terça-feira, 25 de junho de 2024

“NÃO ME ENTREGO, NÃO”

OU

(UMA CELEBRAÇÃO!)

OU

(UMA AULA DE

VIDA PROFISSIONAL!)

OU

(UM ODE À VIDA

E AO TEATRO.)



 

            91 anos de idade, mais de 7 décadas de profissão. E lá estava, à minha frente, a menos de dez metros, um homem das artes. Um homem da nobilíssima arte de representar. E eu me esforçava para enxergar ali apenas um artista, um ator, mas não era só isso o que eu via naquele palco; era como se eu estivesse diante de uma “entidade”, vivenciando uma “epifania. E a minha emoção atingiu os píncaros da Acrópole de Atenas. Acomodado na quinta ou sexta fila do Teatro Vannucci, eu era, ao mesmo tempo, um amante de TEATRO, um crítico teatral e um ardoroso fã de um artista; agora, do homem também. Seu nome: OTHON BASTOS.

 

 

 

          Até agora, pergunto-me se, naquela noite de 21 de junho próximo passado (2024), assisti mesmo a uma peça de TEATRO. Não parecia uma representação, uma interpretação de um texto dramático, embora o fosse. Era um homem escancarando seu coração e falando a mais de 400 pessoas, que superlotavam o Teatro, com total lucidez e profunda paixão sobre sua vida pessoal e sua magnífica trajetória pelos palcos, “sets” de filmagem e estúdios de TV, no Brasil e até no exterior.

 

 

 

           A ideia do espetáculo partiu, há bem pouco tempo, do próprio OTHON, que, junto ao amigo de décadas, FLÁVIO MARINHO, manifestou o desejo de se ver num monólogo, o primeiro de sua longeva carreira artística, no qual se propunha a fazer exatamente o que faz naquele palco: conversar com a plateia e satisfazer a porção curiosa de todos os seres humanos. Senti-me num ambiente acadêmico, ouvindo uma “master class” de VIDA e de TEATRO, mas sem a pompa que caracteriza essas ocasiões. Por 90 minutos, o público se sente invadindo, no melhor dos sentidos, a intimidade de um homem e sua ARTE.

 

 

 

           Ante o desejo do querido amigo, FLÁVIO MARINHO escreveu o texto do espetáculo, que também dirige. O roteiro, mais que uma dramaturgia, propriamente dita, nasceu da leitura de um calhamaço de mais de 600 páginas de anotações do próprio punho do ator, entregue ao autor, contendo informações sobre os principais acontecimentos da existência de OTHON. O produto final do texto foi atingido, após uma minuciosa pesquisa de FLÁVIO. Considerando-se a vasta carreira e a coleção de títulos marcantes no cinema e no TEATRO – a TV ficou de fora -, imagino o trabalho de MARINHO, na seleção do que poderia interessar ao público, assim como a sua tristeza por ter que deixar de fora um importante aspecto ou outro da vida e do ofício de OTHON BASTOS, sob o risco de criar um solo com algumas horas de duração. Afinal, só na televisão, de 1956 a 2024, foram mais de 80 trabalhos, entre novelas, teleteatro, séries, minisséries, casos especiais e outras participações. No cinema, de 1962 (“O Pagador de Promessas”) até hoje, são cerca de 80 filmes, com destaque para o icônico “Deus e o Diabo na Terra do Sol” e “O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro”, ambos dirigidos por Glauber Rocha. No TEATRO, de 1950 até os dias de hoje, OTHON reúne outros tantos títulos, tendo representado, como um grande ator eclético, os mais importantes dramaturgos, como Shakespeare, Gil Vicente, Augusto Boal, Strindberg, Tchékhov, Gorki, Guarnieri, Tennessee Williams, Ariano Suassuna, Maria Clara Machado, Brecht e Oswald de Andrade. para citar alguns. De todos os seus espetáculos teatrais, dois me marcaram indelevelmente: “Um Grito Parado no Ar”, de Gianfrancesco Guarnieri (1973) e “Murro em Ponta de Faca”, de Augusto Boal (1978). Fiquei muito feliz, saboreando OTHON declamar parte da letra da canção-título de “Um Grito...”, peça à qual assisti algumas vezes. Mais feliz ainda, quando, terminada a peça, deixamos o Teatro ao som da gravação original, de Toquinho, para a referida canção, que sei cantar até hoje. O refrão: “QUEM SOUBER DE ALGUMA COISA VENHA LOGO ME AVISAR. SEI QUE HÁ UM CÉU SOBRE ESSA CHUVA E UM GRITO PARADO NO AR.”. No cinema, minha preferência recai sobre “São Bernando”, um filme de Leon Hirzsman (1972). A sequência final, que corresponde ao último capítulo da obra de Graciliano Ramos, é um primor de direção e atuação.  

