VOU
DEIXAR
DE
SER FELIZ
POR
MEDO DE FICAR TRISTE?
(COMO SER FELIZ
FORA DOS PADRÕES
PRÉ-ESTABELECIDOS.
ou
INTIMIDADE ESCANCARADA,
A SERVIÇO DA FELICIDADE.)
Entrou, recentemente, em cartaz, no Teatro das Artes, no Shopping da Gávea, Rio de Janeiro (VER
SERVIÇO.), um espetáculo que
prima pela boa qualidade e pela criatividade, calcado numa ideia não tão
original, porém muito bem desenvolvida, resultando num espetáculo que merece
ser visto e apreciado.
Falo de “VOU DEIXAR DE SER FELIZ
POR MEDO DE SER TRISTE?”, que tem argumento
de CLAUDIA
WILDBERGER e YURI RIBEIRO, texto deste e direção
de JORGE FARJALLA, trazendo, no elenco, PAULA BURLAMAQUI,
YURI RIBEIRO, VITOR THIRÉ e JUJUBA CANTADOR.
Por que
a ideia não é “tão original”? A
resposta é muito simples: não há tema mais explorado e esmiuçado, em todas as formas
de arte, do que o amor. O amor e suas maravilhas. O amor e seus sofrimentos. O amor e suas surpresas. O amor e suas diferenças. O amor e suas consequências. O amor... O amor... O amor...
Mas é
possível, sim, se falar de algo tão “déjà
vu” e agradar tanto, quando entram em campo a criatividade e o despudor, o
medo da exposição pública e a vontade de se deixar uma boa mensagem a um
público.
SINOPSE:
Valendo-se da atualidade do tema, YURI RIBEIRO, autor do texto
e um dos idealizadores do espetáculo,
resolveu transformar sua experiência de vida em espetáculo teatral.
A peça aborda as várias fases de um relacionamento amoroso,
promovendo deliciosas risadas e muita reflexão.
No palco, PAULA BURLAMARQUI (ANDREA), é uma mulher mais
“experiente” (mais velha), que casa com DANIEL (YURI
RIBEIRO), um rapaz que tem
uns bons anos de experiência a menos que ela.
O filho de ANDREA, CAIO (VITOR THIRÉ) é um jovem como
a maioria de sua idade, brincalhão e piadista, que não se dá muito bem com “a
espécie de irmão mais velho que ele arrumou”.
Como uma espécie de “coringa”, ainda
está em cena, como músico e ator, pontuando e apoiando algumas cenas, o músico JUJUBA CANTADOR.
Antes de
mais nada, acho muito louvável a coragem de um casal de idades tão dístantes – ela com 52 anos e ele com 27 (praticamente o
dobro) – expor a sua intimidade, o
seu dia a dia e a construção de uma linda relação afetiva - o mais importante de tudo -, que não difere, em nada, dos casais
formados por pessoas de idades próximas. Há, evidentemente, alguns detalhes “atípicos”,
com os quais ambos precisam se acostumar, os quais ambos têm de assimilar. Mas o amor resolve tudo.
Existe,
ainda, em pleno século XXI, por
parte de muita gente, não sei se da maioria das pessoas, um preconceito muito
grande com relação à diferença de idades entre os membros de um casal, seja ele
“convencional” ou homoafetivo. Ainda há quem se preocupe tanto com a vida
alheia, sem se dar conta de que a sua é que precisa ser mais bem administrada;
e não seria por outra pessoa, a não ser a própria, o que já lhe deveria ocupar
bastante tempo.
Paradoxalmente,
é curioso, no mínimo, que um sentimento considerado combustível da vida,
indispensável à preservação e perpetuação da raça humana, o amor, venha sendo tão discutido, ultimamente,
por sua falta ou desvalorização. Por esse motivo, nos diz o diretor da peça, JORGE FARJALLA, que “...nunca se tornou tão necessário e
importante, para mim, falar sobre o tema.”. Para todos, FARJALLA. Sem amor, é impossível vida neste planeta; quiçá, em outros.
O que
confere à peça uma marca especial,
que a torna diferente, não é somente o fato de se tratar de mais uma história
de amor ou, apenas, a história de amor entre pessoas de idades bastante
diferentes. É a maneira como ela é contada, a linguagem eleita pela direção, para que tudo fosse dito da
forma mais poética e lúdica possível. A opção foi utilizar um picadeiro, e uma
estética circense de “clowns”, em
pitadas leves, sem a predominância de técnicas “clownescas”. Nada mais singelo e poético que isso, a exploração da
alma do palhaço. E o resultado foi excelente.
