terça-feira, 28 de janeiro de 2025

       

“O BEM-AMADO”

ou

(UMA OBRA

IMORTAL,

DE UM IMORTAL.)

ou

(SUCUPIRA

É AQUI; 
E AGORA.)

                  

       

            Não poderia iniciar esta crítica de outra forma. É preciso chamar a atenção das gerações mais novas para a importância de DIAS GOMES, autor do texto da peça, para a cultura brasileira e para a formação de outros autores, influenciados por ele. Alfredo de Freitas DIAS GOMES, mais conhecido pelo sobrenome DIAS GOMES (Salvador, 19 de outubro de 1922 - São Paulo, 18 de maio de 1999), foi romancista, dramaturgo, autor de telenovela e seriados e membro da Academia Brasileira de Letras. Foi, essencialmente, um homem de TEATRO, tendo, porém, ficado conhecido do grande público por seus trabalhos para a televisão. Também adaptou cerca de 500 peças teatrais para o rádio. Em 1960, viu encenado aquele que viria a ser o maior êxito de sua carreira: a peça teatral “O Pagador de Promessas, adaptada para o cinema, por Anselmo Duarte, tendo sido o primeiro filme brasileiro a receber uma indicação ao “Oscar e o único a ganhar a “Palma de Ouro, no emblemático “Festival de Cannes.



Dias Gomes. (Fonte: internet.)


Filiado ao Partido Comunista, crítico ferrenho das mazelas da sociedade e dos governantes, em 1965, teve sua peça “O Berço de Herói, censurada, no dia de sua estreia. Essa obra foi adaptada para a TV, com o nome de “Roque Santeiro, que também seria proibida, uma década depois, também no dia de sua estreia. Somente em 1985, com o fim do regime de exceção, o nefasto golpe militar de 1964, o público iria poder assistir a “Roque Santeiro, uma das maiores audiências do gênero.


 

Com a implantação da ditadura militar no Brasil, em 1964, DIAS GOMES passou a ter suas peças censuradas, uma após a outra. Em 1973, escreveu a primeira novela em cores da televisão brasileira, exatamente “O Bem-Amado, numa adaptação. DIAS GOMES parece ter sempre estado à frente de seu tempo, uma vez que, já em 1974, falava em ecologia e no crescimento desordenado da cidade, na novela “O Espigão. Em 1976, em outro folhetim televisivo, “Saramandaia”, abordou, de forma brilhante, o realismo fantástico, então em moda na literatura, chegando a ser comparado, no gênero, ao colombiano Gabriel García Márques. Ao longo de toda a década de 1980, voltou a se dedicar ao TEATRO, escrevendo para a televisão esporadicamente. Foi eleito para a Academia Brasileira de Letras, em 11 de abril de 1991, tendo sido saudado, na sua posse, pelo conterrâneo e também imortal Jorge Amado.


 

Sua obra é extensíssima. Escreveu para vários veículos de comunicação: TEATRO, literatura, cinema e televisão. Entre suas peças teatrais, a mais célebre é “O Pagador de Promessas” (Escrita em 1959 e encenada, pela primeira vez, em 1960.), creio que sua obra mais encenada (No início da década de 1970, tive o privilégio de interpretar o protagonista, Zé do Burro, numa montagem amadora, em cuja estreia, num clube do Rio de Janeiro, pudemos contar com o generoso autor na plateia. Ele liberou, para mim, o pagamento dos direitos autorais, quando estive em visita à sua casa, na Lagoa, Rio de Janeiro, levado por um amigo comum. Fez uma cartinha de próprio punho, para que eu fosse à SBAT (Sociedade Brasileira de Autores Teatrais), a fim de que o texto fosse liberado sem nenhum custo. Não dá para esquecer.). Foram, ao todo, 33 peças para o TEATRO, com destaque para “O Pagador de Promessas” (1960)“A Invasão” (1960), “Odorico, o Bem-Amado” ou “Os Mistérios do Amor e da Morte” (1962), “O Berço do Herói” (1963), “O Santo Inquérito” (1966), “Dr. Getúlio, Sua Vida, Sua Glória”, esta em parceria com Ferreira Gullar (1968), “O Rei de Ramos” (1978), e “Roque Santeiro, o Musical” (1995). Escreveu 8 livros. Estreou na televisão em 1969, com a novela “A Ponte dos Suspiros. Entre seus sucessos na telinha, estão “Verão Vermelho”“Assim na Terra como no Céu”; “O Bem-Amado (a primeira novela em cores da televisão brasileira e a primeira a ser exportada), que também virou um seriado, entre 1980 e 1984“Roque Santeiro“Bandeira 2”, “O Espigão”; “Roque Santeiro” (edição censurada, não chegou a ir ao ar.) e “Saramandaia”. Morreu aos 76 anos, vítima de um acidente de trânsito, na madrugada de 18 de maio de 1999, na região dos Jardins , em São Paulo.


 

Passemos, agora, a comentar a montagem em tela, começando pela SINOPSE:



 

SINOPSE:

“O BEM-AMADO” é uma divertidíssima peça de DIAS GOMES, que enfoca a candidatura e eleição de Odorico Paraguaçu, para prefeito de Sucupira, cidadezinha litorânea, da Bahia.

O autor retrata o típico político astuto, demagogo e corrupto, representado pelo “coronel” Odorico (DIOGO VILELA), que faz de tudo para atingir seus objetivos, sem o menor compromisso com a moral.

Muito sagaz, com seus discursos inflamados e verborrágicos, ele ilude o simplório povo da pequena Sucupira.

E, na condição de novo prefeito, o que mais Odorico desejava era inaugurar a sua grandiosa obra política, o primeiro cemitério de Sucupira, para, enfim, cair nas graças do povo.

