quarta-feira, 4 de novembro de 2020

 

NA COXIA, COM...

... AMANDA ACOSTA.



(Amanda Acosta - Foto: João Caldas.)

 

            A entrevistada de hoje é uma das mais completas atrizes do TEATRO BRASILEIRO, além de ser uma figura humana rara, nos dias de hoje; extremamente educada, simpática, gentil, generosa, empática, amiga dos seus amigos e mais uma penca de outras qualidades.

            Embora ela resida em São Paulo e eu, no Rio, estamos, sempre que possível, mantendo um bom contato, com o auxílio da tecnologia, e, quando nos encontramos, presencialmente, aqui ou lá, é uma alegria só, porque é muito bom ser amigo de AMANDA ACOSTA, além de um grande privilégio, e conversar com ela, não só sobre TEATRO, como também acerca das coisas da vida, fora do palco. Infelizmente, são bem raros esses momentos, pelos mais de 400km que nos separam e pelos ritmos de nossas vidas e seus rumos diferentes, mas eu os aproveito até a última gota.

            AMANDA iniciou-se, na vida artística, muito cedo, criança ainda, via música, mas é como atriz, ou melhor “cantriz”, que ela é mais conhecida, tornando-se uma das mais requisitadas pelos diretores e produtores de TEATRO MUSICAL.

            Uma pequena digressão, para falar do vocábulo “cantriz”, empregado no parágrafo anterior, termo de que gosto muito e acho bastante significativo, motivo pelo qual dele faço uso com bastante frequência: trata-se de um “neologismo” (criação nova no vocabulário de uma língua), que define as “atrizes que cantam ou as cantoras que atuam”. Não se tem certeza de quem o cunhou, porém sua origem é atribuída ao grupo “As Frenéticas”, que se autointitulavam “cantrizes”, desde a década de 70, muito embora seja empregado por poucas pessoas, fora do meio artístico, do universo teatral, e, só nas duas últimas décadas, venha aparecendo com maior frequência.

O TEATRO MUSICAL exige, do ator ou atriz, que, além de representar, cante muito bem, de preferência, e dance, da mesma forma, embora haja quem “engane direitinho” nesses dois quesitos. AMANDA domina os três “fazeres” com maestria, destacando-se na interpretação e no canto.

            Ela consegue construir suas personagens com incrível perfeição e canta divinamente, com uma afinação absolutamente correta, atingindo notas altíssimas, de uma forma cristalina, nas suas emissões vocais.

            Ainda que suas primeiras experiências artísticas tenham sido no campo da música, como já disse, há quem não saiba acerca de seu passado como cantora, entretanto, quando o assunto é TEATRO MUSICAL, não há, entre os que apreciam o gênero, quem não a  conheça, e seu nome é uma unanimidade, como sinônimo de “grande atriz de musicais”.

            Por conta do TEATRO MUSICAL, AMANDA já recebeu dezenas de indicações aos mais importantes prêmios de TEATRO e conquistou, merecidamente, muitos deles, principalmente nos últimos anos, por conta de seus três mais recentes trabalhos (“Bibi – Uma Vida Em Musical”, “Carmen, A Pequena Grande Notável” e “As Cangaceiras, Guerreiras do Sertão”). Ela é um “talismã”. Qualquer espetáculo que traga seu nome na ficha técnica está fadado ao sucesso. E por conta de quê? De um talento gigantesco, que não sei como cabe numa pessoa de estatura baixa e compleição física tão frágil e delicada.

            Haverá, nesta entrevista, uma pergunta ou outra que, na íntegra ou sofrendo algumas adaptações, já foram feitas em entrevistas anteriores, a outros entrevistados, mas são necessárias.

É com muita honra e orgulho que vamos “bater um papo” com a queridíssima AMANDA ACOSTA.


(Amanda Acosta - Foto: João Caldas.)

 

1) O TEATRO ME REPRESENTA: AMANDA, já começo por lhe pedir desculpas, se o nível das perguntas não estiver à sua altura, mas eu não tenho formação em jornalismo. Minha “praia”, como você sabe, é o TEATRO, e é como crítico, jurado de prêmios e, antes de tudo, fã, absolutamente consciente, do seu trabalho, e amigo, que me proponho a lhe fazer alguns questionamentos, sobre a sua carreira, começando por querer saber desde quando você foi “mordida pelo bichinho das artes” e se, desde criança, tinha alguma pretensão de se tornar uma profissional, e bem sucedida, na música.

AMANDA ACOSTA: Um prazer esta troca de experiências de arte, de vida! Costumo dizer que minha profissão me escolheu antes de que eu a tivesse escolhido. O quintal de casa era meu palco. Cantava, dançava, criava histórias. Sempre que meus primos, primas, tias e tios iam em casa, eu fazia uma apresentação para eles. A minha primeira apresentação para o público foi com quatro anos e meio.


(Foto: Leekyung Kim.)


2) OTMR: Fale, sucintamente, da carreira de cantora, especificamente. Trace a trajetória da AMANDA, unicamente como cantora, até as primeiras experiências no TEATRO.

AA: Minha primeira apresentação foi no Raul Gil, cantando, ao vivo, “Ursinho Pimpão” do “Balão Mágico”. Eu tinha quatro anos e meio. Errei a segunda parte da música e comecei a chorar. O perfeccionismo vem desde o útero maternos! (RISOS.) Depois dessa apresentação, não parei mais. Participei de outros programas de calouros da época, dublando “On My On”, da Nikka Costa. Depois, o grupo “Amanda e as Netinhas”, formado por mim, minhas duas irmãs e minhas duas primas. Netinhas vem do nosso sobrenome, Neto. Fazíamos “show”, em São Paulo, na capital e no interior. No “show”, dublávamos algumas músicas, como “On My Own”, da Nikka Costa, “Sweet Nothin’s”, da Brenda Lee, “Datemi un Martello”, da Rita Pavone... E, também, cantávamos, ao vivo, algumas músicas que foram compostas para o grupo. Era a família, viajando, para cima e para baixo, na Kombi do meu pai, para fazer os “shows”. Gravamos duas músicas inéditas e gravei o tema de um programa infantil, na rádio USP, “Quintal Encantado”, que era apresentado por José Damião. Depois, entrei no grupo “Do Ré Mi”, no qual fiquei um ano, com um disco gravado. Eu era muito fã do “Trem da Alegria”, e meu sonho era fazer parte do grupo. Abriram testes, para escolher o novo integrante e eu fiz. A princípio, não entrei. Depois de um ano, eles me chamaram e realizei meu sonho. Entrei para o grupo, que eu amava, e com o qual me identificava! A música, o TEATRO e a dança sempre estiveram presentes na minha trajetória. Eles se misturam.


