A
INVENÇÃO DO AMOR
(OS
BONS TEMPOS
VOLTARAM.
VOLTARAM.
ou
E
VIVA O BESTEIROL
DE FRAQUE E CARTOLA!!!)
DE FRAQUE E CARTOLA!!!)
Não
é muito comum, já ao apagar das luzes de um ano, ocorrer estreias,
principalmente de boas montagens. Contrariando a regra, tive o enorme prazer de
fazer parte do grupo de felizes convidados para a estreia, na última 5ª feira,
dia 10 de novembro (2016) de um espetáculo que promete ser uma das grandes
sensações deste final de ano. Falo de “A
INVENÇÃO DO AMOR”, que está em cartaz no Teatro do Leblon, Sala
Marília Pêra, e que terá, ao que tudo indica, uma longa vida. E o melhor:
com casa cheia.
É
claro que isso não ocorre e continuará ocorrendo por acaso. E o que justifica a
boa reação do público, até agora, apenas nas quatro primeiras apresentações de
uma temporada? A resposta é muito simples e pode ser condensada em duas palavras:
talento e competência, não necessariamente nessa ordem. Isso é aplicado a uma
comédia romântica, que não tem nenhuma
outra pretensão, além de divertir o público, mostrando a evolução e os
conflitos dos relacionamentos amorosos, da forma mais engraçada e inteligente
possível, ingredientes que não podem faltar numa boa comédia.
Durante 75 minutos, que “voam”, como se fossem
cinco, o público acompanha a relação amorosa de um Homo Sapiens com uma Mulher
de Neandertal. Ele, por ter um cérebro privilegiado, vive às voltas com mil
e uma invenções e, numa crise de ciúmes, para evitar que ela se relacione com
outros machos, resolve inventar o amor. Sua nova invenção faz com que o casal
pré-histórico se antecipe, no tempo, vivendo situações que marido e mulher só enfrentariam
anos, décadas ou milênios mais tarde.
SINOPSE:
No início da história, o casal de
protagonistas vive, confortavelmente, em sua caverna, na batalha diária pela
sobrevivência do mundo selvagem, até que NHACA
(MARIA CLARA GUEIROS), interrompendo uma caçada de mamutes, conta a CROC (GUILHERME PIVA) que está
esperando filhote.
Ele, um neurótico homem das cavernas,
percebe que não quer correr o risco de criar o filhote de outro homem e, na
intenção de preservar a sua prole, resolve inventar o amor, com todas as suas
condições limitadoras de relacionamento, inclusive a monogamia feminina. Até
que NHACA comece a questionar a
monogamia masculina!
Então, somos transportados para o castelo
de Rei Salomão, que, entre esposas e
concubinas, tem, à sua disposição, 1000 mulheres! NHACA entra em cena, como a esposa 462,
e prova a CROC que o antigo Rei não tem condições, física ou
mental, de manter tantas mulheres em seu harém.
De volta à Idade da Pedra, CROC inventa que precisa ir
para a guerra e NHACA, agora mãe de 9 filhotes, dona de casa e bastante
insatisfeita, resolve fechar a porta da caverna e fazer greve de sexo, tal qual
Lisístrata faria, dali a alguns séculos. A partir daí, nosso protagonista
terá que provar que merece conseguir entrar, novamente, na caverna da esposa.
Assim, com muitas idas e vindas na linha do tempo, juntos, o casal vive
experiências que o amor só traria bem mais tarde, ao longo de toda a nossa
história: o amor idealizado dos príncipes e princesas dos contos de fadas e
também o amor juvenil, medieval e proibido de Romeu e Julieta; a
libertinagem e o amor romântico; o feminismo e a castidade; inventam a
separação e a guarda dos filhotes. Mas, com tudo, o amor persiste e eles,
finalmente, chegam ao divã, para discutir, com o Dr Freud Flintstone, as
condições que cercam o homem e a mulher: a fidelidade e a traição, o amor e o sexo, a
verdade e a mentira, o desejo e o ciúme.
“O público acompanha a evolução do amor na
história da humanidade, entrando em contato com situações que se repetem nos
relacionamentos, ao longo dos tempos. CROC (GUILHERME PIVA) e NHACA (MARIA
CLARA GUEIROS) vivenciam o que há de mais cômico e dramático nas relações
afetivas, um universo do qual nenhum espectador escapa”. (Extraído do “release”, via assessoria de
imprensa – LU NABUCO)
Segundo o diretor MARCELO VALLE, “Entender como o amor foi inventado não é uma
tarefa das mais fáceis. Mas o que propomos, com ‘A INVENÇÃO DO AMOR’, é
simples: fragmentamos a evolução de nossos padrões de comportamento, para
mostrar esse amor, que se reinventa, sempre igual, mas sempre
diferente. Imaginar qual teria sido o primeiro de todos os casais, para
enxergar, em todos os outros, um pouquinho deles. Ou para enxergar nele
um pouquinho de todos os outros. Quem sabe não
conseguimos entender, assim, ‘A Invenção do Amor’”? (Idem.)
