sexta-feira, 25 de agosto de 2017


NA SELVA DAS CIDADES
– EM OBRAS

 

(BRAVO!

BRAVA!

BRAVI!)

 
 
 


            Assistir a uma peça de TEATRO já é um bom motivo para sair do Recreio dos Bandeirantes e me deslocar até o Centro do Rio de Janeiro (Largo da Carioca), numa noite de 4ª feira. Quando três são os motivos, aí não há o que pensar. E são eles: um texto de BRECHET, uma direção de CIBELE FORJAZ e a atuação da MUNDANA COMPANHIA. Não há como resistir!!!

            Os três elementos, reunidos, estavam gerando, em mim, uma ansiedade e uma curiosidade imensas, para quem estava no exterior, em férias, querendo ver o espetáculo e sabendo que a temporada seria curta. Felizmente, voltei a tempo de me deliciar com o conjunto da obra.

            O título do espetáculo já é extremamente instigante, uma vez que reporta a uma montagem que não poderia ser, apenas, “mais uma”, desse, que é um dos melhores e mais conhecidos textos do grande dramaturgo alemão, que revolucionou o TEATRO moderno, com sua técnica, o seu “TEATRO épico” e a abordagem de temas tão próximos ao homem comum. BRECHET (1898 / 1956) está vivo, entre nós, porque suas obras se tornaram atemporais. A “selva” (de pedra), representada pelas grandes cidades, está aí, para nos sufocar com seus problemas, suas injustiças, suas mentiras, suas explorações, suas corrupções...

            BELTOT BRECHET influenciou, substancialmente, os autores do TEATRO contemporâneo, tornando-se, mundialmente, conhecido e respeitado por seus pares e seguidores. Com seus textos e suas montagens, é considerado um dos dramaturgos fundamentais do século passado – e continua sendo neste – por ter revolucionado a teoria e a prática da dramaturgia e da encenação, mudando, completamente, a função e o sentido social do teatro, usando-o como arma de conscientização e politização.

            Arrisco dizer que todas as suas peças, ainda que escritas há quase um século, são extremamente atuais, e “NA SELVA DAS CIDADES” (“IM DICKICHT STÄDTE”), escrita entre 1921 e 1927, não é uma exceção, se enxergada com olhos do momento atual, por “alinhar exclusão social aos poderes da vida em sociedade”, segundo o ”release” da peça, enviado por MÔNICA RIANI, assessora de imprensa do espetáculo, no Rio de Janeiro.

 



 
 
 



 
SINOPSE:
“NA SELVA DAS CIDADES – EM OBRAS” narra a “luta” entre dois homens, numa metrópole americana, Chicago, e a duração da trama vai de 1912 a 1915.
Nas extremidades dessa “luta”, encontramos dois tipos completamente opostos: um rico comerciante de madeiras malaio, SHLINK (AURY PORTO) e um pobre balconista de uma livraria (sebo), GEORGE GARGA (WASHINGTON LUIZ GONZALES), que migrou com sua família, do campo para a cidade grande, em busca de novas e melhores condições de vida, sonho de qualquer pessoa.
No enredo, não ficam claros os motivos que levam os dois homens ao embate, porém tudo (família, amores, parceiros, amigos, justiça, polícia e negócios) em torno deles vai sendo envolvido, até que a narrativa acaba por englobar toda a cidade.
            É disso que trata o enredo da peça. Ganham foco, no texto, a ambição e o contraste social, numa metrópole; a decadência da moral e da ética.
            SHLINK, sob a mentirosa desculpa de que estaria interessado na compra de livros, vai à já referida livraria e oferece dinheiro ao jovem vendedor, para que este lhe dê sua opinião acerca de um livro de histórias de mistérios. “Quanto vale a sua opinião?”.
            GARGA recusa-se a fazê-lo, alegando que suas opiniões não estariam à venda, reação que já seria esperada por SHLINK, o qual, na verdade, só estava à procura de um motivo para o início da contenda.
Esse diálogo vai gerar uma sucessão de fatos acumulativos e reprováveis, tais como o comerciante e seus comparsas transformarem JANE LERY (papel cuja titular é LUIZA LEMMERTZ, mas que, na sessão a que assisti, foi interpretado por NANA YAZBEK), uma espécie de amante/namorada de GARGA, e a irmã deste, MARIE (LUAH GUIMARÃEZ), em prostitutas, sendo que JANE acaba por se casar com GEORGE, enquanto MARIE desenvolve uma infrutífera paixão por SHLINK, o qual não lhe retribui o amor.
No desenrolar da trama, de forma meio nebulosa, SHLINK transfere seus negócios a GEORGE GARGA, que não consegue se sair bem nas atividades comerciais, envolvendo-se em corrupção, por meio de uma venda dupla de madeiras.
Preso, por três anos, como vingança, durante o tempo passado na cadeia, GEORGE denuncia SHLINK, como o verdadeiro desonesto e planeja que este seja severamente castigado, com um linchamento público, físico e moral.
 



