, Claudio Tovar, e, no ano seguinte ao de “Sapatinho de
Cristal”, ainda estrelei mais um musical infantojuvenil, “Verde Que Te Quero
Ver”. Acho que minha natural pré-disposição para o palco e uma certa falta
de vergonha é que me possibilitaram ser um ator mirim. Mas, até o final da
minha adolescência, eu era estudante de música, e achava que ia ser mesmo um
músico.
2) OTMR: É claro que, de forma natural, você acabou, desde muito pequeno, a sofrer influência do grande compositor e intérprete, que é o seu pai. Primeiro deve ter nascido, concretamente, o músico, para, depois, ter vindo o ator. Como foi a sua formação acadêmica no campo musical?
CL: Eu comecei
estudando piano, ainda criança. Mas era um aluno malandro, que não estudava
durante a semana. Usava meu tino musical para enganar a professora… (Risos).
Ainda fui aluno do Centro Musical Antônio Adolfo e da Escola
Rio-Música, e tentei, por duas vezes, o vestibular para Regência, na UNIRIO.
Pois é, eu queria ser maestro, mas não passei nas duas oportunidades. Ainda fiz
aulas avulsas de piano, canto e percepção musical.
Em "show".
(Foto: Alexandre Moreira.)
"Show" de lançamento do álbum 'Cara'"
(Foto: autor desconhecido.)
3) OTMR: Quando e como você descobriu o seu lado ator e, pegando carona na pergunta anterior, que tipo de formação teve, no campo das Artes Cênicas?
CL: Depois das
experiências mirins, eu voltei a ter contato com o TEATRO aos 16 anos,
na escola, com o querido e saudoso Mariozinho Telles. Chegamos e ensaiar
“Romeu e Julieta”, durante oito meses, mas minha família se mudou para
São Paulo e só voltei a entrar em contato com o TEATRO na volta para o
Rio, aos 18, 19 anos. Foi quando entrei para o “O Tablado”
e fui mordido, definitivamente, pelo bichinho do TEATRO. Ao mesmo tempo
que minha tentativa de ser maestro naufragava, eu sentia que, ali, encontrava a
minha turma, a minha classe. Depois, ao longo da vida, participei de inúmeras
oficinas e cursos livres.
(Cinema.)
"Quatro Carreirinhas".
(Foto: Divulgação.)
"Quatro Carreirinhas".
(Foto: Divulgação.)
4) OTMR: Quantos trabalhos você já lançou, como músico - instrumentista e cantor - e como foram recebidas essas obras, pelo público e pela crítica?
CL: Lancei dois
trabalhos: “Um”, em 1999; e “Cara”, de 2009. Ambos
foram bem recebidos pela crítica, especialmente “Cara”, que é um projeto
integralmente autoral, porém não consegui aquele sucesso mínimo que possibilita
dar continuidade ao trabalho. Quem ouviu gosta, e sei que minha música é
admirada até no Japão. Mas ficou para poucos…
5) OTMR: Com habilidade e talento para produzir arte, nas mais diversas formas, em qual das duas, música ou TEATRO, você se sente mais confortável; ou seja, o CLAUDIO LINS se realiza mais como artista, um criador?
CL: Durante muito
tempo, vivi esse dilema: sou compositor e cantor ou sou ator? Mas, hoje, vejo-me como um artista uno, com variadas formas de expressão. Então, nesse
contexto, percebo que meu prazer vem de estar inserido num bom trabalho,
rodeado de pessoas de quem eu gosto, a quem admiro e com quem me identifico.
Independe se ser ligado à música ou à atuação. Mas vejo que existe outra
distinção, mais interessante, para mim: o CLAUDIO criador e o CLAUDIO
intérprete. Um que faz uma música ou cria um texto e outro que canta ou se joga
num palco. Esses, sim, são seres diferentes, com tempos, prazeres e energias
próprias. De qual gosto mais? Não sei. Só sei que, no final de tudo, o grande
prazer é este: o reconhecimento do público e de seus pares.
("Frisson")
(Arquivo particular Claudio Lins.)
6) OTMR: Você acha que a sua participação – brilhante, por sinal, tendo chegado à fase final – numa das edições do programa “Popstar”, serviu para alavancar, de alguma forma, a sua carreira como cantor? De lá para cá, algum projeto, na área, já foi concretizado ou está em vias de ser?
