ARIGÓ
(A SAGA DE UM HERÓI
DESCONHECIDO.
ou
UM SONHO NA CABEÇA E
UM DESTINO NAS MÃOS.)
Muitas vezes, agrada-me um espetáculo teatral,
gostaria muito de poder dedicar-lhe uma crítica, porém, por falta de tempo,
não consigo escrever sobre todos. Algumas vezes, mesmo a peça já tendo
cumprido sua temporada, sinto-me inclinado, quando me sobra alguma folga, na
agenda, a escrever sobre ela, como estou fazendo agora, com relação a “ARIGÓ”,
um solo que estava em cartaz no Teatro Maria Clara Machado
(Planetário da Gávea) e sobre o qual penso que merecia uma temporada maior, num Teatro
mais bem cuidado e mais bem localizado.
“ARIGÓ” é um espetáculo muito interessante
(Confesso que não esperava tanto. E isso é bom, quando acontece.), baseado na história dos “soldados da borracha”, personagens
reais da Segunda Guerra Mundial, montagem viabilizada em função de
uma campanha, via “crowdfunding”, a qual continua no ar, no site https://www.vakinha.com.br/vaquinha/espetaculo-arigo,
visando a uma nova temporada, no Rio de Janeiro, e a viagens, que já
estão sendo negociadas pela produção, “com a cara e a coragem”, sem
patrocínios.
O texto é assinado por EZEQUIEL VASCONCELLOS, que, também é o ator da peça, cujo trabalho eu não conhecia e de quem me tornei um admirador; um mineiro, de Brumadinho, hoje, radicado no Rio de Janeiro. Este é seu primeiro monólogo.
O tema escolhido pelo dramaturgo
foi uma abordagem de algo que faz parte, quase esquecida, da história do Brasil.
ZECA, como é tratado pelos amigos, mergulha no universo dos “soldados
da borracha” (os “arigós”), homens que migraram, para o norte do Brasil,
na década de 1940, para trabalhar na indústria da borracha, focada, então,
na exportação, para fins bélicos, durante a Segunda Guerra Mundial. A peça
teve sua estreia nacional em Belo Horizonte, no Teatro João
Ceschiatti – Palácio das Artes.
SINOPSE:
O espetáculo "ARIGÓ"
conta a jornada do jovem LÁZARO (EZEQUIEL VASCONCELLOS), que, após
perder seu irmão mais velho, se vê diante da missão de cuidar da sua família,
na aridez do sertão brasileiro.
Com a proposta de ir para o norte do país e integrar a Força Armada,
com o intuito de contribuir no fornecimento da borracha, para a Segunda
Guerra Mundial, LÁZARO alista-se no Exército Brasileiro,
contra a vontade dos pais, e embarca, em uma aventura, para a Amazônia,
com a promessa de que, ao fim da guerra, retornaria, aposentado, como soldado.
Sonhando ser reconhecido como herói,
por sua família e por sua pátria, o jovem se submete a condições precárias e
imensos desafios, desde a viagem de navio até os perigos da floresta.
No campo subjetivo, LÁZARO trava
suas próprias lutas internas, durante sua jornada, levando-o a rever seus
sonhos e sua história.
Nessa saga, o protagonista passa
por momentos de perigo e outros que ficariam indeléveis na sua memória afetiva.
Para dar forma à dramaturgia, ZECA se apoiou na sua
própria experiência de migrante, ele que, ainda criança, saiu, com a família,
do interior de Minas Gerais rumo a Rondônia, onde travou contato
com os locais, dos quais passou a ouvir as antigas histórias sobre os “arigós”.
Ficou sabendo, por exemplo – e creio que eu e todos da plateia também -, que
houve uma certa participação do Brasil, na Segunda Guerra Mundial, ao
apoiar os Estados Unidos da América, no fornecimento da borracha
amazônica, para a Guerra. Tomou conhecimento de que, em 1942,
dezenas de milhares de homens deixaram suas casas e famílias, rumo ao norte do Brasil,
para servir a seu país. Um exército de homens, os quais ficaram conhecido como
os “soldados da borracha”.
O espetáculo é carente de recursos técnicos e grandes aparatos, com relação aos elementos de criação, o que acaba sendo, perfeitamente, compensado pelo tripé de sustentação de um bom espetáculo de TEATRO: texto, direção e interpretação.