(Amanda Acosta - aos 9 anos, no "Xou da Xuxa").

Foto: Origem desconhecida.)


3) OTMR: Um dia, você foi, novamente, mordida por um “bichinho”. Dessa vez, especificamente, o do TEATRO. Quando aconteceu isso? Quando descobriu que, também, gostava de representar e sabia fazê-lo; e muito bem?

AA: Foi uma coisa natural. Sempre representava, cantando, dançando, proseando. Nos “shows” do “Trem...”, sempre havia cenas entre as músicas. A primeira peça que fiz foi o musical “O Mágico de Oz”, no Teatro Casa Grande, no Rio, com direção de Francis Mayer, em 1993. Eu tinha quinze anos. Lembro-me dos ensaios, das apresentações. O elenco era incrível: Dhu Moraes, Bruno Garcia, Charles Pavarenti e Vinícius Mane. Foi maravilhoso conviver, aprender com todos esses atores, que tanto admiro e respeito, com o Francis, com o diretor musical. Amava fazer o espetáculo. Voltei para São Paulo e fiz a primeira peça, na minha cidade, aos dezoito anos, “No Reino das Águas Claras”, com direção de Milton Neves, produção de Cíntia Abravanel. Eu interpretava a Narizinho.


(Estreia como atriz de TEATRO, aos 15 anos de idade 

- Foto: Marcos Viana - gentilmente cedida por Francis Mayer.)


4) OTMR: Você fez muito TEATRO amador, antes de se profissionalizar? Fale-nos um pouco sobre essa experiência, caso ela tenha acontecido na sua vida.

AA: Frequentei muito o “Sarau dos Charles”, antes de fazer minha primeira peça em São Paulo. Apresentei um esquete de “Gota D’Água”, nesse sarau e em outros lugares. E fiz uma peça de rua.


(Foto: Divulgação.)


5) OTMR: Como cantora, você teve alguma formação acadêmica? Estudou canto? E, como atriz, por onde passou como “aluna”?

AA: Não. Minha formação vem da prática e do encontro com professores de canto, que tive até agora. Fiz aula de canto lírico e popular, com professores maravilhosos. Com o TEATRO, o mesmo caminho. Para mim, cada espetáculo é um curso de TEATRO. Aprendo com todos. Temos aulas a cada ensaio. Fiz alguns cursos de TEATRO: um ano de Tablado (RJ); Curso de Teatro Pathernon (SP); Núcleo Experimental de Artes Cênicas do Teatro do SESI (SP); Formação de Atores do CPC-UMES, coordenado por Denoy de Oliveira (SP). E mais algumas oficinas.


(Foto: Divulgação.)


6) OTMR: Como a família da “AMANDINHA” se comportava, diante da vontade da menina em ser artista? Como cantora? Como atriz?

AA: Sou muito grata aos meus pais, por terem tido a sensibilidade e a escuta da necessidade da minha alma. Sempre me apoiaram e me ajudaram a trilhar o meu caminho. Respeitaram a minha vontade. Nada foi imposto por eles, e eles nunca me tiraram da realidade. Sou da zona leste, Itaquera, e nunca deixei de brincar com meus amigos, descalça, na rua, por estar no grupo mais famoso do Brasil. Devo isso a eles, os valores reais da vida.


(No "Trem da Alegria" - Divulgação.)


7) OTMR: Gostaria de que nos falasse um pouco de sua experiência na TV, desde a primeira até a última participação. E por que não “frequenta” mais a telinha?

AA: Minha primeira apresentação, como já disse, foi no programa do Raul Gil, aos quatro anos e meio. Depois, foram os comerciais, apresentações em todos os programas de TV, com os grupos de que fiz parte. A primeira novela, aos quatorze anos: “O Mapa da Mina”, (Rede Globo/1993), de Cassiano Gabus Mendes. Personagem: Eva. Direção: Paulo Ubiratan. “Ô Coitado” (SBT/2000). Personagem: Tábata. Direção: Rodrigo Campos. Projeto: “Senta, Que Lá Vem Comédia”, em 2005 (Teleteatro produzido e veiculado pela TV Cultura), nas peças “Caiu o Ministério” (2005). Texto: França Jr. Personagem: Beatriz.  Direção: Emilio Di Biasi; “O Primo da Califórnia”. Texto: Joaquim Manoel de Macedo. Personagem: Beatriz. Direção: Silnei Ciqueira. E “Defeito De Família”. Texto: França Jr.. Personagem: Josefina. Direção: John Hebert. Fui, também, apresentadora do programa “Clipearte TV Cultura”, de agosto de 2005 a agosto de 2006, com direção de Maurício Valim.  Apresentadora do programa “Imagem Do Som Tv Cultura”, em 2006. Participei do programa “Direções”, III episódio: “Unidos do Livramento”, de Renata Pallottini, baseado na obra de Machado de Assis, com direção de Maucir Campanholi, na TV Cultura, em 2009. Trabalhei como apresentadora e cantora no programa “Inglês com Música”, também na TV Cultura. Novela “Chiquititas”, no SBT (2013). Personagem: Letícia. Direção geral: Reynaldo Boury.



8) OTMR: Você também já teve sua passagem pela telona. O cinema a fascina tanto quanto o TEATRO e por que não atua mais em filmes?

