JOÃO
CABRAL
(POESIA E TEATRO:
UM
CASAMENTO PERFEITO.)
Para
comemorar dez anos de bons serviços prestados ao TEATRO BRASILEIRO, a COMPANHIA
DE TEATRO ÍNTIMO traz, ao público, um olhar sobre a obra de um dos mais
importantes escritores da língua portuguesa, JOÃO CABRAL DE MELO NET O,
através de seus poemas.
Sempre pesquisando outras
linguagens, como o cinema, a literatura e, especificamente, a poesia, o grupo
busca a intimidade em cena, através da emoção, da comunicação direta e do
estímulo a todos os sentidos da plateia.
Já foram foco de seus excelentes trabalhos, individual ou coletivamente,
nomes como Adélia Prado, Carlos Drummond de Andrade, Cecília Meireles, João Cabral de Melo Neto, Manoel
de Barros, Manuel Bandeira, Mário Quintana e Vinícius de Morais; ou seja, a nata da poesia brasileira.
Agora, é a vez de um solo de JOÃO CABRAL DE MELO NET O,
primeiro brasileiro a ganhar o Prêmio
Camões, concedido pelos governos de Brasil e Portugal. Também foi diplomata e viveu em diversos
países, mas sua obra nunca deixou de refletir a realidade brasileira e, em
particular, a nordestina. Além disso,
sua vivência na Espanha, especialmente na Andaluzia, deixou marcas profundas em
sua vida e em sua poesia.
Além da característica
da Companhia, de procurar, sempre,
uma maior aproximação entre palco e plateia, outro detalhe que marca o trabalho
dos “íntimos” é o fato de os atores se
expressarem em outras áreas, além
da interpretação, como cenografia, iluminação, figurinos e produção, o que é ótimo,
pois dá, ao grupo, um toque de “amadores”,
não no sentido pejorativo como o termo costuma ser utilizado, mas, sim, na
acepção de “aqueles que amam o que fazem”
e, por isso mesmo, àquilo se dedicam, de corpo e alma.
(Da esquerda para a
direita): Raphael Viana, Caetano O’Maihlan, Rafael Sieg e Gaby Haviaras.
O elenco.
Em
cena, os atores RAPHAEL VIANNA, GABY HAVIARAS, CAETANO O’MAIHLAN e RAFAEL
SIEG, que também assina a ótima iluminação
do espetáculo, sob a direção de RENATO FARIAS, levam o público a um
breve mergulho na obra e na alma de JOÃO
CABRAL, aproximando autor, atores e espectadores, em mais uma experiência
teatral “íntima”, cujo principal
objetivo é proporcionar um raro momento de comunhão entre os que fazem e os que
assistem.
JOÃO CABRAL DE MELO NET O
(Recife, 1920 – Rio de Janeiro, 1999) era de família pernambucana abastada. Passou a infância entre Recife e os engenhos
de cana, até se mudar para o Rio de Janeiro, no início dos anos 40, quando
lançou, também, seu primeiro livro, “A
Pedra do Sono” (1942). Logo depois,
ingressou na carreira diplomática, tendo ocupado cargos na Espanha, Portugal e
África.
Sua
brilhante carreira literária lhe valeu uma cadeira na Academia Brasileira de Letras, em 1968, além de inúmeros prêmios
nacionais e internacionais, como o Prêmio
Luís de Camões, Prêmio Olavo Bilac,
concedido pela ABL, e o Prêmio Jabuti, pelo conjunto de sua
obra.
Caetano e “O Cão
sem Plumas”.
Quatro num só.
Produzindo... Criando...
Perpetuando...
Entre
seus livros mais importantes, estão “O
Cão sem Plumas” (1950), “Quaderna”
(1960), “A Educação pela Pedra” (1966),
“Morte e Vida Severina e Outros Poemas
em Voz Alta” (1966) e “Sevilha
Andando” (1989).
O
nome do poeta está, sempre, associado à sua obra maior, “Morte e Vida Severina”, não só por sua beleza ímpar, mas,
principalmente, por ter ganhado uma perfeita versão para o TEATRO. Não é à toa que o livro
em que o poema, de grandes proporções, está inserido se chama “Morte e Vida Severina e Outros Poemas
em Voz Alta”. Sim, a poesia,
que, regra geral, deve ser lida em silêncio, quando leva a assinatura de JOÃO CABRAL, se presta, e muito, a
leituras em voz alta, muito em função da sonoridade de seus versos.
Então,
por que não levar o poeta para o palco?
Mas
de que forma? No formato de um recital,
de um sarau? É claro que não! Estamos falando de JOÃO CABRAL, cuja obra se reveste de um tom dramático, ou dramatúrgico,
que bem poderia render uma peça de TEATRO. Pois foi o que, de forma magistral, fez RENATO FARIAS, selecionando poemas da
vastíssima obra “cabraliana”, criando um excelente roteiro e assumindo a direção
do espetáculo.
O
resultado desse experimento pode ser visto, até o dia 13 de julho, de sábado
a 2ª feira, às 20h, na Sede das Cias, e é, com certeza, um dos
mais belos espetáculos da atual temporada.
Pernambuco: a cana.
O cemitério dos “severinos”?