 



    Sem querer dar qualquer tipo de “spoiler”, quero agradecer a uma certa professora, por seu equivocado vaticínio. Se ela tivesse que trocar o magistério por consultas de cunho “ocultista”, teria morrido de fome. E também confessar que fiquei muito emocionado com a declaração de amor que o ator faz a sua esposa, há 57 anos, Martha Overbeck.

 

 

 

   Sempre acho que os grandes artistas brasileiros não recebem o merecido reconhecimento, por parte da imprensa e, até mesmo, do grande público; principalmente em vida. Apesar das suas várias nomeações a prêmios de TEATRO e cinema, tendo vencido muitos, continuo achando que OTHON BASTOS merecia muito mais.

 

 

 

    O “release” da peça, que recebi de BRUNO MORAIS (Marrom Glacê – Assessoria de Imprensa”), diz que OTHON é considerado “o maior ator brasileiro vivo”. Confesso que não sou muito chegado a essa história de “o/a mais isso ou aquilo” e jamais havia pensado nisso, porém, depois de ter lido isso, fiz um exercício de memória, levando em consideração a idade dos atores ainda em atividade e acabei me rendendo a tal consideração. Que ainda possamos vê-lo atuando por mais tempo, até porque, do ponto de vista da resistência física, o ator “está em forma”. Não é fácil, para um homem  de 91 anos, ficar em cena, durante uma hora e meia, sem parar de falar e se movimentar - até pulinhos ele dá -, e sair da sessão cansado, evidentemente, mas inteiro, a ponto de se dispor a receber os amigos e tirar fotos com quem as solicita a ele.

 

 

 

  Apenas a memória, às vezes parece falhar. Ou seria “fake”? Mas, para auxiliá-lo a se lembrar do texto, há, em cena, a presença da atriz JULIANA MEDELLA, que representa a sua “memória”. Ela também é a assistente de direção da peça.


 

 

     Acho bem interessante o formato da peça, dividida em blocos temáticos: trabalho, amor, TEATRO, cinema, política..., cujas reflexões envolvem citações e referências de alguns dos autores mais importantes do mundo. "A peça é uma lição de vida e de resiliência, de como enfrentar os duros obstáculos que se apresentam em nossa existência - e como superá-los.".

 

 

 

            E pensar que os primeiros trabalhos de OTHON, desde seus 11 ou 12 anos, foi para substituir algum outro ator... Mas é o próprio ator que diz: “O Chico Xavier já dizia que se uma coisa é sua, ela te encontra, não é preciso se preocupar.”. Eu diria que, com relação a OTHON BASTOS e o TEATRO, ambos se procuraram; e se encontraram.