AA: Fascina, e muito! São linguagens diferentes; o que importa é a história ser bem contada. No TEATRO, os atores podem fortalecer ou enfraquecer a história; no cinema, o diretor e o editor podem fortalecer ou enfraquecer a história. São linguagens diferentes. Quero contar boas histórias em qualquer meio de comunicação. Desejo muito fazer mais cinema e TV. Mas não há nada como estar no palco, com todas as conexões com o público, em potência máxima, no aqui e agora. No TEATRO, acontece uma alquimia energética, por ser de carne e osso.




9) OTMR: O Brasil não tem uma tradição de produzir filmes musicais. São raros os que existem, e muitos de qualidade duvidosa. Você acha que não há mercado para esse nicho, por aqui, ou seria outra a causa disso?

AA: Acho que são vários os fatores que dificultam a produção de filmes musicais. O primeiro é a falta de investimento no cinema. E a falta de bons roteiros do gênero. Acho que, se houvesse incentivo financeiro, para a criação de filmes musicais, iriam surgir belos roteiros, dentro da nossa linguagem de filme musical, sem querer imitar os filmes americanos. Talentos não faltam, no nosso país, para realizar belos filmes musicais!




10) OTMR: São três mídias totalmente diferentes, em termos de tecnologia e trabalho de interpretação, para o ator – o TEATRO, o cinema e a televisão -, todos sabemos. Parece-me que você se sente mais confortável pisando as tábuas do que num “set” de filmagem ou num estúdio. Estou certo nessa minha ilação? Em caso de resposta afirmativa, por que essa preferência?

AA: O TEATRO me chama. Posso dizer que ele está no controle da minha vida. E eu estou a serviço dele. Mas me sinto à vontade em outras mídias. São linguagens diferentes. Cada uma traz um aprendizado e uma forma diferente de estar com o público. Mas sempre estamos com e para o público. No TEATRO, temos a resposta imediata da plateia, é contato de primeiro grau. Contamos a mesma história todos os dias, e todos os dias são diferentes. E, no último dia de espetáculo, a gente ainda está descobrindo novos artifícios da personagem, para dar mais emoção para alguma fala ou gesto, que chegue ainda mais na alma do espectador. O TEATRO é vivo. 




11) OTMR: Se, sob tortura e ameaça de morte (Momento descontração. RISOS meus.), você tivesse de optar por seguir, na vida artística, pelo caminho da música ou do TEATRO, por qual alternativa dessa bifurcação da estrada você continuaria a caminhada? (Acho que já sei qual será a resposta.) Por quê?

AA: Ah! Difícil... Mas eu digo: o TEATRO, porque, nele, posso ter a música, o canto e tudo.



12) OTMR: A carreira artística, iniciada muito precocemente, aos 4 anos e meio de idade, prejudicou, de alguma forma, a sua infância e a sua atividade escolar? Como conciliava as agendas? A propósito, já na idade de se tornar universitária, chegou a ingressar numa faculdade e a se formar em outra profissão, via ensino superior?

AA: As escolas onde estudei sempre compreenderam a minha realidade e me apoiaram como puderam. Quando perdia uma prova, podia fazê-la em outro dia. Sempre copiava as matérias que perdia. Era um esforço a mais, claro, mas deu tudo certo. E havia a preocupação dos produtores do grupo com os nossos estudos. Não ingressei em nenhuma faculdade. Minha faculdade está na prática, no aprofundamento dos estudos de cada prática.


(Fazendo comercial.)


13) OTMR: Não me lembro do programa nem se era transmitido para o Rio de Janeiro: “Clipearte”. Já sabendo quando você o apresentou, em 2005/2006, e em que emissora, TV Cultura, gostaria de saber qual era o formato desse programa?

AA: Ele tinha a direção de Maurício Valim. Eu apresentava clipes de cantoras/cantores e bandas brasileiras, valorizando os nossos grandes artistas!


(Transição. Fotos: autores desconhecidos.)


14) OTMR: Ainda na TV – esse eu vi várias vezes e ainda vejo, de vez em quando, programas bem antigos, que são reapresentados –, de 2010 a 2012, você dividiu a telinha com a professora Marisa Leite de Barros, apresentando um programa muito interessante, que se propunha, de modo agradável e, até mesmo, bastante lúdico, a ensinar inglês, por meio da música. A professora se fixava numa canção, de interesse dos jovens, numa pequena plateia, e utilizava a sua letra para ensinar o idioma. Você interagia com o público e fazia o que mais me interessava, no programa, que era cantar aquela canção escolhida para a aula. Fale um pouco sobre essa experiência.

AA: Sou completamente apaixonada pelo programa e por todos os profissionais incríveis que fizeram o “Inglês com Música” ser este primor de programa! Muito amor e dedicação de TODOS! Marisa Leite de Barros é a minha mulher colosso! Gênia! Foi ela quem inventou o “Inglês com Música”, há mais de quarenta anos. Como era bom estar com a plateia cheia de alunos e professores, aprendendo e se divertindo, assim como os telespectadores em suas casas. Quantas mensagens lindas recebemos do público. Era uma grande diversão e desafiador. A banda sempre com músicos de excelência. Nós ensaiávamos um dia, durante duas horas, e, às vezes, no dia da gravação, e fazíamos ao vivo, sempre, gravando duas vezes a mesma música. A qualidade do som, da execução, de tudo sempre perfeito. Assisto a alguns programas de vez em quando e fico sempre encantada, de boca aberta com a qualidade do som, da imagem, do roteiro, da direção, da edição, da capitação de imagem e som, a sintonia absurda de amor e cumplicidade entre mim e Marisa; figurino, cabelo, maquiagem... com TUDO! O que me emociona é ver, nos vídeos, os alunos e os professores cantando e dançando a música do dia. Numa alegria e numa entrega linda de sentir!



(Divulgação - TV Cultura.)


(Divulgação - TV Cultura.)


(Divulgação - TV Cultura.)