“A
dramaturgia da peça, inédita, de ALESSANDRO MARSON e THEREZA FALCÃO se constrói
através da ótica do conflito masculino/feminino, numa linguagem crítica e muito
bem humorada, cuja principal justificativa é o desejo da identificação do
público. O maior trunfo do texto é falar de um
assunto comum e imprescindível na vida de todos nós: o amor”. (Ibidem.)
Classificado o espetáculo como uma “comédia romântica”, ele acaba sendo um
prato cheio para a prática do besteirol,
um gênero teatral que surgiu, e atingiu grande sucesso, na década de 80, tendo
surgido em São Paulo e, logo, ganhando a aprovação do carioca, que muito se
identificou com o estilo. Completamente desprovido de preconceitos, o besteirol incorporou diversas
referências da cultura brasileira, para montar uma caricatura do comportamento
cotidiano. O humor anárquico e o rompimento com o engajamento e a
cultura dita erudita formam
os pilares do movimento, cujos nomes mais representativos, como autores e/ou intérpretes
foram Mauro Rasi e Vicente Pereira, os mais importantes, ambos
já falecidos, mas que também recebeu o reforço de Alcione Araújo, Flávio Marinho, Guilherme Karan, Hamilton Vaz Pereira, Marcelo Saback, Miguel M. Abrahão, Miguel Magno, Pedro Cardoso,
Felipe Pinheiro, Cláudia Jimenez, Maria Lúcia Dahal, Luiz
Carlos Góes e Miguel Falabella,
o qual acabou por levá-lo, também, para a TV
(TV Pirata foi o pioneiro.). Quem
não se lembra de besteiróis engraçadíssimos, que marcaram uma época do TEATRO BRASILEIRO, como "As Mil e Uma Encarnações de Pompeu Loureiro", “A
Mente Capta”, “Classificados
Desclassificados”, “Pedra, A Tragédia”, “Nada” e “Sereias da Zona Sul”, por exemplo, todos grandes sucessos de público
e de crítica, ficando meses em cartaz?
Não me canso de dizer que adoro esse gênero
teatral, em cuja fonte beberam os autores de “A INVENÇÃO DO AMOR”, ALESSANDRO
e THEREZA, conseguindo produzir
um texto de altíssima qualidade,
dentro do nicho da comédia, porém de uma forma mais lapidada que os primeiros e
tão conhecidos e consagrados textos do
besteirol, sem nenhum demérito para estes (muito pelo contrário), motivo
pelo qual, num dos subtítulos desta crítica, utilizo a expressão “besteirol de fraque e cartola”, pela
sofisticação da carpintaria dramatúrgica,
sem deixar de ser popular, de apresentar um apelo fácil, para conduzir o público
a fartas gargalhadas. A incorporação de elementos modernos, alguns ultramodernos,
em plena Idade da Pedra constitui uma verdadeira pérola do humor.
“A
INVENÇÃO DO AMOR” é uma ideia genial, que não bastava apenas ser boa; tinha
de ser bem desenvolvida. Disso se ocuparam os autores e criaram um texto
que não perde a qualidade numa só cena. Ao contrário, vai num crescendo,
deleitando o público com uma surpresa após a outra. Segundo a ficha técnica, aparece o nome de CARLA SIQUEIRA, na pesquisa, que deve ter colaborado muito nos alicerces sobre os
quais o texto foi construído.
Não tenho a menor dúvida de que o propósito
de todos os envolvidos no projeto é alcançado em sua plenitude, qual seja o de
divertir, sem apelações, de qualquer tipo, instigando o espectador a
exercitar sua inteligência e capacidade de entender, no que está explícito e
nas entrelinhas, todas as críticas ao ser humano, como “centro mais importante
do universo”, pegando-o em suas fragilidades, erros e vícios, os quais,
obviamente, aparecem no texto, para
nos mostrar quão pretensiosos somos em nossa “soberania” e "onipotência".
Além do excelente texto da peça, que, por único elemento, não bastaria para o sucesso
do espetáculo, é preciso falar da experiente e competente equipe, reunida para
levantar o espetáculo.
MARIA
CLARA GUEIROS e GUILHERME PIVA parecem
ter sido escolhidos, a dedo, para interpretar os personagens. Há, entre os dois,
uma cumplicidade que faz o texto
fluir, num ritmo de comédia, dentro do “timming” que esse tipo de espetáculo
exige. O pingue-pongue entre os dois revela um intenso trabalho de mesa, antes das
marcações e de outras etapas da montagem.
