quinta-feira, 23 de julho de 2020


NA COXIA,...
...COM RAFAEL TELLES.

Rafael Telles.
(Arquivo particular Rafael Telles.)



            Com apenas 21 anos, à época, (novembro de 2019), agora já com 22, RAFAEL TELLES começou a se tornar conhecido, muito recentemente, pelos amantes do TEATRO, principalmente dos musicais, ao vestir a pele de Melchior Gabor, o protagonista masculino de um dos mais icônicos espetáculos do TEATRO MUSICAL de todos os tempos, o revolucionário “O DESPERTAR DA PRIMAVERA”, sob a direção da dupla Charles Möeller e Claudio Botelho.


            Eu seu primeiro trabalho de grande relevância, já entrou com a grande responsabilidade de interpretar um protagonista tão rico em conteúdo, muitos anos à frente de seu tempo, e que pagou um preço muito alto por sua “ousadia”.


            Com um porte atlético, de quem pratica vários esportes, uma aparência física de galã, adequada ao papel, uma vez que o personagem tem um grande poder de sedução, RAFAEL não se valeu disso, para marcar presença em cena. É impossível não se notar a sua beleza física, a sua presença no palco, porém, na mesma proporção, é totalmente perceptível o quanto ele, fazendo valer o seu talento, valorizou muito mais o interior do personagem, nas suas convicções e desejo de subverter o que, certamente, estava “fora da ordem”. Romper com os padrões morais e religiosos da época era um grande desafio, e seu Melchior Gabor, pela força do talento do jovem ator, conseguiu passar, fluentemente, essa luta e coragem.



Com Tabatha Almeida.
Foto: Robert Schwenck.


            O espetáculo, como já era de se esperar, fez uma bem sucedida temporada no Theatro NET Rio e já estava agendado para reestrear em São Paulo, quando, por conta da epidemia de COVID-19, teve os planos alterados. Mas tem de continuar a sua trajetória, certamente!


            Demonstrando inteligência e firmeza nas respostas, RAFAEL, que acabou de ganhar o prêmio de “Revelação”“Troféu Manuela Pinto Guimarães”, num dos muitos prêmios de TEATRO do Rio de Janeiro, nos mostrou, nesta entrevista, o seu grau de maturidade e personalidade, principalmente no que diz respeito à escolha de sua carreira profissional.



Com Tabatha Almeida.
Foto: Robert Schwenck.

  
1) O TEATRO ME REPRESENTA: RAFAEL, a gente se conhece há tão pouco tempo e, para mim, é como se já fôssemos velhos amigos. Parece que “nossos santos estão na mesma sintonia, um com o outro”, tendo como denominador comum o TEATRO. Foi de uma extrema alegria, quando eu soube que você é neto da grande multiartista Regina Miranda. Esse talento é questão de DNA de família? Há mais artistas nessa casa?


RAFAEL TELLES: Sobre o DNA, eu gosto, também, de acreditar nisso, mas, acima de tudo, além dele, acho que há, também, a questão da referência. A minha avó sempre fazia questão de me deixar em contato com a arte. Ela nunca me impôs nada, nunca me disse para ver tal filme ou ler um determinado livro, mas, sempre, de uma forma sutil e elegante, justamente como ela é, de vez em quando, me levava para os ensaios, deixava-me lá, sentado, mesmo sem eu entender nada, naquela época, porque os espetáculos dela são muito inteligentes, muito complexos, e se precisa ir a eles com a mente aberta, para entender certas metáforas. Então, desde pequeno, estou em contato com a arte, seja a dança, sejam as artes cênicas, graças à minha avó. Ela sempre conversava comigo e me falava sobre como havia sido o ensaio dela naquele dia, a gente sempre teve essa parceria, até que, quando eu resolvi que queria ser ator, ela me chamou para trabalhar com ela. Sobre outras pessoas, na minha família, eu posso dizer que quase ela inteira é composta por artistas, em diversas áreas. A minha avó (Regina Miranda), é bailarina, coreógrafa, atriz, diretora...; a minha mãe trabalha com produção; o meu pai, com direção de fotografia; o meu irmão, que está seguindo os passos do nosso pai, com alguns projetos cinematográficos; a minha irmã, que é arte pura, já foi de circo, é atriz, cantora, tinha uma banda, que eu amava (“Dona Joana”), dá aula de circo, de TEATRO e, também, tem uns projetos cinematográficos – ninguém vai fugir do nosso pai. E, dos meus irmãozinhos pequenos, a minha irmã, a menor de todos, só por parte de mãe, já faz balé, embora seja muito pequena e não tenha idade suficiente para saber o que quer da vida, mas adora dança e TEATRO; e os meus dois irmãos, por parte de pai, Biel e Malu são sedentos por arte. A minha madrasta também é da área; meu avô, também, escritor... Então, eu posso dizer que, na minha família, todos “têm um pezinho”, ou “um pezão”, na arte.  