A meta prioritária de sua administração é, severamente, criticada pela oposição ao seu governo, representada, principalmente, pelo jornalista Neco Pedreira (GABRIEL ALBUQUERQUE), editor-chefe do jornal local A Trombeta.

O espetáculo é recheado de agradáveis surpresas.


 



Sua história central, como já foi dito, é baseada na peça teatral “Odorico, o Bem-Amado”, escrita no início da década de 1960, pelo grande dramaturgo DIAS GOMES. Consta que o autor se inspirou em uma história contada pelo jornalista Nestor de Holanda, segundo a qual o cantor Jorge Goulart, ao se apresentar em uma cidade do Espírito Santo, soube, através dos moradores, que o prefeito havia construído um cemitério, porém não pôde inaugurá-lo, pelo fato de ninguém falecer por lá. A história teria chegado a DIAS GOMES e, assim, este escreveu a peça.


 

O texto é uma delícia, de engraçado, ao mesmo tempo que o dramaturgo se aproveita para lançar, claramente ou nas entrelinhas, seus flamejantes dardos na direção de uma sociedade “doente” e que se deixa manipular, e uma administração pública corrupta à enésima potência. “Os personagens são arquétipos ou tipos sociais definidos”, o que levou o grande poeta e, também, dramaturgo Ferreira Gullar, em seu ensaio sobre a peça, sabiamente, a defini-la como uma “farsa sociopolítico-patológica”. Grande definição! Trata-se de um texto atemporal, o que justifica o subtítulo “SUCUPIRA É AQUI; E AGORA”, fazendo com que o Brasil olhe para si, com humor e lirismo, sobre questões tão ainda presentes no nosso cotidiano. E, longe do que podem achar alguns, ainda que as mazelas da peça aconteçam, predominantemente, em pequenas cidades do interior brasileiro, mesmo nas grandes cidades, incluindo as capitais, muitos políticos se prestam a tantos desmandos, muito além da construção de um cemitério. A COMÉDIA é um gênero essencialmente crítico, motivo pelo qual o autor dela se apropria, para pôr na berlinda o que ele vê de errado nas pessoas e nos sistemas de governo.


 

O espetáculo, bancado pela FUNARJ (Fundação Nacional Anita Mantuano de Artes do Estado do Rio de Janeiro) faz parte de um projeto que se volta para os princípios do TEATRO, de sua popularização, o que é muito bem-vindo, por meio da montagem dos clássicos brasileiros dos palcos, com papel social e institucional. Os ingressos, extremamente, a preços populares, é o grande atrativo das peças, bem como o elenco e as próprias obras. Julgo excelente a proposta daquele órgão público, que faz com que a lotação do Teatro João Caetano (1.139 lugares), o mais antigo do Rio de Janeiro (1813) se esgote em todas as sessões, o que, infelizmente, não corresponde ao número de espectadores presentes na sala de espetáculo. Explica-se: muitas pessoas compram seus ingressos, porém, descompromissadas consigo mesmas, por conta de um preço tão reduzido, não comparecem ao Teatro, por motivos vários. É uma pena, porque isso faz com que outros que desejavam, realmente, assistir à peça, não possam fazê-lo; e ficam várias poltronas vazias. Por outro lado, o que há de positivo na prática de preços tão irrisórios é que atraem centenas de pessoas que nunca tiveram a oportunidade de frequentar uma sala de espetáculo. A receptividade do público para esta montagem é total, graças à sua qualidade.


 

Nem perderei tempo em exaltar uma OBRA-PRIMA de texto. Uma dramaturgia de tão alta e comprovada qualidade parece facilitar o trabalho da direção, aqui a cargo de MARCUS ALVISI, a qual aprovo totalmente, na minha modesta avaliação. Ou, talvez, também pudesse funcionar como um desafio para o diretor, que precisa deixar a marca registrada de seu trabalho; e ALVISI o conseguiu. Ele também assina a trilha sonora da peça, com altos e baixos, a meu juízo; menos aqueles e mais estes.


 

Agradaram-me a cenografia e os figurinos, criações de RONALD TEIXEIRA e PEDRO STAMFORD. Para os cenários, a dupla de artistas, sem o menor desperdício, soube aproveitar o espaço físico, para criar mais de um ambiente, sem que isso pudesse despertar alguma dúvida nos espectadores menos acostumados a essa desafiadora prática. Com relação às vestimentas dos personagens, penso que tudo está no seu devido lugar, em obediência ao local e ao tempo em que se dá a narrativa. Muito bom gosto, destacando-se os figurinos vestidos pelo protagonista e as irmãs Cajaseiras.


 

 A DANIELA SANCHEZ coube a criação de um desenho de luz discreto, muito bem distribuído pelo palco; uma iluminação não exuberante, não muito colorida, própria para cada ocasião e situação.


 

Um “VIVA!” a MURILO CORREA, responsável pelo som. Os atores não usam microfones de lapela e tudo o que falam é captado por alguns direcionais, distribuídos no palco. Em raríssimas vezes, eu, que estava na terceira fila, perdi alguma coisa dita por este(a) ou aquele(a) ator ou atriz.


 

Uma craque em visagismo, MONA MAGALHÃES, ficou com a responsabilidade pela caracterização dos personagens; muito boa, bem como, da mesma forma, comportou-se JULIANA MEDELLA, que assina a direção de movimento.



Ataíde Arcoverde.