15) OTMR: Infelizmente, não tive a oportunidade de assistir a um “show” musical que você fez, chamado “Alô, Alô, Theatro Musical Brazileiro”, em 2017, no qual jogava em várias posições, demonstrando grande versatilidade: dividia o roteiro e a direção com o querido Kleber Montanheiro, atuava e, ainda, dividia a produção. Praticamente, 50% você e 50% o Kleber, que, também assinava o figurino e a iluminação. O espetáculo, pelo que apurei, traçava uma “viagem”, começando em 1890 e chegando a 2016, contando a evolução do TEATRO MUSICAL BRASILEIRO. Como era a estrutura desse “show” e como foi a receptividade do público? Você pretende, em algum momento, reeditá-lo ou fazer outro “show” musical diferente?

AA: O espetáculo traz pérolas do nosso cancioneiro, tais como “O Mugunzá” (1892), de F. Carvalho; “Corta-Jaca” (1904), de Chiquinha Gonzaga; “No Rancho Fundo” (1930), de Ary Barroso e Lamartine Babo; “Basta Um Dia”, de Chico Buarque (1975) e outras dez músicas inesquecíveis, que evocam nossa história, até os dias atuais. O “show” é entremeado de breves relatos e curiosidades, que envolvem o período das composições, evidenciando o contexto em que foram criadas.  “Alô, Alô Theatro Musical Brazileiro” resgata, assim, nossa história teatral e musical, década a década. O “show” nasceu da necessidade de contar e cantar a nossa história teatral, musical, social, enaltecendo, assim, alguns dos grandes e geniais compositores, atores, cantores, dramaturgos de ontem e de hoje, tão originais, genuínos e tão brasileiros. Uma das nossas maiores riquezas, que não pode ser apagada com o tempo e nem ignorada pela maioria dos jovens brasileiros. Vejo este “show-espetáculo” cumprindo uma função social, e este é o grande objetivo. Quando conhecemos nossa história, nosso passado, construímos uma ponte com o presente, entendendo, assim, de onde viemos, que caminhos foram escolhidos para chegar a esta realidade que vivemos. A vida em sociedade fala através da arte, e a arte é o espelho. Um país sem cultura é um país sem identidade! A receptividade do público foi maravilhosa, linda de sentir! Público de todas as idades. Pretendo fazer muito mais apresentações, quero levar o “show” para o maior número de pessoas possível. Fiz duas temporadas curtas. 




(Foto: Leekyung Kim.)


16) OTMR: Como você sabe, eu vou a São Paulo, algumas vezes por ano, especialmente, para assistir a TEATRO, mas, infelizmente, não me perdoo por não ter conseguido assistir a dois grandes musicais de que você participou. Eu sabia que eram poucas as oportunidades de que viessem para o Rio, mas, mesmo assim, por motivos vários, todos, obviamente, alheios à minha vontade, não deu para vê-los. Um é “Vingança” e o outro, “As Cangaceiras, Guerreiras do Brasil”. Queiram os Deuses do TEATRO que eu ainda possa assistir a eles um dia! A pergunta é com relação a “Vingança”, espetáculo no qual interpretava a personagem Maria Rosa: Antes de topar fazer parte do projeto, você já tinha alguma intimidade com o universo “dor de cotovelo”, do Lupicínio Rodrigues, ou teve de mergulhar numa pesquisa, para brilhar, na peça, como disseram todos os que a ela assistiram?

AA: Sou apaixonada por “Vingança”, como por todos os que trabalharam nessa obra impecável, escrita por Anna Toledo, como todos que tiveram a oportunidade de assistir. É uma trama incrível, com as músicas do Lupicínio se encaixando, como uma luva. Eu já conhecia Lupicínio, era louca pela música “Volta”. Ele é um dos grandes gênios da nossa música. Consegue uma simplicidade nas suas canções, mas com uma melodia tão rebuscada... Coisa de mestre! Quando Anna Toledo foi em casa e me contou a história e me mostrou a canção “Maria Rosa”, foi paixão instantânea. Assim, mergulhei na vida e na obra de Lupicínio. Não fiz a primeira temporada, pois estava gravando “Chiquititas”, mas entrei na segunda e permaneci no espetáculo até o fim. Esse espetáculo, como tantos outros, deveria ficar em cartaz por muitos anos.



17) OTMR: Você já atuou, também, em espetáculos infantojuvenis (Prefiro o termo a “infantis”.), como “No Reinos das Águas Claras”, em 1998, como Narizinho, e “O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá” (2003/2005). Não me esqueci de “Carmen...”; de propósito, deixei-o para mais adiante. Serão várias perguntas numa só: Você gosta de atuar para o público infantojuvenil? Pretende voltar à experiência? Você e o Fusko levam muito o Vicente ao Teatro? Ele gosta? E o que você acha, de uma forma geral, em termos de qualidade, das produções voltadas para os pequenos? Já adianto que, no Rio, infelizmente, com raras exceções, é um desastre: salvam-se muito poucas.

AA: Faço TEATRO para seres humanos. Não importa a forma, o gênero; o que importa é a história ser bem contada, cuidada em todos os detalhes, tudo sendo criado para acessar a alma do outro. Eu gosto de atuar para o público. Gosto de contar boas histórias. E o TEATRO infantil tem que ter a linguagem, os códigos da faixa etária com que o espetáculo busca se comunicar. Esta é a única diferença entre TEATRO adulto e infantil. Fazer TEATRO para criança é muito sério. Tem que haver o reconhecimento da criança naquela história. E, se a gente estiver blefando, não estiver inteiro, com a verdade na relação com eles, eles se desconectam, perdem o interesse e vão fazer tudo, menos prestar atenção na história. O adulto sente o mesmo, mas disfarça. Quando o Vicente era menor, a gente ia muito ao Teatro com ele, mas, agora, está desinteressado; ele está com 12 anos, difícil ter peças que se comuniquem com essa idade, e, nesta idade, há muitas transformações acontecendo. Mas ele vai assistir a todas as peças que eu faço e ama, inclusive sabe a maioria das músicas dos musicais que fiz. Há muitas produções incríveis feitas para crianças, mas muitas não alcançam o grande público, por não terem apoio financeiro. E há muitas que têm o capital, mas que estão interessadas no capital, não em fazer a diferença na vida das crianças e dos pais, contando uma história com a amor e dedicação. Cíntia Abravanel é um exemplo deste amor, dedicação e seriedade nas produções dos espetáculos infantis. Uma das maiores formadoras de público do nossa país. Produções impecáveis, sempre partindo da história e do valor daquela história para as crianças, professores, pais. Sou muito grata por ter começado a minha trajetória no TEATRO em São Paulo, fazendo a Narizinho, no espetáculo “No Reino das Águas Claras”, produção da Cíntia.


