“MARTINHO,
CORAÇÃO DE
REI
– O MUSICAL”
ou
(O TEATRO
REVERENCIA
O SAMBA.)
OU
(ANCESTRALIDADE
EM FOCO.)
Dou início a estas minhas considerações
sobre o musical “MARTINHO, CORAÇÃO DE REI
– O MUSICAL” sem entrar, diretamente, na avaliação do espetáculo, mas
parabenizando JÔ SANTANA (Fato Produções), pela linda
iniciativa de homenagear artistas brasileiros ainda em vida, como já aconteceu
com Alcione,
no musical “Marrom, O Musical”, também dirigido por MIGUEL FALABELLA, que é o “maestro” do espetáculo em tela.
Jô Santana.
Há, exatamente, nove anos, em muito boa
hora, JÔ, premiado produtor,
idealizou um projeto ao qual deu o nome de “Trilogia do Samba”, homenageando Cartola (“Cartola – O Mundo É Um Moinho”
– 2016), Dona Ivone Lara (“Dona Ivone Lara – Um Sorriso Negro” –
2018) e Alcione (“Marrom – O Musical” – 2022). Como
se pode perceber, “MARTINHO...” veio
para transformar a trilogia numa quatrilogia, em função dos sucessos
anteriores. Será que vem mais por aí? Espero que sim.
SINOPSE:
“MARTINHO, CORAÇÃO DE REI - O MUSICAL” passeia pela vida e obra de
um dos maiores sambistas do Brasil.
É uma celebração à rica história do
samba e à trajetória de um ícone da música popular brasileira.
O espetáculo mergulha nas raízes africanas do mestre sambista Martinho da Vila,
revelando a profunda influência da Folia de Reis e de outras
manifestações culturais afro-brasileiras em sua obra.
O musical nos transporta
para o universo de Martinho, revelando um homem apaixonado pela música, pela família
e pela cultura brasileira; um compositor, que também foi militar do Exército
Brasileiro (sargento), e chega às grandes e ancestrais rodas de samba.
Coube a HELENA THEODORO, uma renomada
especialista em África, criar a dramaturgia da peça, inspirada em sua pesquisa
sobre o continente africano e na biografia “Martinho da Vila: Reflexos no Espelho”, também de
sua autoria. O texto “celebra a força da ancestralidade e a
riqueza da cultura negra”, chega, de forma poética, lúdica e fundamental,
como mais uma tentativa de desvendar o véu que ainda encobre, para muita gente,
o valor do ser humano negro e sua importância para a nossa história e cultura,
com tudo de bom que os escravizados agregaram à cultura ocidental do “descobridor”
colonizador e explorador português. Tomara que também sirva para aplacar o
nefasto racismo, incluindo o estrutural, que, ainda, infelizmente, está latente
na cabeça de muita gente.
Louvando a maravilha de espetáculo que foi “Marrom, O Musical”,
julgo acertadíssima a ideia de JÔ
SANTANA, ao convidar, para tirar do papel uma história e torná-la “palpável”,
no palco, um dos mais festejados e premiados diretores brasileiros, com uma
experiência mais do que comprovada à frente de grandes e inesquecíveis
musicais, MIGUEL FALABELLA,
reeditando, a dobradinha JÔ/FALABELLA,
de “Marrom...”
e de “A
Partilha”, uma produção recente, que não é musical. Não se deve mesmo
mexer em time que está ganhando.
Retirado do “release” da peça, que me chegou às mãos por um dos assessores
de imprensa, MAURÍCIO AIRES (Achei
importante a transcrição.), “O diretor Falabella e a dramaturga Helena Theodoro alicerçam um
espetáculo recheado de africanidades e referências icônicas da história do povo
preto, fazendo um resgate ao panteão, outrora grego, mas, aqui, retratado na
sua real origem, pois o espetáculo é uma contemplação a lendas e mitos
afro-brasileiros e ao samba”.
De forma inusitada, nas minhas críticas, farei meus comentários sobre o
espetáculo brincando com a maneira como o locutor oficial da LIESA
(Liga Independente das Escolas de Samba do Rio de Janeiro) anuncia,
anualmente, as notas que os jurados atribuem aos quesitos do desfile das
escolas de samba. Aqui, cada elemento que entra, para que uma produção teatral
se concretize, será visto como um "quesito" daqueles desfiles.
