“O HOMEM
DECOMPOSTO”
ou
(UM MOSAICO
DE BOM HUMOR
E CRÍTICAS.)
MATÉI VISNIEC, nascido em 29 de janeiro
de 1956, na Romênia, ainda vivo e ativo, produzindo
excelentes peças de TEATRO, é um dramaturgo
romeno/francês, poeta e jornalista. É internacionalmente conhecido, montado em
muitos países, mais de trinta pela Europa,
além do Brasil, Estados Unidos, Japão
e Turquia. Os brasileiros conhecem muitas de suas obras, aqui encenadas. Já assisti a
várias e sempre me senti recompensado por tê-las visto. Tem cerca de 40
peças em seu currículo e uma ligação pessoal afetiva com o Brasil.
No momento, encontra-se em cartaz, no Teatro Laura Alvim, dentro
da Casa de Cultura Laura Alvim, no Rio de Janeiro,
um de seus trabalhos, a peça “O HOMEM DECOMPOSTO”, escrita em 1993,
à qual assisti, um dia após a sua concorrida estreia, e que representa mais uma
de suas peças que abraço e que serve de motivo para esta crítica.
SINOPSE:
Numa sucessão de histórias curtas, através do humor e do absurdo, homens e mulheres de uma estranha sociedade não conseguem se comunicar e criam sistemas, cada vez mais, absurdos e complexos, para se protegerem uns dos outros.
MATÉI VIESNIEC não é um dramaturgo de um único e simples estilo. Em suas peças,
encontramos características de várias distintas influências. Ele é mestre em mesclar,
nas suas dramaturgias, o TEATRO do Absurdo, o realismo
mágico e uma postura política e social, como pude
constatar, mais uma vez, em “O HOMEM DECOMPOSTO”. Embora, propriamente, não
seja ele um dos grandes autores do TEATRO do Absurdo,
é certo que bebeu bastante naquela fonte, explorando a falta de sentido, a incomunicabilidade e a alienação no
mundo contemporâneo. O grotesco também é um elemento presente na
sua produção dramatúrgica, utilizado como ferramenta de crítica social.
Traz, em sua bagagem, influências modernas, incorporando elementos do dadaísmo,
surrealismo e realismo mágico, criando fábulas que
fogem do discurso dogmático. Em muitas de suas obras, como esta em tela,
reconhecemos algumas pinceladas de autores como Kafka, Dostoiévski,
Camus, Beckett e Ionesco. Ainda que
esteja mergulhado em temas densos, podemos dizer que se utiliza de uma linguagem
poética, rica em metáforas e imagens fortes, que seduz o
público e os criadores brasileiros. Adorei ver isso em “O HOMEM DECOMPOSTO”.
Por ter vivido sob uma ditadura, sua escrita é vista, por ele, como “um
ato político e uma forma de resistência”, quando aborda temas como a
censura, a manipulação ideológica, a migração e os horrores do século XXI.
O autor se vê com um “perturbador profissional da banalidade”,
usando sua arte para “questionar o senso comum e provocar reflexão sobre
a realidade”, facilmente identificado na peça aqui comentada.
Resumindo, o estilo de MATÉI VISNIEC é uma síntese original de diversas
correntes literárias modernas, resultando em uma dramaturgia
contemporânea, engajada, poética e que utiliza o absurdo e o humor
ácido para refletir sobre a condição humana e as complexidades do mundo atual,
tudo presente em “O HOMEM DECOMPOSTO”.
“Profundamente ligado aos valores da União Europeia, MATÉI VISNIEC
considera-se ‘um autor engajado, humanista, de cultura universalista’. Continua
a acreditar na resistência cultural e na capacidade que a literatura tem de
demolir totalitarismos e ideologias tóxicas, bem como ‘as novas formas de
lavagem cerebral, criadas pela sociedade de consumo e pela indústria de
entretenimento’”.
Fui, naquela noite de 01
de novembro de 2025, ao Teatro cheio de boas
expectativas, com relação à peça, em função da FICHA TÉCNICA e
por ser mais um texto de VIESNIEC, e encontrei muito mais do que
esperava. A estrutura do espetáculo se atém a uma sequência ágil de meia dúzia
de histórias curtas, independentes, no formato de esquetes, todas com muito bom
humor ácido e situações de absurdo, “para desvelar um mundo de
incomunicabilidade e isolamento, em que os seres sociais se estranham
continuamente e não conseguem discernir de quem e de onde vêm as forças
opressoras”.
As histórias contam com dois
ou mais personagens e se sucedem em ritmo vertiginoso, apresentando pessoas que
se estranham mutuamente, não conseguem se comunicar, e vivem numa busca
incessante por se protegerem umas das outras, tal qual acontece na vida real,
descompromissadas com o ridículo e a ética. Numa dessas histórias, por
exemplo, curiosos cidadãos, para garantir sua tranquilidade e segurança, chegam
mesmo a se isolar dentro de estranhos círculos invisíveis, nos quais nenhuma
outra pessoa pode penetrar. O sentido de autoproteção impera, de forma muito
hilária. Numa outra, a cidade é tomada por uma invasão de borboletas carnívoras,
que ameaçam a população; essa é a parte que mais me agradou,
muito valorizada pela genial e hilária interpretação de DANI BARROS. Há,
ainda, a história da empresa que oferece serviços de lavagem cerebral, para
libertar as pessoas dos seus sofrimentos, uma ideia muito criativa e extremamente
bem desenvolvida. Ou a do senhor que anda pelas ruas com seu animalzinho de
estimação, ser que somente se sacia comendo pessoas, o que não causa
estranhamento nenhum, a não ser cócegas, na mulher que está sendo devorada; o
realismo mágico muito bem representado.