MARIA
CLARA, embora já tenha assumido personagens “sérios”, é na comédia que ela
encontra sua melhor zona de conforto e, dessa forma, seu rendimento cresce, porque
ela tem o “dom” de fazer rir; ou, se preferirem, ela sabe fazer rir, domina a técnica,
de forma natural, sem repetir os clichês de suas anteriores personagens,
utilizando-se muito das entonações. Ela se reinventa, por completo, nesta peça.
Está hilária!!!
Já PIVA,
ao contrário, sempre me passou uma imagem de um ator mais talhado para o drama,
embora já ao tenha visto, com boas atuações, em comédias. Confesso, porém, que
não esperava tanto dele num papel cômico, principalmente com a responsabilidade
de dividir o palco com alguém que se tornou popular, via TV, pelo destaque nos
humorísticos. GUILHERME PIVA e MARIA CLARA GUEIROS formam uma dupla de
ataque, capaz de marcar muitos gols e garantir a vitória do time, nos papéis em
que se revezam, além dos personagens protagonistas.
E, já que estamos falando em “time”,
precisamos revelar quem são os outros jogadores, que garantem a conquista da
taça.
Na direção,
MARCELO VALLE conseguiu captar as
intenções dos autores e, com precisão cirúrgica, encontrou o ponto exigido pela
montagem. Não há exageros, por parte da direção, o que poderia, muito bem, ter
acontecido, já que o texto se presta a isso. A mão forte e competente do
diretor conduziu o espetáculo por um caminho correto. Ator e diretor de larga experiência e detentor
de tantos prêmios e indicações a, MARCELO
soube valorizar as mensagens do texto, inclusive as que não se expõem
claramente e precisam ser captadas nas entrelinhas. Fez um brilhante trabalho
com os atores e, por isso, merece muitos elogios. DANIEL BELMONTE atuou como seu seguro assistente de direção.
A cenografia,
criada por AURORA DOS CAMPOS, é um
detalhe à parte. Todas as ações se passam no interior de uma caverna “tecno-rupestre”, termo que cunhei,
para descrever o espaço cênico. Segundo a própria AURORA, ela utilizou “recursos clássicos”, mas que assumem um tom
inovador, com cheiro de alta tecnologia, ainda que o material empregado seja simples
e encontrado em qualquer “boa casa do ramo”. Falou mais alto o talento da
artista, na concepção do excelente cenário.
AURORA contou com o a ótima e
criativa contribuição de TUCA, nos adereços de cenário.
MARCELO
OLINTO sempre me surpreende a cada figurino
criado para um espetáculo. Não fugiu à regra, em “A INVENÇÃO DO AMOR”. Os trajes moldados para os personagens pré-históricos são sensacionais, assim como os acessórios que vão sendo
agregados aos trajes originais, no decorrer da peça, para caracterizar outros
personagens, da era moderna.
Para
não roubar, aos leitores, o prazer de gargalhar, vou omitir alguns detalhes do cenário e do figurino, para que sejam descobertos, quando forem assistir à peça, e
mais valorizados, pelo fator “surpresa”.
Na iluminação,
outra vez, o trabalho e o talento de RENATO
MACHADO, que me pereceu ligeiramente prejudicado, no dia da estreia, por
qualquer imperícia de quem operava a luz, o que é perfeitamente compreensível,
ainda que isso não tenha causado qualquer prejuízo considerável naquela noite.
Os atores
se movimentam em cena com muito desembaraço e guardando a postura que os
personagens exigem, graças à bela direção
de movimento, de MÁRCIA RUBIN.
A composição
visual dos dois personagens já arranca gargalhadas da plateia, tão logo
cada um deles entra em cena, antes mesmo de dar sua primeira fala. Isso
acontece pelo conjunto da obra da referida composição,
para a qual contribui bastante, além dos figurinos,
OTHON SPENNER, no visagismo e nos adereços de cabeça.