DRAMATURGIA: HELENA
TEODORA: 8,0. O texto é, para mim, e sempre o será,
a coluna vertebral que sustenta uma peça de TEATRO. Não considero este
totalmente bom. Há ótimas ideias, como a de “ressuscitar”, na forma
de um anjo, Noel Rosa, o “Poeta da Vila”, e colocá-lo quase
que como um narrador, que faz a ligação entre as cenas, e momentos marcantes,
principalmente os ligados à africanidade, ainda que o início do espetáculo
chegue de forma um pouco confusa para muitos espectadores, nos quais me incluo.
Ouvi comentários nesse sentido, vindo de pessoas que me pareceram de bom nível
intelectual e cultural e conhecer bem o TEATRO e ser frequentadores assíduos
das salas de espetáculo. Foi a impressão que me passaram. Não é que a ideia
seja ruim; ao contrário, porém não me pareceu bem transposta para o papel. Achei
excelente a ideia de colocar, no palco, quatro excelentes atores, de idades
diferentes, para representar o protagonista, o que penso ser, também, a
opinião de todos os que superlotavam o Teatro Riachuelo – Rio de Janeiro. No
segundo ato, mais curto do que o primeiro, a dramaturgia é rala,
ocorrendo, praticamente, no início do ato, que é preenchido, durante um bom
tempo (Isso é ótimo.) por uma roda de samba. A propósito, ainda que
eu tenha adorado esse momento, o qual leva a plateia à loucura, de pé, cantando e dançando,
junto com o elenco, grandes “hits” do homenageado, senti-me
frustrado, confesso, porquanto, no “release” estava escrito que “inclusive, neste momento da Roda de Samba,
teremos a participação de grandes nomes do samba, como Leci Brandão, Mart’nália, entre
outros.”. Tenho conhecimento de que que isso se deu na sessão para
convidados, na qual não pude estar presente, mas não sei se foi dada
continuidade nas demais sessões, até a de anteontem, 19 de janeiro de 2025,
quando conheci o espetáculo. Isso justifica a “escola” perder 2,0
pontos.
DIREÇÃO: MIGUEL
FALABELLA: 10,0. Nota 10,0. A direção
de FALABELLA, como eu já esperava, é
ótima: dinâmica, criativa, jogando luz sobre o que de mais importante há no
texto, com visível conhecimento daquilo que é do gosto popular. Seu trabalho,
sensível e deveras preciso, ainda é mais valorizado por se cercar de gente –
artistas de criação – de comprovado talento. MIGUEL sendo MIGUEL.
Miguel Falabella.
DIREÇÃO MUSICAL:
JOSIMAR CARNEIRO: 10,0. NOTA 10,0. JOSIMAR é um grande parceiro de FALABELLA, desde a produção de uma OBRA-PRIMA,
chamada “Império”, em 2006, no Teatro Carlos Gomes (Rio de
Janeiro), musical ao qual assisti mais de uma dezena de vezes, na
maioria das quais levando meus alunos, ultrapassando a casa do milhar. É da
responsabilidade do maestro JOSIMAR uma direção musical perfeita, com arranjos muito bem
elaborados e criativos, fugindo aos originais, para uma trilha sonora indelével, composta
por grandes sucessos de Martinho da Vila, incluindo seus
premiados sambas-enredo, que marcaram o carnaval carioca. JOSIMAR também faz parte da banda, de oito músicos, que
acompanha, ao vivo, o elenco.
COREOGRAFIA: RAFAEL
MACHADO: 10,0. NOTA 10,0. Ninguém pode
reclamar de falta de dinamismo no palco. Muito disso provém da irretocável coreografia,
a cargo de RAFAEL MACHADO,
principalmente com relação às danças de origem africana, os movimentos que
ocorrem durante os rituais do candomblé. É tudo de uma beleza imensa! O coreógrafo
fez um excelente trabalho, contando com o talento, para a dança, de todos do elenco.
CENOGRAFIA: ZEZINHO
SANTOS e TURÍBIO SANTOS: 10,0. NOTA 10,0. O
conjunto de cenários não poderia ser melhor e funciona da primeira à última
cena. A cenografia é simples e funcional, ao mesmo tempo que é bela e
muito significativa, na qual se destacam a junção, sobreposta, das iniciais do
homenageado (MV), ao fundo, em tamanho gigante, e as cadeiras que são
utilizadas na roda de samba. Poucos elementos cenográficos, que enriquecem, em
muito, o espetáculo.
