MÃE
FORA
DA CAIXA
(“TER FILHO É MUITO
BOM,
MAS DURA...”)
ou
PUERICULTURA VISTA
PELA
LENTE DO BOM HUMOR.
Depois de quase três longas semanas afastado dos Teatros,
por conta de uma cirurgia na coluna vertebral, após a liberação pelos médicos,
minha primeira saída, social ou culturalmente falando, não poderia deixar de
ser uma visitinha a um Teatro do Rio de Janeiro. E a escolha
recaiu sobre uma comédia, uma deliciosa comédia, na forma de um solo,
delicioso solo, conduzido, deliciosamente, por MIÁ MELLO,
em cartaz no Teatro Fashion Mall (VER SERVIÇO.). É delícia que não
acaba mais...
A acertadíssima idealização desta montagem
partiu do ator e produtor PABLO SANÁBIO, após ter-se
tornado “o pai da Manuela”, e que tem uma espécie de “dedinho de
Midas”, para produções teatrais, isso tantas vezes provado, ao longo
dos últimos anos. Desta vez, meu querido amigo PABLITO acertou de novo,
ao pensar num público alvo, aparentemente, o único que poderia lotar a Sala
1 do Teatro Fashion Mall, mas, com o decorrer da temporada, vem sendo
notado que aquele espaço está reunindo várias “tribos”. Tudo indicava que o espetáculo
fosse voltado apenas para as mães, de todos os tipos: as que já o são faz
tempo, as de primeira viagem, as futuras e as que pretendem vir a ser. O que
ocorre, na verdade, é que essas mulheres não vão sozinhas ao Teatro e carregam,
ainda bem, consigo, seus pares, companheiros, os papais, e mais um monte de
gente, muitos dos quais que nem a experiência da maternidade/paternidade
conhecem. Resumindo, virou uma peça para todos, para divertir e educar a
todos. Educar sob a lente “séria” que há por trás do humor. Didático, sem ser
chato; empírico, dando passagem, também, à ficção. É tudo muito divertido.
O texto, delicioso, por sinal (Eu já
falei que não falta “delícia” neste espetáculo.), foi escrito por uma jovem
talentosa da dramaturgia carioca, CLÁUDIA GOMES, roteirista da
Rede Globo, há vinte anos, tendo feito parte da equipe de criação de
seriados, como “Tapas & Beijos”, “SOS Emergência”, “Casos
e Acasos”, “Amorteamo” e outros, além de ter trabalhado como roteirista
de “Malhação” e coautora da novela “Deus Salve o Rei”.
Também brilha como criadora do blogue "Humor de Mãe" e
vive sua primeira e desafiadora experiência para os palcos, já começando com o
pé direito, com um monólogo, o que é bem difícil de se escrever. CLÁUDIA
me confidenciou que teve medo de assumir a empreitada, de não conseguir dar
conta da encomenda, quando convidada por PABLO SANÁBIO, mas topou o
desafio. No fundo, no fundo, ela confiava no seu taco. E tudo está dando muito
certo.
A
dramaturgia foi “livremente inspirada” no “best seller” de
THAIS VILARINHO, cuja proposta não é fazer humor, nem é escrito no formato de TEATRO e está mais para um “livro de acolhimento”. Eu, já pai e avô, estou louco para ler a obra, que leva o
mesmo nome da peça. Não sei como foi feita essa adaptação,
entretanto posso garantir que CLÁUDIA se utiliza de um humor
inteligente, leve e, por vezes, meio ingênuo e meio corrosivo, para que todas
as mães, principalmente, se vejam naquela personagem, às voltas com o
cotidiano de uma. A personagem de MIÁ, propositalmente, não
tem nome. Assim, há uma troca de empatia durante todo o tempo do espetáculo.
Quem quiser que se veja nela. E alguém consegue fugir a isso? Duvido!!! Ou por experiência própria, ou por conhecer quem já passou por tudo o que é mostrado no palco.
Durante as primeiras conversas sobre um, ainda, possível,
projeto de uma peça, a dramaturga, a atriz e a diretora, "tricotaram" muito e trocaram suas experiências como mães. Curiosamente, as três
tiveram um menino e uma menina, com diferenças de idades bem próximas. E os
mesmos problemas, as mesmas angústias, as mesmas dúvidas, os mesmos medos, as
mesmas preocupações, os mesmos desesperos... Desses colóquios, saiu muito do texto
da peça.
