MORDIDAS
(UMA DAS MELHORES COMÉDIAS
A
QUE JÁ ASSISTI
EM TODA A MINHA VIDA.
ou
AS APARÊNCIAS ENGANAM.
ou
RETRATO EM PRETO E PRETO.)
Já
inicio esta crítica, dizendo que este
espetáculo é IMPERDÍVEL!!!
Está em
cartaz, no Teatro Fashion Mall, uma
deliciosa comédia, chamada “MORDIDAS”.
Não
sei que rumo tomará o meu discurso, mas pode ser, até mesmo, que esta
análise não seja tão longa e detalhada, como, de costume, são as minhas críticas, O que ocorre, na verdade, é
que tão bom é o espetáculo, que, talvez, me faltem palavras, para traduzir o
que senti, na noite do último domingo (08/04/2018),
quando assisti à peça. Só mesmo vendo a montagem, para se ter uma ideia de sua
superior qualidade, em todos os sentidos.
Trata-se
de uma comédia satírica, do argentino GONZALO DEMARIA, com versão
brasileira de MIGUEL FALABELL, direção de VICTOR GARCIA PERALTA e uma ficha
técnica invejável.
A
Argentina nos tem feito travar
conhecimento com uma dramaturgia de
ponta, nos últimos anos, principalmente, e o autor de “MORDIDAS” (“TARASCONES”, no original) está
inserido nessa safra de bons dramaturgos.
Eu diria, para fazer justiça, que o texto
de DEMARIA é ótimo, o que vem se
tornando, cada vez mais, raro, em se tratando de comédia. Esta, certamente, é uma das melhores a que já assisti em toda
a minha vida de “rato de TEATRO”.
Além
de dramaturgo, GONZALO DEMARIA é roteirista, escritor, compositor e diretor teatral. Nascido em Buenos
Aires, é um dos artistas mais renomados do teatro argentino, tendo peças montadas na sua cidade natal e em Paris. Fez versões, em espanhol, de
musicais americanos, tais como: "Chicago",
"Zorba" e "Cabaré". Em 2010, publicou seu primeiro romance: "The Pochoeaters”.
É
a primeira vez que o texto é
apresentado no Brasil. Estreou em Buenos Aires, em 2016, sucesso absoluto de público e de crítica, como deverá
acontecer, ao longo desta temporada, no Rio
de Janeiro e por onde mais a peça passar. “Por ela, GONZALO DEMARIA recebeu o Prêmio ACE 2016/2017 (Asociación
de Cronistas del Espectáculo), na categoria de melhor texto. Em 2017, a montagem fez turnê
pelo interior da Argentina e retornou, para nova temporada, em Buenos Aires,
sempre com o mesmo êxito. 'MORDIDAS' foi montada, também, no Uruguai
e tornou-se, mais uma vez, grande sucesso de público e de crítica”, como está no “release”,
que me foi enviado por STELLA PONTES (JSPONTES
– ASSESSORIA DE IMPRENSA).
SINOPSE:
As amigas STELA (LUCIANA BRAGA), MARTITA (ZÉLIA DUNCAN), ZULMA (ANA BEATRIZ NOGUEIRA) e RAQUEL (REGINA BRAGA), mulheres
sofisticadas e elegantes, sempre se reúnem, para jogar cartas e tomar chá.
Numa desses encontros, na
casa de RAQUEL, acontece a morte de Bola de Neve, cachorrinho de estimação
desta.
Inconformadas, decidem
promover um julgamento “nonsense”,
em que
a criada é acusada pelo "assassinato",
sem estar presente no local da “audiência”, visto que fora presa num quarto,
e sem direito a defesa.
O que se vê, na verdade, é
o julgamento que cada uma faz sobre a outra, numa sucessão de acusações
bizarras, as quais revelam a verdadeira face de cada uma.
RAQUEL, de temperamento trágico e exagerado, pretende emanar uma
certa nobreza e superioridade.
ZULMA não larga o copo e está sempre algumas doses à frente das
amigas, mas suas palavras são lúcidas e cheias de ironia.
MARTITA, exaltada, quer opinar sobre todos os assuntos, é a
"sabe-tudo" do grupo.
E STELA quer parecer viajada e exótica, cultivando conversas sobre
mistérios do mundo e tentando impressionar as amigas com a sua experiência.