FIGURINO: CLÁUDIO
TOVAR: 10,0. Nota 10,0 (porque não posso lhe atribuir o grau 11,0). Gostei muito do musical, de, praticamente, todos os elementos,
entretanto, se me fosse imposto dizer de qual eu mais gostei, não titubearia em
apontar os figurinos. São belíssimos, supercriativos, coloridíssimos, mormente os que o
elenco veste quando a África é chamada a entrar em cena. TOVAR, um talentosíssimo multiartista,
é um esteta, elevado à mais alta potência. Para este espetáculo, o premiado TOVAR desenhou mais de 250 figurinos, confeccionados
por colaboradoras do empreendimento social Tereza, um projeto que não visa a lucro e trabalha em prol de mulheres egressas
do sistema prisional, com o apoio do Instituto
Humanitas360. Que coisa fantástica! Vejo uma luz no fim do
túnel. Por meio dessa parceria, nove mulheres, egressas do sistema prisional, costuraram e bordaram todas as peças, em ateliê instalado na Oficina
Cultural Oswaldo Andrade, em São Paulo.
DESENHO DE LUZ: FELIPE MIRANDA: 9,0. FELIPE criou uma luz muito bonita, um desenho de festa, para um espetáculo que é uma celebração, fazendo uso de uma variada paleta de cores, com intensidades distintas, ao sabor de cada cena. Posso dizer que a luz funciona a contento, porém o “quesito” perde um ponto, na minha avaliação, por conta de alguns momentos em que a luz vaza, propositalmente, para a plateia e incomoda os espectadores que ocupam as primeiras fileiras (Eu estava na quinta.). Penso ser isso desnecessário, concentrando toda a luminosidade no palco
DESENHO DE SOM: BRUNO
PINHO: 9,0. Como já repeti, trocentas vezes, tudo o que é
dito ou cantado, num espetáculo, tem que chegar, de forma cristalina, aos
ouvidos dos privilegiados que conseguem assistir às ações das primeiras
fileiras e de quem ocupa a última, do balcão. Todos pagaram valores diferentes,
por seus ingressos, dependendo da localização, porém é direto de a plateia
inteira ouvir o que vem do palco. Nesse sentido, não peca BRUNO PINHO. Mas o que lhe tira 1,0 ponto, na nota? Simplesmente, o som de um surdo, ou coisa parecida, que acontece logo no início
da peça e, uma ou outra vez, durante toda a encenação. As caixas de som chegam a
tremer excessivamente, projetando uma sonoridade distorcida, que que os ouvidos humanos não aceitam. É uma coisa simples, um detalhe, que
pode ser, facilmente, reparada, creio eu.
VISAGISMO: EVERTIN
SOARES: 10,0. NOTA 10,0. Embora muita
gente não saiba o que venha a ser visagismo, considero esse elemento
muito importante, em qualquer montagem teatral, a despeito de muitos críticos e
jurados de prêmios de TEATRO não lhe darem o devido valor.
Eu sempre faço questão de considerá-lo, em minhas apreciações críticas, quando
reconheço o talento de um visagista, como o de EVERTIN SOARES, neste trabalho. O visagismo, no TEATRO, é a técnica de criar a imagem de um personbagem, respeitando a visão do diretor e do figurinista. O maquiador-visagista usa a maquiagem, o corte, a coloração e o
penteado do cabelo para criar o visual do personagem. Não há
um senão no visagismo deste musical.
ELENCO: 10,0. NOTA
10,0. Com louvor, principalmente para os quatro atores que interpretam o protagonista,
em idades diferentes: ALAN ROCHA, CELSO LUZ, FERNANDO LEITE e RENÉE NATAN,
com um destaque para o primeiro. Não me lembro de ter visto seus três colegas em
outras produções. ALAN, cuja carreira
venho acompanhando, e aplaudindo, desde seu início, é um camaleão, na arte de
representar. Aqui, não é diferente e, na minha visão, ele alcança o seu melhor
momento num palco. É impressionante a maneira como construiu o personagem, reproduzindo
o modo “devagar, devagarinho” de Martinho e, principalmente, a voz.