Quanto ao elenco, julgo ter havido um nivelamento entre os atores que representam os principais personagens e os de menor destaque na trama. DIOGO VILELA faz um ótimo trabalho como o protagonista, generosamente, abrindo espaço para que outros também se destaquem, como TADEU MELLO, Seu Dirceu Borboleta, o braço direto de Odorico na Prefeitura, o seu secretário, um tipo tímido e desastrado, que pratica a caça de lepidópteros (borboletas). No conjunto masculino, também aplaudo, com bastante empenho, a atuação de CHRIS PENNA, na pele do matador “aposentado” e arrependido Zeca Diabo, que volta àquele lugar, depois de um longo período fugido de lá, com o propósito de ser um novo homem, devoto do “Padim Pade Cícero Romão Batista”, viver em paz, muito distante de seu passado de crimes.


Tadeu Mello.


Chris Penna.

 

Além dos trabalhos desse trio de excelentes atores, jogo luzes sobre as participações de três ótimas atrizes: PATRÍCIA PINHO (Dorotéa), ROSE ABDALLAH (Judicéa) e RENATA CASTRO BARBOSA (Dulcinéa), as já citadas irmãs Cajaseiras, cada uma delas vivendo um romance, às escondidas, com o protagonista, sem que uma soubesse da outra. Dulcinéa era casada com Dirceu; as outras duas, solteironas. Três falsas beatas. Ocorre que a primeira engravida e o prefeito, maquiavelicamente, como em outras tantas oportunidades, cria uma armação, para que a paternidade do bebê recaia sobre o ingênuo e fiel “cão de caça” Dirceu, que havia feito voto de castidade. Olha a confusão formada!



Patrícia Pinho.





Rose Abdallah.




Renata Castro Barbosa.


Os personagens supracitados são os mais importantes da trama, entretanto faço questão de dizer, até me repetindo, que os demais, que representam papéis de menor importância no enredo, cumprem bem satisfatoriamente seus papéis. Aqui, abro um espaço para destacar a química que há entre ROSE ABDALLAH e LUCAS FIGUEIREDO, este no papel do Primo Ernesto, que estava indo da capital para Sucupira, muito doente, segundo constava, “nas últimas”, o que representava, para Odorico, mais uma esperança de inaugurar o cemitério. Mas, para sua tristeza, Ernesto não morreu e se recuperou logo.

Elenco principal.

 

Não vejo nenhum motivo para confessar que, antes de ter assistido à peça, no último sábado, 25 de janeiro de 2025, estava com um certo receio, com relação ao que eu encontraria nesta montagem, o que é bem natural, para quem traz na memória a emblemática interpretação de Odorico, feita por Paulo Gracindo, na TV, para quem me faltam epítetos, sem que me repita, e Marco Nanini, no cinema; boa, porém muito distante do trabalho de Gracindo. Não queria estar na pele de DIOGO VILELA, que, como excelente profissional, sabia de sua enorme responsabilidade. Seu talento, porém, levou-o a uma interpretação ímpar, personalíssima, convincente e original, totalmente diferente dos dois colegas. O mesmo posso dizer com relação a TADEU MELLO e CHRIS PENNA. Não é fácil representar dois personagens que estão no imaginário popular do público: o Dirceu Borboleta do saudoso Emiliano Queiroz e o Zeca Diabo de Lima Duarte. Merecem muitos aplausos TADEU e CHRIS, assim como DIOGO, obviamente.     


 

Diogo Vilela.  

 

 

FICHA TÉCNICA:

Texto: Dias Gomes

Direção: Marcus Alvisi

Assistência de Direção: Marco Aurélio Monteiro

 

Elenco: Diogo Vilela (Odorico Paraguaçu), Tadeu Mello (Dirceu Borboleta), Chris Penna (Zeca Diabo), Patrícia Pinho (Dorotéa), Rose Abdallah (Judicéa), Renata Castro Barbosa (Dulcinéa), Ataíde Arcoverde (Chico Moleza), Luiz Furlanetto (Hilário Cajazeira), Alê Negão (Dermeval), Ezequiel Vasconcelos (Mestre Ambrósio), Rollo (Zelão), Gabriel Albuquerque (Neco Pedreira), Marco Aureo (Vigário) e Lucas Figueiredo (Primo Ernesto)

 

Cenografia:   Ronald Teixeira e Pedro Stamford

Figurinos: Ronald Teixeira e Pedro Stamford

Iluminação: Daniela Sanchez

Engenheiro de Som: Murilo Correa

Trilha Sonora: Marcus Alvisi

Visagismo: Mona Magalhães

Direção de Movimento: Juliana Medella

Direção de Produção: Marília Milanez e Richard Luiz

Fotos e “Design”: Victor Hugo Cecatto

Assessoria de Imprensa: Amigos Assessoria (Maurício Aires e Rogério Alves)

Realização: FUNARJ, Secretaria de Cultura e Economia Criativa, Governo do Estado do Rio de Janeiro


 

Odorico e as irmãs Cajaseiras.




SERVIÇO:

Temporada: De 10 de janeiro a 16 de fevereiro.

Local: Teatro João Caetano.

Endereço: Praça Tiradentes, s/nº, Centro – Rio de Janeiro.

Dias e Horários: 6º feira, às 19h; sábado e domingo, às 17h.

Valor dos Ingressos: R$ 5 (inteira) e R$ 2,50 (meia-entrada).

Compra “on-line”: https://funarj.eleventickets.com

Duração: 120 minutos.

Indicação Etária: Livre.

Gênero: Comédia.


 


 

Luiz Furlanetto.

 

         Há um detalhe, nesta peça, que sempre me chamou a atenção e, por isso mesmo, não pode deixar de ser percebido. É que não fica a menor dúvida de que o protagonista não é “mocinho”, mas um grande “bandido”, no entanto, em função de suas características pessoais, com destaque para o seu vocabulário exótico e criativo, cheio de neologismos e frases feitas, construídas por ele, não conseguimos odiá-lo. Pelo contrário, o personagem ganha a nossa admiração. Trata-se de um grande anti-herói, muito longe das virtudes de um herói, assim como Mário de Andrade criou o seu, ou melhor, o “nosso” Macunaíma, o “herói sem caráter”Recomendo o espetáculo, o qual, infelizmente, cumpre uma pequena temporada.