Como,
a partir de um determinado momento em sua vida, JOÃO CABRAL exerceu a função de diplomata, com muitas idas e vindas,
achei muito interessante a ideia da direção
de fazer uso, durante todo o espetáculo de malas, carregadas pelos quatro
atores do elenco, dentro das quais há um pouco de seu Pernambuco (pedaços de cana-de-açúcar)
e outras memórias e lembranças materializadas.
Basicamente,
o diretor optou por fixar as ações em dois lugares, que marcaram, sobremaneira,
a vida do poeta: Pernambuco e a Andaluzia; mais propriamente, o Sertão do Nordeste
e Sevilha, este momento, sem dúvida, o mais encantador do espetáculo.
São
dois espaços, aparentemente, opostos em características físicas e culturais,
mas que apresentam, na obra e no universo do poeta, semelhanças muito abrangentes. O próprio JOÃO CABRAL, sobre isso, escreveu, utilizando a terceira pessoa,
contrariando a função emotiva, em primeira pessoa, uma das características da
poesia:
“Só duas coisas conseguiram / (des)feri-lo
até a poesia: / o Pernambuco, de onde veio, / e o aonde foi, a Andaluzia. / Um
o vacinou do falar rico / e deu-lhe a outra, fêmea e viva, / desafio demente:
em verso / dar a ver Sertão e Sevilha.”
Um
dos pontos altos deste espetáculo é o poema “Tecendo a Manhã”, dos mais conhecidos do repertório de JOÃO CABRAL e muito pouco entendido,
pelo público em geral, se bem que poesia é muito mais para se sentir do que
para se compreender. No espetáculo,
entretanto, os atores dizem o texto de uma forma tal, utilizando corretas
pausas e inflexões, que é impossível não entender a mensagem nele contida e,
menos ainda, deixar de se encantar com a cena.
Outro
momento que causa grande emoção é relativo ao poema “Bailarina Andaluza”, dentro da sequência que aborda o período de JOÃO CABRAL, por treze anos, na Espanha,
principalmente em Sevilha. Enquanto CAETANO O’MAIHLAN dedilha, ora suave, ora
agressivamente, as cordas de uma guitarra flamenca e RAFAEL SIEG marca o ritmo e os compassos num “cajón”, GABY HAVIARAS e RAPHAEL VIANA se encarregam de nos brindar com uma belíssima exibição
de dança flamenca, na qual o toque de sensualidade alcançado pelo casal forma
uma imagem difícil de desaparecer da nossa retina. Um cena lindíssima, de fazer embaçar a visão.
As fotos dispensam legendas.
Muito
oportuna é a utilização do trecho de um “cante
a palo seco”, interpretado por DIEGO
ZARCÓN.
O
elenco, além do talento individual dos atores, demonstra uma total sintonia no
trabalho de pesquisa e no resultado desta.
São quatro excelentes
profissionais!
Simples,
práticos e muito bonitos são os figurinos,
de THIAGO MENDONÇA, assim como são
perfeitamente adequados à proposta do espetáculo o cenário, de MELISSA PARO,
e a iluminação, de RAFAEL SIEG.
Repito
que “JOÃO CABRAL” é um dos mais
belos espetáculos de TEATRO do
semestre que, recentemente, se encerrou e ao qual tive o prazer de assistir, na
primeira temporada, no Espaço SESC,
e, agora, na segunda, na Sede das Cias,
onde acho que a montagem ficou ainda melhor, em função das dimensões do espaço. Ficou
mais “íntimo”.
“JOÃO CABRAL” é um poema em forma de
TEATRO!
As informações
sobre o espetáculo e a Companhia de Teatro Íntimo me foram passadas pela
excelente assessoria de imprensa;
leia-se: ROBERTA RANGEL.
Poesia na veia.
FICHA TÉCNICA:
Texto: Poemas de João Cabral de Melo Neto
Roteiro e Direção: Renato Farias
Elenco (por ordem alfabética): Caetano
O’Maihlan, Gaby Haviaras, Rafael Sieg e Raphael Viana.
Cenografia: Melissa Paro
Direção de Arte e Figurino: Thiago Mendonça
Iluminação: Rafael Sieg
Fotografia: Carol Beiriz
Desenho Gráfico: Tarcísio Lara Puiati
Produção: Gaby Haviaras
Flamenco: Eliane Carvalho
Intérprete “Cante A Palo Seco”: Diego Zarcón
Consultoria “Cajón”: Alejandro Alejo
Consultoria Guitarra Flamenca: Luciano Câmara
Liutaio da Guitarra: Edu Viola
Visagismo: Ezequiel Blanc
Assistência de Produção: Ana Clara Cobra e
Guto Vilaverde
Assessoria de Imprensa: Roberta Rangel
Realização: Pela Noite Produções Artísticas
e Companhia de Teatro Íntimo
“JOÃO CABRAL” em quatro tempos.
SERVIÇO:
Local: Sede das Cias – Rua Manuel Carneiro, 12 – Lapa – Escadaria Selarón
Tel.: (21) 2137–1271
Temporada: Até 13 de julho
Dias e Horários: De sábado a segunda-feira, às 20h
Duração: 60min
Classificação: LIVRE
Lotação: 60 lugares
Ingressos: R$30,00 (inteira) e R$15,00 (meia entrada, para estudantes,
menores de 21 anos e maiores de 65)
(FOTOS: CAROL BEIRIZ.)
Amei a resenha, segunda eu vou💥
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