É bem interessante a construção da dramaturgia,
que começa com a atriz cumprimentando a plateia e se apresentando, como
pessoa física. “Boa noite! Obrigado pela presença de todos. Eu sou
Marília Penariol Mello, mas podem me chamar de MIÁ, ou da mãe da Nina e do Antônio...”.
E prossegue, mais ou menos, assim: “Depois que a gente tem filho, meio
que perde a identidade e passa a ser conhecida como ‘a mãe do/a Fulaninho/a...’”.
Achei o detalhe ótimo, porque é a mais pura verdade e isso nos enche de
orgulho. Eu deixo de ser eu (Até a página 5, é claro!), para ser, no meu caso, “o
pai da Flávia e do Pablo”. Devo acrescentar que ser “o avô do Tomás, do
Joaquim e da Carolina” tem um sabor mais carregado nos temperos.
Por oportuno, a CLÁUDIA
GOMES também é conhecida, ou, talvez, mais conhecida, como “a mãe da Pilar
e do Vicente”.
SINOPSE:
“Ter filho é muito bom, mas dura...”. Assim começa o espetáculo "MÃE
FORA DA CAIXA", que traz, aos palcos, uma mãe que não tem medo de falar
sobre os diversos dilemas que envolvem a maternidade.
Com muita de leveza e incomensurável bom humor,
potencializados pelo talento de MIÁ MELO, o espetáculo traz ao público
reflexões dessa mulher, que nasce junto com o bebê.
Dúvidas, angústias, alegrias, conflitos, amamentação,
o puerpério (Que palavra mais feia!!!) e todas as mudanças que acontecem neste novo ciclo, de fora pra
dentro e de dentro pra fora, desfilam no palco em pouco mais de uma hora de
alegre e agradabilíssimo entretenimento.
De forma bem descontraída, incluindo interação com o
púbico, assistimos a uma verdadeira “aula” prática de puericultura, “ciência que reúne todas as noções (fisiologia, higiene, sociologia)
suscetíveis de favorecer o desenvolvimento físico e psíquico das crianças,
desde o período da gestação até a puberdade”. Ou, ainda, mais cientificamente falando, “o
conjunto de noções e técnicas voltadas para o
cuidado médico, higiênico, nutricional, psicológico etc., das crianças pequenas,
da gestação até quatro ou cinco anos de idade”. (Santa Wikipédia!).
Foi acertadíssima a escolha de MIÁ
MELLO, para interpretar aquela mãe. MIÁ é uma ótima atriz e
domina, sem o menor esforço e com muita naturalidade, a arte de fazer rir, o
que não é nada fácil, com um excelente “timing” para a comédia e
um profundo senso e improvisação, uma vez que, muitas vezes troca “texto” com a
plateia, provocado por ela ou espontaneamente partindo do próprio público. Sem
falar na sua simpatia e enorme carisma!!! Cada sessão é uma experiência
diferente. Uma declaração de MIÁ: “Eu quero e preciso contar para
as pessoas como eu me sinto sendo mãe. Mãe de duas lindas crianças, mas que,
volta e meia, está exausta, com cara de choro, achando que não vai dar conta de
tudo. A peça não é sobre a minha vida, mas poderia. E desconfio que vocês
também vão se identificar em algum momento”. Não tenha a menor dúvida
disso, MIÁ.
No decorrer da encenação, percebemos que a personagem é
uma “mulher que se descobre e cresce a cada instante”. Nasce uma
criança e nasce uma mãe. Nascem, na verdade, dois novos seres. Nitidamente,
existe, na peça, uma intenção maior do espetáculo, que é a de proporcionar
um acolhimento a quem dele mais necessita, “oferecer um ombro amigo para
os pais e mães que se sentem pressionados com tantos desafios”. A peça
existe, para que as mães fiquem sabendo que não estão sós e que não são as
únicas, no mundo, a passar pelas delícias e dores da maternidade.
É muito boa e descomplicada a direção de JOANA
LEBREIRO, que soube aproveitar e explorar, com profundidade, cada detalhe
do texto e o talento de MIÁ, numa proposta de direção bem
simples e acessível a pessoas de todas as classes e níveis culturais, uma vez
que mãe é mãe em qualquer contexto sociocultural. JOANA, “a mãe
do Vicente e da Cecília”, facilita, ao espectador, a apreensão de todos os “ensinamentos”
transmitidos pela “professora”.