 

 

 

 

FOTOS: VICTOR HUGO CECATTO

(Oficiais) e outras de fonte desconhecida.

 

 

GALERIA PARTICULAR:






Com os amigos Rose Abdallah, 
Lucas Figueiredo e Chris Penna.


É preciso ir ao TEATRO, ocupar todas as salas de espetáculo, visto que a arte educa e constrói, sempre; e salva. Faz-se necessário resistir sempre mais.

Compartilhem esta crítica, para que, juntos, possamos divulgar o que há de melhor no TEATRO brasileiro!







































































segunda-feira, 27 de janeiro de 2025

 “ROCK IN RIO

- 40 ANOS

– O MUSICAL”

ou

(EU FUUUUI!!!)



 

            Tenho uma profunda admiração por Roberto Medina, a quem não conheço pessoalmente, um empresário e publicitário, idealizador do festival Rock in Rio”, por sua coragem e determinação. Sem dúvida, o maior empreendedor cultural brasileiro. A primeira edição do "Rock in Rio", considerado o 7º maior festival de música do mundo, ocorreu entre 11 e 20 de janeiro de 1985, na antiga "Cidade do Rock", localizada em Jacarepaguá, Zona Oeste do Rio de Janeiro, construída num terreno de 250.000m², próximo ao Riocentro. O festival durou 10 dias, consecutivos, com um total de 1 milhão e 380 mil espectadores. EU FUUUUI!!! EM TODOS OS DIAS!!!

 

Roberto Medina (Fonte: internet.)


   Devido às chuvas que castigavam, severamente, a cidade e a um piso que não suportava bem a drenagem, o público patinava e atolava na lama, porém isso não fazia diminuir a nossa euforia. A “Cidade do Rock” foi planejada e projetada com uma grande infraestrutura para atender a quase 1,5 milhão de pessoas (o equivalente a cinco Woodstocks, que frequentaram o evento.

 


  O festival foi responsável por convencer gravadoras, empresários musicais e a imprensa, de um modo geral, de que o "rock" era um mercado rico, ainda a ser explorado, e também fez o Brasil ser mais incluído em turnês internacionais. Até então, nosso país só recebia a visita de grandes astros da música mundial muito raramente, como Frank Sinatra, trazido ao Rio e São Paulo, em 1980 e 1981, pelo mesmo Medina. O “Rock in Rio” abriu as portas para que os grandes artistas de todas as partes do mundo desejassem se apresentar por aqui.

 


   A cada dia, havia “shows” de 4 a 6 atrações, todas num único palco, motivo para que as atividades fossem encerradas em plena madrugada, em função do tempo necessário para a troca de aparelhagens dos artistas. Mas valia muito a pena aguardar as apresentações de grandes atrações nacionais e internacionais, algumas já consagradas e outras até em início de carreira; no caso dos brasileiros, alguns: Barão Vermelho, "Paralamas do Sucesso"Ney Matogrosso, Erasmo Carlos, Rita Lee, Ivan Lins, Elba Ramalho, Gilberto Gil, Lulu Santos, Blitz, Moraes Moreira, Alceu Valença e Kid Abelha, entre outros nomes. A lista de atrações internacionais era um sonho e eu sentia vontade de me beliscar, para ter a certeza de que não estava sonhando, tendo à minha frente, num palco de 5.000m², artistas de fama internacional, alguns dos meus ídolos, como Queen, Al Jarreau, James Taylor, George Benson, Rod Stewart e Yes, por exemplo.

 



   Após o fim do megaevento, a “Cidade do Rock” foi demolida, por ordem do, então, governador do estado do Rio de Janeiro, Leonel Brizola, que foi incapaz de perceber o ouro, para a cidade, que ele estava jogando no lixo. Não foi sensível a isso. Depois de um hiato de seis anos, mas graças ao enorme sucesso do evento original, Roberto Medina nos brindou, em 1991, com o “Rock in Rio II”, mantendo as mesmas características do primeiro, com algumas adaptações e novidades, realizado no estádio de futebol do Maracanã, cujo gramado foi adaptado para receber o palco e os espectadores (700 mil pessoas, em nove dias de evento), que também puderam assistir às apresentações das arquibancadas e cadeiras do estádio. Também lá estava eu. Daquela vez, carregando uma filha adolescente com mais três amigas.

 



    Houve, então, um hiato maior, de dez anos, para que nos encontrássemos, outra vez, com o festival, o “Rock in Rio III”, no mesmo local onde aconteceu a primeira edição, agora com a construção de uma nova “Cidade do Rock”, com a capacidade para receber 250 mil espectadores por dia. Foi a minha terceira e última incursão no evento, que já começou a assumir uma nova roupagem, abrindo espaço para concertos paralelos aos do palco principal, de música eletrônica e música africana, tudo realizado em tendas. O evento recebeu a legenda de “Por Um Mundo Melhor”. A “Cidade do Rock” construída para o “Rock in Rio III” foi demolida apenas em 2012, para a construção da Vila Olímpica dos Jogos Olímpicos de Verão de 2016.