 

 

 

             Recuso-me, terminantemente, a perder um segundo sequer para analisar o trabalho de OTHON BASTOS em cena. "Não tenho nem roupa para isso". Minha ousadia e impertinência não chegariam a tanto. OTHON BASTOS é o suprassumo da perfeição. Deixo, então, para ocupar meu tempo com algumas observações sobre os demais elementos que entram numa produção de TEATRO, como a cenografia, por exemplo, que, aqui, na FICHA TÉCNICA é chamada de direção de arte, assinada por RONALD TEIXEIRA. Logo que adentrei o salão do Teatro e me deparei com aquele estupendo painel ao fundo do palco, não tive olhos para mais nada. Que obra tocante, sensível, delicada, de bom gosto e muito bem acaba é o trabalho do artista! Quadros de artes e cenas de filmes e peças marcantes na vida do ator formam um painel belíssimo, em molduras deslumbrantes, a valorizar cada uma daquelas imagens. Depois do impacto dessa primeira visão, detive-me numa cadeira de diretor de cinema no meio do palco e, ingenuamente, pensei: um homem de 91 anos não pode ficar em pé o tempo inteiro da peça. É bem provável que ficará o maior tempo de duração do espetáculo sentado nela. Ledo engano!. Ele a utiliza muitíssimo menos tempo do que imaginei Há, também num dos cantos do palco, um cabide de pé. Na outra extremidade, uma carteira escolar, onde a atriz que faz “memória” fica sentada, atenta, durante, praticamente, todo o espetáculo; o “ponto” do ator. Considero muito interessante a escolha de uma carteira escolar: é uma discípula diante de seu mestre.

 

 

 

      Não vi, na FICHA TÉCNICA, o nome de ninguém responsável, especificamente, pelo elegante figurino usado pelo ator. Certamente, foi criado por RONALD TEIXEIRA, dentro da rubrica "direção de arte". FERNANDO OCASIONE assina o visagismo do espetáculo e LILIANE SECCO, sempre presente nas montagens de FLÁVIO MARINHO, é responsável pela correta trilha sonora do solo. A luz, de PAULO CESAR MEDEIROS, dispensa qualquer comentário, de tão correta e bonita. Quanto à direção, de FLÁVIO MARINHO, também muito ela me agradou, mas fiquei com a impressão de que, diante daquele monumento de ator, o diretor não teve muito o que fazer, a não ser deixá-lo livre para o voo. Fosse eu o diretor da peça, diria a OTHON: "Fique à vontade! O palco é todo seu! Estou aqui apenas para aplaudi-lo"

 

 

 


FICHA TÉCNICA: 

Texto e Direção: Flavio Marinho


Elenco: Othon Bastos

 

Diretora Assistente e Participação Especial: Juliana Medella

Direção de Arte: Ronald Teixeira

Iluminação: Paulo Cesar Medeiros

Visagismo: Fernando Ocazione

Trilha Sonora: Liliane Secco

Programação Visual: Gamba Júnior

Fotos: Beti Niemeyer

Alfaiataria: Macedo Leal

Coordenação de Produção: Bianca De Felippes

Consultoria Artística: José Dias

Assessoria de Imprensa: Marrom Glacê Comunicação

Assessoria Jurídica: Roberto Silva

Coordenador de Redes Sociais: Marcus Vinicius de Moraes

Assist. de Diretor de Arte: Pedro Stanford

Assistente de Produção: Gabriela Newlands

Administração: Fábio Oliveira

Desenho de Som e Operador: Vitor Granete

Operador de Luz: Marco Cardi

Contrarregra: Paulo Ramos

Realização: Marinho d’Oliveira Produções Artísticas

 

 

 



 

 

 

SERVIÇO:

Temporada: De 14 de junho a 28 de julho de 2024 (Observação: Não haverá espetáculo no dia 05/07.).

Local: Teatro Vannucci.

Endereço: Rua Marquês de São Vicente, nº 52 – Shopping da Gávea – 3º piso – Gávea – Rio de Janeiro.

Telefone: (21) 2274-7246.

Dias e Horários: 6ª feira, às 20h; sábado, às 20h30; domingo, às 20h.