Com Regina Miranda.
(Arquivo particular Rafael Telles.)


2) OTMR: Como você chegou ao elenco da recente montagem, a segunda, dez anos depois da primeira, na forma de musical, de “O DESPERTAR DA PRIMAVERA”? Foi por convite ou por audição?


RT: Fiz audição, como todos. Foi muito emocionante passar por cada etapa, o que deixa esse presente da vida cada vez mais valioso, porque, realmente, foi algo conquistado com bastante esforço e muita batalha. Eu estudei muito, para passar nas audições, por cada fase; desde a de mandar o vídeo, passando pela de cantar, presencialmente, até a última, que era fazer cenas e cantar uma música do espetáculo, do “DESPERTAR...”. Então, é muito gratificante saber que um dos motivos por que fui aprovado para fazer o Melchior é, justamente, ver passar esse filme na minha cabeça, lembrar o quanto eu “ralei” e batalhei, para estar naquele papel. 



"O Despertar da Primavera"
Com João Felipe Saldanha, Bel Kutner e Augusto Zacchi. 
Foto: Dan Coelho.



"O Despertar da Primavera"
Com Tabatha Almeida.
Foto: Dan Coelho.


3) OTMR: O seu personagem era o protagonista masculino da peça. Todo ator sonha com o protagonismo, muito embora nem sempre o personagem protagonista seja o mais interessante, na história ou para um ator interpretar. Era seu desejo mesmo vestir a pele do Melchior Gabor?


RT: Definitivamente, sim! Melchior é o meu personagem favorito, da literatura mundial. É claro que eu não posso dizer que tenho uma gigantesca bagagem literária, mas “O DESPERTAR DA PRIMAVERA” é o meu texto favorito, que influenciou tanto os pensadores, os filósofos que a gente conhece hoje em dia e os psiquiatras, como o próprio Freud. E pensar que alguém com uma cabeça, naquela época, de 1890, pôde pensar num texto assim... É algo surreal, para a época. Um texto com diversas críticas sociais, tanto contra o Estado quanto a Igreja, e, se a gente pensar que o Melchior Gabor é a representação do próprio Frank Wedekind na história... Então, é algo de muito valor. Além disso tudo, o personagem canta várias músicas que eu amo – agora, falando do musical, não só da obra original –, canta as músicas de que eu mais gosto no mundo, que eu ouço na rua, no dia a dia, quando estou andando. Decididamente, o Melchior Gabour era o personagem a que eu mais visava, na minha vida, até agora, em relação aos musicais que eu vi, seja lá fora, seja no Brasil. Eu sempre tive esse desejo, essa coisa de olhar para o Melchior e dizer, desde o momento em que vi a peça: Cara, como eu queria fazer esse personagem! Como eu queria fazer o Melchior! E estamos aí!   



 
Foto: Robert Schwenck.


4) OTMR: Quando começou a brotar, em você, o encantamento pelas artes? Foi logo direcionado ao TEATRO ou a dança também o atraía?