CL: Sem dúvida, “Popstar”
foi um divisor de águas na minha carreira. Uma experiência única de adrenalina
e emoção. E mostrou, para o grande público, o CLAUDIO cantor, que, até
então, estava adormecido. Já não fazia “shows” há uns três ou quatro
anos. As pessoas só me viam cantar no TEATRO MUSICAL. Só que cantar como
um personagem é completamente diferente de cantar, simplesmente. Naquele mesmo
ano, 2017, estreei o “show” “Expresso Brasileiro”, calcado
no repertório do programa. E, desde o ano passado, rodo com meu novo show “Estórias
Pra Quem (Ainda) Olha Pro Céu”, no qual canto composições minhas, para
trilhas de TEATRO, cinema e televisão.
(Foto: Gilberto Bartholo.)
(Foto: Gilberto Bartholo.)
(Divulgação. TV Globo.)
(Foto: Gilberto Bartholo.)
(Foto: Gilberto Bartholo.)
(Divulgação. TV Globo.)
7) OTMR: Você tem preferência por compor naturalmente, por inspiração própria, ou prefere trabalhar na criação de trilhas sonoras, encomendadas ou em projetos idealizados por você mesmo?
CL: Não tenho
preferência. Criar algo encomendado e tendo outra obra como referência é uma
delícia. Isso me dá a oportunidade de pesquisar sobre um determinado tema, e,
eventualmente, me aprofundar sobre outro universo musical. Para “O Beijo no
Asfalto – O Musical”, por exemplo, pesquisei os sambas-canções e os boleros
do início das décadas de 50 e 60. Mas claro que uma composição espontânea, que
nasce de uma inspiração genuína e de um discurso político-pessoal também me dá
muito prazer.
(Direção musical, dividida com Tony Lucchesi.)
8) OTMR: Na TV, além de atuar, você passou pela experiência de apresentar um programa, “A Vida é um Show”, na TVE - Rede Brasil, entre 2002 e 2003, quero crer. Fale-nos um pouco como era o formato do programa e de alguns momentos que o marcaram, durante o tempo em que esteve no ar.
CL: “A Vida é um Show”
era um programa diário, de segunda a sexta-feira, de cerca de 30 minutos,
em que eu entrevistava pessoas do meio da música brasileira, visitando,
praticamente, toda a carreira do artista. Além do bate-papo, havia números
musicais, e, no sábado, era transmitido um compacto de 1 hora. Apesar de
gravarmos uma vez por semana, eu tinha que estudar muito o roteiro e a
pesquisa, para o bate-papo fluir. E valia a pena: muitos artistas me agradeciam,
no final da gravação. Tive a emoção de entrevistar alguns ídolos, como Leny
Andrade e Guinga. Foi no programa que conheci uma de minhas melhores
amigas, a Luciana Mello. Lembro-me de ficar muito nervoso, ao entrevistar
Caetano Veloso. E ainda pude passar a limpo a carreira do meu pai, numa
entrevista inesquecível.
"A Vida É Um Show".
(Foto: William Nery.)
"A Vida É Um Show".
(Arquivo. TV Brasil.)
9) OTMR: Você sofreu algum tipo de discriminação ou “desconfiança”, por parte da mídia, principalmente, no início de carreira, pelo fato de ser filho de quem era? Seus pais lhe renderam mais ônus ou bônus, na sua carreira profissional?
CL: Nunca dei
importância a essa questão, por entender que eu precisava fazer o trabalho a
que me propunha, de uma maneira ou de outra. Mas, logicamente, pude perceber
algumas nuances sobre o assunto. Principalmente no início da carreira, o
sobrenome abria portas e gerava curiosidade. Mas, também, as comparações eram
inevitáveis (e ainda o são), especialmente com relação ao meu pai. Quando
lancei meu primeiro CD, saiu n’“O Globo”, uma resenha em que o
crítico apontava, pejorativamente, a influência do meu pai. Para qualquer
artista, demonstrar influência do Ivan Lins deveria ser positivo, não é?
Mas, enfim… Achei bobo e segui em frente.