 


     O sucesso do “Rock in Rio”, àquela altura, já dominava o mundo, e Medina partiu para a realização do evento fora do país: Lisboa, Madrid, reiteradas vezes, e uma única edição, em Las Vegas, para comemorar os 30 anos do festival. A volta do “Rock in Rio” à sua cidade de origem só se deu em 2011, a quarta edição, após dez anos da última. A Prefeitura construiu um novo local permanente, também chamado de “Cidade do Rock”, bem próximo ao espaço onde o festival aconteceu pela primeira vez, o que permite uma maior periodicidade do evento. A mais recente edição do evento, no Rio de Janeiro, a décima, aconteceu em 2024. Particularmente, a atual estrutura e a proposta do festival não me agradam muito, mas continuo sendo um entusiasta do “Rock in Rio”, pelo que ele representa, como uma vitrine cultural do Brasil e sua importância para o mundo do entretenimento, e acompanho, na medida do possível, a distância, pela televisão, curtindo o que me interessa e dentro da minha disponibilidade de tempo.

 



    Para comemorar 40 anos de existência do festival, ele “foi transposto” para um palco de TEATRO, o que considero ótimo, com uma história de sua trajetória, ou melhor, como tudo começou, o que é muito bom, num país “sem memória” e que tem uma boa parte da população valorizando só o que vem de fora, não enxergando o trabalho e a valorização de brasileiros, como Roberto Medina.  



 

 

SINOPSE:

O musical conta a saga de Roberto Medina, para erguer a lendária primeira edição do festival, nos anos 1980.

“ROCK IN RIO 40 ANOS – O MUSICAL” se passa nos últimos meses de 1984 e naqueles primeiros dias no ano seguinte.

Enquanto o Brasil experimentava uma série de transformações políticas e sociais, Roberto Medina (RODRIGO PANDOLFO) comandava uma equipe que perseguia o sonho – praticamente, impossível – de realizar um “festival de rock de proporções gigantescas”, em um país ainda fora do grande circuito de “shows” internacionais.

Os obstáculos eram intermináveis: da negativa de centenas de patrocinadores e artistas até o local onde o evento se instalou, um terreno pantanoso e em declive, na então inóspita região de Jacarepaguá.

O foco principal da história é justamente nos bastidores, em uma verdadeira celebração de todos aqueles que trabalham para fazer um espetáculo acontecer e ficam invisíveis, por trás dos palcos, mas também, paralelamente, acompanhamos uma história de amor.

Ao contar os caminhos percorridos por Medina e toda a sua equipe, que tornaram aquele sonho em algo real, palpável, concreto, CHARLES MÖELLER, autor do texto e responsável pela direção geral, homenageia os trabalhadores que doam as suas vidas para que o “show” aconteça.


 


 



         O espetáculo é fruto de uma profícua parceria entre os consagrados diretores e realizadores CHARLES MÖELLER e CLAUDIO BOTELHO, considerados os “Reis dos Musicais”, com o empresário Roberto Medina, iniciada nos últimos anos, resultando em três espetáculos, que foram apresentados durante as duas últimas edições do Rock in Rio” e na estreia do festival “The Town”, uma espécie de “Rock in Rio” paulista, cujo “pai” também é Medina: “Uirapuru” (2022), “The Town, O Musical” (2023) e “Sonhos, Lama e Rock’n’roll” (2024), os quais ocuparam espaços especialmente construídos para as montagens de TEATRO dentro dos festivais.

 


          Muita gente não conhece o longo e acidentado caminho percorrido por Roberto Medina, para a realização de seu grande sonho. Daí, a ideia de focar nos bastidores e não na realização dos múltiplos e variados “shows”, uma vez que estes já estão, fartamente, documentados e podem ser acessados por qualquer um, a qualquer momento, principalmente pelos mais jovens. É muito importante lembrar que se trata de uma produção 100% brasileira, que EU RECOMENDO, COM MUITO PRAZER E EMPENHO, e que me faz reforçar o meu pensamento de que não devemos nada aos espetáculos da “Meca dos Musicais”, a Broadway, em Nova York, e West End, em Londres. É o que, realmente, sinto, ao ver muitas das grandes produções nacionais, com esta. Já há muito tempo, sou da opinião de que tínhamos artistas formidáveis, para o TEATRO MUSICAL, faltando-nos, porém, recursos técnicos e, principalmente, financeiros, contudo, de cerca de pouco mais de uma década, um pouco mais, talvez, passamos a contar com patrocínios e apoios de peso, graças à Lei Rouanet - sobre a qual seus ignorantes críticos de plantão nada sabem -, o que nos permite atingir a perfeição, com produções que são motivo de orgulho para os brasileiros. Sei que comigo só poderão concordar os que já tiveram a graça de poder assistir a musicais nos Estados Unidos e na Inglaterra, os dois maiores polos de produção de musicais (O Brasil vem em terceiro lugar.), e que apenas poderão achar que é um exagero e um ataque de ufanismo da minha parte os que não tiveram, ainda, tal oportunidade ou os que não apreciam o gênero.

 



            “Não vamos contar o que se passou nos palcos... O nosso musical vai, justamente, olhar para o 'backstage', para pessoas que abdicam das suas vidas e suas famílias, por meses, para fazer o evento acontecer. O empenho dessas pessoas, em 1984, mudou, completamente, a História. Todos nós, que criamos e produzimos entretenimento no Brasil, devemos muito ao Roberto e à sua enorme capacidade de enfrentar os desafios, para colocar um sonho de pé.”. Essas são palavras de CHARLES MÖELLER, extraídas do “release” que me enviou PEDRO NEVES (Comunicação e Conteúdo), assessor de imprensa da peça. CHARLES, que além da direção, é o autor do texto, chegou à versão final deste após uma minuciosa e intensa pesquisa sobre a época e todas as canções que já passaram pelo festival. Não poderia ter sido mais profundo esse mergulho e sua transposição para o papel e, consequentemente, para o palco.