RT: Como eu já respondi, na primeira pergunta, o encantamento pelas artes sempre esteve presente na minha vida. Elas sempre fizeram parte do meu cotidiano, porque eu via, todo dia, minha mãe ir trabalhar com produção; o meu pai, falando sobre cinema; a minha avó, sempre ensaiando, estreando uma peça diferente a cada mês; foi sempre muito presente. E, agora, fazendo um trocadilho aqui, sobre quando me “despertou” o interesse por me dedicar às artes cênicas, foi em 2014, quando eu fui fazer um teste para uma série. Eu não era ator nem nada, mas eu fui pensando: Vai que eu goste! Eu não tinha experiência alguma e me colocaram para trabalhar com uma “coach”, chamada Mareliz Rodrigues. Deu uma semana, e ela me convidou para fazer uma peça do curso que estava dando, no “Vamos Fazer Arte”, porque um ator havia abandonado o elenco, ela havia me treinado e gostado do meu trabalho. Perguntou-me o que eu achava de substituí-lo, deixando bem claro que a peça estrearia de lá a um mês. Eu aceitei, achei ótima aquela oportunidade, fiz o papel e me apaixonei logo de cara. Naquela época, eu não tinha contato, ainda, com a dança, embora ela já me atraísse bastante. Mas eu entrei direto nas Artes Cênicas, fazendo uma peça, chamada “Anos 80 – Um Musical de Filho Para Pai”. Agradeço, até hoje, à Mareliz, por essa oportunidade.  


"80 Anos - Um Musical de Filho para Pai"
Foto: Consuelo Martim.


"80 Anos - Um Musical de Filho para Pai"
Foto: Consuelo Martim.


"80 Anos - Um Musical de Filho para Pai"
Foto: Consuelo Martim.


5) OTMR: Você já era fã do Charles e do Claudio, antes de ir trabalhar com eles, certamente. Todo ator, principalmente jovem, que deseja atuar em musicais, gostaria de debutar pelas mãos dessa dupla, muito corretamente denominada de “Os Reis dos Musicais”. Quais as montagens de M&B a que você já havia assistido e qual a de que mais gostou?


RT: Sim, eu sou muito fã dessa dupla, incondicional. Sempre fui um grande admirador do trabalho deles e acho que o sentimento se intensificou, umas dez vezes mais, realmente, depois que os conheci, nos cursos ou ensaiando o próprio “DESPETAR”. Sou, realmente, muito encantado, não só pela dupla, mas, também, pela produtora M&B, como um todo, que eu acho que funciona como um relógio perfeito, em que todas as engrenagens estão onde deveriam estar e ele funciona perfeitamente. Eu admiro, de verdade, os trabalhos deles. E sobre as montagens, eu vi várias, como “Se Meu Apartamento Falasse”, “Os Saltimbancos Trapalhões”, “A Noviça Rebelde”, “7 – O Musical”. Gosto muito, também de “Beatles num Céu de Diamantes”. Tive o privilégio de ter participado do “Beatles por um Dia”, no ano passado. Isso, excluindo, obviamente, o próprio “DESPERTAR”, de 2009. Acho que nem preciso falar.   


"O Despertar da Primavera"
Foto: Dan Coelho.



6) OTMR: Como CHARLES e CLAUDIO desenvolveram um método particular de ensaiar um espetáculo, levantando uma produção em pouquíssimo tempo, em relação à sua grandiosidade, à custa de muita disciplina, trabalho e organização, propondo, ao elenco, um ritmo intenso, rápido, você, que nunca devia ter enfrentado, antes, um regime tão “puxado”, em algum momento, pensou que talvez não conseguisse “chegar lá”?


RT: Em nenhum momento, passou pela minha cabeça que eu não fosse “chegar lá”, porque estava muito “puxada” a rotina de ensaio, já que sempre fui muito viciado em ensaios, de verdade. Toda vez que me vejo diante de uma carga horária de ensaio, eu sempre quero mais, e mais, e mais... A gente ensaiava oito horas por dia, e o tempo passava sempre muito rápido; e era, realmente, uma delícia ir ensaiar coro, metade do elenco ensaiando cenas; depois, voltava para a sala de direção musical; em seguida, coreografia... Então, a rotina, em si, não era algo que me cansava. É claro que, no início do processo, a gente fica um pouco nervoso, faz uma coisa aqui, outra ali, mas só era preciso um direcionamento certo. Era exatamente o que eu recebia, a cada vez que errava alguma coisa, o que é completamente normal, durante um processo. Mas, em nenhum momento, pensei: Ah! Está muito “puxado”, não vou “chegar lá”! Porque eu tinha total confiança na direção e na produtora em si, e sabia, como o elenco inteiro, que nós todos chegaríamos a um bom resultado.



"O Despertar da Primavera"
Com João Felipe Saldanha.
Foto: Dan Coelho.


7) OTMR: Uma boa coxia é fundamental para um bom espetáculo. A gente percebia, em cena, que o entrosamento de vocês já começava bem antes dos aquecimentos. É isso mesmo ou era impressão minha? Você já conhecia os demais colegas do elenco?