(Com Carla Marins. Arquivo - TV Globo.)
10) OTMR: No TEATRO, você teve o privilégio de ter sido dirigido por alguns dos melhores encenadores brasileiros. É claro que não vou perguntar qual deles é o seu preferido, mas gostaria de saber sobre alguma(s) particularidade(s), quanto ao método de trabalho de algum(ns) deles, que o marcou(aram), na sua vida profissional e que você procura seguir até hoje.
CL: Acho que, nessa
seara, dei sorte. Nunca peguei nenhum diretor implacável, insuportável, cruel e
déspota. Quer dizer, já presenciei muito “piti”, né? Mas nada grave ou
traumático! E, mesmo com os diretores mais fraquinhos, aqueles que a gente
percebe que não têm muito para dar, mesmo assim, aprendi alguma coisa. Mas o
ator gosta mesmo é de ser dirigido por diretores sensíveis, que só sugerem o
caminho, em vez de mostrá-lo, para que o próprio ator descubra qual a sua
trajetória para aquele personagem. Amo diretores que levantam bolas para o ator
cortar. Rigor e carinho. Aderbal Freire-Filho e João Fonseca são
como “mães”, com o elenco. Com Tônio Carvalho, aprendi a ir além
e mais fundo. Com Victor Garcia Peralta, eu me identifiquei com sua
proposta econômica e humana. Com Ulisses Cruz, rigor e precisão são
fundamentais. Poderia falar um pouquinho de todos…
"Rock in Rio - O Musical"
(Foto: Guga Melgar.)
"Rock in Rio - O Musical"
(Foto: Guga Melgar.)
11) OTMR: Hoje, o seu nome é associado, imediatamente, ao TEATRO MUSICAL, por conta de tantos sucessos de que participou, nesse gênero, entretanto, suas primeiras peças, como profissional, já adulto, não foram musicais. A partir de quando você descobriu o TEATRO MUSICAL como o seu caminho profissional nos palcos e por quê?
CL: Sinceramente, eu
não era muito fã de musicais. Cheguei ao cúmulo de, nas duas primeiras idas a
Nova York, só assistir a espetáculos “off” e “off-off-Broadway”.
Só depois da convivência com o Charles Möeller e o Claudio Botelho,
que me dirigiram em “Ópera do Malandro”, é que comecei a entender e
curtir musicais. Também tive a sorte de ser um ator/cantor no momento em que o
mercado dos musicais crescia no Brasil. Fiquei tão inserido nesse contexto, que,
muito raramente, me convidam para uma peça que não seja musical, o que, também,
é um pouco frustrante. Nos últimos anos, fiquei muito interessado em contribuir
para uma mudança de paradigma do TEATRO MUSICAL, produzindo espetáculos
originais e com dramaturgia mais consistente do que nos habituamos a ver, pois
entendo que o número musical fica muito mais potencializado com uma dramaturgia
forte. Enfim, tento sempre me encontrar com o TEATRO MUSICAL de que,
realmente, gosto!
"Ópera do Malandro em Concerto"
(Foto: Cláudia Ribeiro.)
"Ópera do Malandro em Concerto"
(Foto: Tina Salles/Fernando Resendes)
"Opera do malandro em Concerto",
(Foto: Bruna Veiga.)
"Opera do Malandro"
(Arquivo M&B.)
"Opera do Malandro em Concerto"
(Foto: Tina Salles/Fernando Resendes.)
"Ópera do Malandro em Concerto"
(Foto: Tina Salles/Fernando Resendes)
"Opera do Malandro"
(Arquivo M&B.)
12: OTMR: Fale um pouco da sua experiência em ter participado de uma novela em Portugal, “Terra Mãe”, em 1997, na RTP, e o que o fez atravessar o Atlântico.
CL: Foi uma
experiência incrível. Ter a vivência de trabalhar num outro país, conhecer
outra cultura mais intimamente e expandir as fronteiras da sua carreira, aos 24
para 25 anos, era muito atraente. Inesquecível. Eu recebi o convite, quando
estava em cartaz, em Belo Horizonte, com um musical baseado na obra “Hilda
Furacão”, de Roberto Drummond. Programamos minha ida para a semana
seguinte, ao final da temporada. Tudo acertado e, uma semana antes de embarcar,
recebo uma ligação do Wolf Maia, convidando-me para fazer um dos
protagonistas da minissérie “Hilda Furacão”. Eu estava totalmente inserido naquele
universo mineiro, do livro, mas não podia romper o compromisso que tinha com os
portugueses. Foi um dos “nãos” mais dolorosos da minha vida.