A cenografia, de MINA QUENTAL, reproduz um
quarto, ou mais que isso, o universo infantil, o caos, com brinquedos espalhados
por todo o palco. No fundo, um interessante painel, construído com dezenas de
tampos de vasos sanitários. Estes também estão presentes, em cena, quatro ou
cinco, de maneira muito lúdica, em forma de cubos de acrílico transparente,
deixando à mostra muitos brinquedinhos em seus interiores. Sobre cada “privada”,
um tampo, que é levantado ou arriado pela atriz, toda vez que precisa
assumir seu “trono”.
O
figurino, assinado por BRUNO PERLATO e MARIANA SAFADI é
simples, mas se destaca pela funcionalidade e capacidade de se prestar a ser
usado como objeto de cena, de forma muito prática e criativa.
A
iluminação, de PAULO CÉSAR MEDEIROS, acompanha as necessidades do
texto e obedece a elas, formando um todo bastante harmonioso e
funcional.
A
peça conta com uma agradável e apropriada trilha sonora, de responsabilidade de RICCO VIANA.
Ocupar
um palco, por mais de uma hora, solitariamente, exige que alguém se preocupe
com uma boa direção de movimento, para fugir à monotonia. ANDREA
JABOR se encarrega bem disso.
Sempre
enriquecem qualquer produção teatral as projeções dos irmãos
RENATO e RICO VILAROUCA, os craques do videografismo.
Não pode ser omitido o trabalho de produção, de CARLOS
GRUN, que, felizmente, acreditou no projeto e contribuiu,
sobremaneira, para que ele passasse do papel ao palco, do abstrato ao concreto.
FICHA TÉCNICA:
Texto: Cláudia Gomes (livremente inspirado no livro “Mãe
Fora da Caixa”, de Thais Vilarinho)
Elenco: Miá Mello
Idealização: Pablo Sanábio
Direção: Joana Lebreiro
Direção de Produção: Carlos Grun e Thábata Tubino
Iluminação: Paulo César Medeiros
Cenário: Mina Quental
Trilha Sonora; Ricco Viana
Trilha Sonora; Ricco Viana
Direção de Movimento: Andrea Jabor
Projeções: Vilaroucas Produções
Figurino: Bruno Perlatto e Mariana Safadi
Fotos: Douglas Jacó
Uma produção: Bem Legal Produções
SERVIÇO:
Temporada: De 12 de julho a 8 de setembro de 2019.
Local: Teatro Fashion Mall – Sala 1.
Endereço: Shopping Fashion Mall (2º piso) – Estrada da
Gávea, 899 – loja 213 – São Conrado – Rio de Janeiro.
Dias e Horários: 6ª feira e sábado, às 21h; domingo,
às 20h.
Sessões "baby friendly", às 11h30 - último
domingo de cada mês, para bebês até 18 meses.
Valor dos Ingressos: R$80,00 (inteira) e R$40,00
(meia entrada).
Venda de ingressos na bilheteria; De 3ª feira a
domingo, a partir das 15h, até o horário do início do espetáculo.
Classificação Etária: 12 anos.
Gênero: Comédia.
Como já consta no “SERVIÇO”, o espetáculo oferece
um diferencial bastante interessante: no último domingo de cada mês, há
a sessão "baby friendly", na qual as mães podem levar seus
bebês, sem se preocuparem. O Teatro vira, portanto, um espaço de encontro e
acolhimento, o que tem proporcionado momentos emocionantes.
Creio que tudo o que escrevi sobre a peça é mais do
que suficiente para que fique bem entendido que eu recomendo, com bastante
empenho, o espetáculo e sinto não conseguir uma data, na agenda, para poder revê lo.
E VAMOS AO TEATRO!!!
OCUPEMOS TODAS AS SALAS
DE ESPETÁCULO DO BRASIL!!!
A ARTE EDUCA E
CONSTRÓI!!!
RESISTAMOS!!!
COMPARTILHEM ESTE
TEXTO,
PARA QUE, JUNTOS, POSSAMOS DIVULGAR
O QUE HÁ DE MELHOR NO
PARA QUE, JUNTOS, POSSAMOS DIVULGAR
O QUE HÁ DE MELHOR NO
TEATRO BRASILEIRO!!!
(FOTOS: DOUGLAS JACÓ.)
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