RT: Não era impressão sua, porque o elenco era, realmente, muito afinado. Todo mundo ficou amigo muito rapidamente e, já respondendo ao resto da pergunta, é claro que muitos já se conhecia antes, mas havia pessoas que eu não, como o Thiago Franzé, que fazia o Hanschen; o Diego Martins, que fez o Ernst; a própria Maria Brasil, a Ilse, eu não conhecia. O João Felipe Saldanha, o Moritz, eu também não conhecia. E são pessoas com as quais eu tive um grande entrosamento, rapidamente. Havia, entre o elenco inteiro. Eu acho que é fundamental, como você mesmo disse, para fazer uma peça dar certo, que o elenco inteiro se ajuste. Categoricamente, o elenco do “DESPERTAR” foi uma aula de entendimento entre todas as pessoas: elenco, equipe, produção, direção... Todos!


"O Despertar da Primavera"
Elenco masculino.
Foto: Dan Coelho.


8) OTMR: Esse foi o seu primeiro protagonista, certo? E em que outros espetáculos você atuou, profissionalmente, antes de “O DESPERTAR...”?


RT: Sim, foi meu primeiro protagonista e, por ter sido o Melchior, acho que tem um valor sentimental ainda maior, e eu fiquei muito feliz com isso. Já havia trabalhado em outras peças profissionais, dentre as quais eu quero dar destaque a duas. Uma delas foi “Conexão Solidão”, que foi a minha primeira peça profissional, dirigida pelo Daniel Herz, o qual foi um “mentor” para mim. Foi meu professor, por cinco anos e, além de professor, foi um “pai”. Então, ter feito a minha primeira peça profissional com ele representa um grande valor sentimental. E uma outra peça, que foi um grande desafio, “O Ateneu”, um espetáculo com 37 atores, 40 personagens (alguns dobravam papel), vários bancos a serem trocados, a cada cena, e eu tive o prazer de ter sido “stand-in”, nessa peça, e também “swing”, porque, a cada semana, eu fazia um personagem diferente, uma vez que sempre alguém faltava ou algum ator tinha torcido o joelho ou o calcanhar. Essa peça foi a mais recente montagem desse texto (2018), dirigida pelo Oberdan Júnior e o Marcelinho Cavalcanti, e eu tive o prazer de fazer parte desse elenco, composto por gente com muita garra, muito talentosa, um “elencaço”, em quantidade e qualidade.



Com Daniel Herz.
"Selfie": Rafael Telles.
(Arquivos particulares Rafael Telles e Daniel Herz.)



"Conexão Solidão"
(Arquivo particular Daniel Herz.)


9) OTMR: Eu fiquei muito emocionado com o texto dito por DONA FERNANDONA, na solenidade de entrega daquele prêmio, antes de que ela anunciasse o seu nome, como vencedor, na categoria “Revelação” e, depois, mais ainda, vendo a sua reação, após o anúncio de que fora o ganhador do troféu Manuela Pinto Guimarães; lindo, por sinal. É uma pena que você não tenha conhecido a Manu e convivido com ela! Arranje aí, dê um jeitinho, para traduzir, em palavras, o seu sentimento naquele momento.


RT: Sim, é muito difícil verbalizar o que eu senti naquele momento, porque foi, realmente, um misto de sentimentos muito fortes. Felicidade, surpresa, gratidão, acima de tudo; mas é claro que houve um “pezinho”, ali, numa certa tristeza, de lembrar que alguém muito importante, para muita gente, foi embora tão cedo, e, ao mesmo tempo, feliz por ela estar sendo homenageada, de tantas formas possíveis; não só ela, mas também o próprio Miguel (Pinto Guimarães), a Paula e todo mundo que estava ali, que a conhecia. Então, foi um momento muito especial, mas eu acho que, se for para traduzir, em palavras, sentimentos, acho que foi mesmo gratidão. Gratidão, por tudo que tem acontecido; gratidão, também, pelas pessoas que me proporcionaram tais momentos, como o Miguel, a Paula, a Manu, a M&B e todo o elenco do “DESPERTAR”.



Com o troféu Manuela Pinto Guimarães.
(Arquivo particular Rafael Telles.)