Cena da novela "Terra Mãe"
(Arquivo - RTP.)
Cena da novela "Terra Mãe"
(Arquivo - RTP.)
Cena ca novela "Terra Mãe"
(Com Lúcia Moniz. Arquivo - RTP.)
13) OTMR: Há muita diferença entre o “fazer novela” no Brasil e em Portugal?
CL: No dia a dia, não muita, até porque, na época, havia, na equipe produtores e diretores, brasileiros. É estudar o texto e cumprir o plano, sem muita enrolação, como em qualquer novela. A diferença era de estrutura (Nada se compara à Globo.) e de transmissão (Gravamos a novela toda antes de ela ir ao ar.). Ah! E, no estúdio, tínhamos dois diretores: um de cena e um só para atores. Eu adorava isso. Hoje em dia, não tenho certeza de como anda o mercado português, mas me parece que eles absorveram totalmente nosso “know-how”.
14: OTMR: Qual
o seu critério primeiro, quando aceita participar de um projeto; no TEATRO,
em especial?
CL: O primeiro critério é o texto e o personagem, especialmente no TEATRO, no qual a variável financeira costuma ser menos significativa. A percepção de como posso fazer o trabalho, se acho que darei ou não conta do recado, é primordial. Quem está envolvido no projeto, como produtores, diretores, atores e a ficha técnica também entra no pacote. E a questão financeira, dependendo do momento, pode ser crucial.
"Milton Nascimento - Nada Será Como Antes"
(Foto: Guga Melgar)
"Milton Nascimento - Nada Será Como Antes"
(Foto: Guga Melgar)
"Milton Nascimento - Nada Será Como Antes"
(Foto: Cláudia Ribeiro.)
"Milton Nascimento - Nada Será Como Antes"
(Foto: Guga Melgar)
15: OTMR: Acho que esta é uma pergunta que o levará a uma resposta meio óbvia, mas eu gostaria de alguns detalhes nela: Há um sabor diferente em ser convidado para participar de um projeto ou criar um?
CL: Diferente sim, com certeza. Mas não, necessariamente, um vai me trazer mais prazer do que outro. Realizar um projeto pessoal não tem preço, mas também pode se tornar um pesadelo, pois vem com uma carga maior de responsabilidade. Já ser convidado para um projeto alheio pode significar uma linda oportunidade de realizar um bom trabalho e fazer novos colegas. Enfim, nunca se sabe.
"Tia Zulmira e Nós".
(Com Suely Franco. Foto: Eduardo Alonso.)
"Tia Zulmira e Nós"
(Com Beth Lamas. Foto: Eduardo Alonso.)
16) OTMR: “Dando minha cara a tapa”, e sem nenhum medo disso, nunca escondi, de ninguém, que não idolatro Nelson Rodrigues, como dramaturgo, ainda que seja seu maior fã, como cronista. Uma meia dúzia de peças dele me agradam, sem, porém, despertar tanto entusiasmo. Uma delas é “O Beijo no Asfalto”, que, pelas suas mãos, por sua idealização, foi transformada numa OBRA-PRIMA, em forma de um musical: “O Beijo no Asfalto – O Musical”. Como surgiu essa ideia, para cuja concretização você levou muito tempo, por se tratar de uma difícil empreitada, a qual resultou num produto final impecável, em todos os sentidos?
CL: A verdadeira origem
dessa ideia é um mistério. Quando sentei com o João Fonseca, em 2009,
para falar desse projeto, não tinha a pretensão de fazer um musical. No final
do nosso encontro, foi ele quem deu essa sugestão. Mas ele não se lembra. (Risos
meus.) Então, só pode ter sido o próprio Nelson, soprando a ideia para
a gente! A princípio, achei que não tinha nada a ver transformar “O Beijo...”
num musical. Mas me aprofundei na cultura dos anos 50 e 60, até que, em 2010,
mostrei as primeiras ideias musicais para o João. Vimos, ali, que era,
realmente, possível e fomos em frente.