Valor dos Ingressos: 6ª feira e domingo: R$ 50 (meia-entrada) e R$ 100 (inteira); sábado: R$ 60 (meia-entrada) e R$ 120 (inteira).

Classificação Indicativa: 12 anos.

Duração: 90 minutos.

Gênero: Monólogo.



 

 

            RECOMENDO, SEM PESTANEJAR, O ESPETÁCULO E JÁ AGENDEI UMA DATA PARA REVÊ-LO. Saí do Teatro Vannucci com a convicção de que vivenciei ali um dos momentos mais lindos e importantes, para mim, no TEATRO BRASILEIRO. E mais: penso que todos os grandes atores e atrizes vivos, evidentemente, deveriam seguir o exemplo de OTHON BASTOS e abrir o seu baú de recordações e compartilhá-lo com quem os ama e admira. E mais esta: Todas as escolas de formação de atores da atualidade deveriam obrigar seus alunos a assistir a este espetáculo. Tenho dito!

 

 



 

 


FOTOS: BETI NIEMEYER

 

 


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segunda-feira, 24 de junho de 2024

“ÂNIMA”

ou

(“ÂNIMA” ANIMA O ÂNIMO.)

ou

(SOMA DE MUITOS ACERTOS.)





           Não se deve mexer em time que está ganhando.”, diz o dito popular. E parece que a afirmação é bem verdadeira. Desde o ano passado até os dias atuais, um espetáculo vem alcançando muito sucesso, inclusive merecedor de premiações – e deveria ter recebido muitos mais, a meu juízo –, reunindo três nomes que ora voltam a trabalhar juntos: LÚCIA HELENA GALVÃO, a dramaturga; LUIZ ANTÔNIO ROCHA, o diretor; e BETH ZALCMAN, atriz. O espetáculo em questão é “Helena Blavatsky, A Voz do Silêncio”. Os três estão de volta, desta vez com “ÂNIMA”, outro solo, no qual a autora, motivada por uma frase da filósofa, música e escritora argentina Delia Steinberg Guzmán, homenageia seis mulheres que foram muito importantes para a Humanidade: Simone Weil, Joana D’arc, Helena Blavatsky, Harriet Tubman, Marguerite Porete e Hipátia De Alexandria. As seis têm em comum a coragem de lutar por seus ideais e jamais traí-los, nem que, para isso, tivessem que pagar com a própria vida. Da mesma forma como, genialmente, se comportou na direção de “Helena Blavastsky, A Voz do Silêncio”, LUIZ ANTÔNIO dirige o espetáculo, no qual BETH também esbanja o mesmo talento já nosso velho conhecido. A referida frase motivadora da peça:


“Desde sempre, e para sempre, toda mulher tem parentesco com a primeira estrela brilhante que levou luz ao azul profundo do céu.”

(Delia Steinberg Guzmán)


 

 


 


SINOPSE:

“ÂNIMA” é uma história sobre mulheres que mudaram o curso da história da humanidade, contada por uma tecelã.

A personagem entrelaça os fios da vida, em busca de sua ancestralidade feminina, dando voz a seis mulheres idealistas e pensadoras: Simone Weil, Joana d'Arc, Helena Blavatsky, Harriet Tubman, Marguerite Porete e Hipátia de Alexandria.

Cada fio conta uma história, que, escrito nas estrelas, ecoa através dos séculos.

 



         LÚCIA HELENA GALVÃO é uma filósofa, professora, escritora, poetisa e conferencista. Como voluntária, há 35 anos, ministra aulas e profere palestras na organização Nova Acrópole do Brasil sobre diversos temas relacionados à Filosofia. Sua principal característica, o que a faz contar com um enorme números de alunos, leitores e seguidores, é o fato de trazer uma área tão “confusa e hermética”, como são os temas filosóficos, para um nível prático e aplicável, estabelecendo conexões entre conhecimentos antigos e a atualidade. Ela trabalha a filosofia num patamar menos complicado, em “língua de gente”, como dizia o grande inventor de palavras João Guimarães Rosa. Este é o terceiro texto para TEATRO de uma escritora que resolveu contar os feitos de grandes mulheres da História pelo olhar de uma tecelã, a personagem de BETH ZALCMAN. Um pouco de cada heroína, na ordem em que são apresentadas ao público:


Lúcia Helena Galvão.