 
 
 
 
O espetáculo recebeu uma indicação ao Prêmio Shell de Teatro, de São Paulo, no ano em curso, na categoria inovação. Deveria, a meu juízo, ter recebido outras indicações, a despeito de eu não ser um profundo conhecedor do universo teatral da capital paulista; assisti, lá, a poucos espetáculos, este ano.
            Foi, entretanto, muito bem feita a indicação na categoria “inovação”, uma vez que todo o processo de construção do espetáculo parece-me inédito, salvo engano, no TEATRO BRASILEIRO.

            CIBELE FORJAZ, de cujo trabalho sou fã incondicional, superou-se, junto com seus magníficos atores, na busca de um caminho para a identificação do espetáculo. Partiram para um laboratório muito mais arrojado; trabalharam em cima de “incursões”. O espetáculo é aquilo que se pode chamar, sem nenhum medo de ser cometido um engano, de um trabalho “coletivo”. Se o TEATRO é uma arte plural, que só se faz em conjunto, coletivamente, “NA SELVA DAS CIDADES – EM OBRAS” é mais que isso; é um trabalho de total doação coletiva, com descobertas constantes e sucessivas, resultando tudo numa belíssima obra-prima do TEATRO BRASILEIRO

O inusitado deste trabalho é que, em cada ocupação, ou seja, a cada nova temporada, ou mesmo um pequeno número de apresentações, num determinado espaço, ou uma única, que seja, o espetáculo é outro, surge uma nova concepção cênica, que irá “depender da relação direta com o espaço ocupado, sua história, economia, política e as várias relações sociais implicadas no trabalho, a cada momento”.

O acréscimo, ao título original, da expressão “EM OBRAS” justifica o projeto. Sempre “EM OBRAS”; nunca concluído. Cada apresentação pode ser considerada uma nova estreia. Que presente para o elenco!!!
 
 
 

E o que significa isso? Simplesmente, “o cenário propõe sempre uma nova intervenção, com novas configurações de luz, vídeo, figurinos e objetos de cena. O trabalho dos atores também não tem marcas fixas, mas regras que determinam a movimentação e o desenho da cena”. E isso é mais que fantástico!!!

A pesquisa para a montagem da peça deu origem a um belíssimo livro, que será um eterno documento desse magnífico projeto. Ele é distribuído, gratuitamente, para escolas e instituições de TEATRO de todo o país. Tive o privilégio de ser agraciado com um exemplar, de mais de trezentas páginas, contendo fotos artísticas e textos brilhantes, de todas as fases do projeto, imersão a imersão. Foram, ao todo, 14 imersões, em pontos distintos de São Paulo, captando elementos para a montagem, e mais quatro meses de ensaios, entre julho e outubro de 2015.

            Fora de São Paulo, é a primeira ocupação do espetáculo no Rio de Janeiro. Esperamos que haja outras.
 
 


            Dos trabalhos da MUNDANA COMPANHIA, já tinha tido o prazer e o privilégio de ter assistido a dois: O Idiota”, uma novela teatral (2010), com sete horas de duração (assisti ao espetáculo três vezes), realizado a partir da obra homônima de Fiódor Dostoievsky, e “O Duelo” (2013), criado a partir da novela de Tchekhov; a primeira também com direção de CIBELE FORJAZ e a segunda sob a direção de Georgette Fadel.


 


 
 
 
 


 
FICHA TÉCNICA:

Equipe Propositora da Ocupação: Aury Porto, Cibele Forjaz e Luiza Lemmertz
 
Texto: Bertolt Brecht
Tradução: Christine Röhrig
Direção / Treinamento Cênico: Cibele Forjaz
Assistente de Direção: Gabriel Máximo
Direção de Cena: Renato Banti 
 
Elenco (por ordem alfabética): Aury Porto – Shlink; Guilherme Calzavara – O Verme; João Bresser – John Garga; Luah Guimarãez – Marie Garga; Luiza Lemmertz – Jane Lary; Mariano Mattos Martins – O Babuíno; Sylvia Prado e Carol Badra (revezando-se) – Mãe Garga; Vinícius Meloni – Skinny e Pat Manky; Washington Luiz Gonzales – George Garga
 