"Gota D'Água".
(Foto: Rubens Cerqueira.)
"Gota D'Água".
(Foto: Joana Coelho.)
17) OTMR: Acho que já sei a resposta, mas, se pudesse, hoje, voltar a fazer um personagem de TEATRO, qual seria ele e por quê? E que personagem(ns) que ainda não representou gostaria de, um dia, fazer?
CL: Queria muito continuar a fazer o Claudio, de “Monstros”, um dos personagens mais densos que já fiz, e cuja possibilidade de novas temporadas foi, praticamente, eliminada, pela pandemia do COVID-19. Mas, quando olho o passado, fico com vontade de personagens que estiveram perto, mas que não fiz. Em “O Beijo no Asfalto – O Musical”, já não tenho idade pra fazer o Arandir. Mas amaria fazer o Amado Ribeiro. Em “Uma Tragédia Florentina”, de Oscar Wilde, fiz o príncipe, mas, hoje, gostaria de fazer o mercador. E, por fim, durante muito tempo, tentei levantar a peça “Nhac, ou Sobre Atores e Piolhos”, do dramaturgo espanhol José Sanchis Sinisterra. São personagens lindos, que, um dia, ainda gostaria de fazer.
"Aldir Blanc, Um Cara Bacana".
(Foto: Divulgação.)
"Aldir Blanc, Um Cara Bacana".
(Foto: Divulgação.)
"Aldir Blanc, Um Cara Bacana".
(Foto: Divulgação.)
18) OTMR: Quando escrevi a crítica do “Beijo”, ao me referir à magnífica trilha sonora original, composta por você, eu disse que ela merecia ser eternizada num CD. Você chegou a cogitar isso ou acha que ainda há condições e sentido para a realização desse projeto? Eu seria o primeiro a comprar inúmeros exemplares: um para mim e outros para dar de presente.
CL: “O Beijo no
Asfalto - O Musical” me trouxe muitas alegrias, mas, também, muita dor de
cabeça. Acho que mereceria uma remontagem e, até mesmo, ser traduzido e montado
no resto do mundo. Infelizmente, na época, não tivemos dinheiro para gravar a
trilha. E sinto que essa eu fiquei devendo. Quem sabe, na próxima remontagem,
saia um CD?!
"O Beijo no Asfalto - O Musical"
(Foto: Felipe Panfili / Divulgação.)
O Beijo no Asfalto - O Musical"
(Foto: Felipe Panfili / Divulgação.)
O Beijo no Asfalto - O Musical"
(Foto: Felipe Panfili / Divulgação.)
O Beijo no Asfalto - O Musical"
(Foto: Felipe Panfili / Divulgação.)
O Beijo no Asfalto - O Musical"
(Foto: Felipe Panfili / Divulgação.)
O Beijo no Asfalto - O Musical"
(Foto: Felipe Panfili / Divulgação.)
O Beijo no Asfalto - O Musical"
(Foto: Felipe Panfili / Divulgação.)
O Beijo no Asfalto - O Musical"
(Foto: Felipe Panfili / Divulgação.)
O Beijo no Asfalto - O Musical"
(Foto: Felipe Panfili / Divulgação.)
O Beijo no Asfalto - O Musical"
(Foto: Felipe Panfili / Divulgação.)
O Beijo no Asfalto - O Musical"
(Foto: Felipe Panfili / Divulgação.)
O Beijo no Asfalto - O Musical"
(Foto: Felipe Panfili / Divulgação.)
O Beijo no Asfalto - O Musical"
(Foto: Felipe Panfili / Divulgação.)
O Beijo no Asfalto - O Musical"
(Foto: Felipe Panfili / Divulgação.)
O Beijo no Asfalto - O Musical"
(Foto: Felipe Panfili / Divulgação.)
O Beijo no Asfalto - O Musical"
(Foto: Felipe Panfili / Divulgação.)
O Beijo no Asfalto - O Musical"
(Foto: Felipe Panfili / Divulgação.)
O Beijo no Asfalto - O Musical"
(Foto: Felipe Panfili / Divulgação.)