10) OTMR: O seu foco é o TEATRO MUSICAL mesmo ou está aberto a outros projetos diferentes, na área do TEATRO?


RT: Olha, eu posso dizer que o meu foco, no momento, está voltado para o TEATRO MUSICAL, mas isso não elimina o fato de eu estar aberto para outras possibilidades, na área teatral, como também na TV e no cinema, mas, realmente, o meu foco atual é exercitar, cada vez mais, o meu canto, a minha dança, a minha interpretação, que nunca vai poder ser deixada de lado, e focar nas audições para TEATRO MUSICAL.


"Jumento Belchior"
Foto: Guilherme Schwartz.


"Jumento Belchior"
Foto: Guilherme Schwartz.


"Jumento Belchior"
Foto: Guilherme Schwartz.


11) OTMR: A partir do momento em que você viu, na arte, especificamente, no TEATRO, o seu caminho profissional, quais foram os passos para a sua formação? Como tudo começou? Já a completou ou ainda está cursando alguma escola de TEATRO? Paralelamente, cursa alguma universidade?


RT: A minha formação foi a junção de muita coisa. Eu não fiz nenhum curso profissionalizante, nenhuma faculdade de Artes Cênicas, mas, a partir do momento em que eu falei, para a minha avó, que queria ser ator, ela pegou na minha mão e falou: “Então, vamos embora! Vamos conhecer o TEATRO por inteiro, e não só na frente do palco!” E me convidou para trabalhar com ela, num projeto, “Porto de Memórias”, e eu me senti completamente perdido, de início, quando ela me chamou para uma reunião e me apontou um quadro, perguntando: “Em qual destes departamentos aqui você acha que se encaixa?” Aí, eu olhei e não entendia nada. Eu era muito novo e não sabia, por exemplo, o que era “visagismo”. É claro que, com o tempo, eu fui aprendendo o que significavam certos termos, mas, na época, eu não sabia os detalhes técnicos, até que li uma parte, que era “produção musical”, e eu, que já aprendo instrumentos desde 2012, já entendia um pouco de música, obviamente não sobre “produção musical”, mas música, achei que “estava beleza”, eu quis participar da música. Comecei como assistente de sonoplastia e, futuramente, tornei-me o sonoplasta de todas as peças da minha avó. É muito importante entender, também, das outras áreas do TEATRO e “por trás das câmeras”. A minha avó, realmente, me apresentou às coxias do TEATRO e, paralelamente a isso, eu fui fazendo cursos de TEATRO. Comecei no espaço cultural “Vamos Fazer Arte”, com a Mareliz Rodrigues, fiz um ano e pouco lá, e, logo depois, fui para o meu “mentor”, como já me referi a ele, o Daniel Herz, na Casa de Cultura Laura Alvim, durante cinco anos. Até hoje, a gente mantém contato. É um lugar aonde eu gosto de ir, de vez em quando, para fazer uma aula; é um lugar onde eu gosto de respirar o método dele. Paralelamente a isso, fui assistente de direção, n’“O Tablado”, fui assistente do Cico Caseira, por quatro anos, até o dia, infelizmente, do falecimento dele, mas também já fui assistente do Fernando Berdichevski, do Delson Antunes - não n’“O Tablado” -, assistente de direção da Renata Tobelem... Exerci alguma dessas funções, além de atuar, o que, também, contribuiu bastante para a minha formação, não apenas profissionalmente, mas também para a dos meus pensamentos, de como tratar as pessoas. Isso me disciplina, que eu acho, também, algo fundamental. Estou fazendo faculdade de Produção em Audiovisual. Comecei com Cinema e, depois, transferi-me para a área, especificamente, de Produção Audiovisual. E, finalmente, mas não menos importante, faço os cursos sobre musicais, oferecidos pela própria M&B, que são maravilhosos, os quais me ensinaram muito sobre a área e sobre a vida também, a me comportar numa audição; não apenas como a ser um artista de musical melhor, como também a ser uma pessoa melhor.


"O Ateneu"
Foto: David Peixoto.


"O Ateneu"
Foto: David Peixoto.


"O Ateneu"
Foto: David Peixoto.


12) OTMR: Você faz aulas de canto e dança, evidentemente. Com que regularidade?