No final do “julgamento”,
o público é surpreendido com uma revelação, que encerra, nas entrelinhas, muitos
detalhes bem sutis.
Não
é fácil escrever comédia. Provocar o riso, da forma mais espontânea,
inteligente e original possível, é da competência de poucos. No caso da peça em
tela, não só o texto original é
ótimo, como, igualmente, é a versão
de MIGUEL FALABELLA,
criada, especialmente, para esta montagem, cuja idealização é de ANA BEATRIZ
NOGUEIRA, que adquiriu os direitos do texto,
esteve na Argentina, assistindo à
montagem local, e está produzindo a peça,
integralmente, com recursos próprios, o que é digo de todos os louvores. ANA acreditou na empreitada, cercou-se
de excelentes profissionais e o resultado já pode ser conferido, em apenas dois
dias de exibição, visto que a estreia, no Teatro
Fashion Mall se deu no último dia 7,
sábado.
“‘MORDIDAS’
é uma comédia satírica, que faz uma crítica contundente à sociedade
contemporânea e suas contradições entre o que queremos parecer ser e o que
somos, de fato, convidando o espectador a pensar sobre o modo como
estabelecemos as relações humanas nos dias de hoje”.
O
público emenda uma gargalhada na outra, embora, na verdade, esteja diante de
frases e atitudes as mais bizarras possíveis, inadmissíveis, ouvindo
barbaridades, das bocas das quatro protagonistas. Então, de que e por que ri?
Ri do patético diante do qual está e porque tudo o que é dito provoca uma
reação de não aceitação de tanta maldade. No fundo, no fundo, é um riso
nervoso, de quem se questiona: NÃO É
POSSÍVEL QUE EU ESTEJA OUVINDO E VENDO ISSO!!! Ou COMO PODE EXISTIR GENTE COMO ESSAS QUATRO LOUCAS?! E o pior é que
existe!!!
O texto torna-se mais valorizado, ainda,
pelo fato de ter sido escrito em versos,
uma maneira, talvez, de o autor “camuflar” o verdadeiro sentido das falas e
aguçar a inteligência do espectador. E, antes que alguém pense que um texto em versos possa ser enfadonho ou
dificultar o seu entendimento, afirmo, com a maior convicção, que não. E, muito
acertadamente, FALABELLA manteve a
estrutura original, na sua adaptação,
sem uma preocupação com as rimas externas. Muitas vezes, elas ocorrem
internamente, apenas. Não houve tanta preocupação com a forma, mas, sim, com o
conteúdo. O fato de ter sido escrito nesse formato também é interessante,
porque o público fica sempre na expectativa do que vai ser dito, em função da sintaxe utilizada na construção dos
versos, cheia de hipérbatos, inversões e anástrofes, bem diversa da que é
empregada na prosa. É diferente de um texto
dramático tradicional, em que, no decorrer da fala, mais ou menos, é criada
uma expectativa em torno do que virá em seguida a cada palavra ou locução
utilizada.
Segundo
apurei, com o brilhante diretor, VICTOR GARCIA PERALTA, a montagem
brasileira, em muito, se diferencia da original, o que agradou bastante ao autor da peça, o qual veio ao Rio de Janeiro, para a estreia carioca.
Na montagem portenha, as personagens eram “tortas”, interna e externamente. Sob
a ótica de PERALTA, houve a
preocupação de mostrar o lado podre de cada uma das personagens, como pessoas,
mas, “o invólucro não corresponde ao
produto que vem dentro da embalagem”. Aqui, as quatro são mulheres bonitas,
elegantíssimas, e isso estabelece o contraste
entre o ser e o parecer, robustece o que o texto pretende passar, uma vez que “perfeitas”, por fora, todas
dizem e cometem as maiores atrocidades; são “monstros” por dentro.
O humor empregado por DEMARIA, e preservado por FALABELLA, é fino, profundo e
sarcástico. Há um deboche, praticado entre as quatro “amigas” (as aspas não foram empregadas por acaso),
que não fica claro se é decodificado por cada uma ou se fingem não entender,
uma à outra. O quarteto se equivale em maldade, superficialidade, mesquinhez,
afinado no mesmo diapasão.