Um outro MARCELO, o ALONSO NEVES, colecionador de prêmios, na área de direção musical, reservou-nos motivos
para boas gargalhadas, na medida em que, quando menos se espera, entra uma canção
“cafona”, “brega” ou, no mínimo, “estranha”, “tosca” e, obviamente, muito engraçada,
para ilustrar algumas cenas, além de outras, pertencentes a diferentes classificações,
para dar apoio às cenas. Um trabalho de garimpagem perfeitamente adequado ao
espírito desse delicioso besteirol,
disfarçado, no bom sentido, de comédia
romântica. Na trilha sonora, estão
“Kam Sana” (Melissa), ao som da qual
MARIA CLARA GUEIROS se contorce,
sensualmente, numa “dança do ventre”; “Si
Tu Vois Ma Mère” (Sidney Bechet), também para ajudar no “sensual e no romântico”;
“Gonna Make You Swet” (Freedon Williams), “Retratos
e Canções” (Michael Sullivan / Paulo Massadas), “Siga o Seu Rumo” (Pimpinela)
e “Mulheres Modernas” (Falcão),
quando inseridas
nas cenas, levam o público ao extremo do riso; além dos belos e conhecidos clássicos, como o belíssimo tema do filme “Romeu e Julieta”, de Franco Zefirelli (Nino Rota) e “All You Need Is Love” (John Lennon). Imaginem o efeito que essa “salada” causa!
Por todos os comentários acima feitos,
posso assegurar que a goleada de “A INVENÇÃO
DO AMOR” superou o “trágico”, para alguns, não para mim, 7 x 1, com a diferença de que, aqui, o
adversário não marcou nem um tento e a Alemanha se chama BRASIL, para orgulho do TEATRO
BRASILEIRO.
Vá conferir,
logo, o que estou dizendo e marque você, também, um gol de placa, praticando a
imbatível divulgação DE BOCA EM BOCA,
para ampliar o placar.
FICHA TÉCNICA:
Texto:
Alessandro Marson e Thereza Falcão
Direção:
Marcelo Valle
Elenco:
Maria Clara Gueiros e Guilherme Piva
Cenografia:
Aurora dos Campos
Direção
Musical: Marcelo Alonso Neves
Iluminação:
Renato Machado
Direção
de Movimento: Márcia Rubin
Visagismo:
Othon Spenner
Pesquisa:
Carla Siqueira
Assessoria
de Imprensa: Lu Nabuco Assessoria em Comunicação
Programação
Visual: Leandro das Neves
Produção
Audiovisual: Eduardo Chamon e Leandro das Neves
Mídias
Sociais: André Mizarela
Fotografia:
Lúcio Luna e Renato Mangolin
Adereços
de Figurino e de Cabeça: Othon Spenner
Adereços
de Cenário: Tuca
Assistente
de Direção: Daniel Belmonte
Assistente
de Cenografia: Carolina Sugahara
Assistente
de Figurino: Rodrigo Reinoso
Cenotécnico:
André Salles
Pintura
de Arte: Naira Santana
Costura
Cênica: Nice Tramontim
Figurino
Contemporâneo - Maria Clara Gueiros: VICTOR DZENK
Direção
de Produção: Alice Cavalcante
Captação
de Recursos: Renata Borges
Produção
Executiva e Captação de Apoios: Nana Lima
Assistência
de Produção e Administração de Temporada: Bruno Fagotti
Gestão
do Projeto: Renata Leite – Rinoceronte Entretenimento
Assistente
Financeiro: Angelica Neves – Rinoceronte Entretenimento
Produzido
por: Alice Cavalcante e Marcelo Valle
Realização:
Os Invencíveis e Sábios Projetos
SERVIÇO:
Temporada: De 11 de novembro a 18 de dezembro de 2016.
Local: Teatro Leblon – Sala Marília Pêra
Endereço: Rua Conde de Bernadotte, 26, Leblon – Rio de Janeiro
Telefone: (21) 2529-7700
Dias e Horários: De 5ª feira a sábado, às 21h30min; aos domingos, às 20h
Valor dos Ingressos: R$50,00 (5ª feira); R$70,00 (de 6ª feira a domingo) – meia-entrada a quem fizer jus, legalmente, ao benefício
Lotação do Teatro: 408 lugares
Duração: 75min
Classificação Indicativa: 12 anos
Horário de Funcionamento da Bilheteria: De 3ª feira a domingo, das 15h às 20h, para compra antecipada. No dia no espetáculo, até as 21h.
Telefone: (21) 2529-7700
Dias e Horários: De 5ª feira a sábado, às 21h30min; aos domingos, às 20h
Valor dos Ingressos: R$50,00 (5ª feira); R$70,00 (de 6ª feira a domingo) – meia-entrada a quem fizer jus, legalmente, ao benefício
Lotação do Teatro: 408 lugares
Duração: 75min
Classificação Indicativa: 12 anos
Horário de Funcionamento da Bilheteria: De 3ª feira a domingo, das 15h às 20h, para compra antecipada. No dia no espetáculo, até as 21h.
Pagamento: dinheiro e cartão, exceto Elo
Vendas pelo site: www.ingresso.com (aceitam cartão de crédito)
(FOTOS: LÚCIO LUNA
e
RENATO MANGOLIN.)
e
RENATO MANGOLIN.)
Lendo a apresentação dá vontade de ir agora. Parabéns !
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