(Foto: João Caldas.)



(Foto: João Caldas.)


18) OTMR: Você, eu sei, quando não está em cartaz, o que é muito raro, graças a Deus, prestigia bastante os trabalhos dos colegas. Aliás, você é uma grande colega – opinião unânime da classe! Tem preferência por algum gênero, e, dos espetáculos a que assistiu, nos últimos tempos, qual(is) o(s) a marcou(aram) mais?

AA: A minha preferência é o TEATRO que toca a alma, que faz eu esquecer que estou no Teatro, que me faz sair diferente, do Teatro, que me expande como ser humano. Vou citar apenas três dos muitos espetáculos que já me arrebataram: “Elizabeth Costello”, com a divina Lavínia Pannunzio, adaptado e dirigido por Leonardo Ventura; “A Cor Púrpura”, com um elenco divino: Letícia Soares, Sérgio Menezes, Lilian Valeska, Flavia Santana, Jorge Maia, Alan Rocha, Ester Freitas, Analu Pimenta, Suzana Santana, Claudia Noemi, Erika Affonso, Caio Giovani, Renato Caetano, Thór Jr, Gabriel Vicente, Leandro Vieira e Nadjane Rocha, com direção geral de Tadeu Aguiar, texto adaptado por Artur Xexéu, direção musical de Tony Lucchesi e coreografia de Sueli Guerra; “Love, Love, Love”, também com um elenco divino: Augusto Madeira, Débora Falabella, Mateus Monteiro, Alexandre Cioletti e Yara de Novaes, tendo, como diretor artístico, Eric Lenate.




19) OTMR: Que eu me lembre, dos vários musicais de que você participou, três foram grandes sucesso na Broadway: “Grease, O Musical”, “Godspel” e “My Fair Lady”. Evidentemente, há muitas diferenças entre a montagem de um musical nacional e a de uma franquia estrangeira. Assisti aos três, no Brasil, mas não tive a oportunidade de ver todos na “Meca dos Musicais”. Lá, só assisti a “Godspel”, e a versão “falabbeliana” era bem livre e diferente. Por acaso, assisti a uma versão, meio fraca, de “Grease...”, em Toronto, Canadá. Não sei se o que vi aqui, estava exatamente obedecendo aos padrões dos originais. Certamente, o “Grease...”, do Canadá, não deveria ser como o da Broadway. Você se sente mais à vontade quando participa de uma montagem original ou de uma “recriação” “engessada”?

AA: Claro que o melhor é criar algo original, mas tudo depende do processo, quando montamos uma recriação. Depende se a história é boa, se os produtores, o diretor, os atores, todos da criação acreditam nessa história. Se recriar um espetáculo, pensando no sucesso que foi na Broadway, no comercial, aí será triste demais. Quando há uma recriação, tem que haver algumas adaptações. Tem que ter a nossa alma. Por exemplo, há piadas que os americanos contam que não têm a mínima graça pra gente, porque eles têm uma cultura, uma relação diferente da nossa, e isso seria com qualquer obra de qualquer país.



20) OTMR: Eu assisti a um espetáculo, que adorei, em São Paulo, o qual ficou, por muito tempo, em cartaz, em várias temporadas: “Caros Ouvintes”. Trouxe-me muitas lembranças da minha infância, porque se passava na “época de ouro do rádio brasileiro”. Você, em algum momento, fez parte do elenco, porém, infelizmente, quando assisti à peça, AMANDA ACOSTA ainda (ou já) não fazia parte dele. Acho um texto atemporal, embora pareça bastante datado, e penso que seria sucesso, hoje, no Rio de Janeiro, se aqui fosse remontada. Qual a sua opinião sobre isso e como se sentiu participando do espetáculo?

AA: Esse espetáculo é atemporal, fala das readequações por que passamos, de tempos em tempos; nesse caso, dos profissionais das rádios novelas, trazendo todo o contexto social que o país estava atravessando. Fala da nossa história, dos nossos artistas, o conflito de cada pessoa, diante de uma transformação externa, revelando as crises e as soluções que cada um encontra, para lidar com essas mudanças. É o que estamos vivendo hoje, com a internet. Eu sou apaixonada por esse espetáculo, amava fazer, uma verdadeira aula. Otávio Martins acertou em cheio na dramaturgia e na direção.



21) OTMR: Em algum lugar, li esta declaração sua: “Estar no palco é uma ‘viagem’ e não consigo viver sem!”. Amplie, um pouco, em palavras, esse sentimento.

AA: Acho que a frase já diz tudo! 😉


“ESTAR NO PALCO É UMA 'VIAGEM' E NÃO CONSIGO VIVER SEM ELE"

(Amanda Acosta.)


22) OTMR: Não é preciso ficar repetindo que você esbanja talento, mas, depois de tantos espetáculos a que assisti com AMANDA ACOSTA, normalmente protagonizando, fiquei impressionado, há pouco tempo, quando vi, via “streaming”, a um dos seus muitos trabalhos, chamado “Maternagem”, adaptação de uma peça, “Maternidades”, escrita pelo André Fusko, seu marido, que você já havia feito, em 2010, no Teatro (De verdade. RISOS meus.), espetáculo em que você interpreta quatro mulheres de idades diferentes, com 17, 35, 50 e 60 anos, com uma maestria, uma entrega, com perfeitas transformações, exigidas pelo passar cronológico. Fiquei, deveras, encantado, um lugar-comum, quando me proponho a analisar um trabalho seu. A pergunta é sobre a sua opinião acerca desse tipo de experiência ao qual nos obrigou essa pandemia. Embora não considerando isso TEATRO (É a minha opinião.), acho muito interessante, e importante, essa iniciativa, essa “invenção”, e acho, até mesmo, que, passado o pesadelo que estamos vivendo, ela poderia continuar, concomitantemente, com os espetáculos presenciais, como forma de atender, ainda que não com tanta “realidade”, a um público que não tem acesso ao TEATRO, por falta de condições financeiras ou distâncias.