 

           O texto é descomplicado, simples, ágil, parecendo até despretensioso, mas, no fundo, não o é. CHARLES MÖELLER foi preciso na sua principal intenção, de mostrar a coragem e o propósito de um homem e seu sonho. Sonhar não custa nada; não se paga imposto por isso. De forma inteligente e sagaz, para reforçar a comunicação com público, houve por bem desenvolver uma história de amor paralela à principal. Graças ao autor, descobri, neste espetáculo, que eu e Roberto Medina temos um ponto em comum: uma profunda paixão pelo personagem Dom Quixote. Fiquei, extremamente, emocionado, diante da feliz ideia da dramaturgia, colocando, em dois momentos, o personagem de Miguel de Cervantes, cantando a versão, em português, para a canção “The Impossible Dream” (“O Sonho Impossível”), que faz parte da trilha sonora original do musical “O Homem de la Mancha”.



 

          A direção geral, também de MÖELLER, é cirúrgica, alicerçada por outros elementos que entram na montagem. Ela é um ótimo reflexo da agilidade do texto e da criatividade da direção musical e das coreografias, sobre o que falarei, especificamente, adiante. Uma direção impecável! O musical em tela comemora dois momentos importantíssimos: quatro décadas de realização de um dos maiores festivais de “rock” do mundo e a 50ª assinatura da grife MÖELLER & BOTELHO. São dois feitos que, até agora, ninguém, no Brasil, se não me equivoco, atingiu e, dificilmente, atingirá. Para mim, creio que, só em uma única vez, gostei “menos” de um dos 50 espetáculos da dupla - quase todos musicais -, fazendo questão de dizer que sãos meus preferidos “maestros” do gênero musical.

 


            Todos os artistas de criação se empenharam, ao máximo, para pôr um tijolinho nesta produção, a começar pela cenografia - leia-se ANA BIAVASCHI, calcada em cenários projetados, em altíssima resoluçãode profundo bom gosto e qualidade, deixando o palco livre, na maior parte do tempo, utilizando poucas peças móveis - principalmente cadeiras e mesas -, aproveitadas em algumas coreografias, que entram (nas) e saem das cenas, de acordo com a necessidade de cada uma delas.

 


              Sempre faço questão de nomear os artistas de criação, uma vez que, para o grande público, de praxe, não são lembrados; apenas para quem é assíduo frequentador das salas de espetáculo seus nomes são familiares. Assina os figurinos um dos maiores artistas do gênero neste país, o premiado FABIO NAMATAME, que, como sempre, acerta em seus trabalhos. Aqui, o figurinista não se utiliza de luxo, em suas peças, porém foi acurado, com relação ao que era usado à época em que se passa a história. Seus figurinos refletem nobreza e elegância, mesmo que seja um traje despojado, para jovens.

 


           A iluminação, belíssima, diga-se de passagem, e totalmente funcional, é assinada por VINÍCIUS ZAMPIERI, que brinca, com liberdade criativa e um admirável senso estético, com as luzes, não abrindo mão de uma variadíssima paleta de cores, o que o faz, como já escrevi na crítica anterior a esta, responsável por uma “luz de festa”, uma “luz de comemoração, de celebração”.  

 


             Congratulo-me com ANDRÉ BREDA, por conta de seu excelente desenho de som, que permite a chegada de todo e qualquer ruído aos espectadores acomodados no imponente auditório da Grande Sala da Cidade das Artes (1.235 lugares), onde o espetáculo está sendo apresentado. Muitas vezes, em musicais, não conseguimos entender o que é cantado em cena, porque o som dos músicos encobre a voz de quem canta. Aqui, em momento algum, percebi isso. A equalização dos distintos sons é perfeitíssima.

 


           A história nos leva a um passeio pelos anos 1980, o que exige uma harmonia estética, reflexo da época. É aí que entra, com vigor e profundo conhecimento do assunto, o visagismo, proposto por um nome respeitado entre seus colegas de profissão e por quem, como eu, valoriza esse trabalho: FELICIANO SAN ROMAN, responsável pela maquiagem e pela perucaria. Os cabelos (penteados) criados pelo artista são de um acabamento que, seja de longe, seja de perto, não permite que alguém identifique uma peruca nos personagens, por exemplo.

 


         Tudo é fascinante, nesta obra, e um de seus destaques, com efeito, são as coreografias, criadas pelo talento de MARIANA BARROS, a qual colabora, eficazmente, para o dinamismo sobre um palco. É um colírio para os nossos olhos ver todo o elenco executando, com perfeição, os passos, milimetricamente, criados pela coreógrafa. A valorização e execução dos movimentos são totais. São muitas coreografias, todas alegres e criativas.



 

           Sempre presente - ainda bem - nos espetáculos da dupla MÖELLER & BOTELHO, MARCELO CASTRO, mais uma vez, nos presenteia com uma irrepreensível direção musical, com estupendas surpresas, bem originais, com relação aos arranjos de canções, cantadas ou soladas pela banda, na íntegra ou em pequenas partes, quase que como vinhetas. Exímios músicos fazem parte da banda: o próprio MARCELO, como regente e nos teclados; ANDRÉ DANTAS (guitarra e violão); BETO BONFIM (percussão); EZEQUIEL FREIRE (trompete e flugel); KELLY DAVIS (violino); MÁRCIO ROMANO (bateria); OMAR CAVALHEIRO (baixo acústico e elétrico); SAULO VIGNOLI (violoncelo) e WHATSON CARDOZO (sax e clarinete). Na supervisão musical, o importante e certeiro dedo de CLAUDIO BOTELHO.