(Foto: Internet.)

 

1)   Simone Weil foi uma escritora, mística e filósofa francesa, que se tornou operária da montadora de automóveis Renault, apenas para escrever sobre o cotidiano dentro das fábricas, para que seus escritos fossem mais realistas, os mais próximos possíveis da realidade daquelas pessoas oprimidas e exploradas pelos patrões. Lutou na Guerra Civil Espanhola, ao lado dos republicanos, e na Resistência Francesa, em Londres. Acometida de tuberculose, não teria admitido se alimentar, além da ração diária permitida aos soldados, nos campos de batalha, ou aos civis, pelos tíquetes de racionamento. Com a progressiva deterioração de seu estado de saúde, em estado de desnutrição, faleceu poucos dias depois de seu internamento hospitalar. Simone Weil era dotada de uma capacidade ímpar de ver, simbolicamente, a vida e aprofundar-se em seus segredos mais íntimos.


 


 

2)   Joana D’Arc foi uma camponesa que liderou tropas francesas durante a Guerra dos Cem Anos. Conquistou significativas vitórias para a França, quebrando um ciclo de derrotas daquele país. Capturada pelos ingleses, foi julgada e condenada por bruxaria, sendo morta na fogueira, aos 19 anos de idade. Em 24 de maio de 1430, Joana teria sido presa por franceses aliados aos ingleses. A partir daí, teria sido julgada e condenada. Sua “ficha prisional” incluiu acusações de heresia e bruxaria, o que só aconteceu com mais força por ser mulher, em posição de destaque. Foi canonizada pela mesma Santa Madre Igreja Católica que a assassinou na fogueira. Joana foi uma inesquecível guerreira e idealista.


 


 

3)   Helena (Petrovna) Blavastky, mais conhecida como Helena Blavatsky ou Madame Blavatsky, foi uma ativa escritora russa, responsável pela sistematização da moderna Teosofia e cofundadora da Sociedade Teosófica. Segundo várias testemunhas, logo se mostrou dotada de poderes psíquicos ou sobrenaturais, e a tradição existente sobre ela diz que era capaz de materializar flores, levitar pequenos objetos e de produzir outros prodígios. De personalidade complexa, dinâmica e independente, desde pequena, Blavatsky mostrou possuir um caráter forte e dons psíquicos incomuns. Imediatamente após um casamento frustrado, deixou o esposo e partiu, em um longo período de viagens, por todo o mundo, em busca de conhecimento filosófico, espiritual e esotérico, e, nesse intervalo, alegou ter passado por inúmeras experiências fantásticas, entrado em contato com vários mestres de sabedoria, tendo recebido deles, na condição de discípula, um treinamento especial, para desenvolver seus poderes paranormais de forma controlada, a fim de que pudesse servi-los como instrumento para a instrução do mundo ocidental. A partir de 1873, iniciou sua carreira pública nos Estados Unidos e, em pouco tempo, se tornou uma figura tão celebrada quanto polêmica. Helena Blavatsky foi duramente condenada por seus contemporâneos, por sua ousadia e originalidade.