RT: Sim, faço aula de canto, uma vez por semana, e a dança eu tive de interromper, por causa da quarentena. Sei que há aulas “on-line”, mas eu não consegui me adaptar muito bem. Estou louco para voltar, para estudar sapateado, que era uma das coisas que comecei este ano. Eu tinha acabado de ter sido aprovado no “Centro de Artes Nós na Dança” (CAND), quando surgiu a pandemia. Mas, quando ela acabar, eu pretendo fazer aulas de sapateado, duas vezes por semana, e o CAND, três. E continuar com as aulas de canto, uma vez por semana.



"O Despertar da Primavera"
Foto: Dan Coelho.


"O Despertar da Primavera"
Foto: Dan Coelho.


13) OTMR: Pretende seguir uma carreira paralela, como cantor, ou vai se dedicar apenas ao TEATRO?


RT: O meu foco é o TEATRO, a atuação, no geral, sendo no TEATRO, na TV ou no cinema, mas pretendo, também, trilhar uma carreira de cantor. Eu tenho as minhas músicas autorais e pretendo produzi-las, assim que a quarentena acabar. O meu foco primeiro é ser ator, mas pretendo emplacar, paralelamente, uma carreira de cantor.



"O Despertar da Primavera"
Com Tabatha Almeida.
Foto: Dan Coelho.



"O Despertar da Primavera"
Com Tabatha Almeida e João Felipe Saldanha.
Foto: Dan Coelho.


14) OTMR: O que mais chamou a sua atenção no personagem Melchior Gabor e o que, de pessoal, do RAFAEL TELLES, você levou para a construção do personagem?


RT: De todas as características desse personagem maravilhoso, o que eu mais amo nele, aquilo com que eu mais me identifico com ele, é o seu pensamento crítico. Acho que, em 98% das cenas em que o Melchior está presente, ele entra criticando alguma coisa. Logo na primeira cena, da escola, ele está criticando o porquê de não podermos apelar para as conjecturas; ou quando ele está no bosque, com a Wendla, e fala sobre uma sociedade mais progressista, com homens e mulheres estudando juntos; ou quando está com o Moritz, sobre não haver problema nenhum em “a gente se tocar”. Então, esse pensamento crítico dele, o fato de não abaixar a cabeça para o Estado, para a Igreja, eu acho que gera, em mim, muita identificação, e eu tentei levar bastante de mim, porque me considero, também, uma pessoa bem crítica, de diversas maneiras. Isso é uma coisa que admiro muito no personagem criado pelo Wedekind.



"O Despertar da Primavera"
Foto: Dan Coelho.



"O Despertar da Primavera"
Foto: Dan Coelho.


15) OTMR: Apesar de bem jovem, você tem consciência da importância social do ator? E o que representa o TEATRO na sua vida?


RT: Sim, com certeza. Não apenas no atuar, mas com relação às artes, no geral. Eu sempre falo que o objetivo da arte, no meu ponto de vista, obviamente, é causar uma reflexão em quem estiver vendo, seja o agente um músico, um ator, um pintor... Eu acho que uma das funções primordiais da arte é causar uma reflexão. Quando se escreve uma música, em vez de se falar alguma coisa muito autoexplicativa, deve-se tentar metaforizar determinados termos ou determinadas frases e causar algum tipo de impacto no ouvinte e fazê-lo parar, por um momento, para pensar o que o autor quis dizer com aquela frase, o que ele quis passar. Acho que só de fazer gerar essa reflexão, já é um ponto muito positivo. Seja escrevendo uma peça... No “DESPERTAR”, quando alguém canta uma frase e quem ouve pensa no “que é que ele está querendo dizer com isso, o que é que ele está querendo passar com essa mensagem”, isso estimula o pensamento crítico, leva a reflexões. E, para mim, a função da cultura é essa, fazer com que o público pense, fazer com que o público “pense fora da casinha”, e tente buscar novas reflexões sobre determinados assuntos. Então, isso é muito impactante, quando estou lendo, vendo ou ouvindo alguma coisa, e isso me faz pensar exatamente assim: O que é que esse artista, esse escritor, esse roteirista, esse ator, diretor... O que é que eles estão querendo dizer com tal obra? E, a partir do momento em que eu estou refletindo sobre isso, esse fato já impacta demais sobre a minha vida.




Rafael Telles e eu.
(Arquivo particular Gilberto Bartholo.)





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