 


         Chegamos à apreciação do elenco, e aqui não podemos omitir o nome de MARCELA ALTBERG, ligado à seleção e formação do elenco. Atendeu ao convite da produção, para fazer parte do grupo de atores e atrizes, um estupendo número de candidatos, que são atrelados a outros, convidados para os diversos papéis da peça. É uma responsabilidade muito grande para quem coordena esse trabalho. Sinceramente, em poucas vezes, vi um elenco tão afinado no mesmo diapasão e comprometido, num espetáculo musical, como o de “ROCK IN RIO...”. Refiro-me àqueles que representam os principais personagens e estendo o elogio aos demais, incluindo os “swings”.

 


           São, ao todo, 30 grandes artistas. Sobre aqueles que interpretam os principais papéis, falarei no próximo parágrafo. Os demais são: YAS FIORELO (Suzy / Ensemble), MARIANA GRANDI (Tereza / Ensemble), MARIANNA ALEXANDRE (Lurdinha / Ensemble), SAULO RODRIGUES (Benício / Ensemble), HAMILTON DIAS (Evandro / Ensemble), LEONAM MORAES (Bola / Ensemble), MURILO ARMACOLLO (Eduardo Souto Neto / Ensemble), VINÍCIUS CAFER (Dom Quixote / Ensemble), CEZAR ROCAFE (Manuel / Ensemble), CAIO NERY (Cidinho / Ensemble), ROBERTO JUSTINO (Justin / Ensemble), AMAURY SOARES (Ensemble), ANDREINA SZOBOSZLAI (Ensemble), ANDRESSA SECCHIN (Ensemble), CRISTIANO PRADO (Ensemble), FELIPE SOUZA (Ensemble), GABI MONTE (Ensemble), GABRIEL QUERINO (Ensemble), HENRIQUE REINESCH (Ensemble), KARINE BONIFÁCIO (Ensemble), CÉSAR VIGGIANI (swing), MAVI CARPIN (swing) e VINÍCIUS COSANT (swing).

 



            Que privilégio é ver tantos nomes de formidáveis atores e atrizes, juntos, numa única montagem! Nem sei o que dizer, além de que fazem parte do “Olimpo” dos atores de musicais, sobre RODRIGO PANDOLFO (Roberto Medina), MALU RODRIGUES (Beth), BETO SARGENTELLI (João), BEL KUTNER (Elizabeth), GOTTSCHA (Dora), ANDRÉ DIAS (Oscar / Dom Quixote), BRUNO NARCHI (Luís / Alternante de Roberto Medina) e YARA CHARRY (Marie). Sobre todos, à exceção de YARA, já teci muitas elogiosas considerações, em vários outros espetáculos em que atuaram. Pensem em todos os adjetivos relativos a boa técnica e talento. Todos são aplicados a eles. Quero, porém, destacar um momento que “quase me leva ao Nirvana, quando YARA CHARRY interpreta uma canção, na versão em francês, e que eu adoro, “Happy Togheter” (“Hureux Ensemble”), lançada, originalmente em inglês, em 1967, pela banda estadunidense “The Turtles”, canção que marcou a minha juventude, por um motivo muito particular, que me é bastante caro. Obrigado, ZÉ RICARDO, que criou a extraordinária e eclética trilha sonora da peça. Os números musicais são complementares aos diálogos, nada surge de repente, mesmo os que são cantados em outro idioma (inglês e francês). Às vezes, é apenas uma frase melódica ou uma estrofe, ou mesmo só um instrumental, para dar a intenção de um acontecimento e nos remontar às 10 edições do festival, no Brasil. Como canções marcantes, na trilha sonora selecionada, estão “hits” internacionais, como “Live and Let Die” (Guns and Roses), “We Will Rock You” (Queen), “Viva la Vida” (Coldplay), “Firework” (Katy Perry) e “Crazy in Love(Beyoncé), ao lado de sucessos brasileiros, como “Alagados” (Paralamas do Sucesso), “A Queda” (Gloria Groove), “Vou Deixar” (Skank), “Rádio Blá” (Lobão) e “América do Sul” (Ney Matogrosso).

 



        PANDOLFO não economizou, em talento, na criação do personagem, merecidamente, homenageado. O Medina do ator é humano e com todas as características quixotescas de alguém que persegue, com tenacidade, um “sonho impossível”; para os outros, mas não para ele, que não enxergava aquilo como uma utopia. Como o ator sabe trabalhar as máscaras faciais e o tom de voz, de acordo com os diferentes sentimentos do personagem!

 

Rodrigo Pandolfo.


    Sobre MALU, não posso fugir aos adjetivos que sempre reservo para ela, em todos os trabalhos em que a vejo em cena: linda, ótima atriz e dona de uma inimitável voz, com um extenso alcance, sem o menor esforço físico, um bálsamo para os nossos ouvidos, sem falar no seu carisma. E se resolve muito bem na pele de uma jovem, também sonhadora, de 17 anos, que se desloca de sua cidade natal, no interior do Rio de Janeiro, para a capital fluminense e vai parar na agência de publicidade Arteplan, de propriedade de Roberto Medina, onde nasceu o “Rock in Rio”, disposta a ser uma publicitária.


Malu Rodrigues.

 

    BETO SARGENTELLI é outro grande, no universo dos musicais. Já perdi a conta de quantas vezes, da plateia, a ele lancei gritos de “Bravo!”, por suas fantásticas interpretações, tais quais esta. Como se costuma falar, em tom de brincadeira, que “os baianos não nascem; estreiam”, sobre BETO, digo, seriamente, que ele também “não nasceu; estreou”. Parece que veio ao mundo destinado e pronto para o ofício que abraçou: ator, fundamentalmente, forjado para espetáculos musicais.


Beto Sargentelli (à direita).