Treinamento Corporal: Lu Favoreto
Treinamento Vocal Interpretativo: Lúcia Gayotto
Arte / Cenografia: Flora Belotti
Assistente de Arte / Cenografia: Júlia Reis
Figurinos: Diogo Costa, Joana Porto e Rogério Pinto
Camareiro: Rogério Pinto
Luz: Alessandra Domingues
Assistência / Operação de Luz: Laiza Menegassi
Criação Musical: Guilherme Calzavara
Músico: Marcelo Castilha
Vídeos:Yghor Boy
Fotos: Renato Mangolin e Yghor Boy
Programação Visual: Mariano Mattos Martins
Assessoria de Imprensa (Rio de Janeiro): Mônica Riani
Manutenção do Site: Yghor Boy
Idealização do Projeto / Coordenação de Produção: Aury Porto
Assistente de Produção: Mariana Oliveira e Lucas Cândido
Produção Executiva: Bia Fonseca
Patrocínio: Caixa Econômica Federal e Governo Federal
 


 





 


Tudo o que eu disser sobre “NA SELVA DAS CIDADES – EM OBRAS” não haverá de descrever, com total precisão, o que esta montagem representa para o TEATRO BRASILEIRO. É para ser visto – e com urgência!!!

Creio que não me resta muito a dizer sobre a altíssima qualidade deste espetáculo, a não ser acrescentar alguns comentários sobre determinados pontos de destaque da peça, a começar pela inventiva e desafiadora direção de CIBELE FORJAZ. Mais palavras sobre seu trabalho tornar-se-iam redundantes.

            A despeito do ótimo funcionamento de todos os elementos técnicos desta montagem, meu destaque vai para a cenografia, extremamente simples e igualmente significativa e funcional. No centro da arena, apenas um tablado, em forma de octógono (ideia genial), que nos reporta, modernamente, ao espaço onde se trava a barbárie das lutas de MMA e, no passado, às arenas romanas, lavadas pelo sangue dos gladiadores ou dos cristãos, vítimas da fúria e fome insaciável de leões. Desse equipamento, abrem-se tampas, de onde saem atores e também são trazidos, ao palco, objetos cênicos; a cada momento, uma surpresa.

Acima do octógono, bem ao centro, quatro aparelhos de TV vão oferecendo, aos espectadores, informações sobre cada quadro da peça, o que facilita muito a compreensão da obra, considerada uma das mais difíceis de assimilação para o grande público, aquele menos informado e/ou que não desenvolveu, ainda, o salutar hábito de assistir, com frequência, a espetáculos teatrais.
 
Também vale destacar o fato de todo o espetáculo ser sublinhado por uma incrível trilha sonora, executada ao vivo ou em gravações. Outro ponto alto do espetáculo.
 
 


            O elenco, na sua totalidade, se comporta de forma irretocável, irrepreensível, num grau de homogeneidade poucas vezes visto num palco, com destaque, por força do protagonismo exigido pelo texto, para AURY PORTO e WASHINGTON LUIZ GONZALES, que, assim como os demais colegas, sempre que estão em cena, atraem a atenção do público, de modo a não permitir que o espetáculo desabe, em nenhum momento. 

 
 



 
 
 
 


 
SERVIÇO:
 
Local: Caixa Cultural Rio de Janeiro – Teatro de Arena.
Endereço: Avenida Almirante Barroso, 25, Centro (Metrô e VLT: Estação Carioca).
Telefone: (21) 3980-3815.
Horário de Funcionamento da Bilheteria: De terça-feira a domingo, das 10h às 20h.
Datas: De 11 a 26 de agosto (de terça-feira a domingo, exceto nas quintas-feiras).
Horários: Terças, quartas e sextas-feiras, às 19h; sábados e domingos, às 18h.
 
OBSERVAÇÃO: ENTRADA FRANCA (Ingressos distribuídos na bilheteria, uma hora antes de cada apresentação).
 
Lotação: 200 lugares (mais 4 para cadeirantes).
Classificação Indicativa: 14 anos.
Acesso para pessoas com deficiência.
Duração: 150 minutos.
 
Assessoria de Imprensa:
Mônica Riani (21) 98898-5575 | 2235-5575
Assessoria de Imprensa da Caixa Cultural Rio de Janeiro (RJ)
(21) 3980-3096 | 4097
www.caixacultural.gov.br | @imprensaCAIXA
 


 




 


            Por último – este recado tem como endereço as pessoas mais velhas – não poderia deixar de dizer que, em que pese a genialidade da montagem do mesmo texto, no seu original, pelo emblemático Teatro Oficina, em 1969, com direção de José Celso Martinez Corrêa, não se deve comparar as duas montagens, que obedeceram a distintas propostas de trabalho.

E quanto vale a sua opinião, meu caro leitor?

 
 
 



(FOTOS: RENATO MANGOLIN

e

YGHOR BOY.)
 
 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 
 
 

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