 

 


 

4)   Harriet Tubman foi uma abolicionista e ativista norte-americana. Nascida escravizada, foi espancada e açoitada por seus vários senhores durante a infância. Ainda jovem, sofreu uma lesão craniana traumática, quando um senhor de escravo jogou um pesado peso de metal num escravo fugitivo, mas acabou acertando-a. A lesão causou-lhe tonturas, dores e períodos de sonolência excessiva, que ocorreram ao longo de sua vida. Depois do ferimento, começou a ter visões estranhas e sonhos vívidos, os quais atribuiu a premonições de Deus. Estas experiências, combinadas com sua educação metodista, levaram-na a se tornar uma religiosa devota. Tubman escapou de seus algozes e, subsequentemente, fez 19 missões para resgatar centenas de pessoas escravizadas, incluindo familiares e amigos, usando uma rede de ativistas anti-escravatura e abrigos. Durante a Guerra Civil Americana, ela serviu como batedora armada e espiã para o exército da União. Em seus últimos anos, Tubman tornou-se uma ativista pela causa do voto feminino.

 



 

5)   Marguerite Porete foi uma “beguina” (As beguinas viviam em beguinários, que eram grupos autossuficientes de casas individuais, frequentemente cercadas e congregadas ao lado de uma igreja, em ambientes urbanos. Elas atendiam pobres e enfermos, em hospitais e asilos para pacientes de hanseníase ou em suas próprias enfermarias.) do século XIII, nascida no condado de Hainaut, entre os atuais território da Bélgica e Holanda. Como beguina, fez o serviço em comunidade com outras mulheres, que viviam do seu próprio trabalho. As beguinas superavam os limites impostos pelo clero, cultivando uma mística própria de encontro com o divino. Sobre ela, as informações são escassas. Não há muita notícia sobre a sua vida, a não ser pelos autos do processo inquisitório que a levou à morte, em 1310, condenada como “herética recidiva, relapsa e impenitente”. Foi a grande pensadora e mística do século XII, que nos legou a reconhecida obra “Espelho das Almas Simples e Aniquiladas que Permanecem Somente na Vontade e no Desejo do Amor”, a qual lhe rendeu uma condenação à morte, na fogueira.

 

 

6) Hipátia de Alexandria, ou Hipácia de Alexandria, foi uma filósofa neoplatônica do Egito Romano. Foi a primeira mulher documentada como tendo sido matemática. Como chefe da escola platônica, em Alexandria, também lecionou filosofia e astronomia. De acordo com uma única fonte contemporânea, Hipátia foi assassinada por uma multidão de cristãos, depois de ter sido acusada de exacerbar um conflito entre duas figuras proeminentes em Alexandria: o governador Orestes e o bispo de Alexandria, Cirilo. Defendia liberdade de religião e de pensamento. Acreditava que o Universo era regido por leis matemáticas. Tais ideias suscitaram a ira de fundamentalistas cristãos, os quais, em plena decadência do Império Romano, lutavam por conquistar a hegemonia cultural. Hipátia foi uma culta investigadora, vítima do fanatismo de seu tempo.

 



Por que o título da peça? Anima” é uma palavra latina, originalmente usada para descrever ideias como respiração, alma, espírito ou força vital. Jung começou a usar o termo, no início dos anos 20, para descrever o lado feminino interno dos homens. Literalmente, sua tradução, em português, seria “alma”; a “alma feminina”. ÂNIMA’ é uma peça que fala da alma feminina.

 

 

 

         O que a dramaturga deseja, com seu brilhante texto, é tornar conhecidos os pensamentos, a coragem e as lutas dessas seis mulheres, representando tantas outras que também deram sua vida pela liberdade de pensar e existir, com autenticidade, de todos os seres humanos. Esse é o fio condutor de “ÂNIMA”. “No monólogo, uma tecelã, interpretada por Beth Zalcman, entrelaça fios em busca da sua ancestralidade feminina, por meio das vozes destas grandes idealistas e pensadoras da humanidade. Cada fio revela histórias e conquistas dessas mulheres. Esses fios estão presentes na iluminação e na cenografia, sobre as quais falarei mais adiante. No fundo, o espetáculo quer retratar o poder transformador das mulheres, cada vez mais importante no mundo atual. A coragem e a resistência daquelas seis mulheres ainda estão, felizmente, presentes em tantas outras do nosso dia a dia, famosas ou não. Segundo a autora, “Este é um belo ‘arsenal’ de habilidades femininas. Embora não pretendamos esgotar todo o potencial feminino com essa breve reflexão, queremos destacar o poder transformador que as mulheres trazem consigo. Elas preenchem muitos dos ‘vazios’ que tanto afligem a humanidade, e é fundamental reconhecer e valorizar suas contribuições”.