Extraído
do já citado “release”: “O
diretor, VICTOR GARCIA PERALTA, conta: ‘Fui inspirado por uma fala do
autor, no programa argentino da peça, quando ele diz que, entre os animais, não
existem fascistas. Já, entre os homens, pode existir isso, ou coisa pior, e,
muitas vezes, sob uma aparente beleza ou perfeição. Como na Alemanha nazista e
sua arquitetura bela e triunfante, pano de fundo das maiores atrocidades da
humanidade. Acho importante, neste momento em que o mundo testemunha a volta de
pensamentos e posições tão intolerantes, falar dessas mulheres ou pessoas que
podemos encontrar em qualquer lugar, perto de nós, aparentando um refinamento, que,
na verdade, esconde uma natureza preconceituosa e sedenta de poder’."
Penso que grande parte do sucesso da
montagem brasileira cabe a essa inspiração de PERALTA. Com tal postura, na direção,
ele põe em relevo a personalidade de cada uma daquelas mulheres e nos alerta
para o fato de estarmos rodeados de gente como elas, sem que nos demos conta
disso. Muitas pessoas representam extremamente bem, na vida real, dentro de um
belo figurino e inseridas num cenário de luxo e bom gosto.
ANA
BEATRIZ NOGUEIRA complementa: "Fui procurar a alma da personagem, o
mundo interior, e não achei nada. Não havia mundo interior! É uma
aventura inédita e muito instigante.". E está coberta de razão. Não só a sua ZULMA, mas também as outras três
personagens trazem uma história, um passado e uma prática presente de vida
completamente sem sentido. Não são úteis nem a si mesmas; ou, talvez, a elas,
sim. Todas se alimentam de ódio, preconceitos, desejo de vingança,
futilidades...
Em
outras mãos, STELA, MARTITA, ZULMA e RAQUEL poderiam
se tornar caricatas, independentemente das atrizes que as representassem, porém
a direção se preocupou em “investir na humanidade das personagens, para chegar ao humor
e à potência do texto (...).”
PERALTA
dirige na velocidade permitida e desejável, com excelentes resoluções
cênicas e de marcação, como, por exemplo, a apresentação do enredo, feita por LUCIANA BRAGA, quando as luzes se
acendem, como que a preparar o público para uma sucessão de bizarrices. Por
essa cena, já se pode esperar por muita coisa boa, como uma em que MARTITA, deitada num sofá, faz severas
críticas ao marido, dirigindo-se a ZULMA,
esta sentada num sofá, sem largar o copo, já meio embriagada, de costas para a
outra, sem lhe dar a menor atenção. A cena, ou melhor, a marcação, de forma
proposital, remete o espectador à tradicional imagem de um cliente no divã de
seu/sua psicanalista.
Outra cena hilária, patética e impossível de ser esquecida
é a do cortejo fúnebre, que adentra a requintada sala. Imaginem as quatro mulheres,
enfileiradas, em procissão, num tom bastante cerimonioso, entrando em cena, com
STELA à frente, empurrando um
carrinho de chá, servindo de “coche”, sobre o qual vai uma caixa de sapato,
com o corpo de falecido cão. E, para emoldurar tal bizzaria, as quatro entoam,
com toda a pompa, uma antiga canção, gravada pelo grupo “Os Mutantes” (Que saudade!), chamada “Vida de Cachorro”, cuja letra aqui reproduzo, para que possam
imaginar bem o insólito da cena. Por oportuno, para os que não conhecem a
canção, sugiro ouvi-la e que percebam a distância que há entre a belíssima
melodia, lembrando uma canção medieval, e o teor escrachado da letra; não se
coadunam as duas e é o que dá destaque à canção, dentro da proposta do grupo
que a compôs e gravou.
VIDA DE CACHORRO
(Os Mutantes)
Vamos embora companheiro, vamos!
Eles estão por fora do que eu sinto por você.
Me dê sua pata peluda, vamos passear,
Sentindo o cheiro da rua.
Me lamba o rosto, meu querido, lamba
E diga que também você me ama.
Eu quero ver seu rabo abanando,
Vamos ficar sem coleira.
Vamos ter cinco lindos cachorrinhos,
Até que a morte nos separe, meu amor.