Se fecharmos os olhos, é Martinho quem está falando e
cantando. É admirável esse detalhe mimético! Numa visão geral, o elenco
se comporta de forma coesa, harmoniosamente, todos conseguindo saltar acima de
uma régua colocada extremamente no alto. Todos interpretam bem, cantam
lindamente – aqui vai um destaque para as mulheres, no todo – e me
surpreenderam muito, quando obedecem à coreografia. Não sei se, no conjunto dos
20
talentosos atores-cantores-bailarinos, entre os quais dois netos de Martinho,
a atriz, cantora e dançarina DANDARA VENTAPANE e
o músico GUIDO VENTAPANE, além destes dois, houve convites para
a formação do elenco ou se todos os demais foram selecionados por meio de audições. Só
posso complementar esta avaliação com a certeza de que devem ter participado da
seleção muitos candidatos e não poderiam ter sido mais felizes os responsáveis pela
escolha dos artistas.
FICHA TÉCNICA:
Idealização e Realização: Jô
Santana
Dramaturgia: Helena Theodoro
Direção: Miguel
Falabella
Assistência de Direção: Iléa
Ferraz
Direção Musical: Josimar Carneiro
Elenco (por ordem alfabética): Alan Rocha, Anastácia Lia, Celso Luz, Dandara Ventapane, Daniela Dejesus, Dante Paccola, Felipe Miranda, Fernanda Godoy, Fernando Leite, Grazzi Brasil, João Cortins, Ley Oliveira, Maria Antônia Ibraim, Matheus Oliveira, Matheus Paiva, Milena Mendonça, Negravat, Renée Natan, Roberta Gomes e Suéllen Sanches
Banda: Denis Lisboa e Guido Ventapane (percussão), Nino Nascimento (baixo elétrico), André Boxexa (bateria), Jayme Vignoli (cavaquinho), Josimar Carneiro (violão de sete cordas), Kiko Horta (piano e sanfona), Joana Saraiva (flauta, clarinete e saxofone), Márcio Guimarães (pianista ensaio) e Denis Lisboa (percussão ensaio)
Coreografia: Rafael Machado
Cenografia: Zezinho Santos e
Turíbio Santos
Figurinos: Cláudio Tovar
“Designer de Luz”: Felipe Miranda
“Designer de Som”: Bruno Pinho
Visagismo: Everton Soares
Programação Visual: Dorotéia “Design”
Fotos: Erik Almeida
Assessoria de
Imprensa: Maurício Aires e Rogério Freitas (Amigos Assessoria de Comunicação).
Martinho da Vila, o homenageado.
SERVIÇO:
Temporada: De 10 de
janeiro a 23 de fevereiro.
Local: Teatro
Riachuelo – Rio de Janeiro.
Endereço: Rua do
Passeio, 38/40, Centro, Rio de Janeiro.
Dias e Horários: De
5ª feira a sábado, às 20h; domingo, às 19 h.
Valor dos Ingressos: Plateia VIP (Tom Maior): R$ 200,00; Plateia (Casa de Bamba): R$ 150,00; Balcão Nobre (Vila Isabel): R$ 100,00; Balcão Superior (Canta, Canta, Minha Gente): R$ 39,00. Há o valor de meia-entrada a quem faz jus a ela, de acordo com a legislação em vigor.
Vendas: Bilheteria física do Teatro (sem taxa de
conveniência). Horário de funcionamento: de 3ª feira a sábado, das 14h às 19h.
Em dia de espetáculo, das 14h até o horário de início da sessão. Bilheteria “on-line) (com taxa de conveniência): www.ingresso.com
Duração: 150 minutos,
com 15 minutos de intervalo.
Classificação
Indicativa: 16 Anos.
Gênero: Musical.
É importantíssimo dizer, além de que RECOMENDO O ESPETÁCULO, por sua grandiosidade, como tantos outros, ele movimenta mais de 300 empregos diretos e indiretos, gerados neste período, desde a concepção até o fim da temporada. Esse lembrete serve para tapar a boca dos ignorantes críticos da Lei Rouanet.
FOTOS: ERIK ALMEIDA
(OBSERVAÇÃO: Uma das características das minhas críticas é a utilização do maior número possível de fotos, pois penso que uma boa imagem, muitas vezes, transmite e comunica mais do que palavras.
Das que ilustram esta crítica, apenas sete são oficais. Busquei as demais na internet, sem saber a quem atribuir os créditos.)
VAMOS AO TEATRO!
OCUPEMOS TODAS AS
SALAS DE ESPETÁCULO DO BRASIL!
A ARTE EDUCA E CONSTRÓI, SEMPRE; E
SALVA!
RESISTAMOS SEMPRE MAIS!
COMPARTILHEM ESTA CRÍTICA, PARA
QUE, JUNTOS, POSSAMOS DIVULGAR O QUE HÁ DE MELHOR NO TEATRO BRASILEIRO!
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