quarta-feira, 21 de maio de 2014


PALAVRA DE MULHER

 

(QUANDO A MÚSICA É TEATRO.)

 

 


 

           

Música é música; TEATRO é TEATRO; TEATRO MUSICAL é outra coisa. 

E o que é PALAVRA DE MULHER, espetáculo em cartaz no Teatro Maison de France, de 5ª a domingo (5ªs e 6ªs, às 19h30min; sábados, às 20h30min; domingo, às 18h30min)? 

É tudo isso e muito mais.  Resumindo, numa só palavra: TUDO!!!

           Tudo de bom!  Tudo de belo!  Tudo de emocionante! Tudo de perfeito! Tudo de alegre!  Tudo de leve!  Tudo de solto!  Tudo de profissionalismo!  Tudo de CHICO BUARQUE DE HOLANDA!  Tudo; simplesmente, tudo!!!

            O espetáculo, aparentemente, é um “show” musical, reunindo três lindas e talentosas cantrizes - LUCINHA LINS, TANIA ALVES e VIRGÍNIA ROSA -, para interpretar as canções do maior “macho feminino” do planeta.  CHICO BUARQUE é, sem dúvida, o poeta que mais sabe desvendar o universo da mulher e projetar o seu lado feminino nas letras que escreve.  Sabe expor ao mundo tudo o que vai na alma feminina.  Um “homem feminino”, com a devida licença de Pepeu Gomes.  Assim foi, desde o início de sua carreira, e, até hoje, entrado na casa dos 70 anos, mantém essa característica ímpar, entre os grandes compositores brasileiros.

            Fui assistir à estreia do espeáculo, depois de algumas frustradas tentativas anteriores, até em São Paulo, e não pensava em escrever sobre ele, por achar que seria um recital de música; ou melhor, de boa música.  Ocorre, porém, que as letras de CHICO são tão teatrais, tão carregadas de uma carga emotiva e dramática, que o que me esperava, no Teatro Maison de France, foi ouvir as lindas canções de CHICO interpretadas, teatralmente, pelas três cantrizes, impecavelmente em cena, sob a irretocável direção geral de FERNANDO CARDOSO, que também é o idealizador do projeto e seu produtor, junto com ROBERTO MONTEIRO. 



 


Tania Alves, Lucinha Lins e Virgínia Rosa


 

Então, aqui estou, para falar um pouco sobre o espetáculo.

            Mas não há muito o que falar, sob o risco de ser repetitivo.  No palco, o cenário representa um cabaré luxuoso, cuidadosamente projetado pelo próprio FERNANDO CARDOSO, requintado, com detalhes que chamam a atenção, como as cortinas brilhantes, em tom de cinza, e, o que me alegrou os olhos, logo que adentrei a plateia, alguns vestidos longos, pendurados, bem no alto, à esquerda, realçados pela bela iluminação de WAGNER FREIRE, outro ponto de destaque do espetáculo, além dos móveis de cena.

            Os figurinos, todos de excelente gosto, foram criados pelas próprias cantrizes e por CLÁUDIO TOVAR, grande conhecedor do ramo.

            Para acompanhar as intérpretes, um trio de ótimos músicos, que valem por uma orquestra: OGAIR JÚNIOR (direção musical, piano e acordeão), ROBERTINHO CARVALHO (contrabaixo) e RAMON MONTAGNER (bateria e percussão).

            Com relação aos arranjos musicais, irrita-me um pouco a mania de alguns músicos, arranjadores e maestros quererem “entrar na parceria” das canções, descaracterizando a melodia original.  Isso vem sendo muito observado ultimamente, mas, felizmente, não ocorre aqui.  Gostei muito dos arranjos (não falo com especialista no assunto, mas como grande apreciador da boa música) e, nas vezes em que o maestro OGAIR ousou um pouco, conseguiu valorizar mais ainda, se isso é possível, as belas canções de CHICO.

Graças à direção de movimento, de ALEX NEORAL, LUCINHA, TANIA e VIRGÍNIA, desfilam e deslizam pelo palco, esbanjando sensualidade e beleza, sem, nem de longe, se aproximar da vulgaridade, para onde bem poderia correr esse rio, em se tratando de "cantoras de um cabaré".  Não!  Tudo é feito com muito bom gosto, requinte e respeito ao espectador.  Até nas cenas de pateia, das quais, em geral, eu não gosto, TÂNIA e VIRGÍNIA, as duas que descem à plateia, para interagir com alguns homens, são bem “comportadas” e respeitosas, sem qualquer ofensa e “saia justa” para os escolhidos.  Mesmo assim, faço restrição a esse tipo de cena, quando penso que a plateia superior dos teatros perde o que está ocorrendo na parte de baixo.

            A ficha técnica do espetáculo não fala em “desenho de som”, como é hábito ultimamente, mas cita o nome de KIKO CARBONE, como técnico de som.  Então, é a ele que cabem os elogios pela clareza e pureza do som no teatro.






            É absolutamente impossível estabelecer qualquer diferença no nível de atuação das três cantrizes.  Todas são excelentes cantoras e atrizes e têm seus momentos de solo e de foco, proporcionando ao público momentos inesquecíveis de alegria e prazer, para os ouvidos e para os olhos.  As três vozes são belíssimas, muito afinadas.  As três, igualmente, cantam com o coração.  Doação total.  Emoção elevada à enésima potência.  Cada uma sabe brilhar individualmente e, ao cantar em duplas ou em trios, são fantásticas.

            Não se pode dizer que LUCINHA, TÂNIA e VIRGÍNIA sejam frequentadoras da mídia, entretanto é ótimo saber que não foram “fabricadas” por ela.  Mantêm-se com sucesso, cada vez mais, graças ao talento de cada uma, que não é pouco.
            E o que dizer de um repertório que reúne clássicos, como O QUE SERÁ (À FLOR DA PELE), BASTA UM DIA, TEREZINHA, MEU NAMORADO, TROCANDO EM MIÚDOS, MEU AMOR, FOLHETIM, EU TE AMO, ATRÁS DA PORTA, OLHOS NOS OLHOS, BASTIDORES...? 

            Para coroar o sucesso desta montagem, só falta a gravação do espetáculo, em cd e dvd, já que uma homenagem tão linda e tão bem feita a um dos  maiores artistas brasileiros de todos os tempos, vindo de três outras grandes personalidades da música e do TEATRO, tem de ficar perpetuada, para que as próximas gerações possam se orgulhar dos nossos artistas.

Saí do teatro em total estado de graça, com vontade de voltar no dia seguinte.  Aliás, a vontade era de nem ir embora.  Mas voltarei, com certeza.



             

 



 

 










 

 


 


 
 

 


 

 

 


 

 

 


 

 

 

 


 

 

 

 

(FOTOS: PRODUÇÃO / DIVULGAÇÃO DO ESPETÁCULO e PÁGINA NO FACEBOOK.)

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