AA: Acho muito válido e é mais um canal potente de comunicação com o público, e uma forma de divulgar o TEATRO, mantê-lo vivo, nestes tempos; mas não é TEATRO. E acho que isso tem que ser lembrado para o público, após cada espetáculo. É mais um canal de comunicação que temos, mas nunca substituirá o TEATRO.



23) OTMR: Temos a felicidade de ter um querido amigo comum, Tadeu Aguiar, com quem você já fez alguns dos seus maiores espetáculos, incluindo aquele que considero, até o presente momento, sua (da AMANDA) “OBRA-PRIMA”, que é “Bibi – Uma Vida em Musical”. Com o Tadeu, você fez, atuando ou sendo dirigida por ele, grandes musicais, como “My Fair Lady”, “Esta É A Nossa Canção”, “Baby – O Musical”, “4 Faces do Amor”, além da já citada e icônica “Bibi...”. Todos musicais. Como surgiu a parceria entre vocês e a que você atribui tanto sucesso nessas produções?

AA: Conheci o Tadeuzinho em uma apresentação que Bibi Ferreira fez no Teatro Renaissance, que Jorge Takla dirigiu. Foi paixão à primeira vista. Fizemos “My Fair Lady” juntos, e amava estar com ele no palco, na coxia e na vida. Inclusive, Tadeu foi a pessoa que mais me apoiou para ter um filho. Todo dia, antes de entramos na cena da corrida dos cavalos, Tadeuzinho fazia, com as mãos, o formato da barriga de grávida, pra mim. Depois de “My Fair Lady”, ele me convidou para fazer “Esta é a Nossa Canção”. Quando o Vicente completou sete meses, fui para o Rio com ele e minha mãe. Tadeu e Eduardo Bakr me deram toda a estrutura de que precisava, para estar com meu filho e no palco. Sou, eternamente, grata por esse acolhimento. Um exemplo a ser seguido. E eles fizeram o mesmo com outras mães atrizes. E a parceria seguiu e segue pra toda a vida. O sucesso das produções se deve à paixão, envolvimento, cuidado com todos os detalhes de cada espetáculo, ao profissionalismo e amor pelo ofício.




(Foto: Gustavo Bakr.)




(Foto: Gustavo Bakr.)

24) OTMR: Decididamente, 2018, no TEATRO, foi o ano de AMANDA ACOSTA, por sua impecável interpretação de DONA Bibi Ferreira, o que lhe rendeu um incontável número de indicações a prêmios e a conquista de vários, como melhor atriz. Sua relação com essa dama do TEATRO BRASILEIRO já vinha de algum tempo. De 2007, pelo menos, quando você interpretou, magnificamente bem, a personagem Elisa Doolitle, de “My Fair Lady”, que já havia sido interpretada por DONA Bibi, numa montagem brasileira, em 1962. É possível traduzir, em palavras, a emoção de representar a vida dessa “deusa dos palcos”, ainda em vida, quando a peça esteve em cartaz? Você já a conhecia, pessoalmente, antes de ela, já no final da vida, muito alquebrada, ter ido assistir ao espetáculo? Como foi esse encontro?

AA: Muito difícil traduzir em palavras. Só sei agradecer à vida, por ter me proporcionado essa vivência, esses encontros. Presente dos Deuses do Teatro, um imenso desafio de um aprendizado gigantesco. Conheci Bibi no Teatro Renaissance. Jorge Takla dirigiu o “My Fair Lady” e queria nos apresentar a ela. Ele disse que queria que Bibi me "passasse o bastão" nesse encontro. Depois daquele dia, Bibi foi assistir a “My Fair Lady” e “Esta é a Nossa Canção” (Você pode imaginar a emoção!). Tive a honra de homenageá-la duas vezes: uma no aniversário dela, no programa da Xuxa, cantando “Wouldn't It Be Loverly?”, e “I Could Have Dance All Night”, no prêmio APTR. As duas músicas de “My Fair Lady”, que cantei na versão em português. Depois, assisti a quatro apresentações dela e sempre ia ao camarim e era recebida por ela com muito carinho e atenção.






(Chiquititas - Divulgação.)



(Chiquititas - Divulgação.)


25) OTMR: Você considera “Bibi...” um divisor de águas na sua vida de atriz, de musicais ou não, ou já havia acontecido outro antes?

AA: Na vida, sempre temos, e teremos, muitos divisores de águas. Sinto que todos os divisores de águas que vivi até agora me levaram a “Bibi...”.







(Foto: Roberto Ikeda.)

26) OTMR: Eu falei, lá em cima, quando o assunto era TEATRO Infantojuvenil, que deixaria “Carmen...” para depois. Explico: é porque, embora a peça seja “vendida” como “infantil”, percebi, muito emocionado, quando tive a grande alegria e prazer de ver aquela maravilha, em São Paulo (O Rio precisa de “Carmen...” também. Com a palavra o Sr. Antônio Fagundes, que se encantou pelo musical e resolveu produzi-lo!), que se trata de um espetáculo para a família; muito mais para pais e avós do que para crianças. As crianças se encantam com as músicas, tanto colorido e movimentos em cena. Acho que o espetáculo, de certa forma traz um pouco do registro do TEATRO de Revista?  Você concorda comigo?