 

 

 

         Dirige o solo LUIZ ANTÔNIO ROCHA, que atua em todos os segmentos artístico-culturais, criando e produzindo projetos para todos os perfis de público. São quase 40 anos dedicados à produção de qualidade com temáticas relevantes. No TEATRO, assinou a direção de grandes espetáculos, como “Uma Loira Na Lua”, “Frida Kahlo, A Deusa Tehuana”; “Brimas”; “Zilda Arns, A Dona Dos Lírios”, escrita por ele; “Paulo Freire, O Andarilho Da Utopia”; “Helena Blavatsky, A Voz Do silêncio”, em cartaz até hoje; e “O Profeta”. Quando há uma grande afinidade entre diretor e elenco, qualquer trabalho flui melhor e o resultado final, via de regra, é bom. Graças à enorme cumplicidade entre LUIZ ANTÔNIO ROCHA e BETH ZALCMAN, iniciada em “Brimas” e solidificada em “Helena Blavatsky, A Voz Do silêncio”, estamos diante de um grande espetáculo teatral. Ele é cirúrgico nas suas ideias de decodificação do texto e, de forma bastante inventiva, valendo-se da equipe de criação à sua volta, assina a direção de um dos melhores espetáculos em cartaz no Rio de Janeiro, no momento.

 

 

Luiz Antônio Rocha.

(Foto: Internet.)

 

         Com relação a essa equipe, destaca-se o nome de RICARDO FUJII, responsável por um projeto de luz digno dos maiores elogios. Quando escrevi sobre o espetáculo “Helena Blavatsky, A Voz Do silêncio”, no qual RICARDO também assinava o desenho de luz, fiz referência a uma iluminação com a qual a atriz contracenava. Agora, não é diferente; e em maior grau. No bom sentido, o artista abusou no emprego de raio laser e conseguiu construir traços e feixes de luz que se incorporam à cenografia; são, também, elementos cênicos, no final, de uma beleza rara. Em duas cenas, em que as personagens acabam incineradas numa fogueira, FUJII preparou, para o público, uma agradável surpresa.

 

 



 

         Já que falei em cenografia, a direção optou por um palco nu, deixando à vista do público até as coxias. É o espaço de criação para a atriz. E o público pode imaginar o que bem entender, já que, como diz, e repete, BETH ZALCMAN, “o TEATRO é um oceano de possibilidades”, que comporta, inclusive, numa das cenas, a entrada de um drone, que leva uma carta até a atriz, para o grande espanto da plateia. Há, entretanto, para “rechear” um pouco o amplo espaço e cobrir a “nudez” desse palco, a entrada de uma cadeira, um microfone num pedestal, um cabide de pé e três espelhos, para serem utilizados, como apoio à interpretação, em alguns trechos da peça. Quando, num dos parágrafos acima, falei na presença dos “fios” em cena, estava querendo me referir aos múltiplos e coloridos feixes de luz, produzidos pela ação do laser, projetado sobre minúsculas esferas de vidro – obra de um gênio – e os fios vermelhos que revestem a já citada cadeira, um dos traços marcantes da obra da artista plástica THANARA SCHORNADIE.  

 

 

 

É também criação de THANARA o instigante figurino vestido pela atriz. É uma curiosa peça, de difícil descrição, em tecido cru, ao que parece, que vai sendo modificada, ao longo da encenação, por acréscimo de partes e detalhes, acessórios, estes caracterizando cada uma das mulheres interpretadas.