FARJALLA, afirma “que o amor é o guia para onde, de fato,
nos movimentamos na vida. Ele nos move a cada segundo e ações do nosso
cotidiano. Não só o amor entre duas pessoas, mas por um amigo, por um trabalho
e por aí adiante.”. Para ele, o fato é que, moldado e forjado numa
relação de vida pessoal, mergulhou, de cabeça, na pureza e entrega deste "VOU
DEIXAR DE SER FELIZ POR MEDO DE FICAR TRISTE?". Quanto a isso, não resta, ao espectador, a menor dúvida. Nota-se o amor
pela empreitada, o amor com que o diretor trabalhou, com seus atores,
a costura do texto e a mágica transformação deste, ou sua transposição
do papel para o palco, das letras às ações.
O diretor Jorge Farjalla.
A relação parte
de uma paixão, como sempre,
desenfreada, fervente, porque se trata de um sentimento que dispensa a razão e
dá corda ao coração, à emoção, e vai se moldando, evoluindo para um amor de verdade, que é outro
sentimento, um primo, quase irmão, da paixão; destemido, desobrigado de dar
satisfações a terceiros, solto das amarras, livre de correntes e grilhões, que
oscila entre o a emoção e a razão, ora mais pendendo para um lado, ora para o
outro. O que parece uma coisa impossível de se desenvolver e florescer, o amor de uma mulher mais velha por um “garoto”,
comparado, no “release” da peça, como “o amor de um peixe por um pássaro, mas que poderá ter um outro destino”,
acaba mesmo trilhando outra sina. Está dando certo e oxalá dure para sempre. “Que
seja eterno, enquanto dure.”,
diz o “Poetinha”. Que dure até a eternidade!!! – digo eu.
Para o autor, “‘VOU DEIXAR DE SER FELIZ POR
MEDO DE FICAR TRISTE?’ tem os pés na verdade do dia a dia do casal e as mãos
agarradas na ficção, para apimentar um pouco. Somos poesia e terra numa mesma obra. Somos riso e choro. Somos humanos
e estamos contando, em uma comédia, uma história de humanos que se amam.”. E como é bem contada essa história, que, além
do ótimo texto, ganhou uma brilhante direção e foi colocada na
boca de quatro ótimos intérpretes!
Embora o texto seja
inspirado na real história de amor de um casal, os nomes dos protagonistas ganharam a ficção, ANDREA (PAULA BURLAMAQUI) e DANIEL (YURI RIBEIRO), e, durante os 70 minutos de duração da peça, vemos desfilar, no palco, como,
obviamenmte, não poderia deixar de ser, muitas das refererências que pontuaram
a vida do casal, e devem pontuar até hoje, durante já quase seis anos de vida em comum, tudo regado com um molho de fábula,
misturando momentos de grande emoção com cenas plenas de um humor leve,
descontraído, inteligente e saudável. Devo, ainda, acrescentar que o texto, por sair do coração, não é
complexo; muito ao contrário, é de uma simplicidade encantadora, com diálogos bem
construídos e ágeis, indo de um extremo, do drama, à outra extremidade, da comédia,
com o mesmo vigor e energia.
FARJALLA é
um diretor conhecido por se cercar
de excelentes profissionais, que o ajudam a concretizar suas ideias e
transformar seus sonhos em realidade. Não foi diferente desta vez e alguns nomes
que já vêm trabalhando com ele, há algum tempo, assinam setores importantíssimos
desta montagem.
A cenografia é muito
simples, conceitual e prática. JOSÉ DIAS,
um grande mestre no ofício, parceiro inseparável de FARJALLA, em tantas inesquecíveis montagens, assina este trabalho,
voltado para um picadeiro, com um “amparo” (Ou seria “borda”? Falta-me o termo
exato, mas refiro-me à parte que circunda o picadeiro.) em semicírculo, que
funciona como passarela e uma espécie de “porta-trecos”, de onde saem materiais
de cena e onde também são guardados, após o uso. Por algum tempo, fiquei me
questinando sobre a decisão de não utilizar o referido “amparo” no círculo
inteiro. Se há uma proposta, um significado para isso, por parte do cenógrafo – e deve haver -, eu não
consegui alcançar, o que, em absoluto, traz algum prejuízo para a comprensão da
peça. Ao fundo, apenas partes das
paredes, de lona, de um circo, mas não coloridas. Talvez haja uma relação conceitual
entre esses dois elementos da cenografia,
porém não vou continuar preocupado com isso. Funciona muito bem o ótimo cenário do DIAS.
Os figurinos, bastante
interessantes, são assinados pelo próprio FARJALLA,
um trabalho que lhe confere grande prazer e que o consahrado multiartista executa com muita maestria.
Neste espetáculo, ele ainda foi o
responsável pela preparação corporal,
que permite, aos atores, belos
deslocamentos em cena, acompanhando a proposta da leveza do espetáculo.
A peça é uma lição de poesia e, para isso, muito
contribui a bela e sugestiva iluminação,
a quatro mãos, criada por JACSON INÁCIO e VLADIMIR FREIRE,
dando suporte às cenas, colorindo as lonas do circo e criando um clima onírico, tão favorável à montagem.