AA: Sim, foi criado com a linguagem de TEATRO de Revista, e é para a família inteira, como o espetáculo infantil deve ser. Kleber Montanheiro é um grande conhecedor do gênero, de talentos mil. Ele quis, exatamente, isso, comunicação com pais e filhos. E a linguagem do TEATRO de Revista funciona muito com as crianças, pois são quadros, sempre com mudanças dinâmicas, sempre uma surpresa. E o espetáculo era feito com muito amor, verdade e seriedade por TODOS. As crianças não tiravam o olho do palco e riam, interagiam. Saíam imitando a Carmen. Eu recebo vídeos e mensagens dos pais emocionadíssimos, falando do espetáculo e da paixão dos filhos pela Carmen, depois de terem assistido ao espetáculo. Senhoras e senhores emocionadíssimos... Essa é a função do TEATRO!






(Foto: Leekyung Kim.)



(Foto: Leekyung Kim.)

27) OTMR: Há bastante tempo, você vem emendando um espetáculo no outro, às vezes, até, fazendo dois, simultaneamente. Onde você consegue tempo e energia para dar conta do recado?  Nem falo do talento, porque este, como já disse, e é unanimidade, transborda em você.

AA: Amor pelo meu oficio. Tendo escuta com as necessidades do meu corpo (físico, mental e espiritual), para saber o que preciso fazer, do que cuidar, a fim de ter energia, para estar plena, inteira, quando abre a cortina.


(Talento precoce. Foto: autor desconhecido.)


28) OTMR: Você ainda faz audições ou já atingiu um patamar que já lhe confere o direito de ser convidada, requisitada, pelos diretores e produtores?

AA: Recebo convites, mas, às vezes, faço teste, o que é normal na nossa profissão.






(Foto: Priscila Prade.)



(Foto: Priscila Prade.)



(Foto: Priscila Prade.)

29) OTMR: Durante minha curta passagem pelos palcos, vivenciei ou presenciei algumas “mancadas” e “saias justas” em cena. Sem citar nomes ou dar detalhes que possam comprometer algum colega, você poderia nos contar uma situação, ou mais, em cena, que lhe tenha criado constrangimento ou gerado boas gargalhadas na coxia? Aproveito para lhe dizer, embora não tenha sido uma situação nada engraçada - muito pelo contrário - que eu estava na primeira fila da plateia do Teatro João Caetano, no Rio de Janeiro, naquela noite em que você, de uma forma inexplicável, teve o joelho lesionado, em cena, e não conseguiu continuar a sessão, tendo sido substituída, após uma pequena pausa e as explicações do Tadeu Aguiar, diretor da peça, pela Ana Baird, uma guerreira, porque não é fácil substituir AMANDA ACOSTA. Ainda mais numa situação como aquela. Foi em “Baby – O Musical”.

AA: Esse dia foi triste, mas a união faz acontecer. Um dos casos foi quando fiz xixi nas calças, ao ver a peruca verde do meu amigo de cena ficar na metade da cabeça, mostrando a metade da careca. Havia uma cena em que ele se mexia muito e a peruca foi para traz e a luz fez refletir o verde da peruca na careca. Nossa! Quase não consegui dar o texto, de tanto que eu ria, e não consegui segurar o xixi.



 (Foto: Brasilio Wille)


30) OTMR: Em tanto tempo de carreira, quantas vezes já foi visitada pelo “fantasma” do “deu branco”?  Como sair do problema?

AA: Foram algumas vezes, mas a mais apavorante foi em “My Fair Lady”, quando esqueci a letra de uma música que cantava para o personagem do Frederico Silveira, em uma cena. Eu fiquei repetindo o refrão, praticamente, em toda a música. Só via a maestrina, Vânia Pajares, regendo e olhando para mim, sem saber o que estava acontecendo, e o Fred com os dois olhos arregalados e me acompanhando na coreografia. Desesperador. E o público não percebeu nada!



(Foto: Divulgação/Produção.)


(Foto: Divulgação/Produção.)


31) OTMR: Com a total e devida isenção, como você analisa a qualidade e a situação do TEATRO MUSICAL BRASILEIRO, em comparação com o que se faz em outros países, mormente Estados Unidos e Inglaterra?

AA: Precisamos fomentar novos talentos da dramaturgia, da música, para criarem musicais dentro da nossa linguagem e realidade. Há muita produção original, mas que não tem o aporte financeiro para a realização e para as temporadas. Não podemos montar um musical, pensando em ficar dois meses em cartaz. Temos que pensar em ficar em cartaz o maior tempo possível, com uma estrutura pensada para rodar o Brasil. Temos que criar dentro da nossa realidade, que é diferente da Inglaterra e dos Estados Unidos.



("BIBI..." - Foto: Carlos Costa / Guga Melgar.)


32) OTMR: Apesar dos Teatros lotados (Sou testemunha.), principalmente em São Paulo, ainda se fala muito em “preconceito”, de uma forma geral, com relação aos musicais. Você acha que existe, de verdade, rejeição, quanto ao gênero?

AA: Na minha opinião, há o “show musical” e o TEATRO MUSICAL. Acho que precisamos começar a diferenciar um do outro. Há musicais em que o foco está na beleza dos cenários, na música bem cantada e executada, nas belas coreografias, bem dançadas, nos figurinos, que enchem os olhos, nos quais a história fica quase como pano de fundo, sem trazer uma reflexão. Este é o “show musical”. No TEATRO MUSICAL, a história está à frente, e tudo vem para potencializar a história. Aí é arrebatador!


("BIBI..." - Foto: Carlos Costa / Guga Melgar.)


("BIBI..." - Foto: Carlos Costa / Guga Melgar.)


33) OTMR: Penso que você também – posso estar errado - fica incomodada, quando dizem que “incorporou” tal personagem, como se o TEATRO fosse um centro espírita. Mas a verdade é que eu “vi” DONA Bibi em cena, da mesma forma como “enxerguei” a Carmen, no palco. Sei que tal perfeição, que não é mimética, mas que acaba nos convencendo de que estamos diante das duas, é fruto de muito trabalho de observação e estudo. Como é que você pode traduzir, sinteticamente, para nós, o seu processo de construção dessas duas grandes personagens? Aproveito para emendar outra pergunta, que pode, até, não ter nada a ver com as duas: Qual personagem, até hoje, lhe deu mais trabalho para ficar pronta?