O texto, como eu já imaginava, depois de ter lido o "release", a mim enviado por FELIPE PORTO, um dos produtores do espetáculo, é, basicamente, narrativo, com algumas
raras inserções de rápidos diálogos, nos quais o ator interpreta
seus interlocutores. Tem uma linguagem bem simples, fácil de ser assimilada,
envolvente, não permitindo que o espectador divague e deixe de se interessar
pela história e de acompanhar a brava jornada do herói.
MARCELO MORATO, que já havia trabalhado com ZECA, faz um bom trabalho
de direção, se considerados o fato de a peça ser um monólogo, no qual o foco
das atenções converge para a história, em si, e o trabalho do ator, a maneira
como ele narra os fatos. Então, generosa e acertadamente, o diretor não pensou
em aparecer mais que o intérprete, como, por vezes, percebemos, em algumas montagens,
e permitiu que ZECA e LÁZARO fossem, como deveria mesmo ser, os protagonistas
da peça, limitando-se, a meu juízo, a orientar o ator em certos detalhes de
movimentação e voz, bastante inteligentes e interessantes.
Fique muito comovido e agradecido a EZEQUIEL (ZECA é mais fácil e mais
afetivo, principalmente depois que conhece a pessoa, como eu conheci.) pela oportunidade que me deu de tomar conhecimento do seu trabalho, realmente, de
primeira grandeza. Sua interpretação é bastante expressiva, visceral,
convincente e extremamente emocionante. Há, da parte dele, uma entrega
completa ao personagem, da primeira à última cena, sem permitir que haja
qualquer “barriga", durante os 60 minutos de duração daquela “viagem”. Destacam-se, na sua interpretação, a expressão corporal, para a qual contribuiu LAVÍNIA BIZOTTO, na direção de movimento, e o trabalho de voz, quando ele mistura o delicioso sotaque do "mineirim" com sons estranhos, como tiques nervosos ou algo parecido.
ZECA é o responsável pela concepção cenográfica, muito, mas muito
mesmo, simples, porém contundente: um banco tosco e algo que se assemelha a
um fogão a lenha, feito com latas, além de alguns rudes objetos de cena. O piso,
circular, é de um linóleo, da cor da terra, com um pouco dela espalhado, para
dar mais realismo aos fatos narrados.
O ator usa um figurino, assinado por TAINÁ MESMO, muito “chão”, muito “raiz”:
uma calça cáqui, muito “surrada”, e uma camisa mais clara, meio areia, feita de
um tecido semelhante a linho, também gasta, pelo tempo. Um “paramento” adequado
ao personagem.
A iluminação, concebida por GABRIEL PRIETO, varia de intensidade, mas
se fixa, basicamente, na luz neutra, sem quase uso de cores, a não ser nas
cenas em que alguns matizes entram para valorizá-las.
FICHA TÉCNICA:
Texto: Ezequiel Vasconcellos
Direção: Marcelo Morato
Assistente de Direção: Luca Matteo
Atuação: Ezequiel Vasconcelos
Concepção Cenográfica: Ezequiel
Vasconcelos
Figurino e Visagismo: Tainá Mesmo
Iluminação: Gabriel Prieto
Direção de Movimento: Lavínia Bizotto
Operação de Luz: Wladimir Alves
Mixagem e Colaboração Musical: Léo
Tucherman
Sonoplastia e Operação de Som: Agnes
Lobo
Identidade Visual e Design Gráfico:
Felipe Porto
Fotos: Márcio Honorato
Direção de
Produção: Felipe Porto | Plataforma.art
Produção
Executiva: Isabella Beatriz, Marcela Esteves e Masaaki Nakao.
Mídias Sociais: Isabella Beatriz
Por vários motivos, todos alheios à minha vontade, só pude assistir
à peça na última semana da temporada e senti que “ARIGÓ” é daqueles
espetáculos sobre os quais a gente – eu, pelo menos –, após o término da
sessão, fica pensando: Por que não assisti a essa peça antes?.
Faço votos de que a brava e corajosa
produção do espetáculo, tendo FELIPE PORTO, capitaneando a
embarcação, consiga, pelo mesmo, uma nova temporada, no Rio de Janeiro!
São os meus sinceros desejos.
E VAMOS AO TEATRO!!!
OCUPEMOS TODAS AS SALAS DE ESPETÁCULO DO BRASIL!!!
A ARTE EDUCA E CONSTRÓI!!!
RESISTAMOS!!!
COMPARTILHEM ESTE TEXTO,
PARA QUE, JUNTOS, POSSAMOS DIVULGAR
O QUE HÁ DE MELHOR NO
TEATRO BRASILEIRO!!!
Nenhum comentário:
Postar um comentário