O Beijo no Asfalto - O Musical"
(Foto: Felipe Panfili / Divulgação.)
19) OTMR: Um musical que, apesar de ter sido uma superprodução e da carga emotiva e afetiva que carregava, fez grande sucesso de público, mas não de crítica, foi “Ayrton Senna – O Musical”, cuja trilha sonora original foi composta por você e pelo Cristiano Gualda. Esse elemento foi um dos mais criticados e, até hoje, não consigo entender o motivo, embora respeite a opinião dos meus colegas de crítica. Para mim, também, o espetáculo, no geral, ficou muito a dever, por vários motivos, que não valem a pena ser revisitados (Estão lá na minha crítica, no blogue.), no entanto achei belíssima a trilha sonora, o melhor da peça, a ponto de lhe pedir que me enviasse as gravações, pelo que lhe sou grato até hoje. Como você reagiu a essas críticas, que eu considerei muito injustas; uma, em especial?
CL: Bom, quem está na
chuva é para se molhar, né? Sabíamos que “Ayrton Senna - O Musical” era
um projeto extremamente arriscado, com muito pouco espaço para erros. Era um projeto
para ser gestado por, no mínimo, dois anos. Mas, por força das circunstâncias,
foi levantado em oito meses. E aí, quando algumas coisas boas estão inseridas
dentro de um contexto geral que não agrada, fica muito difícil separar o joio
do trigo. Claro que não fiquei feliz com as críticas, mas vida que segue.
"Ayrton Senna, O Musical"
(Foto: Caio Gallucci.)
"Ayrton Senna, O Musical"
(Foto: Caio Gallucci.)
20) OTMR: Uma curiosidade, já que você pisou no palco, pela primeira vez, e em outras, fazendo TEATRO para crianças: Vocês levam muito o Mariano para assistir a peças infantojuvenis? Gostaria de saber a sua opinião acerca da qualidade dessas produções.
CL: Levamos muito.
Pelo menos, uma vez por mês. Antes da pandemia, vimos muitas coisas boas e
muitas coisas ruins. O mais louco é que as coisas ruins, geralmente, são as que
têm patrocínio e conseguem dinheiro. As mais artesanais, feitas por gente
séria, geralmente, nos agradam mais.
"Elis, A Musical"
(Foto: Caio Gallucci.)
"Elis, A Musical"
(Foto: Caio Gallucci.)
"Elis, A Musical"
(Foto: Caio Gallucci.)
"Elis, A Musical"
(Foto: Caio Gallucci.)
"Elis, A Musical"
(Foto: Caio Gallucci.)
"Elis, A Musical"
(Foto: Divulgação.)
"Elis, A Musical"
(Foto: Caio Gallucci.)
21) OTMR: O seu último trabalho, nos palcos, como ator, foi no musical “Monstros”, dirigido pelo Victor Garcia Peralta, dividindo o protagonismo com a grande Soraya Ravenle. Era um musical “diferente”, muito denso e não para o puro entretenimento, não resta a menor dúvida. Eu o considerei um trabalho de extremíssima complexidade e beleza, a ponto de ter assistido a ele mais de uma vez, embora não tenha alcançado o sucesso merecido, talvez porque fosse, sim, muito “pesado”. O que faltou a “Monstros”, para ter recebido o reconhecimento que lhe era devido?
CL: Difícil dizer.
Sem dúvida, era um espetáculo lindo, porém “indigesto”, e o fato de
estrearmos num Teatro de “shopping” não ajudou. Pedia um público
mais alternativo. Mas o que mais nos frustrou foi a maneira como os "Prêmios" ignoraram esse trabalho tão ousado, que propunha levar o gênero musical para
outro lugar. Mesmo nos "Prêmios" e categorias próprias para TEATRO MUSICAL,
pouco, ou nada, se falou dele. Foi uma surpresa para nós, pois, na Argentina,
ele angariou muitos prêmios. Isso dificultou muito a carreira do espetáculo,
especialmente na promoção dele, para festivais e temporadas fora do Rio. Enfim,
o espetáculo não encaixou para o público carioca.
(Foto: Gilberto Bartholo.)
"Monstros"
(Foto: Janderson Pires.)
"Monstros"
(Foto: Janderson Pires.)