AA: Mergulho na vida e na obra da personagem, estudo tudo que está disponível, e tento me aproximar da energia dela, através deste conhecimento, e despertar essa energia em mim. Estudo o físico, o andar, a voz, o psicológico... Enfim, cada detalhe da pessoa e a incorporo em mim. Tudo é uma informação importante. No caso de “Bibi...”, durante a temporada, algumas pessoas que trabalharam com ela me contavam histórias sobre ela e eu sempre ouvia algo que trazia um traço da personalidade dela. Isso, para mim, era como pequenos tesouros, que eu incorporava nos próximos espetáculos. Da mesma forma, foi com Carmen. Busco, em mim, as emoções que vêm delas e, assim, sou eu através delas. Porque senão vira apenas imitação. Tenho que sentir o corpo delas em mim, com a minha alma. Acho que a maior dificuldade foi com Bibi. Mas todas têm as suas dificuldades. Evoluo como ser humano, como artista, através delas. Olha as professoras que eu tive! Eu me sinto privilegiada! Mas é uma dedicação tamanha. Desafiador.


("BIBI..." - Foto: Carlos Costa / Guga Melgar.)


("BIBI... - Foto: Carlos Costa / Guga Melgar.)


34) OTMR: Duas perguntas numa só: De qual musical, em que não atuou, gostaria de ter feito parte do elenco, representando qual personagem, e qual o musical, ainda não montado no Brasil, em que gostaria de ver seu nome na ficha técnica?

AA: Posso citar “Suassuna - O Auto do Reino do Sol”, representando qualquer personagem. O espetáculo é uma das obras-primas do TEATRO MUSICAL BRASILEIRO. Há algumas histórias que quero viver no TEATRO MUSICAL, mas o que mais desejo é que algumas peças, como “Bibi...” e “Carmen...”, fiquem mais tempo em cartaz, rodando o Brasil. (Uma intromissão minha: “Vingança” e “As Cangaceiras, Guerreiras do Brasil”, também.)


("BIBI..." - Foto: Carlos Costa / Guga Melgar.)


("BIBI..." - Foto: Carlos Costa / Guga Melgar.)


35) OTMR: Para diminuir e aliviar, um pouco a minha frustração, por não ter tido a oportunidade de assistir ao espetáculo, em São Paulo, gostaria de que você nos falasse um pouco sobre “As Cangaceiras, Guerreiras do Sertão”, texto do querido Newton Moreno, direção de outro querido, Sergio Módena, contando com uma ficha técnica de primeiríssima qualidade, na qual, no elenco e nos artistas de criação, eu tenho vários amigos, como, Marco França, Rebeca Jamir, Milton Filho, Pedro Arrais, Carol Costa, Rodrigo Velloni e Fernanda Maia, por exemplo. Sei que sua personagem era Serena, uma mulher corajosa, apesar do nome. A partir daí, dessa mínima informação, posso imaginar você no palco. Creio ter sido a sua última passagem pelas tábuas, salvo engano, até a chegada da pandemia. Confere? O que o espetáculo representa para você e que nível de satisfação lhe rendeu?

AA: “As Cangaceiras...” iria reestrear em abril, mas, devido à pandemia, foi cancelada a temporada. “As Cangaceiras, Guerreiras do Sertão” é uma obra-prima do TEATRO MUSICAL BRASILEIRO. Newton Moreno é um dos gênios da nossa dramaturgia! Essa peça é o grito de libertação das mulheres nordestinas, das mulheres brasileiras. Mostra que a força de uma mulher desperta a força de muitas, que, quando uma abre o caminho, muitas podem passar; a união leva à vitória. “Quem comanda pra si comanda pra todas.”. “Só vive quem da luta não desiste e aprende a dizer não.”.


(Amanda Acosta, DONA Bibi Ferreira e Tadeu Aguiar.)


36) OTMR: Para terminar, já que estamos vivendo uma “pandemia”, como está sua rotina, durante estes quase oito meses de confinamento, de isolamento social, e quais os projetos que foram interrompidos e os que virão por aí, “pós-tsunami”?

AA: Tenho cuidado da minha casa interna e da minha casa externa. Cuidando do meu filho e fazendo alguns estudos e pontuais apresentações. O que tem pela frente é “As Cangaceiras...”, “Carmen...” e “Bibi...”. Vamos torcer para que todas essas histórias encontrem o público muito em breve nos teatros! VIVA O TEATRO BRASILEIRO! VIVA TODOS OS FAZEDORES DE ARTE DO NOSSO PAÍS, TODOS OS TRABALHADORES DA ARTE DO NOSSO BRASIL! Cuidemos das nossas florestas, de todos os seres vivos que habitam o nosso planeta, das nossas águas, do nosso ar, da nossa gente! Isso é muito sério, pois, se não tivermos um ar bom, para respirar; comida sem veneno, para comer; e água boa, para beber, não teremos nada. Você pode ser bem sucedido na sua vida, mas vai viver em hospitais e entupido de medicamentos, por não ter as condições básicas para viver. Se não cuidarmos, agora, da nossa “mãe-terra”, sofreremos muito. Já estamos sentindo os efeitos dessa desconexão.  


(Recordando "O Trem da Alegria". 

Programa "Encontro com Fátima Bernardes".

Divulgação- TV Globo.)



E VAMOS AO TEATRO (QUANDO HOUVER SEGURANÇA.)!!!


OCUPEMOS TODAS AS SALAS DE ESPETÁCULO DO BRASIL (QUANDO HOUVER SEGURANÇA.)!!!


A ARTE EDUCA E CONSTRÓI!!!

 

RESISTAMOS!!!

 

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PARA QUE, JUNTOS, POSSAMOS DIVULGAR

O QUE HÁ DE MELHOR NO

TEATRO BRASILEIRO!!!




(Com Amanda Acosta.
Foto. Maurício Inafre.)















 

 

 

 

 





















































































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