Outro
profissional que vem acompanhando FARJALLA,
em seus últimos trabalhos, com um excelente rendimento, é JOÃO PAULO MENDONÇA, criador da trilha sonora do espetáculo, composta de canções leves, líricas e totalmente
inseridas nas cenas.
Quanto ao elenco, há um ótimo entrosamento entre
o quarteto, todos com formidáveis atuações. PAULA e YURI atuam com
muita verdade e mergulho nos seus personagens, porém vejo um leve destaque em VITOR THIRÉ, talvez pelo fato de seu
personagem, CAIO, o filho quase da
idade do marido da mãe, funcionar como um contraponto na relação entre o casal.
Também não posso
omitir a importância de JUJUBA CANTADOR,
de quem eu nunca havia ouvido falar e de quem me tornei fã, no desenvolvimento
da trama, como uma válvula de escape, para os momentos de tensão, e um reforço
nas cenas cômicas.
Não poderia deixar passar em brancas nuvens, de forma alguma, um comentário elogioso ao belíssimo e elaborado trabalho de arte da peça, incluindo o programa, projeto gráfico de LETÍCIA ANDRADE. Houvesse prêmio para essa categoria, LETÍCIA merecia, no mínimo, uma indicação. O programa, seguindo a técnica de origami, com dobraduras, formando um coração, é para ser guardado com muito carinho e cuidado.
FICHA TÉCNICA:
Argumento – Claudia
Wildberger e Yuri Ribeiro
Autor – Yuri Ribeiro
Direção Artística – Jorge
Farjalla
Diretora Assistente – Raphaela
Tafuri
Elenco – Paula Burlamaqui,
Yuri Ribeiro, Vitor Thiré e Jujuba Cantador
Figurinos – Jorge Farjalla
Preparação Corporal –
Jorge Farjalla
Preparação Vocal –
Patrícia Maia
Trilha Sonora – João Paulo
Mendonça
Direção de Arte e Cenografia –
José Dias
Desenho de Luz – Jacson Inácio
e Vladimir Freire
Fotos – Carol Beiriz
Visagismo – Rosa Bandeira
Gerência de Marketing –
Maurício Tavares
Produtor Executivo – Tatianna
Trinxet
Assessoria de Imprensa –
Daniella Cavalcanti
Produtores Associados –
Claudia Wildberger e Frederico Reder
SERVIÇO:
Temporada: De 1º de junho a 29 de julho de 2018.
Local: Teatro das Artes.
Endereço: Rua Marquês de São Vicente, 52 - Gávea (Shopping da Gávea - 2º piso) - Rio de Janeiro.
Dias e Horários: 6ª feira e sábado, às
21h; domingo, às 20h.
Valor dos Ingressos: R$80,00 (inteira),
R$40,00 (meia entrada).
Horário de Funcionamento da Bilheteria:
Das 15h às 20h, de 2ª feira a domingo. Após às 20h, vendas apenas para os
espetáculos do dia.
Telefone: (21) 2540-6004.
Capacidade: 421 lugares.
Gênero: Comédia Romântica.
Classificação Etária: 12 anos.
Duração: 70 minutos.
Todos os espectadores devem sair de peça
com a mesma sensação que tive; leves, felizes e podendo, até, fazer o seguinte
questionamento: Por que eu devereia me interessar por uma história de amor
entre uma mulher mais velha e um rapaz muito mais novo? O que, ou em que, isso
poderia me intererssar e aos outros? O quanto isso poderia me acrescentar, na
minha vivência do dia a dia? Muito; ou melhor, tudo.
Acho que o texto, abaixo transcrito, dito, em “off”, pela
própria CLAUDIA WILDBERGER, ao final da peça, enquanto o elenco fica parado e a luz vai
cedendo à penumbra, responde a tudo, sem a necessidade de maiores acréscimos:
“O
que eu acho? Como é pra mim?
Na
verdade, eu nunca pensei muito nisso. Foi natural. As coisas foram acontecendo,
como acontecem nos relacionamentos.
Sei
lá, só acho que relacionamento não é escola, que separa por série e tem que ter
a mesma idade pra ficar na mesma turma, na mesma sala.
Relacionamento
é humano, é pele, é coração, é desejo.
Acontece.
E acontece diferente com cada um.
Eu
tenho 52 anos e ele 27. É uma baita diferença, né?
Sabe
que eu nem sinto?
Relacionamento
é feito de pessoas que se completam e isso não depende de idade ou experiência;
relacionamentos dependem de pessoas que se AMAM.
Não é
que eu nunca me incomodei com o que os outros dizem ou como olham a gente, mas,
jura?
Vou me prender a isso?
Vou nada!”
E VAMOS AO TEATRO!!!
OCUPEMOS TODAS AS
SALAS DE ESPETÁCULO DO BRASIL!!!
COMPARTILHEM ESTA CRÍTICA,
PARA QUE, JUNTOS, POSSAMOS DIVULGAR O BOM TEATRO BRASILEIRO!!!
(FOTOS: CAROL BEIRIZ.)
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