Com relação ao elenco, não
me atrevo a destacar qualquer atuação, uma vez que, ali, não há uma única
estrela; em cena, vemos o brilho de uma
constelação. Todas defendem suas personagens da forma mais correta e
perfeita possível, cada uma deixando bem a sua marca, descrita na sinopse. Já esperava aquelas luminosas
interpretações, com exceção de ZÉLIA
DUNCAN, cujo trabalho, como atriz,
eu não tivera, antes, o prazer de conhecer (Até então, uma incógnita para mim. E Ela é fantástica!), já que, embora com
formação de atriz, pouco atuou. Salvo engano, só participou de duas peças,
ambas encenadas em São Paulo, às quais, infelizmente, não assisti.
De acordo com a proposta da direção, o cenário e os figurinos
tinham de ser bem bonitos. Quanto a isso, DINA
SALEM LEVY (cenógrafa) e CARLA GARAN
(figurinista) fizeram trabalhos
impecáveis, para revelar o universo aparente das quatro mulheres.
O cenário é uma bela e moderna sala, dividida em dois ambientes
(estar e jantar), com móveis requintados e tudo em tons pastéis. São lindos e bem confeccionados os trajes do quarteto.
WAGNER AZEVEDO assina uma bela iluminação e MIRNA RUBIN, na direção de
movimento, também fazem parte desta competente equipe.
FICHA TÉCNICA:
Texto original: Gonzalo Demaria
Idealização: Ana Beatriz Nogueira
Versão Brasileira: Miguel Falabella
Direção: Victor Garcia Peralta
Elenco: Ana Beatriz Nogueira, Regina Braga, Luciana Braga e Zélia Duncan
Direção de Movimento: Márcia Rubin
Cenografia: Dina Salem Levy
Figurinos: Carla Garan
Iluminação: Wagner Azevedo
Design Gráfico: Fernanda Pinto
Fotos de Estúdio: Lucio Luna
Fotos de Cena: Cristina Granato
Assistência de Direção: Flávia Milioni
Direção de Produção: Dadá Maia
Produtores Associados: Ciranda de 3 Trupe Produções / Ana Beatriz Nogueira / Gustavo Nogueira
Assessoria de Imprensa: JSPontes Comunicação – João Pontes e Stella Stephany
SERVIÇO:
Temporada: De 07 de abril a 27 de maio.
Local: Teatro Fashion Mall (Shopping
Fashion Mall)
Endereço: Estrada Gávea, 899 – 2º piso -
São Conrado – Rio de Janeiro
Telefone: (21) 2422-9800
Dias e Horários: 6ª feira e sábado, às 21h;
domingo, às 19h30
Valor dos Ingressos: 6ª feira e domingo:
R$70,00 e R$35,00 (meia entrada); sábado R$ 80,00 e R$40,00 (meia entrada)
Horário de Funcionamento da Bilheteria: De
3ª feira a domingo, das 15h às 21h
Vendas online: www.tudus.com.br
Capacidade: 470 lugares
Classificação Indicativa: 12 anos
Gênero: Comédia
Duração: 70 minutos
Pelos DEUSES DO TEATRO!!! Agora foi que percebi o rumo que a minha prosa
tomou. Pensei escrever pouco, mas não consegui domar a fúria dos meus dedos no
teclado do computador e o desejo de expressar quão feliz fiquei por ter
assistido a esta deliciosa comédia, que voltarei a ver, muito em breve.
É preciso dizer que todos devem
correr ao Teatro Fashion Mall?
E
VAMOS AO TEATRO!!!
OCUPEMOS
TODAS AS SALAS DE ESPETÁCULO DO BRASIL!!!
COMPARTILHEM
ESTA CRÍTICA, PARA QUE POSSAMOS DIVULGAR, CADA VEZ MAIS, O BOM TEATRO
BRASILEIRO!!!
FOTOS:
LÚCIO LUNA
e
CRISTINA
GRANATO)
Adorei o espetáculo e sua crítica!
ResponderExcluirNão conhecia este dramaturgo que tem um humor acido.Impactante o espetáculo.
ResponderExcluirBom dia. Gostaria de vos apresentar o site Um Guia TV para ver os melhores filmes na televisão de Portugal(Meo, Nos, Vodafone, Nowo e TTD e do Brasil Visitem e deixem as vossas sugestões. Espero que seja útil.Podem encontrar a versão brasileira aqui
ResponderExcluir