 

 

E o que dizer sobre BETH ZALCMAN? Além de uma fabulosa atriz, também é autora. Apesar de estar mais em atividade no cinema e na televisão, BETH é, na minha maneira de analisar o trabalho de quem representa, uma atriz de TEATRO, com 40 anos de carreira artística. Ela nos brinda, e encanta, com seis interpretações impecáveis. A cada uma das personagens, imprime uma identidade singular, contudo mantém, em todas, uma característica que admiro deveras: o falar pausado, com muitas variações de tonalidade. BETH saboreia e valoriza cada vocábulo. E quem ganha com isso é o espectador.     

 

 

 

 

 

 

FICHA TÉCNICA:

 

Idealização: Beth Zalcman e Luiz Antônio Rocha

Argumento e Texto Original: Lúcia Helena Galvão

Encenação: Luiz Antônio Rocha

 

Interpretação: Beth Zalcman

Cenografia: Luiz Antônio Rocha e Toninho Lôbo

Confecção da Cadeira: Thanara Schornadie e Mailson Alves Carvalho / @chokoartes

Figurino: Thanara Shornadie

Projeto de Luz: Ricardo Fujii

Trilha Sonora e Preparação Vocal: Breno Pezurno

Sonoplastia: Anderson de Almeida / Take Final

Preparação Corporal: Miriam Weitzman

Assessoria de Imprensa: Mario Camelo (Prisma Colab)

Fotos: Marcelo Estevão – Modus Focus e Jow Coutinho

Mídias Sociais: Felipe Pirillo / Inspira Teatro

Visagismo: Neandro

Técnico de Luz: Gabriel Oliveira

Operador de Luz: Paulo Roberto

Técnico e Operador de Som: Luan Araújo

Diretor de Palco: Lincoln Batistela

Direção de Produção: Luiz Antônio Rocha

Produção Executiva: Zilene Vieira

Parceria: Nova Acrópole

Realização: Espaço Cênico, Mímica em Trânsito e Teatro em Conserva

 

 

 


 

 

SERVIÇO:

Temporada: De 31 de maio a 30 de junho de 2024.

Local: Teatro Fashion Mall.

Endereço: Estrada da Gávea, nº 899, São Conrado – Rio de Janeiro (São Conrado Fashion Mall).

Dias e Horários: 6ª feira e sábado, às 20h; domingo, às 19h.

Valor dos Ingressos: R$ 120 (inteira), R$ 60 (meia-entrada) e R$ 70 (Vivo Valoriza).

Vendas Antecipadas: https://bileto.sympla.com.br/event/92852/d/250164/s/1707505 

Informações: (21) 99857-8677.

Lotação: 430 lugares. 

Duração: 60 minutos.

Classificação Etária: 12 anos.

Gênero: Monólogo.

 

 

 


 

         “ÂNIMA” é um espetáculo muito oportuno, visto que pretende retratar o poder transformador das mulheres, tão em foco no momento. A peça quer “contribuir para a compreensão da condição feminina em seus diferentes aspectos culturais, inclusive determinando as imagens do feminino no mundo contemporâneo”. E o consegue. “ÂNIMA” é o feminino em sua máxima expressão. Cabe, agora, a mim, atriz, girar a roda do tear e dar vida a elas!”, enfatiza BETH ZALCMAN. Não tenha dúvidas quanto a isso, BETH! O espetáculo sai de cartaz no próximo final de semana, mas seria ótimo se voltasse em outra temporada. Já assisti a ele duas vezes e recomendo-o muito!

 

 

 

 

FOTOS: MARCELO ESTEVÃO (MODUS FOCUS)

 e

JOW COUTINHO.

 

 

 

GALERIA PARTICULAR

(Fotos: Ana Cláudia Matos

e

João Pedro Bartholo.)

 














































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