Em todas as histórias, percebemos
uma esdrúxula junção de um realismo distópico com a poesia e atestamos a
universalidade e atemporalidade das histórias.
Como uma arte coletiva, o TEATRO,
para ser bom, como é o caso desta peça, depende um bom texto e
uma FICHA TÉCNICA de comprovada competência, para levar um
projeto adiante. Isso acontece nesta produção. Assim se dá nesta deliciosa
peça, muito bem dirigida por ARY COSLOV, e igualmente
interpretada por um quinteto de um excelente e experiente time de atores, os
quais não me permitem qualquer distinção entre eles, em termos de qualidade: DANI
BARROS, GUIDA VIANNA, JÚNIOR VIEIRA, MARCELO AQUINO e MARIO
BORGES, na ordem alfabética.
O elenco foi
muito bem escalado e todos nos oferecem inesquecíveis momentos pessoais de
atuação. Há uma interação completa entre o quinteto e cada um dá o melhor de si,
nas cenas em que atuam, o que os faz protagonistas. Sim, dessa forma classifico a todos. Fazer humor é dificílimo. Quando este vem embalado com absurdas
ações e falas, de forma cáustica, até um pouco cínica, talvez, de forma não
escancarada, parece-me que se torna mais difícil ainda. Isso valoriza o
trabalho de interpretação. Atores e atrizes, aqui, provam que jogam muito bem
nas duas posições: no drama e na COMÉDIA.
Em termos técnicos, a
montagem é bem simples e, basicamente, depende do texto, da direção
e das interpretações, sem a menor intenção de “reinventar a
roda”, mas sim fazê-la, simplesmente, “fazê-la rodar com
propriedade e precisão”, seguindo a máxima de que “menos é mais”.
O palco está vazio, na grande maior parte do tempo, com cadeiras, nas duas coxias aparentes, para o descanso
dos atores, quando não fazem parte da ação do momento. Simples também, e
convenientes, são os figurinos, em forma de curiosos macacões, trabalho de WANDERLEI GOMES. AURÉLIO
DE SIMONI, um dos mais festejados profissionais da iluminação,
comparece com uma luz muito compreensível e coerente.
FICHA TÉCNICA:
Texto: Matéi Visniec
Tradução: Luiza Jatobá
Direção: Ary Coslov
Assistência de Direção: Johnny de Castro
Elenco (por ordem alfabética): Dani Barros, Guida Vianna, Júnior Vieira,
Marcelo Aquino e Mario Borges
Ambientação: Ary Coslov
Figurino: Wanderley Gomes
Desenho de Luz: Aurélio de Simoni
Direção de Movimento e Preparação Corporal: Lavinia Bizzotto e Alexandre
Maia
Trilha Sonora: Ary Coslov
Operador de Som: Gabriel Fomm
Programador Visual: Isio Ghelman
Assessoria de Imprensa: JSPontes Comunicação - João Pontes e Stella
Stephany
Fotografa: Nil Caniné
Mídias Sociais: Rafael Gandra
Produção Executiva: Bárbara Montes Claros
Direção de Produção: Celso Lemos
SERVIÇO:
Temporada: De 30 de outubro a 30 de novembro de
2025.
Local: Teatro Laura Alvim (Casa de Cultura Laura
Alvim).
Endereço: Avenida Vieira Souto, nº 176 – Ipanema –
Rio de Janeiro.
Telefone: (21) 2332-2016.
Dias e Horários: 6ª feira e sábado, às 20h;
domingo; às 19h.
Valor dos Ingressos: R$ 60 (inteira) e R$ 30
(meia-entrada), na bilheteria, de 3ª a 6ª feira, das 16h às 20h; sábado e
feriado, das 15h às 20h; e domingo, das 15h às 19h; ou pelo “site” https://funarj.eleventickets.com/#!/home /
Capacidade: 190 pessoas.
Duração: 75 minutos.
Classificação: 14 anos.
Gênero: COMÉDIA Dramática Fragmentada.
Não posso deixar de dizer
que acredito muito na qualidade desta montagem e que tenho plena certeza de
que a temporada será de grande sucesso, tanto da parte dos espectadores quanto da
crítica especializada. Na verdade, isso já vem acontecendo. Sendo assim, RECOMENDO MUITO O ESPETÁCULO.
FOTOS: NIL CANINÉ
É preciso ir ao TEATRO, ocupar todas as salas de espetáculo, visto
que a arte educa e constrói, sempre; e salva. Faz-se necessário resistir sempre mais.
Compartilhem esta crítica, para que, juntos, possamos divulgar o que há de
melhor no TEATRO BRASILEIRO!
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