"Monstros"
(Foto: Janderson Pires.)
"Monstros"
(Foto: Janderson Pires.)
"Monstros"
(Foto: Janderson Pires.)
"Monstros"
(Foto: Janderson Pires.)
"Monstros"
(Foto: Janderson Pires.)
"Monstros"
(Foto: Janderson Pires.)
"Monstros"
(Foto: Janderson Pires.)
"Monstros"
(Foto: Janderson Pires.)
22) OTMR: Como é que você tem ocupado o seu tempo durante essa interminável quarentena, uma incógnita para todos? Trabalhando em algum projeto novo? Pode nos adiantar alguma coisa?
CL: Logo na primeira
semana de pandemia, inventei o festival de música “online” “#ZiriguidumEmCasa”,
e isso me colocou numa roda-viva de “lives”, que não parei, ainda, para
pensar no futuro. Agora, que as “lives” deram uma esfriada, é que estou
tentando retomar projetos que estavam em andamento. No futuro próximo, fui
convidado para a programação de reabertura do Teatro Prudential, em setembro
(?), e vou levar um “show” só com músicas que Chico Buarque
fez para TEATRO e dança. No futuro mais distante, realmente não sei.
23) OTMR: Durante este período de isolamento social, a classe artística, sem a menor sombra de dúvidas, é uma das mais prejudicadas, principalmente o pessoal do TEATRO, porque foram os primeiros trabalhadores a parar de ganhar, honestamente, o seu pão de cada dia e, certamente, serão os últimos a voltar ao chamado “novo normal”. Procurando se reinventar e descobrir formas e fórmulas para gerar alguma renda ou, até mesmo, para não ficarem parados, sem produzir, muitos atores, diretores e produtores estão apelando para trabalhos veiculados por plataformas digitais, que eu apoio, totalmente, assistindo a alguns, quando posso, tendo testemunhado, até, boas surpresas (poucas), embora tudo isso, a meu juízo, esteja muito distante do que eu entendo como TEATRO. Gostaria de saber a sua opinião sobre isso. Você tem assistido a essas experiências e, em caso afirmativo, o que tem achado? Pensa em fazer algo parecido, enquanto durar o período de quarentena?
CL: Ainda não fiz TEATRO
por “streaming”, mas música tenho feito muito. Confesso que ainda não
consegui me inteirar muito dessas possibilidades. Assisti a uma experiência “interessante”,
de um grupo paulista, mas foi só. E olha que tem um monte de amigos “em
cartaz”. Mas confesso que, como espectador de TEATRO, não é algo que
me atraia muito. Acho mais interessante fazer do que assistir.
"Garota de Ipanema - O musical da Bossa Nova"
(Foto: Divulgação.)
"Garota de Ipanema - O musical da Bossa Nova"
(Foto: Divulgação.)
24) OTMR: Apesar da extrema saturação das “lives”, tenho assistido a algumas - até participei de uma - e acho que é algo que vai ficar, depois que este “tsunami” passar. O que você pensa sobre elas?
CL: Nada substitui o
evento presencial. O encontro promovido pelo TEATRO é algo milenar e
imortal. Mas vislumbro, no “streaming”, um novo e poderoso meio de
comunicação, que tem tudo pra achar sua linguagem e seu lugar nas artes. Ainda
estamos descobrindo (“a fórceps”) como tudo isso funciona, mas acho que
veio para ficar.
Com Claudio Lins, depois de uma apresentação em "Popstar".
("Selfie".)
Eu e Claudio Lins, após sessão, para convidados, de "Elis, A Musical".
(Foto: Marisa Sá.)
Eu e Claudio Lins, após sessão, para convidados, de "Elis, A Musical".
(Foto: Marisa Sá.)
E VAMOS AO TEATRO (QUANDO HOUVER SEGURANÇA.)!!!
OCUPEMOS TODAS AS SALAS DE ESPETÁCULO DO BRASIL (QUANDO HOUVER SEGURANÇA.)!!!
A ARTE SALVA, EDUCA E CONSTRÓI!!!
RESISTAMOS!!!
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PARA QUE, JUNTOS, POSSAMOS DIVULGAR O QUE HÁ DE MELHOR NO
TEATRO BRASILEIRO!!!
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