 

     BEL KUTNER, na pele de Elizabeth, funciona, neste espetáculo, como um liame. Seria a versão adulta de Beth, narrando e juntando os fios da meada, de forma brilhante. A personagem, assim, é uma testemunha ocular da missão de levantar um grandioso festival de “rock”.


Bel Kutner (à esquerda de Malu.)

 

    GOTTSCHA, como Dora, um dos braços direitos de Medina, na Arteplan, só faz ratificar o que dela penso, como uma de nossas mais importantes “cantrizes”. O estresse da personagem, diante das situações difíceis, adversas, por que passaram os que fizeram o festival acontecer é um termômetro do que aquela gente, de verdade, passou naquele momento.


Gottsha.

 

  ANDRÉ DIAS é um veterano em musicais e interpreta Oscar (Ornstein), outro braço, o esquerdo, “com funções do direito”, para o protagonista. Sua aparição, quase ao final da peça – não vou dar “spoiler”-, na pele de outro personagem, é de arrepiar, e me fez bater mais forte o coração e me esforçar, no sentido de evitar as lágrimas. Que cena emocionante, valorizada pelo talento do ator!


André Dias.

 

    BRUNO NARCHI é Luís. Não há, na teoria, mais braços para Medina, mas ele é como se houvesse um terceiro. Figura marcante em todos os musicais em que o vi atuar, também se sai muito bem em seu personagem.


Bruno Narchi (no centro, em pé).

 

     E sobre YARA CHARRY, só posso dizer que já começa e se desenhar como parte da minha galeria de favoritas atrizes de musicais, desde quando a vi, pela primeira vez, na TV, na novela “Todas as Flores” e, depois, pessoalmente, num musical a que assisti em São Paulo, “Iron, o Homem da Máscara de Ferro”, entretanto não conhecia seu imenso talento de cantora.        

 


Yara Charry. (Fonte desconhecida).



FICHA TÉCNICA:

Um espetáculo de Charles Möeller & Claudio Botelho

Texto e Direção Geral: Charles Möeller

Direção Artística: Claudio Botelho

Supervisão Musical: Claudio Botelho

Trilha Sonora: Zé Ricardo

Direção Musical: Marcelo Castro

 

ELENCO: Rodrigo Pandolfo (Roberto Medina), Malu Rodrigues (Beth), Bel Kutner (Elizabeth), Gottsha (Dora), Beto Sargentelli (João), André Dias (Dom Quixote / Oscar), Bruno Narchi (Luiz), Yara Charry (Marie), Cezar Rocafi, Leonam Moraes, Mariana Grandi, Marianna Alexandre, Murilo Armacollo, Vinicius Cafe, Yas Fiorelo, Amaury Soares, Andreina Szoboszlai, Andressa Secchin, Caio Nery, Cesar Viggiani, Cristiano Prado, Felipe Souza, Gabi Monte, Gabriel Querino, Henrique Reinesch, Karine Bonifácio, Mavi Carpin, Roberto Justino e Vinicius Cosant.

 

Cenografia: Ana Biavaschi

Figurinos: Fabio Namatame

Iluminação: Vinícius Zampieri

Coreografia: Mariana Barros

“Design” de Cabelo e Maquiagem: Feliciano San Roman

“Design” de Som: André Breda

“Casting”: Marcela Altberg

Coordenadora do Projeto: Sheila Aragão

Direção de Produção: Carla Reis

Coordenação Artística: Tina Salles

Assessoria de Comunicação: Pedro Neves (Comunicação e Conteúdo)

Fotos: Caio Gallucci

Realização: Dom Cultural, Moeller & Botelho

Agradecimentos Especiais: Roberto Medina e Equipe Rock in Rio


 

 



 

 


SERVIÇO:

Temporada: De 11 janeiro a 23 fevereiro de 2025.

Local: Cidade das Artes (Grande Sala).

Endereço: Avenida das Américas, nº 5.300, Barra da Tijuca, Rio de Janeiro.

Dias e Horários: Quintas e sextas- feiras, às 20h; sábados e domingos, às 15h e às 19h.

Valor dos Ingressos: Plateia: entre R$ 100 e R$ 200; Frisa Lateral: entre R$ 50 e R$ 100; Camarote 3º Andar: entre R$ 20 e R$ 40; Camarote 4º Andar: entre R$ 20 e R$ 40. A variação nos preços depende da localização dos lugares.

Duração: 120 minutos + intervalo de 15 minutos.

Classificação Indicativa: Livre.

Gênero: Musical.


 


 


 

              Confesso, com total assunção das minhas palavras, que, embora fosse um trabalho de CHARLES MÖELLER e CLAUDIO BOTELHO, parti para assistir a este musical com muita expectativa, mas, também, um pouco, preparado para alguma decepção, porque poderia encontrar, talvez, uma peça com outro viés, diferente de todos os que a dupla sempre nos apresentou, entretanto tudo o que vi, naquela memorável noite de 25 de janeiro de 2025, me pegou bem acima de todas as minhas melhores expectativas.



            Para terminar, lembro o tom de otimismo ,de uma mensagem “para cima”, contida na letra da canção-tema do “Rock in Rio”, criada por Eduardo Souto Neto e Nelson Wellington, que também está no roteiro: “Se a vida começasse agora / E o mundo fosse nosso outra vez / Se a gente não parasse mais de cantar e sonhar, de viver...”.


 

 

 

FOTOS: CAIO GALLUCCI

  

GALERIA PARTICULAR

Fotos: GILBERTO BARTHOLO

e

ANA CLÁUDIA MATOS.






É preciso ir ao TEATRO, ocupar todas as salas de espetáculo, visto que a arte educa e constrói, sempre; e salva. Faz-se necessário resistir sempre mais.

Compartilhem esta crítica, para que, juntos, possamos divulgar o que há de melhor no TEATRO brasileiro!